%% 1950/01/50-01-09/19500109.1.txt Antetítulo: CAMPEONATO DA II DIVISÃO NACIONAL Título: O TORRIENSE alcançou o mais robusto resultado da jornada e ascendeu ao 2.º lugar da série 4 Subtítulo: O Portalegrense quebrou a carreira triunfal do União de Montemor Data: 9 de Janeiro de 1950 Domínio: Resumo de jogos Autor(es): FERNANDO PIRES;AMÍLCAR DIAS;HUMBERTO REIS;C. L. Fonte: Mundo Desportivo CAMPEONATO DA II DIVISÃO NACIONAL O TORRIENSE alcançou o mais robusto resultado da jornada e ascendeu ao 2.º lugar da série 4 O Portalegrense quebrou a carreira triunfal do União de Montemor Ginásio do Sul-1 - Cuf do Barreiro-0 O encontro entre o Ginásio do Sul e a Cuf do Barreiro previa-se disputadíssimo e de resultado duvidoso. Á volta da partida criou-se natural entusiasmo e, logicamente, campo do Alto da Mutela registou apreciável assistência. As duas equipas, sob a direcção do Sr. Jacques Matias, de Setúbal, apresentaram-se assim formadas: GINÁSIO - Raposo; Viriato e Ernesto; Amândio, Custodio e Sousa; Almeida, Dimas, Jesus, Baptista e Borges. CUF - Avelar; Celestino e Braga; Mota Gomes, Carreira e João Baptista, Graciano, Vasques, Aureliano, Viegas e André. A partida não teve beleza, não podia ter beleza. O piso do rectângulo encontrava-se num estado deplorável, muito enlameado e, aqui e ali, com algumas poças de água o perfil do encontro devia ser de passes largos, com o «bico» da bota, remate frequente e de longe, preocupação de não jogar a bola rente ao solo, evitando a sua «prisão» na lama. Certamente, ambas as equipas sabiam que era assim que tinham de actuar. Mas, dentro do campo, quase todos se esqueceram do seu papel. Alguns elementos, Braga e João Baptista, na Cuf, Viriato e Amândio, no Ginásio, ensinaram sempre como devia jogar-se, mas a lição não teve os resultados precisos. Assim, o jogo, já com um factor importante a pesar no seu rumo, sofreu quebra de nível e de interesse. O despique travado entre os jogadores não bastou para lhe dar cunho de agrado. Antes pelo contrário. O entusiasmo provocou alguns excessos, principalmente na primeira metade do jogo, registando-se umas quantas agressões. O único tento da partida foi marcado aos 10 minutos do primeiro tempo. Dimas aplicou um remate de longe, que Carreira procurou interceptar, de cabeça. O esférico subiu e BORGES, também de cabeça, atirou ás redes, encontrando Avelar um nada adiantado. A Cuf esteve depois à beira do empate, quando uma recarga de Graciano, ao quarto de hora, embateu na trave, depois de o guarda-redes ginasista ter defendido, instintivamente, um remate de Aureliano. Este lance ânimou a turma do Barreiro, que passou a usufruir de ligeiro ascendente. Um tento marcado por Aureliano, aos 30 minutos, foi bem anulado por «fora de jogos do marcador. Nos últimos momentos, voltou-se à toada de equilíbrio. A segunda parte começou praticamente com um canto contra o Ginásio, mas que Viegas concluiu com um remate ao lado. A equipa da casa procurou com afinco um tento, que lhe desse absoluta tranquilidade, sem que a Cuf conseguisse fazer perigar as redes do Ginásio. Aos 25 minutos Baptista, em desequilíbrio atirou um forte pontapé que rasou o poste esquerdo. A Cuf, perto do final, teve uma reacção em que um remate de Graciano também saiu ao lado. O Ginásio mereceu a vitória. Indiscutivelmente. A sua segunda parte, demonstrando a todo o momento um «querer» difícil de anular, ficou como o sinal apreciável aspecto do jogo. Amândio foi o melhor elemento do grupo, batalhando com denodo do primeiro ao último minuto, actuando de harmonia com as condições do terreno. A defesa mostrou-se segura, com relevo para Viriato. O ataque foi o sector menos regular, apenas se salientando o avançado centro Jesus e o extremo direito Almeida, enquanto a fadiga não dominou o seu escasso poder físico. A Cuf não jogou aquilo que pode, umas vezes por culpa do terreno, outras por culpa dos próprios jogadores. Vasques teimou em longas corridas com o esférico, fatigando-se e prejudicando a equipa. Braga esteve em evidência, cotando-se como o melhor jogador em campo. Prodigioso de vontade, inexcedível de atenção, perfeito na acção que lhe cumpria. João Baptista e Viegas seguiram-se-lhe. A arbitragem no nível do desafio. Algumas faltas julgadas ao contrário, por vezes errando na «lei da vantagem» e certa complacência para atitudes que é imperioso não desculpar. FERNANDO PIRES Na série 7, continua a luta para o segundo lugar entre o Juventude de Évora e o Estrela de Vendas Notas. O União de Montemor, o único clube que contava por vitórias os jogos disputados, cedeu ontem um empate no campo do Portalegrense. Finalmente, na série 8, também ainda não se extinguiu a luta para o segundo lugar, entre o Desportivo de Beira e o Sporting Farense. Este, porém, parece mais bem situado para alcançar esse desiderato. O mau tempo, de maneira geral, implicou a suspensão de vários desafios e a obtenção de resultados volumosos. Por exemplo: 8-2 do Vila Real ao Sporting de Fofo; 7-1 do União da Guarda ao Sporting de Lamego; 6-0 da Naval ao Alcanenense; 8-0 do Futebol técnica ao S. L. Olivais; e 10-0 do Torriense ao Conimbricense Cova da Piedade-3 - Desportivo do Montijo-0 O encontro Cova da Piedade-Montijo revestia-se de certo interesse. Se a vitória sorrisse ao grupo visitante, este podia ter aspirações ao segundo lugar da sua série. Como porem, tal não se verificou, os montijenses devem ter perdido as esperanças de disputar a ronda seguinte. Por outro lado, a vitória do Cova da Piedade - a todos os títulos justíssima - afastou-os do último lugar. O terreno encontrava-se em péssimo estado para a prática do futebol, devido ás grandes chuvadas que momentos antes caíram. A assistência foi por este facto muito reduzida. Com o terreno encharcadíssimo eram fáceis os choques, o que originou algumas quedas aparatosas. O encontro começou com cerca de 30 minutos de atraso, o que levou parte do público local a manifestar-se, exigindo que o grupo da casa marcasse os pontos por falta de comparência do adversário. Como acima se diz, a vitória do grupo local foi justa. Os seus jogadores foram mais práticos e souberam adaptar-se melhor ao estado do terreno. E certo que o grupo do Montijo jogou abaixo do seu real valor, pois alguns dos seus elementos se preocuparam mais com o adversário do que com o jogo. Isso acarretou-lhe a expulsão dum jogador, o que obrigou os restantes companheiros a grande esforço para evitarem maior derrota. Do jogo pouco há a assinalar. A saída pertenceu ao grupo visitante, que se infiltrou rapidamente na zona de perigo dos piedenses. A estes porem pertenceu o primeiro lance de perigo. Aos 5 minutos, Arnaldo sózinho em frente de Cruz, perdeu, por indecisão, uma excelente ocasião de marcar. Aos 15 minutos, o Cova da Piedade alcançou o seu primeiro ponto, a justificar o domínio exercido, por intermédio de Osvaldo, que aproveitou com inteligência um centro de Mário Coelho, Quase no final do primeiro tempo. Arnaldo perdeu novamente soberana oportunidade de elevar o marcador. No segundo tempo a superioridade dos donos do campo tornou-se mais notória e, assim, aos 12 minutos, Baltasar desferiu um pontapé comprido, que foi apanhado por Osvaldo. Este aplicou forte remate, que Cruz não segurou, indo a bola aos pés de Arnaldo, que a atirou para dentro da baliza. No minuto seguinte 3-0. Gomes despachou por alto. O esférico foi apanhado por Mário Coelho, que suportou a carga da defesa adversária e atirou para o melhor sítio. Aos 15 minutos o árbitro mandou recolher à cabina o extremo Aleixo, que se havia distinguido em jogo violento. Os montijenses podiam ter marcado o chamado ponto de honra, por intermédio de Lima, que não soube aproveitar uma má saída de Alberto. Com a baliza desguarnecida, o centro-avançado do grupo visitante não teve a calma suficiente para marcar. Aos 32 minutos, num livre apontado por Gomes, esteve o Cova da Piedade prestes a marcar novamente. Cruz defendeu sobre o risco e deixou escapar a bola, que não foi aproveitada pelos dianteiros visitados. Os grupos e o árbitro Sob a direcção do Sr. Mário Ribeiro, da A F. L, os grupos alinharam: COVA DA PIEDADE: Albertino; Baltasar, Gomes e F. Silva; Galinho e Gonçalves; Mário Coelho, Estrelo, Arnaldo, Augusto e Osvaldo DESPORTIVO DO MONTIJO: Cruz; Almeida, Anica e Louceiro; Pinto e J. Afonso; Aleixo, J. Maria, Lima, Vieira e Caixeirinha. No grupo vencedor é justo salientar a boa exibição de F. Silva, que foi o melhor elemento no terreno, seguido de Gomes Baltasar, Golinho, Arnaldo e Osvaldo. Mário Coelho, tocado no princípio do encontro, não deu o rendimento que era de esperar. Nos vencidos os seus melhores elementos foram a defesa, Vieira e Lima. Caixeirinha teve alguns gestos pouco elegantes para a assistência. O árbitro, Sr. Mário Ribeiro, fez excelente trabalho. Soube impor-se com autoridade e reprimir a tempo o jogo violento. No final do encontro, recebeu do público uma justíssima ovação pelo seu trabalho. AMÍLCAR DIAS Operário-2 - Casa Pia-4 Jogo em Chelas, perante regular assistência e dirigido pelo Sr. Joaquim Campos, da A. F. de Lisboa. Os grupos apresentaram a seguinte formação: OPERÁRIO - Cardigos; Curtinhal, Rogério e Abel; Vicente e Vilas; Alberto, F. Silva, Amorim, Nuno e Jaime. CASA PIA - Coutinho; Caldeira, Mark e Pereira Júnior; Júlio e Carvalho; Jeremias, Armindo, Prates, Garção e Rocha. Ambas as equipas desenvolveram regular futebol, apesar do mau tempo e do estado do terreno, que se encontrava bastante escorregadio. A equipa do Casa Pia evidenciou, porém, larga superioridade técnica em relação à do Operário, que só à custa de muita energia dos seus jogadores conseguiu manter o jogo equilibrado durante o primeiro tempo, tendo chegado ao intervalo empatada, em número de bolas marcadas, com o adversário. Ambos os grupos estavam especialmente interessados no desfecho da partida, O Casa Pia porque obtendo a vitória asseguraria definitivamente o segundo lugar na série. O Operário porque necessitava vencer para poder fugir ao último lugar da classificação A luta teve deste modo interesse e, em face das alternadas mudanças de vantagem no marcador, ora para uma ora para outra equipa, e a indecisão no resultado que se manteve até metade do segundo tempo, a assistência pôde vibrar frequentemente com os lances da partida. Os tentos do encontro Durante o primeiro tempo, que terminou com os grupos empatados por 2-2, as equipas equilibraram-se em trabalho produzido. O Operário foi o primeiro grupo a marcar. Amorim conduziu o esférico até perto da linha de cabeceira do Casa Pia e passou-o em excelentes condições para JAIME, que prontamente o atirou para a baliza, sem defesa possível para Coutinho Aos 12 minutos, porém, o Casa Pia empatava com um toque de cabeça de PRATES, num mergulho quase rente ao solo, a concluir um centro de Jeremias. Aos 24 minutos, o Casa Pia foi castigado com uma grande penalidade por «mão» de um defesa dentro da grande área. CURTINHAL marcou o castigo e