| ciclo | 3º Ciclo e Secundário |
| id | Hélder-2 |
| pof | entrevista_Hélder |
| keys | castigo // biblioteca |
Sim, sim, lembro-me do primeiro ano que eu entrei para a direção da escola. Foi logo a seguir ao estágio. Fiz estágio, tive um ano, fui logo coordenador da disciplina de francês. Chamava-se delegado de Disciplina naquele tempo. E no ano seguinte fui convidado para entrar numa lista para o Conselho Diretivo, as eleições eram feitas na escola. Muito mais democrático do que é agora com os diretores. Isto agora é um cargo mais político que outra coisa. Naquela altura não. Eram os colegas, eram os professores que escolhiam quem queriam lá, a maioria ia para o Conselho Diretivo. E lembro-me que no primeiro ano que estive lá, portanto, também nunca tive nenhuma formação para ser do Conselho Diretivo. A gente aprende a fazer, fazendo, e claro a única coisa que havia é que a presidente já tinha estado no diretivo anterior. E vai-se passando mais ou menos o testemunho. Nunca havia ali nada a partir do zero, coisa que agora acontece. Vem um diretor novo que nem sequer conhece a escola e avança com isso. Então lembro-me de uma questão interessantíssima, interessantíssima no aspecto negativo mas que deu para aprender que era a distribuição de horários. Os professores mais antigos achavam que, como na tropa, a velhice era um posto e, portanto, o horário deles tinha ser de acordo com o que eles queriam. Ou seja, “segunda feira não quero ter aulas”, porque vem depois de domingo, e “sexta feira também não”, porque era fim de semana. E já agora, “terça, quarta e quinta eu gosto de dormir de manhã e só quero ter as primeiras aulas às dez horas”. Das dez ao meio dia e, por exemplo, das 15h às 17h. Era assim. Eu cheguei, organizei o grupo de formação de horários e disse “toda a gente vai ser tratada por igual”. Pronto, fazem-se os horários e começaram-me a cair os velhotes em cima, “ah porque nunca foi assim”. E eu “então como é que vocês querem? Façam lá a vossa proposta” e eles faziam. “O meu horário é assim e assim”, e “então o que fazemos a estes colegas?”, “eles que se arranjem!”. Ai é assim? Numa escola é assim? Até professores de moral, “então o senhora está a dar moral e não se importa com o colega?”. E houve uma professora que não aceitou o horário. Fez o horário dela e em vez de cumprir aquele que eu lhe atribuí com o carimbo da escola, cumpriu o horário dela. Teve uma altura em que chegou a uma sala em que estava eu a dar aulas à minha turma. Ela bateu à porta, olhou para mim, disse “oh bicharoco saia daqui”. E eu “Saia daqui? Não, não saio. A senhora - para já estou a tratá-la por senhora - é que vai fazer o favor de sair.”. Delicadamente pu-la da parte de fora com os alunos dela. Fechei a porta por dentro e continuei com a aula. Pronto, acabei a aula e participei imediatamente à inspeção escolar e ela também. A inspeção veio. Ao cabo de 8 dias estava lá a inspeção. Deu-lhe um chá de tal maneira, uma repreensão de tal maneira, uma reprimenda de tal maneira que a senhora ficou de boca aberta. Disseram “ele tem razão. É assim e a senhora tem de cumprir, senão abandona e tem o processo disciplinar”. Então a senhora acatou, os outros todos acabaram por acatar também e as coisas foram por aí adiante. Mas era extremamente difícil, porque eram um jovem que estava ali. A presidente do Conselho diretivo tinha ficado doente. Havia um terceiro elemento que ainda não tinha sido eleito. Eu estava sozinho!