25.5 Ser aluno do bairro

ciclo 2º Ciclo
id Constança-5
pof entrevista_Constança
keys reprodução social // vocabulário social // valor social da escola
nvivo Incidentes críticos // Obstáculos
geo Lisboa

E depois quando se vive em bairro… eu tenho uma criança este ano que é filha de um senhor que foi meu aluno com o irmão, são dois gémeos, e a criança é muito pequenina, muito irrequieta, mas responsável de certo modo, porque tem uma mãe - que também foi nossa aluna -, que casou com um dos irmãos e agora por acaso até vive com o outro. Portanto são famílias muito complicadas! Mas a miúda agora diz “Professora, não se pode ir embora porque ainda tem que ser professora dos meus filhos”. Ela diz que eu não me posso ir embora. Já fui do pai, da mãe, dela e, portanto, agora tenho que ser dos filhos dela. E eu disse “não, M., não penses nisso” , mas a miúda é muito engraçada, e é uma família interessante nesse aspeto, porque os pais do pai dela já tinham muitas dificuldades em manter o pai na escola. A mãe, então, foi pior ainda. É uma pessoa que neste momento até trabalha no refeitório da escola, tem muitas dificuldades, mas tem uma perceção da importância da escola e incute aquilo na miúda. De forma que a miúda, embora viva de facto num bairro desprotegido, tenha algumas dificuldades e desiquilíbrio emocional (porque ela está sempre a chuchar no dedo), portanto é uma criança meia abebezada meia adulta, e ela tem noção e lá em casa incutem-lhe o valor da escola e da aprendizagem. Mas depois também não tem ajudas. Portanto, e há ali ainda uma debilidade que se prende até com o vocabulário que as pessoas usam em casa e tudo mais. Mas já é um salto, esta miúda é um nítido caso de rutura. Ela está no Centro de Estudos à tarde, ela mete-se nas atividades todas, a mãe, se ela não leva o livro, vai a correr à escola para levar o livro e até interrompe a aula. Portanto, há uma preocupação em tentar, mas não é fácil. Nós sabemos que estas coisas demoram muito tempo. Todos estes hábitos. E um bairro tem muito peso! O mal destas crianças é estarem ali. Mas esta miúda está a querer e ela tenta, ela quer ser boa aluna, tem algumas dificuldades. Ela tenta e vai se esforçando e mete-se em todas as iniciativas. É muito engraçado ver porque o pai e a mãe não estavam nessa dinâmica, nem pouco mais ou menos. O pai não tem contacto, não vai à escola, mas a mãe é muito presente, até porque trabalha lá dentro, e vê-se a preocupação dela em querer que a miúda singre e seja boa aluna, seja responsável. A miúda no início amuava muito e era um bocadinho refilona, mas a mãe incutiu-lhe regras de educação. É muito engraçado ver. Há mais uns casos destes que nós vamos assistindo por ali porque já vou conhecendo as famílias.