obteve o segundo ponto do Operário. No último minuto da primeira parte, JEREMIAS, com um esplêndido remate, estabeleceu de novo a igualdade. No segundo tempo o Operário cedeu visivelmente. Tornou-se notório o cansaço dos seus jogadores. E o Casa Pia passou a dominar com intensidade. Amo 10 minutos, por motivo de uma forte bátega que caiu nessa altura, o jogo foi suspenso. A interrupção durou cinco minutos. Embora exercendo domínio, os Casapianos só conseguiram terceiro tento aos 35 minutos com um pontapé de JEREMIAS, ao executar um livre perto da linha de grande área No último minuto, um oportuno remate de JEREMIAS, a concluir um centro da esquerda fixou o resultado em 4-2. Os jogadores e o árbitro Na turma vencedora salientaram-se Caldeira, Pereira Júnior, Júlio, Jeremias e Prates. Na equipa vencida, Abel. Vicente. F. Silva e Amorim foram os mais úteis. O Sr. Joaquim Campos teve trabalho difícil. Procurou, no entanto, usar o melhor critério. HUMBERTO REIS Futebol Benfica-8 - S. L- Olivais- 0 Jogo no campo de Francisco Lázaro. Sob a arbitragem do Sr. Domingos Godinho, os grupos formaram: FUTEBOL BENFICA - Martins: Edmundo, Lourenço e Diogo: Dias e Augusto; Borges, Esteves, Coucelo, Jorge e Pedro. S. L. OLIVAIS - Jaime Paiva, Salvador, José Maria e Maçãs; Filipe e Guilherme; Correia, Santos, Fernando Paiva, Ferreiro e Carlos Paiva. O gesto impensado de dois elementos do Olivais, e que lhes valeu a sua expulsão imediata, ditou o vencedor da partida. Os benfiquistas, apesar de desfrutarem de superioridade numérica, apenas no segundo tempo conseguiram avolumar o marcador, beneficiando da desorientação que se apostou dos jogadores do Olivais. O encontro, com excepção dos dois lances que provocaram a expulsão dos defesas do grupo visitante, decorreu o mais correctamente possível. Para tal contribuiu poderosamente o excelente trabalho do árbitro, Sr. Domingos Godinho, que punindo sempre com decisão qualquer entrada mais ríspida, evitou que os ânimos se excedessem. Ao intervalo, 1-0 No quarto de hora inicial o jogo decorreu bastante equilibrado. Qualquer das equipas desperdiçou duas oportunidades de abrir o activo. Aos 15 minutos numa fuga pela esquerda, Pedro foi carregado violentamente por Salvador. O árbitro assinalou o castigo máximo e expulsou o defesa dos «encarnados» olivalenses. PEDRO apontou o castigo com boa direcção, convertendo-o no 1.º ponto dos benfiquistas. Logo a seguir, o árbitro viu-se na necessidade de expulsar o outro defesa dos Olivais, Maçãs, por carga a Borges. E os visitantes ficaram reduzidos a nove elementos. O Olivais nos últimos momentos da primeira parte desperdiçou excelente oportunidade de estabelecer a igualdade. Fernando Paiva, sózinho em frente das redes, rematou forte e bem colocado, mas Martins, num belo voo, evitou que as malhas fossem tocadas. No segundo tempo 7 tentos do F. Benfica. Os visitados, na segunda parte, exerceram nítido ascendente, concretizado com 7 bolas. Aos 6 minutos, Edmundo abriu em profundidade. Borges captou o esférico e centrou-o em boas condições. JORGE, sem deixar tocar a bola no golo, rematou de cabeça imparavelmente. Depois deste ponto os tentos foram surgindo naturalmente. Aos 12 e aos 13 minutos, COUCELO e ESTEVES elevaram a marca para 4-0. A defesa visitante, claudicando demasiadamente, permitiu que COUCELO e ESTEVES, este por duas vezes, aumentassem a vantagem para 7-0. Carlos Paiva, discordando de uma decisão do árbitro, abandonou o campo, ficando assim o Olivais reduzido a 8 elementos. Aos 40 minutos, JORGE concluiu um bom centro de Borges e fixou o resultado em 8-0. Os jogadores Na equipa vencedora merecem referência especial Jorge, Dias, Edmundo e por vezes Esteres. Na turma vencida, Jaime Paiva, Parreira e Fernando Paiva foram os melhores elementos. C. L. %% 1950/01/50-01-09/19500109.2.txt Título: O encontro agradou pela velocidade e pelo jogo prático dos algarvios no primeiro tempo Data: 9 de Janeiro de 1950 Domínio: Comentário/relato de jogo Autor: ANTÓNIO DIAS Fonte: Mundo Desportivo CAMPO F. G. SOCORRO, V. R. S. ANTÓNIO LUSITANO, 4 - ESTORIL, 1 O encontro agradou pela velocidade e pelo jogo prático dos algarvios no primeiro tempo LUSITANO - Isaurindo; David, Caldeira e Branquinho; Faustino e Madeira; Almeida, Pedroto, Angelino, Calvinho e Germano. ESTORIL - Sebastião; Gato, Elói e Alberto; Oliveira Vieira e Nunes; Fandiño, Negrita, Mota, Vieira e Almeida. ÁRBITRO: Evaristo dos Santos, Setúbal. Em face das condições climatéricas, pois choveu antes e durante todo o encontro, o Lusitano encarou com funda apreensão o seu embate com o Estoril, equipa fisicamente mais bem apetrechada e, por tal motivo, mais à vontade em terreno lamacento. Contudo, os locais, a quem coube a escolha do campo, fizeram-na com boa visão, escolhendo a favor do vento, para jogarem a sua sorte enquanto o piso do terreno o permitia. E foram bem sucedidos... Realmente, durante os primeiros 45 minutos, espaço de tempo em que o terreno ofereceu ainda regulares condições para uma movimentação de ataque constante, os lusitanos alcançaram quatro tentos sem resposta, que lhes incutiram moral suficiente para encarar a segunda parte, já sem apreensões de maior. O Estoril, por seu turno, no segundo tempo, não se mostrou capaz de grandes cometimentos, pois, apesar de desfrutar do favor do vento, o seu ataque não logrou realizar jogadas que pudessem operar a reviravolta do resultado. A atenção e decisão de Isaurindo bastaram para matar todas as ofensivas dos estorilistas e, se não fora a transformação de uma grande penalidade, mesmo assim convertida por um defesa, a equipa regressava «em branco» à capital. Enquanto os algarvios, durante a primeira fase da partida, souberam explorar todas as vantagens que podiam extrair do terreno e do vento, a equipa estorilista, no segundo período, não teve acção nem talento para gozar dos mesmos benefícios. O onze, e em especial o sector avançado, em vez de actuar em sistema de jogo largo, com o menor número de passes possíveis e a bola por alto, optou pelo processo de fazer deslizar a bola rente ao solo, tentando por norma a finta para progredir na zona defensiva dos adversários. Assim, a bola ficava a maior parte das vezes presa na lama, os jogadores corriam em grupos, o lance perdia-se e o jogo tornou-se incaracterístico e quezilento. Deste modo, o espectador retirou-se do campo apenas compensado pelo primeiro tempo de futebol agradável e de razoável técnica, desenvolvido pelos vilarrealenses e, claro está, pela vitória dos locais. As principais fases. No primeiro quarto de hora, Sebastião foi chamado algumas vezes para deter remates dos avançados locais, mas estes não conseguiram criar jogadas de grande perigo. A partir dessa altura, porém, e mercê do excelente labor da asa direita Almeida-Pedroto, os estorilistas passaram a sentir maiores embaraços e, aos 17 minutos, registou-se o primeiro tento. A bola foi centrada da direita e Angelino rematou a um canto, sem defesa possível. Só aos 22 minutos Isaurindo executou a primeira defesa a um remate de Negrita. Volvidos cinco minutos, Caldeira, ao passar uma bola a Isaurindo, fê-lo com morosidade, permitindo que Fandiño dela se apoderasse. O remate deste, porém, saiu ao lado. Aos 37 minutos, Pedroto, num remate à boca das redes, fez o segundo goro. Aos 42 minutos, e conta subiu para 3-0. Angelino rematou de cabeça, Sebastião ainda tocou a bola, mas Germano acorreu oportunamente e fez a recarga com êxito. Aos 44 minutos, Nunes cometeu falta sobre Germano dentro da grande área e o árbitro ordenou grande penalidade. Pedroto, encarregado de marcar o castigo, atirou o esférico sobre o lado direito de Sebastião. Este lançou-se e repeliu a bola com os punhos, mas Pedroto, na recarga, conseguiu então batê-lo. O intervalo chegou, portanto, com o Lusitano superior na marcação por 4-0. A segunda parte teve menos história, pois a pronunciada diferença de tentos roubou interesse à partida. Os visitantes, repetimos, nunca se mostraram capazes de operar e reviravolta e, por esse motivo, os locais descansaram com a folgada margem obtida. Acresce que o estado do terreno, então em péssimas condições, tornava também impossíveis esforços porfiados e o desenho de bons esquemas. Durante os primeiros 20 minutos jogou-se quase sempre a meio campo, sem remates dignos de nota em qualquer das balizas. Só nessa altura, aos 20 minutos, um livre, que o árbitro assinalou por carga de Branquinho sobre Negrita, foi muito bem apontado por Elói e ainda mais bem defendido por Isaurindo. O tento do Estoril verificou-se aos 36 minutos. Uma carga de Caldeira sobre Negrita, dentro da grande área, foi punida com o castigo máximo e Elói pôde então bater Isaurindo, reduzindo para 1-4 a desvantagem da sua equipa. Almeida e Pedroto em evidência. Como acentuámos já, a acção do flanco direito do ataque algarvio foi preponderante no triunfo alcançado. Pedroto, em especial, marcou dois golos e foi brilhante na organização dos lances ofensivos, dando muito e bom jogo ao seu extremo. Na segunda parte foi menos produtivo, devido em primeiro lugar ao agravamento do estado do terreno. Calvinho secundou-o bem na primeira parte. Angelino distinguiu-se pela codicia e Germano pela velocidade, pecando este por se conservar sempre junto à linha lateral. Madeira teve também uma boa primeira parte, ao contrário do que se passou com Faustino, que foi mais útil no segundo tempo. Na defesa, Caldeira cumpriu, apesar de alinhar em deficientes condições físicas. Por este motivo, Branquinho fraquejou muito, ao passo que David se houve bem na substituição de Mortágua. Só na segunda parte Isaurindo foi chamado a algumas intervenções difíceis e executou-as com decisão. Elói, o melhor estorilista Por banda dos estorilistas, a defesa esteve muitos furos acima do ataque, distinguindo-se especialmente Elói, que realizou magnífica exibição. No entanto, Sebastião não teve culpas nos golos sofridos. Alberto, entre Almeida e Pedroto, viu-se em apuros durante a primeira parte. Na linha avançada, como dissemos, todos estiveram mal, usando e abusando das fintas, dos passes rasos e curtos. A arbitragem Evaristo dos Santos realizou bom trabalho. Apitou muito para «segurar» os jogadores e deve dizer-se que o conseguiu. No entanto, pareceu-nos por vezes demasiadamente rigoroso, como no caso das grandes penalidades. Mas como se verificaram faltas idênticas numa e noutra área e o juiz usou de critério idêntico, de nenhum lado ficou razão de queixa. ANTÓNIO DIAS %% 1950/01/50-01-09/19500109.3.txt Título: GUIMARÃES, 1 SPORTING, 2 Subtítulo: Os vimaranenses dificultaram a justa vitória dos lisboetas, que actuaram com segurança na defesa, onde Azevedo jogou com a habitual autoridade Data: 9 de Janeiro de 1950 Domínio: Comentário/relato de jogo Autor: RODRIGUES TELES Fonte: Mundo Desportivo GUIMARÃES, 1 SPORTING, 2 CAMPO DA AMOROSA Os vimaranenses dificultaram a justa vitória dos lisboetas, que actuaram com segurança na defesa, onde Azevedo jogou com a habitual autoridade VITÓRIA DE GUIMARÃES - Machado; Ferreira e Costa; Magalhães, Cerqueira e Miguel; Franklin, Rebelo, Teixeira da Silva, Brioso e Custódio. SPORTING - Azevedo; Barrosa e Juvenal; Canário, Passos e Veríssimo, Jesus Correia, Vasques, Wilson, Travaços e Rola. ÁRBITRO: Adriano Gonçalves (Coimbra). Tal como decorreu o jogo, pode afirmar-se que o Sporting conseguiu no campo vimaranense um resultado precioso dois pontos que podem fugir a qualquer boa equipa. O conjunto minhoto fez todo o possível por ganhar o jogo, principiando em clara toada de ataque para ceder logo que Travaços obteve o primeiro tento do desafio, aos 3 minutos, e voltar a impor-se. A despeito da boa entrada vimaranense, o Sporting ganhou bem o desafio. Manteve-se com firmeza em presença dos sólidos ataques de Guimarães e, querido entrou para o 2.