#==>Sasoma-tese-mestrado.pdf ()<== III.1. Caracterização da estrutura da língua Umbundu Fazer a caracterização de uma língua bantu como o Umbundu que está codificado em R10 na classificação de Guthrie (1967), implica abordar fundamentalmente sobre elementos que, de modo geral, caracterizam o seu grande grupo linguístico. Ngunga (2004:50-52) menciona os seguintes critérios que distinguem as línguas bantu das outras. A) Critérios principais 1. Os indicadores de género devem ser prefixos por meio dos quais os nomes podem ser distribuídos em classes, cujo número varia, geralmente, entre 10 e 20. 2. As classes por sua vez devem normalmente estar associadas em pares que opõem o singular ao plural de um dado género. Além dos géneros de duas classes existem géneros de uma só classe, em que se verifica a oposição singular/plural e o prefixo da classe pode ser idêntico ou não a um dos prefixos (seja plural, seja singular) de um dos géneros das duas classes. Outras vezes a oposição pode ser triplicada, podendo, além de se distinguir do plural, também se distinguir dos dois números e do colectivo; 3. Quando uma palavra tem um prefixo independente (PI), prefixo nominal, como indicador de classe, toda a palavra a si subordinada deve concordar com este por meio de um prefixo dependente (PD) ou prefixo de concordância; 4. Não deve haver correlação entre o género e a noção de sexo ou qualquer outra categoria semântica claramente definida. Portanto, dá-se ao termo ‘género’ um sentido mais vasto, sem referência necessária ao sexo, ou sem analogia clara com a distinção natural, (Bleek, 1869: 94), mas apenas como uma categoria de concordância gramatical. 5. As línguas bantu devem ter um conjunto de radicais (RAD) invariáveis desde as quais se forma grande parte das palavras por aglutinação de afixos, apresentando os seguintes traços: a. Os radicais devem apresentar-se sem afixos; b. Juntando-se-lhes sufixos gramaticais devem formar bases verbais; c. Juntando-se-lhes os sufixos lexicais devem formar termos normais; d. Entre o radical verbal e o sufixo deve ser possível inserir-se um sufixo derivacional chamado morfema de extensão. Estes são alguns dos critérios através dos quais se distingue as línguas bantu, baseados nos estudos realizados por Guthrie desde 1940 e divulgados perto de 30 anos depois. De acordo com Guthrie (1967: 11), uma das características destas línguas é terem o processo de formação de palavras por aglutinação; por isso uma análise deste processo pode ser baseada no método de fragmentação. Falando particularmente da língua Umbundu, Valente (1964: 47) aponta resumidamente o seguinte: a) O radical de uma palavra pode manter-se íntegro, conservar a sua significação e receber uma nova ideia com a classe em que se cataloga; b) Numa classe o classificador pode ser um só para o singular e múltiplo no plural, segundo a categoria do nome pluralizado e pode haver uma forma comum do plural para diferentes classificadores. III.1.1. Classes nominais Nas línguas bantu os nomes, vistos do ponto de vista da sua estrutura morfossintáctica, envolvem classes nominais, concordância e derivação. A seguir é apresentada cada uma das classes nominais na base da classificação desenvolvida por Bleek (1869), Valente (1964), Guthrie (1967) e Schadeberg (1990), a partir da qual é descrito o sistema de classes nominais na língua Umbundu. 1) A classe 1 com o prefixo u denota seres humanos. Por exemplo: ulume (homen), ukaî (mulher), ukuendje (jovem), umalehê (rapaz) e tem o plural na classe 2 com prefixo a . Assim temos: alume, akaî, akwendge, amalenhê. 2) A classe 3 com o prefixo u indica nomes de árvores ou outras plantas, a qualidade moral da pessoa, ofícios, nomes dos animais e partes do corpo humano: upindi (perna), utwe (cabeça), uti (árvore), umbombe (bondade) e tem o plural na classe 4 cujo prefixo e´ovi/ovo: ovipindi, ovitwe, oviti, ovombombe. 