50.2 Lara-2

ciclo 3º Ciclo e Secundário
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Tive uma situação que aconteceu há pouco tempo, que, para mim, eu digo, isto é o melhor que eu tenho na minha profissão, numa turma do ensino profissional, turma que eu tenho este ano; o menino que integra a turma desde o início e que veio de Angola, que é angolano e que veio há poucos meses, está ali há um tempo, sei lá… um mês talvez na escola, e depois é transferido para Viseu, para outro curso e para outra escola, por questões familiares. Ele esteve ali enquanto esteve com a irmã, veio a mãe, a mãe foi viver para Viseu e o miúdo foi transferido. E, então, ele não tinha livro, eu emprestei-lhe o meu livro. Então, no dia, na véspera do dia em que foi embora, ele disse-me ‘Professora, hoje é minha última aula, eu vou-me embora’. E eu disse ‘Ah, que pena, vais embora’, e ele explicou-me. Eu disse-lhe ‘Olha, tens o meu contacto, se precisares de alguma coisa, portanto, estou disponível’. E o menino foi à vida. Logo no segundo dia, na outra escola, a meio da manhã, eu recebo uma mensagem a perguntar como é que eu estou, se está tudo bem comigo e que aquela escola é muito diferente. E eu comecei a pensar, assim, esta mensagem não é inocente. Repare, a meio da manhã, qual é o jovem que vai pensar numa professora? E aquilo começou [incompreensível] ‘eu não lhe vou responder já, mas eu acho que há aqui um desconforto’, pensei eu. Nessa mesma semana, eu tive conselho de turma, dessa turma. E então, o que é que eu fiquei a saber no conselho – e foi online o conselho. O menino tinha pedido novamente para regressar a Nelas. Tinha pedido a quem? À diretora de curso, ‘Ah, mas não há vaga e não sei quantos e trancos e barrancos’. E acabou, ‘Não, não há vaga. Aquilo bateu-me e eu, olhe eu estava na reunião online e resolvi ’vou responder ao menino’. Como estás e como não estás, e mais isto e mais aquilo. Devolve-me a mensagem imediatamente a dizer que estava muito triste, que tinha pedido para regressar a Nelas, que disseram que não havia vaga, mesmo, que ele estava muito triste, porque a escola de O era muito melhor. E eu disse ‘olha, tem calma, isto e aquilo’. O que é que eu fiz? Passado umas horas, liguei à minha diretora, expliquei-lhe e disse ‘Olha, eu não quero ultrapassar ninguém, mas é assim, é uma mensagem de um aluno’, independentemente de ele ser só meu aluno e eu não ter nada a ver com ele a nível, portanto, sei lá, de cargo, não é? Eu pus-lhe a situação e ela nem sabia e ela só me disse assim ‘Ah, mas disseram que não havia vaga’. Eu questionei e disse ‘Se vier um aluno para essa turma agora, tu dás-lhe ou não dás entrada na turma? Há ou não há lugar?’ E ela disse ‘Há’. ‘Então, se há lugar, há lugar para ele’. E eu disse ‘Olha, eu peço que tu vejas’. Resultado: o menino já regressou.