| ciclo | 1º Ciclo |
| id | Graziela-5 |
| pof | entrevista_Graziela |
| keys | Educação especial |
Pronto, então é assim, o mutismo seletivo…foi na escola da BE, em Arcozelo. Era uma aluna que, eu estive lá…93, penso que foi em 93, estive lá 2 anos. E…e eu vou para lá para o apoio, apanho uma aluna e eu sem a especialidade, sem nada, como é que eu vou trabalhar com esta aluna? Mas eu vou-lhe dizer diretamente tudo, que vai ficar surpreendida. Vou-lhe falar tudo, como eu falei com a aluna. No primeiro ano, eu não consegui fazer nada com a aluna, porque ela estava…eu até estive a substituir essa turma, e ela ia à nossa beira e era…que era para ir à casa de banho. Ninguém entendia, mas aprendeu a ler! Mas ela em casa falava. O que não falava era na rua. Eu vou ao Magalhães Lemos, que era onde ela estava a ser seguida, porque eu também fazia contactos com hospitais. Vou ao Magalhães Lemos falar com a médica. E essa médica ajudou-me, e disse: “Essa miúda fala, a sugestão que eu lhe dou é que arranje um gravador…um gravador que a mãe lhe deu, uma gravação onde a miúda esteja a falar, uma cassete”. Então eu, o que é que eu faço? Eu sabia que ela era inquilina de uma colega, que estava lá na escola. E dizia-me que a miúda dizia muitos palavrões. E que ela em casa falava muito. Mas chegava à rua e não falava, nunca falou com a professora da escola, nunca falou com os colegas, estava no 3º ano quando eu a apanhei. E então, o que é que eu faço?, um dia acabei…isto tudo por carolice, não é? Porque eu gastava da minha gasolina para ir aos hospitais, ninguém me pagava nada, sabe disso? E eu estava no gabinete com a miúda, e…saiu toda a gente da escola, só estavam as funcionárias. E eu disse: “Oh D., então eu hoje vou ver se consigo pôr a miúda a falar”. Pego na cassete, e…com o gravador, ela não sabia que eu tinha a cassete. Eu disse-lhe assim: “Olha eu sei que tu falas. E tu vais falar comigo, porque senão, vão descobrir, na tua turma, que tu em casa só dizes palavrões”, mas eu lá disse-lhe os palavrões todos, diretos. Só dizes isto e isto, e isto, e isto. E ela ficou a olhar para mim. “Eu sei que tu falas. Falas ou não falas?”. “Sim”. Assim baixinho. “Como é que se chama a tua mãe?”. “Maria”. Então, o que é que faço? Pumba, a cassete. Onde ela estava a falar, as asneiradas e tudo. “Quem é esta que está a falar?”. “Sou eu”. “Então falas ou não falas?”. Mas eu tinha de me impor, está a ver a minha garra. Eu já saí em 2008 e ainda falo com esta garota [risos]