º tempo, deu provas de ter autoridade para vencer dificuldades e chegar ao triunfo. Além da superioridade que a espaços foi denunciada, o Sporting ganhou ainda com a classe cada vez mais firme de João Azevedo, um elemento que continua a dar gosto ver jogar. Duas ou três defesas executadas por Azevedo, principalmente uma estirada com belo impulso do corpo para a frente, na qual as suas mãos procuraram a bola com uma elasticidade impressionante, arrancaram aplausos aos mais rebeldes ao entusiasmo. O grande guarda-redes internacional é como o vinho do Porto: quanto mais velho melhor... Entrada fulgurante dos locais, interrompida por um tento de Travaços Como se disse no princípio deste relato, o conjunto de Guimarães entregou-se ao ataque logo que Adriano Gonçalves apitou para o começo do desafio. Mas Travaços, numa das primeiras tentativas do Sporting, fez oscilar o sistema defensivo do grupo local. O interior leonino inclinou-se para o lado direito, deu a entender que o remate iria partir para um sítio onde Machado não se encontrava e rematou rapidamente para o lado oposto, entrando a bola à vontade. Era cedo para se definirem posições. Teixeira da Silva, embrulhando-se com o defesa Passos, que substituiu Manuel Marques, este ás voltas com um entorse sofrido no Funchal, perdeu uma ocasião de empatar. Vasques, noutra resposta do Sporting, fez subir uma bola muito alto, desperdiçando a avançada bem urdida por Canário. E Wilson, num remate à «mela-tire», passe a linguagem tauromáquica, ia também complicando a vida ao guarda-redes vimaranense. Depois desta série de acontecimentos, os locais voltaram a dar por conta de si, entregando-se a um jogo ofensivo, a que apenas faltava eficácia, também desfeita pelas atenções de Passos sobre Teixeira da Silva, Veríssimo sobre um Rebelo em tarde menos afoita, Juvenal sobre Franklim, que perturbava nos suas incursões para o centro do terreno, e Barrosa entregue à destruição do jogo curto e envolvente de Custodio; Canário, deixando a defesa, colou-se constantemente ao seu ataque, empurrando-o com alegria e servindo invariavelmente Vasques e Travaços. Teixeira da Silva igualou o resultado. Perto da meia hora, o Sporting parecia mais sereno e até mais senhor da situação do que o Vitória. As evoluções de Travaços criaram vários atritos à defesa contrarie, embora Cerqueira reaparecesse de maneira agradável. Dois remates do mesmo Travaços, atirados com força e direcção, fizeram brilhar Machado, e uma corrida velocíssima de Jesus Correia estabeleceu algum pânico no lado direito minhoto, graças à presença de Rola completamente desmarcado - pânico desfeito com uma devolução oportuna de Ferreira. Travaços, derrubado num lance a seguir, caiu magoado dentro da grande área. Jesus Correia abandonou o campo por momentos, mas sem que isto queira dizer que da parte dos locais houvesse jogo duro ou violento. Este insistente período de ataque «leonino» foi interrompido aos 38 minutos com O ponto do empate. Franklim e Rebelo enlearam Juvenal numa série de trocas e a bola colheu Teixeira da Silva, desmarcado numa altura em que Azevedo se encontrava entre companheiros e adversários. O remate tornou-se fácil e fatal. De então até ao intervalo, a superioridade dos minhotos tornou-se expressiva, mas o marcador não se alterou. Domínio do Sporting nos 30 minutos seguintes. A equipa vimaranense teve mais dificuldades na 2.ª parte da partida. O Sporting preparou uma série de ofensivas que apertaram a rede contrária e registaram-se logo remates perdidos de Wilson e Rola, Cerqueira Costa e Ferreira opuseram-se com êxito a várias avançadas «leoninas» e Brioso teve de recuar bastante para auxiliar os seus médios e defesas. As complicações na área de rigor do Vitória de Guimarães vieram a ficar atenuedas, caso interessante, com o ponto que fixou o resultado do encontro. A defesa do grupo local cedeu um «canto» que Jesus Correia foi marcar ao lado esquerdo. A bola dirigiu-se para o lado direito, onde Machado foi atraído. Vasques, com muita oportunidade, devolveu-a por alto para o centro, onde Rola lhe meteu a cabeça dentro da baliza, vários jogadores do Vitória tocaram-lhe ainda, mas só para confirmar o ponto. Foi depois deste tento, decisivo para o resultado, que os vimaranenses se impertigaram e fizeram vir mais uma vez ao de cima todo o valor do consagrado Azevedo A defesa «leonina» contribuiu também para manter o resultado que os minhotos procuravam a todo o transe modificar. Só no final da partida, é claro, conseguiram os lisboetas descansar... Apreciações finais A equipa lisboeta ganhou porque foi superior na organização dos ataques e na, maneira sólida como cumpriu na defesa. De entre os vencedores é justo referir o jogo desenvolvido por Travaços, que esperávamos mais lento e menos rematador. Entre os vimaranenses louve-se igualmente a codicia da sua linha avançada, embora não pudesse contar ontem com o jogo apurado de Rebelo, parece-nos que por motivo de doença. Custódio e Franklim não remataram, tanto como é seu costume e cederam no embate contra dois defesas fortes, como Juvenal e Barrosa. Teixeira da Silva também experimentou dificuldades para dominar a oposição de Passos e talvez por este motivo deixasse de corresponder a produção de rematar ao jogo insistente dos vimaranenses. A arbitragem Arbitrou o Sr. Adriano Gonçalves de Coimbra. Este conhecido juiz de campo não foi feliz no seu trabalho, dando por vezes a impressão de que prejudicava o grupo da casa. A nós pareceu-nos que Adriano Gonçalves procurou ser imparcial e não influiu no resultado do desafio. RODRIGUES TELES %% 1950/01/50-01-09/19500109.4.txt Título: BENFICA,6 - SP. COVILHÃ, 1 Subtítulo: Apesar das dificuldades oferecidas pelo terreno, os «encarnados» realizaram exibição meritória. Moreira, figura principal do encontro, alardeou a sua classe impondo-se como o melhor jogador Domínio: Comentários/resumo de jogo Data: 9 de Janeiro de 1950 Autor: EDMUNDO TAGARRO Fonte: Mundo Desportivo BENFICA, 6 - SP. COVILHÃ, 1 CAMPO 28 DE MAIO, LISBOA Apesar das dificuldades oferecidas pelo terreno, os «encarnados» realizaram exibição meritória. Moreira, figura principal do encontro, alardeou a sua classe impondo-se como o melhor jogador BENFICA - Rosa; Jacinto, Félix e Fernandes; Moreira e Francisco Ferreira; Rosário, Arsénio, Júlio, Melão e Rogério. SP. COVILHÃ - António José; Roqui, Diamantino e José Pedro; Martin e Fialho; Livramento, Carlos Ferreira, Simonyi, Tomé e Guedes. ÁRBITRO: Libertino Domingos, Setúbal. A equipa do Benfica, quando ontem entrou no seu rectângulo de jogos, foi alvo de apoteótica ovação, prémio à vitória obtida oito dias antes sobre o F. C. Porto. Os «encarnados» não só mereceram os aplausos vibrantes com que foram recebidos, mas também, no decurso da partida com os covilhanenses, justificaram plenamente tão carinhosa recepção. Especialmente pelo que fizeram nos primeiros quinze minutos da segunda parte, em que o marcador passou de 3-1 para 6-1, os jogadores do Benfica provaram com exuberância a sua boa forma actual, a sua esplêndida condição física e o perfeito entendimento de todos os sectores. Para que a sua exibição não chegasse ao óptimo bastou o estado lastimável em que se encontrava o campo. A lama e as muitas poças de água obstaram a que os «encarnados» elevassem -ainda mais o tom geral do brilho que deram à partida. Apesar da contrariedade e grande foi ela nunca esteve em causa a superioridade da sua equipa em relação à do Sporting da Covilhã. Em todos os pormenores do jogo o Benfica foi «amo e senhor»; em organização global ficou pertíssimo do exacto e em capacidade de movimentação foram muitos os momentos em que o grupo deu a noção de desenvolvimento e de acerto que só o lamaçal, traiçoeiro e ludibriante, impediu de atingir maior expressão. Não quer tudo isto dizer que o Sporting da Covilhã não fosse adversário de certo modo a ter em conta e que não procurasse, muito naturalmente, opôr-se ao grupo da capital. Simplesmente, do confronto entre a exibição do vencido e do vencedor, ressaltou claramente o maior poder dos Lisboetas, a sua maior categoria e autoridade, e a sua superior esquematização de lances, quer na ofensiva quer na defensiva. Tudo isso ficou traduzido pelo resultado expressivo de 7 golos contra 1 elucidativo mas não concludente. Em três ou quatro jogadas de ataque, o marcador só não atingiu maiores números porque a lama e a água das inúmeras poças serviram aos covilhanenses de defensores fortuitos, mas verdadeiramente providenciais... Uma equipa e um grupo de onze jogadores Seria impossível jogar idealmente bem naquele charco. As inevitáveis «ratoeiras» que a chuva causou no campo e que se agravaram depois com os fortes aguaceiros que caíram durante o desafio tornaram-no impraticável, resvaladiço, arreliante, e sujeitou a maioria de todos os lances a sorte de lotaria... Mesmo assim, o Benfica não tardou a encontrar o bom ritmo, para isso influindo o hábil domínio de bola de quase todos os jogadores da equipa e o sentido prático adoptado ás circunstâncias pelos elementos preponderantes do conjunto. A «teimosia» de alguns, poucos, em procurar carrilar o jogo com a bola junto ao solo, foi constantemente disfarçada pela aplicação dos que deram conta do erro, e não o quiseram cometer. Sem delongas, mas também sem precipitação, a defesa dos «encarnados», repeliu os avanços contrários com a dose de autoridade que se lhe reconhece. Pôde, até, em muitas ocasiões colaborar nas ofensivas do grupo, o que equivale a afirmar que actuou sem pressas e com tempo para completar a sua missão. Na linha média, dois jogadores com o mesmo temperamento mas um mais perfeito em execução do que o outro, presidiu, essencialmente, a base de sustentação do jogo de ataque desenvolvido. Incessantemente, sem quebra de ânimo de princípio a fim, Moreira e Francisco Ferreira impuseram-se de modo decisivo; e como o ataque correspondeu a esse labor, tanto pode ter marcado seis doe sete golos da equipa como por ter operado número grande de excelentes avançadas, o Benfica pôde, como já dissemos, demonstrar conjunto afinado para o qual, desde o