51.1 Luciana-1

ciclo 3º Ciclo e Secundário
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muito esforçada a e muito voluntariosa, a querer que os meus alunos todos participassem nas aulas e a querer de certa maneira, ainda, talvez não lhes chamasse isso, mas com a ideia de que a Educação Física devia ser inclusiva e devia ser para todos (incompreensível) eu tinha um aluno amblíope. Portanto, um aluno com dificuldades de visão muito grandes que eu quis integrar na aula, e convidei um colega dele a fazer uns passes com uma bola de andebol. Lá está, não havia instalações, estavam em obras. Nós fomos para uma avenida que chamava Avenida da Praia e, no primeiro passe que o rapaz lhe fez, não sei se de propósito…

Depois tive outra que envolveu encarregados de educação. Já nesta escola (há uns 5, 10 anos nesta escola. (incompreensível) a ideia de que a classificação de Educação Física não deve existir, que os alunos são vítimas da Educação Física e que [o aluno] não entrou na faculdade por causa da Educação Física. (incompreensível) a professora diz que não eram exigentes como o pai dizia, eram tolerantes, avaliavam sempre por baixo, em relação às exigências de facto. Só para contextualizar… era uma escola, não era por acaso que lhe chamavam o Colégio C.. Era uma escola pública, mas começou por ser uma escola secundária.

Havia muita luta por conseguir um lugar nesta escola. Portanto, como havia muita procura, também deveria haver seleção e ficariam sempre os melhores. Portanto, não havia meninos do Bairro. Agora a escola é um agrupamento, há muitos meninos carenciados, refugiados. Não havia nada disso, portanto, era uma escola muito homogénea, de classe média. E, portanto, grandes expectativas em relação ao ensino superior e muito críticos em relação à questão da Educação Física.

E usavam muitas vezes um expediente que era arranjar atestados médicos para os alunos não fazerem Educação Física, e poderem ser avaliados só na área dos conhecimentos e portanto através de trabalhos teóricos. Eu tive uma aluna nessas circunstâncias, embora eu nunca confrontasse os pais com isso, eu sabia que ela fazia equitação e fazia vela e fazia outras atividades físicas, mas tinha um atestado para não fazer Educação Física. E eu tentei convencer a aluna com os pais para que fizesse alguma coisa para não estar desintegrada da aula. Ficava ali de braços cruzados. Mas nós temos uma turma de 30 ou 25 alunos a fazer atividade física e não podíamos estar a dar atenção sistematicamente ao aluno que está de fora. Mesmo que se coloquem tarefas para fazer, é difícil. Então tentei que a aluna fizesse fichas. Fiz-lhe um plano.

Plano individual, com objetivos, com adaptação do currículo, com aquelas coisas para diferenciar, aproveitando aquilo que ela pudesse fazer. E assim foi. Só que depois, a aluna não teve a nota que quis e eu passei de bestial a besta em dois tempos e fui agredida psicologicamente, durante muito tempo.

Não foram para os mecanismos legais, não é? Não, não colocaram recurso à classificação. Tinha sido tudo partilhado e tudo discutido. E ela assinava o plano. Não sei o que é que se passou. A diretora de turma tinha elogiado imenso a minha preocupação de ter feito aquilo para a miúda se integrar na aula. De repente mudou, mudou o chip e eu passei a ser o maior carrasco da vida da filha, e fez uma reunião com o diretor, comigo presente. Chamou-me o que havia para chamar e eu fiquei com aquilo na cabeça semanas a fio.

Não percebi o que é que tinha acontecido. Ainda hoje, não percebo e ainda me incomoda quando me lembro. Mas foi assim que, de facto, uma coisa que não percebi e que me marcou negativamente, porque foi mesmo violento aquilo que ouvi dizer, porque era tudo coisas que eu não percebia, que não eram verdade, que eu tinha feito tudo para prejudicar e que tinha arranjado esta maneira de dizer.