3) A classe 5 com prefixos e-/i também engloba nomes iniciados em l e que em Umbundu têm classificador singular. Esta classe se refere a actividade externa, indica instrumento de trabalho, fenómenos naturais, animais, partes do corpo humano e também serve de aumentativo e expressa o sentido pejorativo. Vejamos nos exemplos: etemo (enxada), etuî (orelha), endunde (aluvião), elingãlo (camalhão), eyui (louco, maluco), eveke (parvo). 4) A Classe 6 com o prefixo a funciona como plural das classes 1 e 5. Também denota líquidos, serve ainda como referência de tempo. Nessa classe temos: atemo, atuî, andunde, alingâlo, ayui, anhamo. 5) A classe 7 com prefixos tchi/otchi indica partes do corpo, instrumentos de trabalho, denota animais, nomes de doenças e pessoas importantes. É também pejorativa, aumentativa e designa números: otchitele (instrumento), octhitende (demente), tchimbanda (médico), tchinhama (animal), otchita (cem), otchindjo (casarão) e tem o plural na classe 8 com prefixo ovi. Como exemplos temos: ovimunu, ovitele, ovitende, ovimbanda, ovinhama, ovita. 6) A classe 9 com prefixos o/ni denota animais, pessoas especiais, partes do corpo e instrumentos. Por exemplo: ningui (lobo), ondimba (coelho), ondjali (mãe), osandgi (galinha). 7) A classe 10 serve de plural das classes 9 e 11, com o prefixo olo-ni. Por exemplo: oloningui, olondimba, olonjali, olosanji, olonelengue, olonsi. 8) Com prefixo lu-olu, a classe 11 refere-se a objectos compridos e finos, indica reserva, círculo, habitat. Engloba parte dos vermes e peixes. Tomemos como exemplo: olunelengue, olueyo (vassoura), olunsi (peixe), olunhe (mosca), olumenhe (barata), oluhamwe (mosquito). 9) Temos a seguir a classe 12 que tem sufixos diminutivos e aumentativos ka- oka. Por exemplo: okalunelengue, okalueyo, okalunsî, okalumenhe, okaluhamwe. 10) Com prefixos otu-tu esta classe 13 faz o singular da 12 e as vezes da 14. Por exemplo: otulunelengue, otulueyo, otuhamwe. 11) A classe 14, se refere ao singular de nomes abstractos e coisas incontáveis. Exemplo: ovava (água), ofela (vento). 12) A Classe 15 de prefixo oku, refere-se ao infinitivo dos verbos e a algumas partes do corpo. Geralmente leva o plural na classe 6. Exemplo: okwenda (marchar, andar, ir embora), okupapala (brincar), okulo (perna), okutanga (estudar). 13) A Classe 16 é locativa situacional po. Esta classe não tem plural, tem poucas palavras das outras classes. As palavras pondjo (Junto da casa), pomanu (no seio de gente), posicola (junto a escola), ponjila (próximo do caminho), são alguns dos exemplos desta classe. 14) A Classe 17 é locativa direccional ko. Não tem plural, nem tão pouco palavras das outras classes. Exemplo: kondjo (para casa/ a casa), kosicola (para/ a escola), konjila junto do caminho. 15) A Classe 18 funciona como locativa de integridade mo. Assim como as classes 16 e 17, esta também não tem plural e apresenta poucas palavras das outras classes: mondjo (na casa), mosicola (na escola), monjila (no caminho). É vital sublinhar que regra geral cada uma das classes nominais corresponde a uma ou mais categorias, havendo por outro lado categorias que aparecem em mais de uma classe; as de animais e partes do corpo são os casos mais frequentes. Importa referir que ao contrário de outras línguas bantu, na língua Umbundu não existem palavras para as classes 19, 20, 21, 22 e 23. Para Ngunga (2004: 111) os prefixos reconstruídos que foram apresentados nas listas de Bleek e na classificação de Guthrie variam de língua para língua, obedecendo à evolução fonética de cada idioma. Assim, nem todas as línguas comportam 23 