52.1 Maia-1

ciclo 3º Ciclo e Secundário
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tinha outra característica, eu desobedecia. Desobedecia mesmo. Aliás, há muitos anos, eu estou a fazer arrumações, agora, como deve imaginar, eu encontro coisas engraçadíssimas, uma até pus no Facebook. Era o Ministro Marçal Grilo, aos anos que isto já foi, anos 90, para aí, não? E o rapaz convidou-me para uma reunião em Lisboa onde só estavam elementos da Administração. Portanto, estava o Governo, estava o Ministro, estavam os Secretários de Estado, estavam as Direções Regionais, e depois estava eu. E o JB estavam 3 ou 4 pessoas a que eles chamavam especialistas. Do Ensino Secundário, só estava eu. Eu achei aquilo estranhíssimo, não percebi e perguntei, mesmo. Quando olho à minha volta e vejo ali o staff todo, eu pensei “O que é que eu estou aqui a fazer?”. Quer dizer, estou no sítio errado e perguntei: “O que é que eu estou aqui a fazer?” [risos] E o Marçal Grilo disse assim: “Constou aqui em Lisboa que a Senhora Doutora é muito boa a não cumprir as regras. E eu quero que me diga quais é que são as regras que não cumpre e porquê, para podermos começar a falar em autonomia”. Estava lá o JB, depois foi um flop! Gosto imenso do JB, o JB não conseguiu fazer aquilo que quis, portanto aquele Decreto da autonomia, que toda a gente diz que é o Decreto do B., “é, mas não é”, quer dizer. Não é aquilo que ele queria, não é mesmo aquilo que ele queria. Portanto, até esse processo eu acompanhei muito de perto, não é? A saída do 115 foi acompanhada ali de perto e foi muito engraçado. Eu, às tantas, ao almoço nessa jornada em Lisboa (eles chamaram-lhe encontro informal, já não me lembro), mas à hora de almoço o senhor Ministro chamou-me para a mesa dele: “Venha aqui comer comigo”, “Ah, não sei se me apetece”, “Venha, venha, quero conversar consigo”. Eu às tantas, na conversa, perguntei-lhe: “Ouça, explique-me uma coisa”, e tem a ver com os concursos, que agora está outra vez em discussão com o João Costa, que está a tentar, ainda vamos ver. E eu disse-lhe: “Ouça, isto não faz sentido nenhum. As escolas não terem nenhuma capacidade e nenhuma autonomia para escolherem os professores. Não faz sentido nenhum. Isto dos professores andarem com a casa às costas, os concursos serem nacionais, não faz sentido nenhum…causa sofrimento às pessoas, as pessoas não conseguem ter uma vida estável, os professores são caixeiros-viajantes, aqui neste país, não é? Porque é que não muda isso, porque eu sei que até está de acordo”, disse-lhe eu.