9.1 A barba

ciclo 1º Ciclo
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pof entrevista_Graziela
keys Educação Especial

Eu lembro-me de ter lá uma professora de História, do 1º Ciclo, mas também de História, e estava na Educação Especial, que nós tínhamos muitos. E ela dizia-me assim: “Olha lá, a S. não me diz o nome”. E eu: “Mas ela a mim diz-me. Eu chamo-a e ela vem, dá-se pelo nome, dá-se por S.”. E então diz ela: “E tu como é que fazes?”, e eu na altura disse…ela diz “Diz-me o nome”, e ela não entendia essa linguagem. Que era uma miúda bastante deficiente. E eu dizia-lhe: “Como te chamas?”. Portanto, ela entendia “como te chamas”, mas não entendia “diz-me o nome”. Pronto, já está a ver a deficiência, o grau de deficiência da miúda. E…e tinha outros miúdos…um miúdo deficiente, se a pessoa lhe der azo, ele abusa muito. E nós temos que ser muito exigentes com eles. E eles sabem quem é o professor que exige e quem é o que não exige. E então, eu tinha lá também outro deficiente, que era filho adotivo de pais velhos, e que me levava dez camisolas para a escola.

Entrevistadora: Vestidas?

Graziela: Vestidas. Eu chegava lá e dizia-lhe: “Tens que tirar as camisolas”, e ele tirava as camisolas e ficava com duas ou três. E esse miúdo deficiente não sabia fazer a barba, o pai era adotivo e velho, um dia disse-me: “Oh professora, eu faço-lhe a barba com a máquina, mas ele está sempre a fugir, sempre a fugir”. E eu…o que é que eu faço, converso com o Conselho Executivo e contei a situação, disse: “Passa-se isto assim e assim, poderíamos comprar os materiais e eu ensinava-lhe e fazer a barba, aqui”. Pronto, eram estas coisas que eu tentava trabalhar com eles, porque um miúdo deficiente, eles precisavam de aprender, por exemplo, a palavra “paragem”, a palavra “mãe”, “pai”, mas só a palavra visual. Pronto, porque depois…portanto, eles sabiam, alguns, sabiam que aquela palavra queria dizer mãe e pai, mas se fosse preciso o nome completo não sabiam, nem entendiam. Portanto, está a ver o grau de dificuldade. Mas voltando ao da barba, então comprámos os materiais, e eu vou com o miúdo para a casa de banho, ensinar-lhe a fazer a barba. E então, ele foi para a casa de banho, preparou o material dele, da barba, e agora vamos fazer. Eu então disse-lhe: “Põe lá a espuma”, e ele lá começou a fazer. Quando chegou aqui à parte do buço, é que foi o caraças [risos] porque eu não sabia fazer. O que é que eu faço?, vou chamar um funcionário. E disse: “Oh Sr. J, venha-me aqui ajudar”. E ele foi lá, a primeira coisa que ele lhe ia fazer era tirar-lhe a gilete para ele lhe fazer a barba, e eu disse: “Não”, portanto está a ver…a minha ideia bate certo. E então, ele ia-lhe tirar a gilete: “Não, como é que o Sr. J. faz a barba?” e ele ensinou. Ele diz-me assim: “Faço isto”. Metia aqui a língua. Pronto, e eu então disse-lhe, ao miúdo: “Fazes, ora tenta fazer”, e ele tentou, aprendeu a fazer a barba rapidamente. Portanto, isto foi um alívio para os pais…muito grande. E elas, quando eu estive lá, quando me encontrei com elas no café, falaram-me nisso. E outra coisa, por exemplo, eu tinha…era outro aluno diferente, que a mãe exigia que ele tivesse tarefeira.