| ciclo | 2º Ciclo |
| id | Aldina-1 |
| pof | entrevista_Aldina |
| keys | Família // Encarregados de educação |
Mal-estar, é pouco. Mas guardo, acima disso - e vou-lhe contar só por graça, porque vai-se rir- guardo nestes 39 anos, guardo sempre o bom senso, sempre o bom senso e o respeito por mim, pelo trabalho dos meus colegas, mas sempre por mim. Porque havia alguns pais que diziam assim “oh professora, a professora de Ciências faz coisas que não deve”, porque eu dizia aos meus alunos - e fui dizendo conforme fui envelhecendo - dizia aos meus alunos “qualquer coisa que vocês tenham com a professora A, B ou C, vocês não vão dizer lá fora, vocês conversam comigo. Falamos em aula, ou conversamos em aula em grupo, ou conversam sozinhos comigo”. Porque há coisas que nós achamos que é assim e depois precisam de ser purificadas, entre aspas, precisam de passar ao crivo e “venham falar comigo, nós conversamos”, e aos pais eu dizia sempre a mesma coisa, “qualquer coisa que tenham contra este, contra aquele, conversem comigo, mandem-me mail. Mandem uma mensagem na caderneta, telefonem para a escola. Eu posso não reagir rapidamente, mas reajo”. Portanto, conversamos e eu tenho sempre encarregados de educação que dizem “a professora diz para nós virmos falar consigo, e olhe, surgiu isto aqui, e eu vim falar consigo”. Nestes 39 anos, o que eu guardo, sobretudo… mas que eu acho que também tem a ver com a minha maneira de estar, com o ser clara. Eu sou capaz, às vezes eles na sala de aula dizem “uma pessoa chamou-me filho da…” e eu digo “quê? chamou-te filho da puta. Mas tu não és filho da puta, a tua mãe não é nenhuma puta. Portanto, tu não és filho da puta”, eu digo isto em sala.