começo, se inclinou sem favor a decisão da partida. Ao contrário, o Sporting da Covilhã apresentou onze jogadores - alguns mais hábeis do que outros - mas o conjunto esteve longe de denotar ligação e entendimento que chegasse para se impôr. Por várias circunstâncias os covilhanenses não utilizaram Pedro Costa, habitual defesa central do grupo, e remediaram a falta alinhando com Diamantino nesse lugar, e fazendo derivar Martin do posto de interior, direito para o de médio de ataque. Claramente se viu que nem um nem outro dos elementos citados rendeu o que normalmente rendem e, de aí, o facto de se notar acentuado desequilíbrio entre a defesa, vulnerável em todos os pontos, e o ataque, este sector vincando por demais o «sistema» de jogar para Simonyi, ele o solicitar em quase todos os lances e de aguardar que seja ele a resolver tudo. É certo que o avançado-centro francês que alinha no Sporting da Covilhã, tanto pelos seus conhecimentos como pelo poder de remate e possibilidades físicas, é o atacante mais perigoso do «onze». No jogo de ontem Simonyi marcou «cantos» muitos cedidos pelos benfiquistas mais por a bola estar escorregadia do que por outra coisa) e alguns «livres»; procurou desmarcar-se para a esquerda e para a direita pára se libertar da presença de Félix; e desferiu remates bem premeditados. Unicamente, para que Simonyi pudesse tirar fruto da sua acção, seria necessário que Félix não estivesse lá... e ao avançado-centro covilhanense sucedeu o mesmo que tem acontecido aos que ocupam idêntico posto nas outras equipas - Félix anulou-o, pratica e simplesmente. Os quatro tentos da primeira parte. O Benfica principiou o encontro em tom de superioridade, só a espaços contentada pelos «leões da serra», e o primeiro remate, a passagem de Júlio, pertenceu a Melão. António José não teve dificuldade em parar a bola e, no lance imediato, Jacinto cedeu o primeiro «canto» da partida. A intercepção de Fernandes postou de novo os «encarnados» ao ataque e, em poucos instantes, Francisco Ferreira e Rosário executaram remates que careceram de direcção para, pouco depois, Félix ceder novo «canto» que Simonyi marcou muito poucas, (como sempre, aliás) e Livramento rematou mal... Arsénio imitou o covilhanense, em duas vezes seguidas de ataque dos seus companheiros; até que aos 10 minutos, coroando uma insistência de Moreira e de Francisco Ferreira, Júlio acudiu à passagem do «capitão» da sua equipa e não teve dificuldade em bater António José. Na resposta, o Sporting da Covilhã beneficiou de outro «canto», cuja marcação Martin prejudicou por falta sobre Melão e, aos 21 minutos, Júlio viu a lama fazer gorar um remate colocado. Percalço idêntico sucedeu a Rosário; depois de excelente defesa de Rosa, para «canto», a remate de Simonyi. O extremo direito do Benfica recebeu a bola no seu meio campo, depois da marcação do castigo, e desceu velozmente, com o adversário cada vez mais distanciado. No momento do remate novamente a lama frustrou a possibilidade de um tento que todo o público se preparava para aplaudir Dos 34 aos 37 minutos o marcador passou de 1-0 para 3-0: e para isso bastaram duas boas jogadas desenvolvidas entre Rosário, Arsénio e MELÃO, que se apresentou desmarcado à frente de António José para fazer o ponto; e a segunda entre Júlio, Rogério e ARSÉNIO, também livre de marcação e mais feliz do que antes ao acorrer a uma bola que Júlio rematara e António José deixara escapar para a frente. A quatro minutos do intervalo, o Sporting da Covilhã marcou o seu único tento mercê de uma descida pela direita que Carlos Ferreira concluiu com um bom centro. TOMÉ, atento ao lance, entrou à bola no momento oportuno, e Roca ficou batido. Um quarto de hora de exibição espectacular e fulgurante. O melhor período do encontro foi, sem dúvida, o quarto de hora que precedeu o descanso. O Benfica primou nesse período, em jogar a todo o plano e brilhantemente. Tão brilhantemente que nesse espaço se temia marcou três bolas, qualquer delas em consequência de lances de fulgor e da melhor urdidura, Antes, porém, da obtenção do quarto tento, Rogério desfrutou de uma ocasião excelente um passe de Félix, depois de interceptar um pontapé de canto, deu aso ao extremo esquerdo do Benfica para captar a bola e correr até as proximidades das redes doe covilhanenses. Aí a lama, mais uma vez! - Decidiu dos destinos de uma jogada perigosa... Como compensação, aos 4 minutos, Diamantino cortou com as mãos outro ataque dos «encarnados». Encarregado da aplicação do castigo, Moreira executou tão belo passe que Arsénio não teve mais do que saltar no devido momento, e, de cabeça, aplicar vistoso e vitorioso remate. Cinco minutos depois - 5-1. Uma enérgica oposição de Francisco Ferreira à tentativa de Livramento propiciou uma passagem para JÚLIO. Com Diamantino em desequilíbrio, o avançado-centro do Benfica dispôs de espaço livre a sua frente e galgou, rápido, o caminho a percorrer. António José saiu das redes para defender a pontapé; chegou ainda a tocar na bola, mas Júlio fintou-o e, depois, calmamente, fê-la chegar a baliza. Aos 11 minutos, e já com os «leões da serra» vencidos e convencidos, o Benfica gizou outro avance de bom estilo, com a bola a correr de Rosário para Rogério e deste para Arsénio, que falhou o remate. A defesa dos covilhanenses não teve forças para despacho em profundidade e MOREIRA, oportuníssimo, tentou a recarga com todo o êxito. No resto do tempo os grupos conformaram-se - mais o covilhanense que se remeteu a defensiva, e menos o Benfica que, por intermédio de MELÃO, fechou a conta com o sétimo tento obtido aos 21 minutos. Do domínio e da superioridade dos visitados «fala» expressivamente a circunstância de Rosa só à meia-hora ter sido chamado a deter um remate de Simonyi. Moreira - o jogador n.º 1 do encontro. A figura central da partida foi, de longe, o médio Moreira. Com uma energia digna de inveja de qualquer rapaz de vinte anos, e uma classe que desafia todos os confrontos, o jogador benfiquista realizou ontem exibição das mais brilhantes que lhe temos visto. Moreira tratou a bola por tu, fez dela o que quis e obrigou-a a fazer tudo quanto pensou e lhe apeteceu. Para ele não houve nem lama nem «armadilhas». Esteve onde devia estar; influiu decisivamente no rendimento da linha avançada e no resultado - marcou um bonito golo, que o público e todos os companheiros aplaudiram merecidamente, e esteve na origem de outros três, pelo menos, e não deixou a ninguém o mérito de o sobrelevar quer a dominar a bola, no chão ou pelo ar, quer a passá-la, sempre para o melhor lado, e quer, ainda, a movimentar-se no terreno. Félix e toda a defesa afinal, embora Rosa deixasse escapar das mãos algumas bolas actuou igualmente com a costumada autoridade. Por vezes, até, com fleuma demasiada, parecendo desinteressado do jogador que lhe incumbe cobrir. Julgamos conveniente não insistir no «método» para não se deixar surpreender... Fernandes e Jacinto não tiveram dificuldades a vencer; Francisco Ferreira actuou com a proverbial dose de entusiasmo e aplicação. No ataque, o empenho costumado de Júlio e algumas descidas de Rosário e de Rogério (estes os únicos avançados que não fizeram o «gosto ao pé») colocaram-nos em evidência comparados aos dois interiores que, embora úteis e certos em vários lances, acusaram, mais do que nenhum elemento da equipa, as condições desfavoráveis do campo, No grupo covilhanense salientaram-se António José, que executou bom punhado de defesas; e Simonyi, que apesar de ter defrontado um Félix em grande forma, procurou dar rumo ao trabalho de ataque, orientando as operações. Diamantino esteve deslocado, o mesmo sucedendo a Martin que, por isso, valeram menos do que costumam. Dos restantes, Fialho acusou a falta do companheiro habitual; Roqui e José Pedro foram várias vezes batidos pelos extremos que marcavam; Carlos Ferreira revelou pouca pujança; e Livramento, agastado sem razão com as entradas regularíssimas de Fernandes e incorrendo em gestos reprováveis, a espaços, assim como Guedes certa ligeireza de movimentos que os adversários não deixaram atingir mais notoriedade. Tomé marcou o único tento do grupo mas firmou o seu trabalho com a tendência de acentuar posição mais defensiva do que ofensiva. A arbitragem Libertino Domingos não produziu trabalho de vulto, em especial no julgamento de faltas provocadas mais pelo piso do campo do que pela intenção dos jogadores, avaliando, por isso, mal, de algumas cargas regulares. EDMUNDO TAGARRO %% 1950/01/50-01-09/19500109.5.txt Título: ATLÉTICO, 3- OLHANENSE, 0 Subtítulo: Os lisboetas foram bons vencedores, construindo o resultado no primeiro tempo - O grupo da Tapadinha desperdiçou duas grandes penalidades Data: 9 de Janeiro de 1950 Domínio: Comentário/relato de jogo Autor: Manuel Mota Fonte: Mundo Desportivo ATLÉTICO, 3 - OLHANENSE, 0 CAMPO DA TAPADINHA LISBOA Os lisboetas foram bons vencedores, construindo o resultado no primeiro tempo - O grupo da Tapadinha desperdiçou duas grandes penalidades ATLÉTICO - Ernesto; Baptista, Arlindo e Abreu; José Lopes e Morais; Martinho, Teixeira da Silva, Ben David, Neves e Caninhas. OLHANENSE - Abraão; Rodrigues, Nogueira e Loulé; Acácia e Grazina; Moreira, Soares, Cabrita, João da Palma e Eminência. ÁRBITRO: Cunha Pinto, Setúbal. O jogo da Tapadinha tinha de reflectir o estado do campo, transformado num autêntico lago de água e lama. Por vezes os jogadores ficaram presos ao terreno, não podendo chegar à bola que passava pertíssimo deles. E as quedas, as escorregadelas e os «falhanços» sucediam-se... Deste modo o encontro, que em tempo seco poderia ser excelente, acabou por não deixar saudades. O pouco público, persistente mesmo quando na segunda parte caiu uma chuvada violentíssima, não pode ter gostado da partida. Para os atléticos ela só agradou, certamente, porque a equipa venceu. E venceu bem, diga-se. O resultado, aparentemente desnivelado para o que se esperava dos dois grupos corresponde à vantagem dos lisboetas em domínio territorial. Firme e continuado no primeiro tempo, foi mais solto na segunda parte, sem que, todavia, a superioridade dos alcantarenses deixasse de se manifestar. Simplesmente o Olhanense apareceu com mais frequência e clareza ao ataque, sem causar dano aos adversários. Os dianteiros algarvios foram por de mais falhos de iniciativa e de remate para colocarem em dificuldades os homens do sistema defensivo atlético. E, até, se a marca traduz o domínio territorial do grupo da Tapadinha, fica aquém do que poderia ter atingido em correspondência com as oportunidades criadas e perdidas pelos avançados de Lisboa. Pelos avançados e pelos dois médios de ataque, pois qualquer deles não soube aproveitar as grandes penalidades que o árbitro mandou aplicar contra os visitantes. A primeira forçada, porque a bola foi nitidamente atirada por um lisboeta contra o adversária; a segunda certíssima, punindo rasteira de Rodrigues a Caninhas perto das redes e quando o extremo esquerdo