7.12 “Se não aprenderes hoje, aprendes amanhã”

ciclo 1º Ciclo
id Gabriela-12
pof entrevista_Gabriela
keys relação professor aluno // amizade // modos de trabalho // emoções
nvivo Teorias do ser professor // incidentes críticos

Eu, por exemplo, uma professora bastante minha amiga, que depois tornou-se muito minha amiga, mas que no princípio ela e eu… Ela era para a esquerda e eu era para a direita ou vice versa. E depois eu fiquei lá de apoio na sala dela. Depois tornámo-nos grandes amigas. Mas no princípio era mesmo o contrário. Se ela pensava branco eu pensava preto, se eu gostava do azul, ela gostava do vermelho. E eu fui para lá dar apoio, que eu estive aqui quatro anos a dar apoio aqui na cidade. E lembro-me tão bem que para mim era tão difícil lidar com essa colega. Pelo facto de como ela tratava os alunos. Ela, portanto, fazia chorar os garotos. Lembro-me perfeitamente, um dia eu cheguei lá a dar apoio. Eu tinha lá dois sobrinhos meus, nessa turma, e lembro-me ainda hoje me dizem “oh tia, quando te víamos entrar para a nossa sala era uma alegria tão grande, tão grande”, porque aquela professora era desde as 9h00 até às 16h00 a fazer contas, a ler, a escrever, não os deixava levantar do sítio e eles, coitadinhos, crianças pequeninas. E lembro-me perfeitamente que um dia de manhã cheguei lá, e estava uma miúdito no quadro a fazer os trabalhos de casa. Eram contas de dividir, dificílimas para eles meninos do terceiro ano. O menino chorava e chorava. Olhe, chorava, chorava e ela era “porque tu és um burro, porque tu és um burro, porque não tens as contas, porque vais para casa e não trabalhas. Eu não sei que pais tu tens”. Imagine isto numa sala de aulas e eu já andava a dizer-lhe “Oh C., temos que ter calma, temos que ter calma, então os meninos não aprendem assim”, “Oh Gabriela, cale-se! Cale-se, por favor, isto não vai lá, tem que se ser duro com eles!” E pronto, naquela altura em que se davam bofetadas e essas coisas todas e então esse miúdo estava no quadro e eu entrei e o miúdo chorava e eu assim “bom dia amigos! Então como é que está tudo isso?”, e ele a soluçar, “então o que é que se passa?”, e ela “é aquele burro, está no quadro e não é capaz de fazer nada!”. E eu disse-lhe “oh C. eu posso ir lá ao quadro, ajudar-lhe a ensinar as contas de dividir ao N.?”, “vá lá Gabriela, a ver se consegue melhor do que eu”. E eu “calma, então olha N. vai lá fora, vai à casa de banho, lavas a carinha e depois vem cá e eu ajudo”. Depois eu fui para o quadro. O miúdo foi à casa de banho. Já vinha com outro espírito, mais calmo. “Ora vamos lá então, isto não custa nada. E se não aprenderes hoje, aprendes amanhã ou depois. Então ensinamos as vezes que quisermos”, depois lá estive a explicar as contas, ele começou a sossegar e começou a entender. E a professora “pois Gabriela, tem que vir sempre para a minha sala”, “olhe a primeira coisa é que tem de ter calma. Não são todos iguais. Aos berros, ninguém aprende”. Mas essa senhora, ela queria que eles soubessem tudo como antigamente, como a gente sabia as serras e os rios todos. Não podia ser. E então eles viviam aterrorizados.