classes nominais. Portanto a língua Umbundu ainda não atingiu um nível de evolução que dê cobertura às classes que vão da 19 à 23. Importa referir entretanto que, apesar disso esta língua tem as suas características tipicamente basedas no grande grupo bantu, tal como foi previamante dito. A seguir falamos sobre algumas destas características, destacando a marca do sujeito, a marca do singular e o respectivo correspondente no plural, sem deixar de parte as marcas do diminutivo e do aumentativo. III.1.2. Marca do sujeito Os homens descrevem acções, situações, estados ou fenómenos remetendo-os aos seus sujeitos. Na língua Umbundu o sujeito é expresso por um tema/marca associado a uma forma verbal; como é comum nas línguas bantu. Dito noutros termos, todos os nomes e pronomes pessoais podem desempenhar a função de sujeito. Para tal precisam de ter na sua estrutura verbal um morfema co-referente do sujeito. Regra geral, este morfema ocupa a posição inicial da estrutura verbal, segundo Ngunga (2004:156). Veja-se nos exemplos seguintes: Ame ndipandula = Eu agradeço │Ovo vapandula = Eles agradeceram. Omala vapapala = As crianças brincam │ Ove wapopya = Você disse. Como se pode ver, os morfemas em negrito apararecem no princípio da estrutura do verbo em correspondência com o sujeito representado nas palavras sublinhadas. Ocorre neste caso uma flexão do verbo, através do morfema co-referente do sujeito. Aqui reside uma das diferenças entre a estrutura morfo-sintáctica do Umbundu e a do Português. Repare-se na frase: Ovo vapandula por exemplo que, o sujeito ovo está na 3ª pessaoa do plural, sendo para este o morfema co-referente va, enquanto na frase Ame ndipandula, ame é o sujeito, sendo por isso o morfema a si correspondente ndi. Como se vê, os morfemas de concordância fazem a sua flexão dependendo do sujeito da frase e ficam, como o temos dito repetidas vezes, posicionados no início da estrutura verbal, à semelhança do que ocorre na formação do plural, como veremos adiante com mais detalhes. Numa comunicação mais preocupada com a efectividade e a eficiência da mensagem, ocorre a omissão do sujeito, sem prejuízo para a comunicação como tal. Ngunga (204:157) nos ajuda a perceber este facto com maior clareza quando diz ‘para efeitos de comunicação normal em que o contexto já se tenha constituído previamente, o sujeito vê-se muitas vezes dispensado de aparecer na frase, sobretudo quando este é pronome pessoal’. Retomando a frase: Ovo vapandula, numa comunicação em que os interlocutores já tenham percebido o contexto, pode-se omitir o sujeito, conservando mesmo assim a ideia que se exprime e fica somente vapandula que em Português se converte em: elas/elas agradecem. Note-se que mesmo dispensando o sujeito, a mensagem que se pretende passar não fica prejudicada. Este caso específico assemelha-se com o que acontece na língua Portuguesa; vejamos que se por exemplo alguém diz: casou-se em Outubro, o seu interlocutor entenderá de imediato que o sujeito desta frase é, sem dúvida a 3ª pessoa do singular ele/ela. Importa aqui referir que, em Umbundu, enquanto os sujeitos ocorrem de forma facultativa, os morfemas co-referentes a si ocorrem obrigatoriamente, na medida em que o sentido a ser tomado pela frase depende estritamente dos seus co-referentes isto é, os morfemas funcionam como elementos estruturantes da ligação entre o sujeito e o facto a si correspondente. Similar a este processo está a formação do plural, o qual descrevemos seguidamente. III.1.3. Marca do singular e o seu correspondente no plural O processo de formação do plural em Umbundu decorre por prefixação, através da colocação de um prefixo/marca ou tema ao radical correspondente (Valente, 1964). Passamos desde já a tratar