| ciclo | 3º Ciclo e Secundário |
| id | Otávia-1 |
| pof | entrevista_Otávia |
É engraçado que quando comecei a fazer este apanhado dos anos da minha vida na escola, como professora, eu decidi ligar toda a minha profissão aos ministros da Educação de cada fase. Eu acabei por me aperceber que havia alguns que marcaram muito a minha vida e eu fiquei muito curiosa por saber que nomes foram esses. Eu já os tinha gravado no meu coração, posso dizer assim. Depois quis associar a datas precisas e foi assim que eu assinalei alguns nomes.
Entrevistadora: E que ministros foram esses que a marcaram? Tanto pelos bons motivos, como pelos menos bons.
Otávia: Temos aqui alguns, temos. Então, o Sottomayor Cardia, em 1977-78 - ano em que eu fiz o meu estágio. Eu continuei aqui em Paredes, a lecionar, até que a antiga secção liceal do H.P. se transformou em Escola Secundária de M. Isto já abria o leque a mais níveis de ensino. Eu comecei a sentir alguma falência na minha formação e então, mesmo só com o bacharelato, decidi fazer o estágio - era possível. Em 1976-77 e em 1977-78, com o ministro Sottomayor Cardia, é nesta fase que eu vejo a importância dos ministros, da política, a importância da política na atuação dos professores. Portanto, foi com o Sottomayor Cardia que eu fiz o estágio, até ao final do ano lectivo, sendo depois seguido do ministro Carlos Alberto Lloyd Braga - este nome já não me diz nada. Eu, que era professora do oitavo B (grupo), fiz uma escolha. Passei a ser professora apenas de Português. Eu podia ser [professora de] Latim, Português e Grego. Fiz estágio em Português, numa escola técnica de Vila Real, no oitavo grupo A. É engraçado como, com o tempo e com os ministros, as designações dos grupos vão mudando. Isto até me fez fazer a pesquisa. Eu fiz a opção do Português em detrimento do Francês. Eu, na altura, já tinha uma filha, já era casada e vivia com meu marido também - ele era um garante da nossa subsistência. Eu queria um dia efetivar como professora - a luta - e pertencer aos quadros. Como havia mais falta de professores de Português, do que de Francês. Aliás, os [professores] de Francês, nessa altura ainda tinham bastante trabalho, mas já se falava que um dia a disciplina de Francês iria ser um bocadinho posta de lado, passando o seu lugar ao Inglês. O Inglês era a língua de eleição, que iria passar a ser a língua de eleição. Eu, em detrimento do Francês, escolhi o Português porque me assegurava mais facilmente a colocação como professora efetiva. Fiz o estágio. Este ministro, o Sottomayor Cardia, era uma figura cimeira do pensamento e ação política em Portugal. Há aqui outro pormenor. Nós já começávamos a sentir a vibração da democracia. Eu sou democrata e sempre lutei contra o regime fascista. Notava-se essa vibração, esse movimento, esse favorecimento da democracia. Foi com ele que se criou o ano propedêutico, agora, 12.º ano, o numerus clausus, etc. Portanto, foi um ministro que teve bastante influência. Foi com ele que eu obtive a minha certificação de habilitação para o exercício do Magistério, do [grupo] oitavo A. Portanto, que eu consegui, realmente, o certificado, a carta de professora.