66.1 Um caso muito difícil

ciclo Pré_Escolar
id Maria Tiago-1
pof entrevista_Maria Tiago

Eu posso falar do T, que eu até nem queria que o meu filho fosse o Tiago, mas o meu marido pôs-lhe J T e assim ficou. Ele tinha asma. E trabalhava muito com a porta aberta, era mais livre. Li muito, assim aos 18 anos, o [incompreensível] e coisas assim. Ele era muito pouco comunicativo, parece que não estava a fazer nada. E uma vez eu fui ver. Ele tinha partido quatro termos - os termos que os meninos traziam para o almoço. E eu fui obrigada a ir comprar comida. Eu chegava a um jardim com ele e eu via as educadoras todas irem embora porque ele começava a morder as crianças e eu a correr atrás dele para o apanhar. Não conseguia parar. Aquilo era ao pé de S e agora é um agrupamento. Ele partiu várias cabeças de crianças, muito mais velhas, porque mandava pedras. Depois eu falava com ele e ele ficava sem olhar para mim. Ele levou um coelho para a sala. Eu tive o coelho na sala. O único dia que eu faltei - que eu faltei muito pouco ao longo da minha vida - faltei uma sexta feira e ia tomar café sempre ali no F N, no cafezinho. E cheguei lá e o senhor disse-me: “Oh educadora, já foi à escola?” Eu disse: “Não, mas há algum problema?”. Eu cheguei, ele estava com a comida, a falar do coelho - e estavam todos a gritar, com todas as mães a olhar para. “Ele matou o coelho na sexta-feira!!!” Ele mandou o coelho contra a parede. Eu na altura tinha uma estagiária - que eu disse na Escola Superior de Educação que não queria ter porque era ainda muito novinha -mas ia lá uma psicóloga e dizia que estava tudo bem, que eu estava a fazer bem com o T. E eu achava que estava a ser muito permissiva. E foi quando falei. Num dia de chuva, ele já tinha ido lá para fora dez vezes. Ele estava com asma. Foi quando eu cheguei ao pé dele e a chuva a cair por cima de mim, dele. Agarrei, mas agarrei o entre o desespero e até com alguma assertividade, disse: “Eu estou cansada e não sei o que fazer contigo.”. Ele ficou a chorar agarrado a mim e eu a chorar, com a chuva, agarrada a ele. Vim cá para fora e disse à coordenadora que ia embora porque estava quase na hora de sair. E fui-me embora. E no outro dia, entrei, ele estava a olhar na sala e disse-me “Olá.”. Depois disse… As pessoas irritaram-se com a mãe. A mãe também era muito calma. Eu acho que ele estava há muito tempo a querer que eu fosse mais assertiva com ele e eu não estava. Portanto, ele ia de problema em problema. Mas ele nem é de desafiar - porque hoje tenho muitos que desafiam. Mas ele ficava assim. Na escola, a mãe disse-me que estava a correr tudo lindamente. Dizia-me a mãe: “Até tenho pena de si, foi consigo que ele fez tudo isto.”. Passado quatro anos eu fui ao C. M. - ele morava ao pé do C.M., numa casa de venda de produtos, de materiais - e alguém lá dentro perguntou se estava aqui alguma M.T. Eu disse: “Sou eu.”. Estava a mãe dele e estava ele à porta. Ele estava no quinto ano. Eu aproximei-me do T e as lágrimas caíam pela cara do menino. Ainda hoje emociono-me porque abracei-me a ele e disse: “Então T, estás bom? Estás tão bonito e tão grande.”. Ele continua a abraçar. Ele não disse nada e a mãe também fez assim um abraço e disse: “Que corra tudo bem e disse xau.”. Mas tenho mais histórias.