title:Não me atrevo author: Luís Represas in: "A hora do lobo", 1998 from: Victor Almeida Não me atrevo a adivinhar o que tu sentes Quando tens quatro paredes por morada E lá fora sabes que és mais um ausente Que um dia apostou na carta errada. Não me atrevo sequer a falar das horas que tu passas conversando com os segundos que te ouvem quando às vezes te demoras a pensar se há mundo entre os nossos mundos. Não me atrevo a imaginar p'ra onde vais quando partes navegando pelos sonhos, quando voltas à frieza deste cais à distante realidade que nós somos. Não me atrevo a adivinhar a vida inteira que tu passas em revista a cada dia. Os momentos que tu lanças p'rá fogueira e as memórias que tu guardas por mania. Quando um dia me puderes ir visitar, não te vires para trás nem um momento. Segue o caminho que te leva à beira-mar dança com ele e faz de conta que és o vento. Não me atrevo a caminhar pelos teus pés que regressam sempre ao ponto de partida que te levam por caminhos que não vês e te acordam junto à porta de saída. Não me atrevo a perguntar por quem te espera quando chegar a hora de matar saudades. Espera-te o mar, porque esse nunca desespera, e te ensinou como é amar a Liberdade