Ao canto da noite
Esperava o dia
Que fossem horas de a ver chegarAo canto da noite
Já desesperava
Em todos os cantos que deixou p'ra trásEsperava como dia
Como tarde
Ou até como amanhãEsperava ao ver-se ontem
já levado em braços
Pelo pôr do SolAo canto da noite
Já ninguém ficava
A fingir que faz poemas a ninguémAo canto da noite
Já ninguém deixava
Fugir desabafos por perder alguémSó quem passasse
E olhasse para o nada
Via um vulto que se escondePor trás do nada
O dia espera
Como escravo do horizonteEspera
No fundo do canto da noite
Foge
P'ra longe do canto da noiteAo canto da noite
Pensava o dia
Que se podia um dia apaixonarSe houvesse outro dia
Que para ele olhasse
E se deixassem os dois abandonarAo canto de uma noite
Sem ter medos
Sem ter regras a cumprirDepois fugir do canto
Sem destino
Sem ter rotas a seguirJá se ouviu contar
Que nesse canto mora a alma
De outras tantas almas
De outros cantos
De outras noites
www.luisrepresas.com(Galamares, 20-10-99)