Por aquele caminho
De alegria escrava
Vai um caminheiro
Com sol nas espáduasGanha o seu sustento
De plantar o milho
Aquece-o a chama
De um poder antigoLeva o solitário
Sob os pés marcado
Um rasto de sangue
De sangue lavadoLevanta-se o vento
Levanta-se a mágoa
Soltam-se as esporas
De uma antiga chagaMas tudo no rosto
De negro nascido
Indica que o negro
É um espectro vivoQuem lhe dá guarida
Mostra-lhe a pintura
Duma cor que valha
Para a sepulturaNão de mão beijada
Para que não viva
Nele toda a raiva
Dessa dor antigaFalta ao caminheiro
Dentro da algibeira
Um grão de semente
De outra sementeiraO sol vem primeiro
Grande como um sino
Pensa o caminheiro
Que já foi menino
Fernando Pais
Lourenço Marques 1956. Versos destinados à página literária de ``Voz de Moçambique''. A música peca por manifesta ausência de identificação com os espírito dos ritmos e temas africanos.