24.4 Cecília-4

ciclo 2º Ciclo
id Cecília-4
pof entrevista_Cecília

eu tive, neste agrupamento, as chamadas turmas difíceis, também turmas de alunos dos considerados bons alunos, algumas turmas com a professora L… mas turmas difíceis, turmas SEF. Tive um ex-aluno… no outro dia, ia a sair cansada, mas muito cansada, da direção, seriam 20h. Vi um carro a chegar, vermelho, assim todo turbinado, como se diz. Então parou: “Ó professora Cecília!” Eu olhei e quem era? Um aluno - que eu posso dizer o nome, que depois vai salvaguardar, de certeza, na entrevista - era um aluno, o B., que era um aluno que eu já tinha aberto não sei quantos processos disciplinares. Coitado, era um aluno [que] não tinha pai, não tinha mãe, era o avô, ele estava entregue ao avô e era o aluno que me deu mais problemas… que não imagina. Então, o avô passou as passas do Algarve com aquele neto. Todos os dias estava na escola, ele teve não sei quantos processos disciplinares… ele não era meu aluno, mas eu estava na direção e todos os dias ele ia à direção e todos os dias eu falava com ele e todos os dias tentava que ele mudasse de comportamento. Eram sempre as faltas disciplinares a cair na aplicação. Entretanto: “Ó professora Cecília!”. Eu fiquei tão orgulhosa, nem imagina, porque ele foi lá de propósito. Então, o que é que ele lá foi fazer? Ele estava no carro com a namorada, que era mulher, e foi lá mostrar-me o bebé, que tinha acabado de ser pai. O bebé tinha para aí 15 dias, tinha uma empresa, era picheleiro, tinha uma empresa de pichelaria. “Ó professora Cecília, está a ver? Tanto me deu na cabeça e olhe, está a ver? Tenho uma pichelaria. Quando precisar…!” – portanto, estas coisas… - “… eu sou pai, está a ver?” – então tinha no carro escrito F., que era o nome do filho. Eu fiquei tão feliz. Disse: “Ó B., estás a ver os cabelinhos brancos, estás a ver? Foste tu, alguns daqui foste tu…!” Mas fiquei tão feliz… foi um dos alunos mais complicados, e uma pessoa conseguir dar rumo a um aluno destes… não conseguimos salvar todos, mas pronto, conseguimos, efetivamente, dar rumo a um aluno. São estas coisas que, no fundo, também nos marcam e ficamos – não se esquecem de nós. Foi propositadamente à escola mostrar-me que tinha atinado e que tinha sido pai e mostrar-me o filho. Fiquei mesmo feliz