caminhava só e rapidamente para as balizas. Noutros lances também os lisboetas deixaram de marcar. Desperdiçaram, pelo menos, umas duas situações daquelas em que o mais difícil é não marcar. Houve, ainda, remates de Caninhas à barra e de Ben David a um poste. Isto é, com uma dose de felicidade no momento de visar as redes, o Atlético teria ido mais além. Mas, em boa verdade, não estaria certo até porque o grupo de Olhão também podia ter aproveitado melhor dois lances de baliza escancarada... Num campo impossível para se jogar, venceu a equipa mais consistente. E não é caso para pôr o problema da exibição, porque a água e a lama não permitiam melhor. Se o campo do Atlético não fosse relvado, pior teria sido... O resultado final estava feito ao intervalo. O Atlético marcou o seu primeiro ponto havia apenas cinco minutos de jogo. Foi executado um canto, estabeleceu-se leve confusão e a bola apareceu dentro das balizas impelida por Martinho. A turma de Lisboa voltou ao ataque imediatamente, impondo domínio por vezes acentuado. Na linha dianteira Ben David ia longe de mais nas suas iniciativas, como que a revelar falta de confiança nos companheiros, e a defesa olhanense pôde afastar muita jogada de perigo. Antes de se atingir o termo do primeiro quarto de hora José Lopes marcou bem um livre, forçando Abraão a defesa em estirada larga, e Ben David teve um pontapé que roçou a barra. A concretizar a supremacia do onze da Tapadinha surgiu a segunda bola, aos dezasseis minutos. Caninhas atirou de longe ás redes, Abraão não conseguiu segurar a bola, muito escorregadia, e Martinho apareceu oportunamente, para fazer o tento, depois de primeiro remate falhado. Os alcantarenses continuaram a dominar, vendo-se o Olhanense remetido a tarefa defensiva, aqui e além de rápido contra ataque em regra comandado por Cabrita, em tentativas de jogo em profundidade. Já a cair no último quarto de hora, Cabrita perdeu um lance excelente, com Ernesto fora das redes, para logo a seguir uma fuga de Soares ser desfeita, com muita sorte, pelo guarda-redes de Lisboa. A resposta dos atléticos chegou à grande área e numa confusão a bola, atirada por um lisboeta de encontro a um algarvio, foi tocar na mão deste. O árbitro indicou grande penalidade... Mas como Deus escreve direito por linhas tortas. Morais executou o castigo para as mãos do guarda-redes. Daqui gerou-se um canto e foi no seguimento deste que o Atlético logrou a terceira bola. Fixando o resultado. Martinho tirou o pontapé de cento e Caninhas fez o ponto com oportuno toque desviado de cabeça. Havia trinta e um minutos de jogo. Até ao repouso o jogo tornou-se quezilento. Uma entrada de Morais a Eminêncio fez abrir o dique... E o juiz de campo teve de intervir frequentemente, mas a breve trecho para castigar mais os visitantes que os visitados. O jogo tornou-se ainda menos agradável. E digno de realce apenas uma oportunidade estragada por Martinho. Nem mais um tento... A segunda parte foi bem pior ainda que a primeira. Mas foi, todavia, variada. Houve de tudo um pouco: chuva rija, a dar a ideia de que o desafio não poderia continuar, e finalmente uma réstia de Sol a animar todos... Só não houve tentos. Uma hesitação de Soares, havia apenas um minuto, salvou o Atlético. Em resposta Caninhas internou-se e já na grande área sofreu uma rasteira de Rodrigues. José Lopes imitou Morais, atirando a bola a um poste. - Um êrro... a pedir chuva e esta a cair imediatamente, quase tapando a vista. O estado do campo agravou-se, claro. Passou, entretanto, a haver equilíbrio. Isto é, o Olhanense acercava-se melhor da zona de remate, mas uma vez aí todo o esforço resultava em pura perda. Só Cabrita tentava alguns remates, em regra sem convicção, mas os restantes dianteiros eram verdadeiramente inofensivos. Muito mais práticos os atacantes de Lisboa ameaçavam seriamente Abraão, que teve de fazer duas grandes defesas, em tipo de vôo, a primeira para segurar pontapé de José Lopes, a segunda, para deter o remate de Ben David. Depois Caninhas atirou à barra, replicando o Olhanense, em toada de esforço, para se limitar a fazer sair Ernesto em duas intervenções a pontapé. Por sinal pontapés esplêndidos... Já com os jogadores ansiosos para que o desafio terminasse, assistiu-se ainda a uma fase de despique firme entre as defesas e os ataques. O Atlético, mais à vontade, conquistou dois cantos e só por um triz não marcou quarta bola. Ben David, a escassos metros das redes, e com Abraão completamente fora da jogada, cabeceou a bola - de encontro a um poste... No lado oposto Eminêncio atrapalhou-se com o esférico e só por isso, que já foi muito, não obteve um tento. Nada mais houve, depois, a merecer realce. Vitória bem conquistada Sem dúvida que o grupo da Tapadinha venceu muitíssimo bem. Um pouco favorecido por deslizes da defesa algarvia, provocados pelo estado do campo, obrigando a prodígios de equilíbrio, nem sempre conseguido, ou dificultando o domínio do esférico. O segundo ponto tornou-se possível porque Abraão não pôde segurar a bola, pesada e escorregadia. Denunciando melhor preparação, o grupo de Alcântara aguentou-se relativamente bem. E tentou, sem continuidade, uma toada de jogo largo, a fugir aos passes cerzidos, impossíveis nas condições do terreno. Ernesto foi o lisboeta que mais caiu... Felizmente para o Atlético, sem criar embaraços. O guarda-redes da Tapadinha fez, na segunda parte, duas saídas que revelaram muita atenção ao jogo e, principalmente, muita decisão. O trio defensivo actuou sem sobressaltos. Impõe-se bem aos dianteiros algarvios, dos quais apenas Cabrita procurou adaptar-se ás circunstancias. Dos três o melhor talvez tenha sido Abreu, muito rápido a acorrer aos lances. Em conjunto a defesa atlética gozou de muita tranquilidade. José Lopes e Moreis igualaram-se. O primeiro começou a acusar o desgaste do tempo, sentindo-se isso especialmente nas jogadas em que é preciso recuperar. O segundo atravessa um período de frouxidão. Para em tudo serem iguais, ambos desperdiçaram grandes penalidades. Não podem rir-se um do outro... Na linha dianteira os extremos e o avançado centro continuam a ser os elementos mais em evidência. Caninhas jogou muito bem, dentro de um sentido prático que Martinho imitou e Ben David não soube acompanhar. O avançado centro do Atlético agarra-se demasiadamente à bola, leva longe de mais os seus movimentos ofensivos, e na ânsia de desmarcar-se falta ás vezes no sítio onde devia estar. Deu-nos a impressão de que não confia nos interiores... Na verdade, Teixeira da Silva e Neves não estiveram em dia feliz. O ataque do Atlético, quando puder dispor de Armando Carneiro e Rogério Simões, ganhará sem dúvida mais consistência e eficácia. Com dois bane interiores, e qualquer daqueles jogadores o pode ser, o quadrado atlético ficará fortalecido. Pouco sabor ofensivo. O Olhanense deve ter sido muito prejudicado pelo terreno. É uma equipa cujo padrão de jogo se adapta melhor a campos secos que a mores de lama. A própria rapidez da linha avançada encontrou na Tapadinha, autentico charco, um obstáculo que não conseguiu ladear. Cabrita esforçou-se, realmente, a procurar dar ao ataque algarvio ritmo diferente. Os seus passes em profundidade nunca encontravam porém, um companheiro bem colocado... Por tudo isto o onze de Olhão mostrou-se quase inofensivo. As defesas mais difíceis de Ernesto verificaram-se no segundo tempo, quando o guarda-redes se decidiu a queimar longe das balizas as tentativas dos adversários. Abraão, mantendo-se com dificuldade no terreno, foi batido na segunda bola por não poder segurar o esférico. Mas resgatou bem esse deslize, repare-se que nem erro lhe chamamos com três primorosas defesas, uma antes do intervalo e duas depois. Em qualquer delas o guarda-redes algarvio mereceu quentes aplausos. O trio defensivo andou muitas vezes aos baldões, mas nunca deixou de estar interessado na luta e de seguir bem os movimentos dos dianteiros contrários. Rodrigues e Loulé, a tocarem no espero, travaram bons duelos com os extremos opostos, enquanto Nogueira se tornou no «outro-eu» de Ben David. Houve, todavia, muita jogada em que a defesa de Olhão meteu água, deslocada pelos movimentos rápidos do Atlético. De modo geral, porém, a defesa não comprometeu a equipa, apesar de derrotada três vezes. A força dos adversários também conta. Macio passou despercebido e Grazina, a caminho dos 40 anos, sendo o mais curioso caso de longevidade futebolística registado no nosso país, começa a não estar em condições de satisfazer num terreno que obriga a esforço dobrado. Na segunda parte, quando o Olhanense jogou mais abertamente ao ataque, Grazina esteve na base de algumas descidas, originando-as em pontapés longos e imediatamente, transformando lances de defesa em jogadas ofensivas. Na linha da frente só Cabrita esteve altura das circunstâncias, ainda que o seu labor não pudesse atingir brilho. Seria difícil, naufrago entre uma avançada inconsciente, falha de iniciativa e de remate. João da Palma viu-se no final, numa série de fintas género Pireza... A «escola», de resto, é a mesma do Barreiro. Sobre a arbitragem O Sr. Cunha Pinto soube impor-se quando o jogo começou a descambar para a violência. O intervalo, aparecendo logo a seguir, ajudou-o na sua tarefa. Bem vista a segunda grande penalidade. Mas na primeira não parece que tenha havido falta intencional. E só estas faltas são punidas... A bola foi claramente atirada por um lisboeta para as mãos de um algarvio. Como outros árbitros, o Sr. Cunha Pinto teve alguns deslizes relativamente a um caso que começa a ser difícil de banir do futebol português: o assinalar faltas em benefício do infractor. No primeiro tempo, por exemplo, Cabrita suportou uma carga irregular, ficou de posse da bola com o terreno completamente livre, mas o juiz de campo interrompeu-lhe a jogada. Marcado o livre já os lisboetas estavam devidamente colocados. Manuel Mota %% 1950/01/50-01-09/19500109.6.txt Título: BELENENSES, 2 - SP. BRAGA, 1 Subtítulo: O guarda-redes bracarense, Cesário, dificultou a vitória dos belenenses, que só conseguiram marcar no último quarto de hora, mercê do impulso dado ao ataque por Frade Data: 9 de Janeiro de 1950 Domínio: Comentário/relato de jogo Autor: ALBERTO FREITAS Fonte: Mundo Desportivo BELENENSES, 2 - SP. BRAGA,1 JOSÉ M. ESTÁDIO SOARES O guarda-redes bracarense, Cesário, dificultou a vitória dos belenenses, que só conseguiram marcar no último quarto de hora, mercê do impulso dado ao ataque por Frade BELENENSES - Sério; Figueiredo e Serafim; Rebelo, Feliciano e Frade; Narciso, Pinto de Almeida, Sidónio, Duarte e Diógenes. SPORTING DE BRAGA - Cesário; Palmeira e Abel; Daniel, Marques e Joaquim; Diamantino, Elói, Mário, Fonseca e Correia. ÁRBITRO: Reis Santos (Santarém). Quando faltavam cinco minutos para terminar o primeiro tempo, os bracarenses marcaram um golo, inesperadamente. Até esse momento, ninguém - nem talvez os próprios bracarenses... - teria pensado que