68.7 Eu fiquei mesmo doente

ciclo Pré_Escolar
id Nena-9
pof entrevista_Nena
keys mãe // diversidade dos alunos // comportamento
nvivo dificuldades

Estamos a falar de muitas horas na escola, quer dizer, muitas horas. Eu cheguei a ter uma mãe, que isso é que me perturbou, eu fiquei mesmo doente! Eu vi logo que ia dar bronca. A mãe tinha três meninos. Um depois já saiu. Andavam os dois miúdos comigo na sala. Nós tinhamos grupos heterogéneos: de três, quatro, cinco anos. Eu com os de três anos de vez em quando tinha uma animadora ou então tinha a funcionária e arranjava uma forma de eles estarem ali noutra atividade. E incidia muito mais nos meninos de quatro, cinco anos. Memso os de três anos não tinham grau de atenção, de comunicação, de fazer, enfim. Nunca os excluía, mas nestas coisas mais puxaditas eu tentava ter outra ocupação, até no recreio, até lhes arranjei umas bicicletas e eles ficaram todos contentes. E uma hortinha e também ficavam contentes, para alguns era uma terapia. E tive essa mãe e eram, portanto, os dois irmãos. E eu na reunião, portanto comecei a perceber que a senhora deixava lá de manhã cedo o miúdo até às quinhentas, um miúdo de três anos. O miúdo chegava depois de almoço e estava morto de cansaço, cheio de sono, irritadiço. E berrava, berrava. Eu falei com a mãe e disse “Olhe, eu aconselho-a a vir buscar o menino, depois de almoço, porque ele não se aguenta. Nós não temos condições para o menino descansar”. Não me ligou nada, absolutamente nada. Porque, lá está, era educadora. Porque se fosse uma professora, provavelmente ligavam. É que há uma diferença de estatuto, naquela altura havia uma diferença de estatuto. Agora também há, mas mais diluído. Mas havia um diferença de estatuto, o que o professor dissesse estava bem dito, o que o educador dissesse alto lá, ponto de interrogação. E ela não me ligou patavina. Conclusão: o miúdo continuava a berrar na sala. Tentei de tudo para o acalmar. Não consegui. Até que um dia tomei uma decisão e disse “Olha!” Perguntei “alguém te está a fazer mal?” Então vamos fazer o seguinte: eu vou-te pôr lá fora, ali nas escadas” - é dentro do edifício, portanto, não havia perigo - “quando tu parares de chorar podes entrar na sala, enquanto não parares de chorar não entras na sala”. A miúda era mais velha, cinco anos, e foi contar a mãe que eu pus o menino fora da sala e a mãe quis vir chatear-me a cabeça. E eu disse ” Já falei consigo sobre a situação, certo? A senhora gosta de ouvir o seu menino a berrar em casa?“,”Ai não! Ai, ele irrita-me!“,”Ah, então agora, a senhora ponha-se no meu papel. O seu filho a berrar e eu com 24 meninos”. Ela calou-se! Bem, entretanto, continuaram a não ligar muito, mas o miúdo começou também a acalmar e tal. Portanto, a verdade é que eu saí de lá e um dia fui ao tribunal e vi lá a senhora no tribunal. Andava metida na droga, só podia dar assim uma coisa destas. Só podia dar… não estava a trabalhar e os miúdos eram revoltados. São situações que nós também acabamos por ver e que nos custa muito, também, porque os miúdos não têm culpa. O miúdo até era amoroso, coitadinho, mas o miúdo sentia-se que estava ali abandonado pela mãe e, portanto, pela mãe. Enfiava-o lá uma porrada de horas. Isto é violento demais!