detalhadamente da correspocencia entre a marca do singular e respectivo correspondente do plural. Quando descrevemos as classes nominais, dissemos que há um conjunto de classes que correspondem entre si para exprimir a noção de número, nomeadamente as classes de 1 a 11 incluindo as classes 13 e 14. Estão isentas desta regra as classes 12 (diminutivos) 15 (infinitivo dos verbos) e 16, 17, 18 as quais se referem as classes locativas, situacional, direccional e de integridade respectivamente O quadro 1 apresenta um resumo da regra de construção do plural na língua Umbundu, de acordo com Valente (1964). Vejamos que, do mesmo modo em que se processa a concordância da forma verbal com a marca do sujeito, aqui o tema/marca co-referente para a formação do plural muda em correspondência com o número expresso pelo sujeito. Com ajuda do quadro passamos a analisar as expressões abaixo, para melhor entendermos este processo. a. Ondjo yatekateka (A casa desabou) = Olondjo vyatekateka. b. Etemo lyanholehâ (A enxada estragou-se) = Atemo anholehâ. c. Otchimbanda tchotchili (ele é um médico competente) = Ovimbanda vyotchili. --------- Quadro 1. Resumo das marcas do singular e do seu correspondente no plural (Adaptado de Valente, 1964) Singular Plural Exemplos Class Marca Class correspond Marca Sing Pl 1 u 2e6 a ulume (homen), alume 3 u 4 ovi-ovo upindi (perna), ovipindi 5 e-/i 6 a etemo (enxada), atemo 7 tchi/otchi 8 ovi otchita (cem) ovita 9 o/ni 10 olo-ni ningui (lobo), oloningui 11 lu-olu 10 olo-ni olunhe (mosca), olonhe --------- Se tomarmos em atenção os morfemas em negrito notaremos que estes se antepõem aos radicais das palavras para concordar com os respectivos sujeitos. Olhando especificamente para a frase c, note-se que ao sujeito otchimbanda/ovimbanda se submete toda a estrutura da frase, havendo em ambos os casos plural e singular uma anteposição dos morfemas que indicam o número e flexionam em concordância com o próprio sujeito. Em virtude destes factos, entende- se que o paradigma do plural tanto dos substantivos, quanto dos adjectivos em Umbundu, tem sido um dos elementos que falantes nativos desta língua frequentemente transferem para a língua Portuguesa, afectando desde já aspectos da mesma categoria. Nas frases abaixo apresentamos três categorias regidas por esta regra. 1. Plural dos Substantivos Com base nos procedimentos já referidos passamos a descortinar as frases abaixo, tomando em atenção as palavras em negrito. A palavra vivali busca o tema olo, para a formação do plural de osikaleta, resulatando na palavra olosikaleta. O mesmo tem lugar na frase b) em que vyalwa se submete ao radical olo. a) Eye walanda olosikaleta vivali (plural) = Ele comprou duas bicicletas. b) Eye okwete olosikaleta vyalwa (plural) = Ele tem muitas bicicletas. 2. Plural dos adjectivos A palavra alume cujo singular é ulume tem seu co-referente a marca va, em vapama na frase a). Em b) temos olondjo (plural de ondjo) com o seu sujeito e tem a marca vya na palavra vyafina para concordância. a) Pakala vamwe alume vapama (plural) = Havia homens fortes. b) Olondjo vyahe vyafina tchalwa (plural) = As casas dele são muito bonitas. 3. Flexão verbal na 3ª pessoa do plural Lembramos que na 3ª pessoa do plural a construção obedece aos mesmos critérios. A palavra Etu na frase a) tem o co-refente tu em tukasi e Ovo em b) busca a marca va em vavangula. a) Etu tukasi palo pemi lyuti (1ª P.Plural) = Estamos aqui de abaixo da árvore. b) Ovo vavangula Umbundu (3ª P.Plural) = Eles falam/ sabem falar Umbundu. III.1.4. Marcas do diminutivo e do aumentativo Baseado nas classes 12 e 7 respectivamente, ambos o diminutivo e o aumentativo na língua Umbundu, também funcionam com anteposição das suas marcas/temas ao radical da