seria possível os visitantes conquistarem uni, tento. A feição do jogo não fazia prever semelhante sucesso. Nem de perto, nem remotamente houvera, até então motivo para se julgar que os minhotos alcançariam o intervalo na posição de vencedores. A partida decorrera durante esses quarenta minutos entre a avançada belenense e a defesa bracarense. Mais exactamente, entre os avançados de Belém e o guarda-redes de Braga. Mas veio o tento dos visitantes, feito num contra-ataque e nascido do primeiro remate que eles tiveram. O panorama mudou, evidentemente. Da relativa tranquilidade em que navegavam, a frase é apropriada, porque o desporto fez-se ontem, em Lisboa, positivamente... a navegar... os belenenses passaram à precipitação, talvez porque só então compreenderam que na frente deles, em vez de uma baliza, se levantara uma «muralha»... Após o intervalo o panorama não mudou. O mesmo cenário, as mesmas personagens, o mesmo «leit-motiv» o domínio dos Belenenses, tornado ineficaz pela acção do guarda-redes Cesário. A baliza dos bracarenses parecia inexpugnável! E o tempo corria e já as gentes belenenses descriam da vitória, quando, a um quarto de hora do fim, um raio de sol iluminou o campo. Com esse raio de sol, que rompeu a atmosfera densa e cinzenta de um dia de chuva, coincidiu o primeiro passo dos belenenses para a vitória. Sete minutos depois, os lisboetas concretizavam, realmente, a vitória que parecia impossível. Os partidários dos Belenenses soltarem um suspiro de alívio e dentro do terreno demonstraram que também havia desaparecido um «grande peso» que tinham sobre eles... A influência de dois jogadores. Na insignificante derrota de Braga, como na vitorie dos Belenenses, duas personagens tiveram decisiva preponderância. Cesário, de um lado, Frade, do outro. Ao guarda-redes de Braga pouco faltou para bater, sozinho, os belenenses. Jogará sempre assim este guarda-redes? Se joga sempre na bitola de ontem, o «keeper» bracarense é um «caso muito sério». Não temos dúvidas, ontem, nenhum outro guarda-redes português teria jogado melhor. Terá sido um dia de inspiração, mas não foi um dia de acaso. Há diferença entre inspiração e acaso. Se o guarda-redes de Braga não se encontrasse no caminho dos remates, e a bola não chegasse à baliza «por qualquer motivo», ou se não blocasse a bola como se as mãos fossem tenazes, ou se não a enviasse conscientemente para «canto» o facto de estar uma hora e um quarto sem sofrer tentos, apesar de «bombardeado» seria acaso. Mas como a acção do guarda-redes de Braga se desenvolveu conscientemente, deve admitir-se que houve inspiração do jogador, se é que ele não joga sempre assim. O público chegou a ter a impressão de que os avançados belenenses estavam no seu pior dia de sempre. Ora eles não foram, realmente, brilhantes na modelação do jogo, mas remataram muitas vezes. E se não rematassem, o guarda-redes bracarense não se poderia elevar ao plano a que se elevou! Aquilo que aparentemente terá parecido «falha» dos avançados Belenenses, foi realmente virtude do guarda-redes da equipa minhota. Também é certo que Sidónio, mesmo sem que o valor da acção de Cesário sofresse beliscadura - refreou algumas descidas dos lisboetas, que com um pouco mais de desenvoltura podiam ter encontrado desamparado o guarda-redes do Norte em situação de ser batido sem vergonha para ele. Mas este pormenor não eliminou a influencia que o homem da baliza do Sporting de Braga teve no desfecho da partida. Para que os Belenenses «arrancassem» a vitória foi necessário enxertar na linha avançada uma nova força um jogador dinâmico que, de facto, em meio duelo, de lances gerou a desconfiança na defesa de Braga e provocou o desmoronamento das justificáveis ilusões dos visitantes. Esse jogador foi o médio esquerdo Frade, que passou para centro-avançado, deslizando Sidónio para extremo e recuando Narciso para médio. O matraquear improfícuo que os Belenenses haviam tido durante mais de uma hora «floresceu», como se se tratasse de magia. Frade operou, realmente, um desbarato da defesa de Braga, que deixou os companheiros em situação de apontar à baliza com todas as condições de êxito livres daquele «demónio» que ontem foi Cesário. A inspirada alteração feita pelos Belenenses no último quarto de hora, deu-lhes uma vitória que parecia comprometida definitivamente. A audácia é indispensável a quem dirige equipas de desporto. Nas circunstâncias em que ontem estavam os Belenenses, vendo fugir-lhes unia vitória que parecia a coisa mais certa deste mundo, era realmente necessária uma acção como teve o treinador das «azuis». Em circunstâncias como aquela joga-se tudo por tudo. E as decisões que, podem parecer mais audaciosas são, em regra, vantajosas. A dificuldade de uma vitória. No primeiro tempo a imagem do desafio foi só uma: - ataque dos Belenenses. Mas ataque sem fruto. À primeira tentativa de golo dos lisboetas, respondeu o guarda-redes de Braga com uma parada de mestre. Á segunda tentativa - idem. Desde então os avançados belenenses experimentaram todos os ângulos, todas as distâncias e todas as alturas de pontapé para iludir o «guarda» minhoto. Tudo baldado. Pequeno mas ágil como o felino mais ágil, parecendo, nos seus saltos, disparado por uma funda, com umas mãos dominadoras e a bola pesava como chumbo!-Cesário, sozinho, o labor da equipa belenense encaminhada no ataque com evidente vontade de conseguir uma boa vitória, mas também claramente confiante. A face do jogo justificava tal disposição de espírito Duarte teve dois belos tiros mas, do lugar de interior direito, lançado com o pé esquerdo, precioso e sucessivamente Diógenes ou Pinto de Almeida, Serafim ou Narciso. Sidónio ou Rebelo alvejaram a baliza para nada... porque Casario... parava tudo! Os bracarenses cederam muitos «cantos», sendo evidente a sua decisão de só atacar em última instância. Primeiro, a defesa; depois a defesa. E eventualmente o ataque. Explica-se, assim, que só aos quarenta minutos eles tenham levado ao campo adversário uma avançada em forma. A sorte estava do seu lado, porque esta primeira avançada acabou com um tento, marcado pelo extremo esquerdo Correia. Nada se alterou, a não ser o «marcador» do campeonato que em lugar de um zero de cada lado, passou a exibir um «l» no sector do Sporting de Braga... Sidónio e Narciso tiveram remates a um poste, sem que tais lances desconsertassem o guarda-redes nortenho, pois imediatamente a seguir ele estocou quatro ou cinco remates que mereciam senhoria. Mas, um pouco antes da meia hora, operou-se a modificação na linha belenense, a que aludimos. Frade agitou o jogo, deu-lhe novo sangue e dois minutos depois de haver derivado para avançado os lisboetas empataram. Duarte, a extremo esquerdo, porque se magoara num braço, enviou e, bola para a frente da baliza quase a rasar a relva; Frade simulou uma entrada, obrigando a defesa de Braga a destapar Sidónio e este com o pé esquerdo e em má posição relativamente a rede, desfechou o remate preciso. Uma nova intervenção de Frade quase desempatava a partida, mas o remate saiu rente a um poste. E alguns minutos mais tarde, seguida incursão de Duarte, pela esquerda, e nova finta de Frade, deu ocasião a que Pinto de Almeida se encontrasse com o caminho da baliza aberto. O «tiro» partiu sem apelo para o guarda-redes. Obtida a vitória. Frade recuou para o seu lugar de médio, para reforçar a defesa. Os Belenenses tiveram, no entanto, um susto, pois uma avançada dos bracarenses a melhor que fizeram, só não deu golo porque Sério executou uma defesa da melhor categoria. Belenenses e bracarenses. O resultado de 2-1 é magra vitória para a superioridade evidênciada pelos belenenses. Mas ficou explicada a razão desse 2-1 Pode dizer-se que o jogo girou todo à volta do guarda-redes bracarense - o melhor jogador no terreno da equipa visitante que vimos ontem pela primeira vez acata o campeonato, aguardávamos, porém, bastante mais. O estado do terreno, muito pesado, terá prejudicado os bracarenses, quase todos jogadores ligeiros: mas independentemente disto, a equipa mostrou-se demasiadamente retraída no ataque, acantonando-se na defensiva desde os primeiros minutos e deixando ao adversário toda a iniciativa. Da linha avançada pode dizer-se que só existiu em duas ocasiões naquela que terminou com o tento e na que se seguiu ao segundo golo belenense. A presença do médio direito Daniel despertava atenção, mas o jogador não a justificou. Jogou deliberadamente sobre a defesa e as entregas da bola à frente foram quase todas para os adversários. Dos outros jogadores. Palmeira foi o que melhor apoio forneceu à equipa. Não cortando é claro, com Cesário, porque este teve lugar à parte. Muitíssimo bem no lado belenense, Rebelo, que merece a classificação imediatamente a Cesário. Serafim no segundo tempo com insistentes pontapés sobre a baliza de Braga, que geraram muito perigo. Feliciano não teve dificuldade em dominar o avançado-centro contrário. Frade distinguiu-se a médio e teve grande papel na vitória da equipa. Duarte foi o melhor avançado duma linha que só pecou por caminhar, demasiado com a bola num terreno pesadíssimo e por falta de oportunidade do «centro». A arbitragem, com dois momentos de desatenção um em que castigou indevidamente o avançado-centro de Braga por «fora de jogo» e outro em que deixou actuar dois bracarenses que estavam realmente «fora de jogo» foi no conjunto bem conduzido. ALBERTO FREITAS %% 1950/01/50-01-09/19500109.7.txt Antetítulo: Dia 15, no Estádio Nacional Título: BENFICA - S. LOUREÇO; SPORTING -RACING Data: 9 de Janeiro de 1950 Domínio: Notícia Fonte: Mundo Desportivo Dia 15, no Estádio Nacional BENFICA - S. LOUREÇO; SPORTING -RACING Respectivamente às 13,30 e 15,30 horas são os primeiros de uma série de jogos em que participam as categorizadas equipas argentinas. Os dois desafios de futebol do próximo domingo, a disputar no Estádio Nacional entre as equipas do Sporting Clube de Portugal, Sport Lisboa e Benfica, Racing de Buenos Aires e S. Lourenço de Almagro, estão, justificadamente, a despertar a maior expectativa. A notícia foi acolhida com entusiasmo, e o ambiente criado à volta dos encontros permite avaliar do interesse suscitado e prever afluência de espectadores igual à dos grandes dias de jogos. O futebol português só tem a lucrar e muito, com a visita dos jogadores argentinos, possuidores de técnica e classe verdadeiramente aparte. A afirmação dessa técnica e dessa classe os segredos do futebol em todos os pormenores, desde a preparação individual até ao perfeito funcionamento do conjunto, fizeram-na há dois anos, no Estádio, os argentinos do S. Lourenço de Almagro. Presentemente, em Espanha, os jogadores da equipa já nossa conhecida, e mais os do Racing de Buenos Ayres e do Old Boys, confirmaram plenamente a fama criada à sua volta. O jogo dos sul-americanos, um futebol de arte, beleza e eficiência, estabelecendo valoroso confronto com o jogo dos espanhóis e o seu prestígio não diminuiu