palavra. Olhando de forma pormenorizada sobre estas classes nota-se que o ka/oka (classe 12) e o tchi/otchi (classe7), são temas usados para as duas construções. Assim, a classe 12 funciona para o diminutivo enquanto a 7 comporta o aumentativo, como se espelha nos quadros 2 e 3 respectivamente. === Quadro 2: Ilustração sobre a construção do diminutivo (Adaptado de Valente, 1964; Schedeberg 1990 e Do Nascimento, 1894). Diminutivo Substantivo (Umbundu) Português Singular Plural o-mbwa Cão oka-mbwa okalo-mbwa O-ndjo Casa oka-ndjo okalo-ndjo o-hombo Cabrito oka-hombo okalo-hombo i-mbo Aldeia oka-mbo okava-mbo === Vejamos alguns exemplos no logo a seguir. a) Okalombwa kelye? = De quem são os cachorros? b) Okalohombo kange = São meus cabritinhos. c) Pali kamwe okandjo pemi lyomunda = Há uma casa junto da montanha. d) Kowambu okavambo kalisungwe = Na província do Huambo as aldeias estão muito próximas umas das outras. Repara-se que nestes exemplos os morfemas, de igual modo, aparecem antepostos ao radical da palavra para expressar a ideia do diminutivo do substantivo em causa, em concordância com o sentido que se pretende dar à frase. Tal como ocorre no diminutivo, no aumentativo os morfemas da sua marca posicionam-se no princípio da palavra para exprimir a ideia construída sobre o sujeito em causa: a) Vowavela otchindjo kombaka = Ofereceram-lhe um casarão em Benguela. b) Ovimbaluku ndavikomohâ = Estou pasma pelos barcos. c) Akwendje ava ovindululu viotchili = Estes rapazes são muito malandros. Com análise deste quadro terminamos a abordagem da primeira parte do presente capítulo que, tendo caracterizado o sistema de classes nominais e tratado das formas de construção do plural, da formação do aumentativo e do diminutivo em Umbundu, preparou-nos para discussões em volta destes paradigmas na língua Portuguesa. === Quadro 3. Ilustração sobre a construção do aumentativo (Adaptado de Valente, 1964; Do Nascimento, 1894 e Dicionário Prático Português-umbundu, s.d) Aumentativo Substantivo (umbundu) Português Singular Plural ondjo Casa otchindjo ovindjo ombaluku Barco otchimbaluku ovimbakulu – Casaco otchikutu ovikutu – Malandro otchindululu ovindululu === III.4.1. Diferenças quanto à formação do plural em Umbundu os afixos aparecem à esquerda, ou seja, a construção do plural nesta língua é feita através da prefixação. Isto leva-nos a compreender porque os falantes nativos da língua Umbundu tendem a omitir o (-s) quando realizam o plural na língua Portuguesa. Os quadros 4 e 5 para os substantivos e os adjectivos respectivamente, ilustram esta explicação apresentando, o primeiro com palavras enumeradas de 1 a 18 (com continuação no anexo 2 página iii) e o segundo de 1 a 9. Observando atentamente os referidos quadros pode-se com clareza notar o seguinte: a) A palavra omola em 1 e omunu em 9 formam o plural com o prefixo oma substituindo o O por a, assim como ocorre em omu, de u para a. Logo tem-se omala e omanu crianças e pessoas respectivamente Exemplo: Omala vapapala pemi lyuti = As crianças brincam debaixo da árvore. b) Quanto aos números 2 utungi (pedreiro), 3 ungombo (pastor) e 4 ulongisi (professor, catequista), todas pertencentes a classe catalogada para pessoas e ofícios, estes fazem o plural substituindo o prefixo U pelo A. Assim temos: atungi, alongisi e angombo, o que é diferente do que acontece na língua portuguesa onde temos -s, -es; para os plurais construtores, professores e pastores. O mesmo acorre com as palavras em 5, 6 e 18, visto que estas também são catalogadas para pessoas e ofícios. Exemplo: Kapali atungi? = Não há pedreiros? c) Os substantivos em 7 (utwe), 10 (unhamo), 12 (utima) fazem parte das classes catalogadas para árvores, plantas, objectos partes do corpo humano, etc. fazem o plural mudando o U para Ovi. Isto resulta em ovitwe (cabeças), ovinhamo (anos), ovitima (corações). Como se pode confirmar a partir do quadro, há diferença entre esta e a regra da língua Portuguesa. Exemplo: Ovitima viomanu vyasanjuka tchalua = As pessoas estão muito alegres. d) Em 8 (ongonga), 13 (ombwa) e em 19 (ofeka) cujas classes se dizem respeito aos nomes de animais, instrumentos, partes do corpo, etc. faz-se o plural substituindo o prefixo O por Olo. Neste caso nos aparecem as palavras olongonga (águias), olombwa (cães), olofeka (países, nações). Outras diferenças entre as duas línguas, neste aspecto, podem ser constatadas nos exemplos ao longo da tabela. Exemplo: Olofeka vyosi vialiongotia = Todos os países uniram-se. e) Os substantivos eka em 11, eyo em 27, ewe em 28 e epya em 29 (ver o anexo 2 na página iii), se referem a classe catalogada para partes do corpo, estado mental e moral, acto, coisas extensas e formam o plural com OVA. Esta transformação resulta em ovaka (mãos), ovayo (dentes), ovawe (pedras) e ovapya (campos), que é claramente diferente da forma do português para a formação do plural em que nestas palavras se usa o -s. Exemplo: Pakala ovawe alua palo = Aqui havia muitas pedras. f) As palavras nos números 14 (ula) e 16 (ungende), também vêm catalogadas para a classe de instrumentos, números, fenómenos naturais e todo acto que se estenda por longo tempo. Estas classes têm o plural em Ovo e com isto temos as palavras ovola (camas) e ovongende (viagens). Exemplo: Otchitangui etchi tchatukokela ovongende alua = Viajamos muitas vezes por causa deste assunto. g) Os substantivos otchilimbu em 15, otchyela em 17 e otchivimbi em 20 pertencem a uma classe que é normalmente catalogada para os aumentativos mas pode-se estender a outras classes. Estes fazem o seu plural com OVI. Desta formação resulta ovilimbu (sinais), ovyela (eleições), ovivimbi (cadáveres). Exemplo: Evi ovilimbu viopokwenhe = São sinais do inverno. h) Em 23 e 24 temos olumema e olungayawe. Estes substantivos pertencem a classe que engloba parte dos nomes de vermes, frutos, peixes e faz sempre o plural usando com Olo, o que resulta em olomema (grãos, comprimidos) e molongayawe (goiabas). Exemplo: Olongayawe viapia = As goiabas estão maduras. Quanto aos adjectivos, cuja numeração vai de 1 a 9 (ver quadro 5 na página 42), salienta-se que: a) No número 1 a palavra tchisambuka (contagioso) tem o plural visambuka. Ao radical das palavras foram antepostos tchi e vi, para o singular e o plural respectivamente. De igual modo, wasanjuka (simpático) vasanjuka em 2 resultam da colocação de wa e va a esquerda da palavra primitiva, tanto para o singular, quanto para o plural. Exemplos: 1. Olonambawa visambuka! Kapeli ko = As pulgas são contagiosas. Tenham muito cuidado. 2. Akwendje vovolupito vasandjuka = os jovens do Lobito são simpáticos. As diferenças ora apresentadas deixa-nos melhor esclarecidos sobre as características divergentes das línguas Umbundu e Portuguesa, nos aspectos em estudo neste trabalho e assim percebermos as razões de certas formas típicas de realização do Português do contexto linguístico Benguelense. === Quadro 4: Exemplos de regras do plural em Umbundu e em Português (adaptado de Cunha e Cintra, 1999; Estrela at.al, 2012; Daniel, 2002 e Dicionário Prático Português- Umbundu, s.d) Substantivos Umbundu Português Singular Plural Singular 11 E-ka Ova-ka Mão 27 E-yo Ova-yo Dente 28 E-we Ova-we Pedra 29 E-pya Ova-pya Campo 1 Omo-la Oma-la Criança 9 Omu-nu Oma-nu Pessoa 8 O-ngonga Olo-ngonga Águia 13 O-mbwa Olo-mbwa Cão 19 O-feka Olo-feka Nação 21 O-si Olo-si Chão 26 O-moko Olo-moko Faca 15 Othci-limbu Ovi-limbu Sinal 17 Otchi-vimbi Ovi-vimbi Cadáver 20 Otchi-poke Ovi-poke Feijão 22 