em nada, antes pelo contrário, apesar de não terem ganho sempre. Seria impossível, se atendermos a que os espanhóis possuem, igualmente, numeroso lote de praticantes de primeiro plano. As «Organizações B-S.» quiseram brindar o público com uma série de espectáculos de grande categoria. E, para melhor se avaliar das nossas possibilidades futebolísticas, os dois clubes elaboraram programa de atractivos bastantes para o valorizar. Assim, no domingo, dia 15, no Estádio, veremos em acção: ás 13,30 horas: BENFICA - S. LOURENÇO DE ALMAGRO; e ás 15,30 horas, SPORTING - RACING DE BUENOS AYRES. Qualquer dos dois desafios é susceptível de atrair assistência que encha por completo o formoso parque do Vale de Jamor. O actual guia do Campeonato Nacional, presentemente com uma equipa que revela forma apurada, tem queda para defrontar grupos estrangeiros. A segurança do sector defensivo, actualmente o melhor de todos os grupos portugueses, garante que os jogadores do S. Lourenço de Almagro terão de se empregar a fundo se o quiserem ultrapassar e... bater. Por sua vez, o ataque dos «encarnados», onde o avançado centro e os dois extremos figuram no número dos com mais capacidade para darem trabalho a qualquer defesa, tem talento e desenvoltura suficientes para se entregar a trabalho ofensivo que pode levar ao êxito. Na outra partida defrontam-se os campeões de Portugal e da Argentina. Conhece-se igualmente a tendência do Sporting para derrotar equipas de outros países. Os «leões» empregar-se-ão com o habitual entusiasmo e saber para vencerem o Racing, opondo ao jogo deste clube e à categoria dos seus componentes, não só o sentido pratico de um ataque bem compenetrado mas também a certeza de colocação na defesa onde Azevedo - o guarda-redes português n.º 1 - fará prodígios de classe para manter intactas as suas redes. Por tudo, pois, bem pode afirmar-se que em poucas vezes se terá oferecido ao nosso público cartaz de tantos motivos aliciantes. Ainda não está estabelecido o programa do dia 22, em que igualmente colaborarão as duas equipas argentinas. Fala-se em dois encontros entre as equipas A e B de Portugal com o Racing e o S. Lourenço. Admite-se a hipótese de se efectuar um jogo em Lisboa e outro no Porto, possivelmente entre as selecções respectivas, do Sul e do Norte. E pensa-se, no caso de a Federação Portuguesa de Futebol se desinteressar desses jogos, o que nos parece improvável, que o Benfica e Sporting trocariam dos adversários com quem lutam no dia 15. No dia 31 - feriado oficial - visitará Lisboa, como já dissemos, o grupo do «Newell's Old Boys», outra equipa argentina que se exibirá, possivelmente, contra um misto formado por elementos do Sporting e do Benfica. %% 1950/01/50-01-09/19500109.8.txt Título:"O ELVAS", 4 - VIT. SETÚBAL, 2 Subtítulo: A réplica firme e decidida dos visitantes dificultou a acção dos alentejanos, cujo triunfo, porém, foi merecido Data: 9 de Janeiro de 1950 Domínio: Comentário/relato de jogo Autor: MATOS SERRAS Fonte: Mundo Desportivo "O ELVAS", 4 - VIT. SETÚBAL, 2 A réplica firme e decidida dos visitantes dificultou a acção dos alentejanos, cujo triunfo, porém, foi merecido ESTÁDIO MUNICIPAL Cardoso Pereira e Nunes «O ELVAS» - Marques; Osvaldo e Oliveira; Gomes, Lemos e Sousa; Manuelito, Massano, Patalino, Teixeira e Sanina. VITÓRIA DE SETÚBAL - Carvalho; Jacinto e Rogério Fontes; Pina, Primo e Orlando; Passos, Nunes, Ataz, Cardoso Pereira e Vasco. ÁRBITRO: Rogério Melo Paiva, de Lisboa. A chuva abundante prejudicou a acção dos jogadores. A bola pesava como chumbo e o terreno estava muito escorregadio. A despeito dessas contrariedades, porem, ambas as equipas lutaram com denodo e entusiasmo, emocionando, por vezes, a escassas assistência. A réplica firme e decidida dos sadinos valorizou o encontro. Os alentejanos venceram com merecimento, mas os visitantes não lhes deram momentos de tréguas. E até poderá atribuir-se certa infelicidade aos setubalenses, só porque não beneficiaram das condições atmosféricas. Com efeito, na primeira parte tiveram de agir com o vento a soprar-lhes de frente. No segundo tempo contavam naturalmente com esse beneficio, mas o vento - foi-se... Apenas a chuva continuou a cair, por vezes, em fortes bátegas. Os elvenses chegaram a 2-0 Logo na primeira avançada do desafio os alentejanos obtiveram um tento. Bom trabalho de Sanina, que bateu Jacinto na corrida, centro bem colocado e remate pronto de Patalino, No lance imediato um remate de Massano levou a bola a embater contra a trave Aos 8 minutos, o Elvas aumentou o avanço para 2-0. Depois de fintar novamente Jacinto, Sanina centrou quando a bola estava prestes a sair pela linha de cabeceira. Massano acorreu ao remate e enfiou o esférico nas balizas. Longe de desanimar, os setubalenses lançaram-se afoitamente ao ataque. Aos 17 minutos, o guarda-redes do Elvas não segurou a bola, rematada por Nunes, e a defesa dos locais acabou por salvar-se do perigo com certa felicidade. Aos 26 minutos, Vasco rematou fortemente, mas a bola saiu a rasas a trave. A 7 minutos do termo do primeiro tempo, os setubalenses conseguiram finalmente reduzir a desvantagem para 1-2. Vasco rematou, Marques voltou a não segurar convenientemente a bola e Cardoso Pereira pôde executar recarga triunfante. Superioridade dos elvenses na segunda parte. No segundo período, o Vitória de Setúbal introduziu alterações na sua linha avançada, que apareceu constituída da seguinte maneira: Passos, Ataz, Vasco, Nunes e Cardoso Pereira. Aos 2 minutos, Ataz rematou a rasar o poste. Os sadinos pareciam bem encaminhados ao ataque, mas, contra a corrente do jogo, os elvenses obtiveram terceiro tento. Insistência de Patalino, centro de Sanina e remate certeiro de Manuelito. Aos 20 minutos, coincidindo com a volta da linha dianteira do Vitória à primitiva formação, os visitantes responderam com o segundo golo, mercê de um pontapé forte e bem colocado de Nunes, desferido à entrada da grande área. Aos 27 minutos, com felicidade, Rogério Fontes defendeu quase sobre a linha de baliza um remate aplicado por Massano. Animados, os locais não abandonaram o ritmo do ataque. O Elvas, aos 34 minutos, fixou o resultado em 4-2. Foi este a tento mais espectacular do desafio. Belo trabalho de Massano, que, depois de fintar dois adversários, centrou com precisão e Manuelito, saltando ao mesmo tempo que o guarda-redes, introduziu o bola nas balizas, com um remate de cabeça de bom efeito. A 3 minutos do fim, o Elvas esteve prestes a marcar quinto tento, Rogério Fontes incorreu em falta nas proximidades da grande área e o respectivo livre foi bem apontado por Osvaldo, que provocou uma aparatosa defesa de Carvalho, a soco, para «canto». Os melhores jogadores e uma arbitragem impecável Na equipa alentejana, Patalino, Massano, Osvaldo e Sousa (este só na segunda parte), estiveram em evidência. Sanina teve boa interferência em quase todas as jogadas capitais do seu grupo, mas pecou por lentidão. Manuelito joga melhor à direita do que à esquerda. O guarda-redes comprometeu várias vezes a equipa, não inspirando confiança aos colegas da defesa. Os melhores elementos do Vitória de Setúbal foram: Rogério Fontes, em primeiro lugar, Pina, Primo e Nunes. Ataz, que veio da Académica, não fez esquecer macio, que está a contas com uma distensão muscular. Excelente arbitragem. Nem um erro. E o estado do terreno e as condições do tempo não eram dos mais propícios para a realização de boas arbitragens. MATOS SERRAS %% 1950/01/50-01-09/19500109.9.txt Título: ACADÉMICA, 3; F. C. PORTO, 2 Subtítulo: Depois de um começo fulgurante a Académica permitiu que os portuenses impusessem equilíbrio territorial, experimentando embaraços Data: 9 de Janeiro de 1950 Domínio: Comentário/relato de jogo Autor: ADRIANO PEIXOTO Fonte: Mundo Desportivo ACADÉMICA, 3; F. C. PORTO, 2 Depois de um começo fulgurante a Académica permitiu que os portuenses impusessem equilíbrio territorial, experimentando embaraços ACADÉMICA - Capela; Branco e Brás; Castela, Curado e Azeredo; Pacheco Nobre, Garção, Macedo, Serra Coelho e Rentes. PORTO - Graça; Virgílio e Carvalho; Romão, Alfredo e Castão; Sanfins, José Maria, Vital, Monteiro da Costa e Vieira. ÁRBITRO: José Sarandezes, de Lisboa. Subsiste o problema das interiores na equipa da Académica, um problema que parece continuar sem solução, não obstante as várias tentativas no sentido de o resolver ou atenuar, pelo menos. Ontem o clube dos estudantes colocou Garção a meia-ponta-direita, mantendo Serra Coelho a interior esquerdo. Nos primeiros vinte minutos, que constituíram o grande período da Académica, notável, na verdade, e através do qual o grupo desenvolveu magnífico futebol de progressão talvez como só ainda este ano no Estádio Municipal o tivesse feito contra o Sporting de Braga, na meia hora inicial o arranjo dos interiores deu inteira satisfação. No capítulo do tecer dos lances, o rendimento da formação dianteira foi simplesmente admirável pelo seu poder de penetração. Dois tentos, por sinal primoroso o segundo, deram expressão à superioridade até essa altura evidênciada pelos locais e se o seu extremo esquerdo, como principalmente o seu avençado centro, tivessem sido mais serenos em algumas jogadas que os colocaram diante as balizas de Graça, sem outra oposição que não fosse a do guarda-redes portuense, certamente o resultado teria ganho um volume muito mais amplo. No final da primeira parte os estudantes tinham a vantagem de 3-1, mas estes números eram francamente lisonjeiros para os visitantes. Aos 23 minutos o Porto começou a aparecer ao ataque e logo a partir desse momento notou-se que os meias-pontas conimbricenses deixavam de corresponder com a presteza e a velocidade indispensáveis ás solicitações dos seus médios e dos seus extremos. Bentes apareceu algumas vezes no vértice da bandeirola de canto em poder da bola, sem encontrar auxílio por parte do seu interior, como também algumas infiltrações de Pacheco Nobre não tiveram uma directa influência na perturbação da defesa contrária, exactamente por Garção não saber ou já não poder imprimir à desmarcação o necessário desafogo. Da sua lentidão havia de passar a ressentir-se cada vez mais o avançado centro, que, forçado a procurar os lances, faltou repetidas vezes na zona de remate ou não demonstrou a calma e o domínio de jogada necessários para concluir os lances por ele próprio construídos, permitindo que Alfredo surgisse na sua zona com uma autoridade que lhe tinha faltado no excelente período inicial dos estudantes. O facto de a Académica haver defrontado nos primeiros quarenta e cinco minutos um vento que por vezes soprou com muita força apressou a fadiga de Serra Coelho e de Garção. No entanto, essa fadiga, em qualquer hipótese, veio cedo demais. A resistência em postos de tanta preponderância como os dos interiores é no futebol uma inexorável imposição e por consequência uma premente necessidade das equipas. Sob este aspecto, talvez os meias-pontas da Académica não