Otch-ela Ovy-ela Eleição 23 Olu-mema Olo-mema Grão 24 Olu-ngayawe Olo-ngayawe Goiaba 2 U-tungui A-tungi Construtor 3 U-longisi A-longisi Professor 4 U-ngombo A-ngombo Pastor 5 U-feko A-feko Rapariga 6 U-kuendje A-kuendje Rapaz 18 U-lume A-lume Homem 7 U-twe Ovi-twe Cabeça 10 U-nhamo Ovi-nhamo Ano 12 U-tima Ovi-tima Coração 25 U-ti Ovi-ti Arvore 14 U-la Ovo-la Cama 16 U-ngende Ovo-nguende Viagem === === Quadro 5: Exemplos de regras do plural em Umbundu e em Português (adaptado de Cunha e Cintra, 1999; Estrela at.al, 2012; Daniel, 2002 e Dicionário Prático Português- Umbundu, s.d) Adjectivos Umbundu Português Nº Singular Plural Singular JJ ci-yeluluka vi-yeluluka amarelo 1 tchi-sambuka vi-sambuka contagioso 3 tchi-nina vi-nina brilhante 4 tchokaliye vyokaliye moderno JJ tchale vyale antigo 2 wa-sanjuka va-sanjuka simpático 6 wa-lunguka va-lunguka esperto JJ wã-lelã va-lelã gordo 5 u-kwopongo va-kupongo miserável 7 u-kuekemalo va-kuekemalo famoso 8 u-kuanya va-kuanya invejoso 9 u-kuanjala va-kuanjala faminto JJ a-fina va-fima bonita JJ e-yil vi-yela branco JJ kaliye vyokaliye nova JJ?FIXME kayela vyavela branco JJ li-kusuka vi-kusuka vermelho JJ li-yeluluka vi-yeluluka amarelo JJ wakopa va-kopa magro === III.4.2. Diferenças quanto ao diminutivo e ao aumentativo Para os diminutivos, como se ve no quadro 6, temos o prefixo OKA16 como nas palavras okawe (pedrinha) em 10, okotima (coraçãozinho) em 14, okamoko (faquinha) em 16. O quadro mostra que o prefixo oka se antepõe a todos os substantivos, sejam eles de que natureza forem, nomes de animais, de pessoas, profissões, partes do corpo humano, instrumentos, etc. Esta é a razão que leva a que muitos falantes nativos do Umbundu transfiram com alguma naturalidade regras da sua língua materna quando falam Português. Ficam assim criadas condições naturais para que tal fenómeno ocorra. 16 Em muitas ocasiões usa-se ka ao invés oka, principalmente quando se volta a referir a um elemento previamente citado. === Quadro 6: Exemplos comparativos do diminutivo dos substantivos em Umbundu e em Português (adaptado de Cunha e Cintra, 1999; Estrela at.al, 2012; Daniel, 2002 e Dicionário Prático Português- Umbundu, s.d) Diminutivos Umbundu Português Nº Grau normal Diminutivo Grau normal Diminutivo 10 E-we Oka-we Pedra Pedrinha 3 I-mbo Oka-mbo Aldeia Aldeola 2 O-mbwa Oka-mbwa Cão Cãozinho 4 O-mbija Oka-mbidja Camisa Camisinha 5 O-sanji Oka-sanji Galinha Galinhazinha 7 O-njo Oka-njo Casa Casinha 8 O-wato Oka-wato Barco Barquito 9 O-mola Oka-mola Criança Criancinha 11 O-ndaka Oka-ndaka Voz Vozinha 13 O-mwine Oka-mwine Dedo Dedinho 15 O-sikaleta Oka-sikaleta Bicicleta Bicicletinha 16 O-moko Oka-moko Faca Faquinha 17 O-lwi Oka-lui Rio Riacho 6 U-feko Oko-feko Rapariga Rapariguinha 14 U-tima Oko-tima Coração Coraçãozinho 12 U-longisi Oko-longisi Professor Professorzinho 1 U-lume Ako-lume Homem Homenzinho FIXME JJ ==== Quanto aos aumentativos, constata-se no quadro 7 que o morfena modificador do grau normal do substantivo para atribuir-lhe uma significação intensiva, funciona igualmente como prefixo do próprio radical do substantivo. Logo temos a marca otchi em todas as palavras constantes no quadro seguinte. === Quadro 7: Exemplos comparativos do aumentativo dos substantivos em Umbundu e em português (adaptado de Cunha e Cintra, 1999; Estrela at.al, 2012; Daniel, 2002 e Dicionário Prático Português- Umbundu, s.d). Aumentativos Umbundu Português Nº Grau normal Aumentativo Grau normal Aumentativo 4 E-tapalo Otchi-tapalo Estrada _ 8 E-kwalo Otchi-kwalo Cesto _ 1 O-munu Otchi-munu Pessoa _ 2 O-siKaleta Otchi-sikaleta Bicicleta _ 3 O-njo Otchi-njo Casa Casarão 5 O-lusi Otchi-lusi Peixe Peixão 6 O-lunhi Otchi-lunhi Mosca _ 7 O-wato Otchi-wato Barco Grande barco ===