estejam devidamente preparados, em especial o esquerdo, que possui verdadeira robustez. Na segunda parte, embora beneficiando do vento, os locais não puderam tirar partido da vantagem pelas causas já citadas. Os interiores continuaram a limitar o seu jogo a zonas demasiadamente pequenas e os movimentos do grupo foram como que retardados e cerceados por eles. Tentaram em várias ocasiões acudir ao jogo daqueles e o Porto encontrou assim facilidades para a organização dos seus contra-ataques, em que insistiu e que intentou repetidas vezes com tenacidade. Nestes lances foi particularmente notável a acção de Carvalho, antecipando-se e colocando a bola em excelentes condições com os pés ou com golpes de cabeça na frente dos homens do trio central, aproveitando desse maneira a liberdade que os sectores defensivos da Académica lhe concediam. A actuação dos pré-seleccionados Dos elementos indicados para os primeiros treinos das selecções e que actuaram neste Académica-Porto e foram eles Capela, Curado, Azeredo, Bentes, Pacheco Nobre, Alfredo, Vital e Carvalho - o defesa esquerdo da equipa portuense foi sem dúvida o que jogou dentro de uma toada de maior regularidade. Em brilho não superou o extremo direito da Académica, que teve de entrada lances portentosos, batendo com simulações e dribles habilíssimos o citado portuense. Somente por falta de apoio não ter podido Pacheco Nobre manter ou prolongar esses lances, mas em firmeza, singeleza, sobriedade de processos e autoridade, Carvalho foi inexcedível. Curado acusou claramente o destreino consequente de uma ausência deveras demorada. Alfredo mostrou-se indeciso a princípio, não atinando com a posição. Pelo tempo adiante melhorou, sem todavia haver chegado a plano de relevo. Capeie, com duas defesas enormes, uma delas a um esplêndido remate de Monteiro da Costa, após um falhanço espectaculoso do médio centro local. Redimiu com elas um erro de vulto quando ficou pregado à baliza numa jogada em que a sorte o bafejou, levando a bola a fazer ressalto num poste. Azeredo esteve muitíssimo bem a espaços, mas, caiu uma vez por outra na apatia que permitiu o desenvolvimento de alguns ataques dos portuenses. Bentos impõe-se a Virgílio através de toda a primeira parte. Na segunda, porém, o defesa portuense, mais seguro, levou-lhe a palma. Devera assinalar-se o final de Branco, rápido e firme nas intervenções no centro do terreno a acudir aos lapsos frequentes dos seus companheiros. O grupo portuense não teve no segundo tempo dianteiros capazes de explorarem os equívocos da defesa conimbricense. Monteiro da Costa será melhor avançado-centro que interior. A força e a facilidade do seu pontapé dão de algum modo essa indicação, Vieira é um extremo que precisa de quem saiba jogar para ele, aproveitando-lhe a corrida e colocando-o na posição ideal de remate. Parece, todavia que ao extremo esquerdo portuense essa posição não é facilitada com a devida insistência. A Jogar ao longo da linha lateral encontra muitas dificuldades. Um tento primoroso de Pacheco Magníficos os cinco tentos do desafio, mas o melhor de todos foi incontestavelmente o segundo da Académica, marcado por Pacheco Nobre. Eis os lances que precederam os tentos: Aos 8 minutos da primeira parte jogada rápida entre Garção e Pacheco Nobre e entrega pronta ao avançado-centro, Macedo apareceu em frente da baliza e rematou fortíssimo a meia altura. Aos 14 minutos, o golo de Pacheco Nobre. O lance começou em Castela deste foi a Serra Coelho, que lançou Bentes. O extremo esquerdo da Académica centrou para Macedo, que tentou o remate; a bola embateu num pé de Alfredo e veio para trás; e Pacheco Nobre, como uma flecha, partiu ao seu encontro e o pontapé saiu com extraordinária velocidade, tornando inútil a entrada de Graça. Aos 23 minutos houve uma grande penalidade assinalada contra a Académica por Brás, no chão, ter agarrado o interior direito portuense. O árbitro assinalou o castigo, depois de no mesmo lance ter deixado que Sanfins, em circunstâncias precisamente idênticas impedisse o defesa esquerdo da Académica de ganhar a bola. Vital apontou o castigo, mas a bola foi devolvida pela trave e na recarga o mesmo Jogador anichou-a nas redes. O tento foi, no entanto, invalidado, como não podia deixar de ser. Aos 31 minutos o resultado passou para 3-0. Uma série de dribles de Pacheco Nobre levou o extremo direito da Académica até ao meio do terreno. Ali, Pacheco Nobre dirigiu a bola, com um toque inteligente, por cima de Virgílio; e Macedo não teve mais do que dar uns passos e apontar para o lado direito de Graça. Aos 31 minutos, no seguimento de uma descida pela esquerda, Monteiro da Costa ficou de posse da bola, derivou para a direita e rematou sem possibilidade de defesa para Capela. O único tento do segundo tempo resultou de um passe em profundidade de Virgílio para Vital, que progrediu no terreno e apontou no, jeito de Monteiro da Costa, quando da marcação do golo anterior. A arbitragem Anotaram-se erros da arbitragem, sobretudo no respeitante a cargas. Os fiscais de linha não acompanharam bem a direcção da partida. A marcação de grande penalidade contra a Académica suscitou protestos, em virtude de falta que precedera a de Brás, ocorrida a dois passos do juiz de linha. ADRIANO PEIXOTO %% 1950/01/50-01-16/19500116.1.txt Título: BELENENSES, 0 - ATLÉTICO,O Subtítulo: Partida sem tentos mas disputada com energia excessiva. Os «atléticos» deram mostras de mais conjunto e os «azuis» de maior voluntariedade Data: 16 de Janeiro de 1950 Domínio: Comentário/relato de jogo Autor: EDMUNDO TAGARRO Fonte: Mundo Desportivo BELENENSES, 0 - ATLÉTICO,O Partida sem tentos mas disputada com energia excessiva. Os «atléticos» deram mostras de mais conjunto e os «azuis» de maior voluntariedade JOSÉ M. SOARES ESTÁDIO LISBOA BELENENSES - Sério; Figueiredo, Feliciano e Serafim; Rebelo e Frade; Palma Soeiro, Pinto de Almeida, Vasco, Duarte e Diógenes. ATLÉTICO - Ernesto; Baptista. Armindo e Abreu; Lopes e Morais; Martinho, Teixeira da Silva, Ben David, Neves e Caninhas. Árbitro: António Rodrigues dos Santos, Lisboa. Os Belenenses e o Atlético lutaram ontem, com vivacidade e energia, no relvado das Salésias, o qual, apesar da hora matutina a que se efectuou o jogo esteve bem emoldurado de público. Por vezes o arrebatamento dos jogadores dos dois grupos superou a regular sequência dos lances, e foi-se até um pouco além do aceitável limite de tolerância, sendo este ultrapassado por parte de alguns elementos. É certo que nem sempre sucedeu assim e quando se pensou exclusivamente em jogar a bola, qualquer das equipas deu mostras de razoável entendimento. Neste particular o Atlético provou, de momento, possuir melhor conjunto. Realmente, os visitantes actuaram, quer à defesa quer ao ataque, com mais desenvoltura do que os «azuis». O fio de jogo ligado que o Atlético exibiu em vários momentos dá-lhe vantagem no confronto com o dos Belenenses. Com um forte sector defensivo, e um guarda-redes que logo na primeira defesa e que bela defesa ela foi! - transmitiu confiança e todo o grupo, o Atlético pôde contar ainda com dois médios volantes que não só criaram muito jogo ofensivo (caso de José Lopes) mas também souberam, e bem, acorrer à defesa e auxiliá-la com proveito (esse de Morais). Se os avançados, especialmente Teixeira da Silva e Ben David, têm sabido tirar partido de tão preciosa ajuda, igualando-se em rendimento a Caninhas, Martinho e, por vezes, a Neves, o Atlético teria chagado sem favor à vitória. Em contra-partida, e enquanto os «azuis» dispuseram também de bons defensores, Feliciano e Sério em primeiro lugar; e Figueiredo (este mais) e Serafim a actuarem com demasiada rudeza não pôde, tento a linha média como o ataque, mostrar-se do mesmo modo que os homens dos lugares equivalentes na turma do Atlético. Os dois médios, Rebelo e Frade, viram muito esforço da sua parte, aliás nem sempre bem conduzido, sem o necessário apoio dos dois interiores. Duarte começou para impressionar bem, mas não tardou e ser dominado: e Pinto de Almeida não teve em todo o encontro uma jogada em que mostrasse capacidade suficiente para abrir brechas no dispositivo defensivo do adversário. A experiência de Vasco a avançado-centro também não nos pareceu inspirada. Nem Vasco mostrou mobilidade para se esgueirar pelo meio do terreno, ou para se desmarcar, nem os companheiros souberam tirar partido do seu poder de pontapé, jogando por forma a livrá-lo da presença de Armindo, que ontem não teve embaraços para se opor ao seu adversário. Ficaram na linha avançada, com nota por se superiorizarem sobre os restantes, os dois extremos. Contudo, Diógenes só livre de Baptista é que revelou iniciativa: e Palma Soeiro, pareceu esquecido do seu interior, careceu do amparo e de compreensão de outros companheiros de equipa nalguns lances em que procurou desmarca-se e colocar-se no lugar indicado. Em resumo: o grupo não esteve em dia de feição. Deparou-se-lhe uma equipa mais bem organizada e não conseguiu igualá-la no capítulo técnico. Defesa a dar tranquilidade. Os primeiros momentos de partida, que duraram cinco minutos pelo menos, desenrolaram-se no meio campo dos «azuis», longe de baliza e com tendência para Jogar a bola pelo lodo do peão, aproveitando a facilidade de penetração de Caninhas e Neves, que várias vezes fintaram Rebelo e Figueiredo. Em réplica a este processo de jogo, sem finalidade, os Belenenses, por Vasco, em duas vezes, provaram ser mais práticos e aos 6 minutos, como resultado de lance da iniciativa de Rebelo e de Duarte. Vasco serviu Diógenes e este, livre de Baptista, internou-se e rematou ao lado esquerdo da baliza de Ernesto. Quando quase todo o público se preparava para aplaudir o tento, Ernesto lançou-se bem à defesa e com os punhos repeliu a bola para a frente, podendo Armindo, de seguida, repelir a recarga de Duarte. A defesa do guarda-redes do Atlético deu, como já dissemos, confiança ao grupo e fortaleceu-a passados quatro minutos, com outra excelente intervenção, de novo a defender uma bola apontada fortemente por Diógenes que não tardou em livrar-se da pressão momentânea. Os visitantes voltaram a carrilar jogo pela esquerda Caninhas e Neves a entenderem-se bem e a explorarem melhor a pouca segurança de Figueiredo e até ao quarto de hora, sem, contudo, chegarem ás proximidades das redes de Sério, a partida decorreu em jeito de visível superioridade para eles. Precisamente no limite dos quinze minutos, Baptista incorreu em falta com as mãos e Serafim, ao aplicar o castigo, cruzou com boa visão para Vasco. Este acorreu ao passe rematando de cabeça, e Ernesto voltou a distinguir-se com outra boa defesa com os punhos e para canto. Na resposta, imediata, Caninhas concluiu descida pelo seu lado com um óptimo centro e Teixeira da Silva, muito bem a seguir o lance e a colocar-se para o finalizar, perdeu, positivamente, a primeira grande ocasião de tento registada até ai. Um remate de Ben David, desferido a seguir a boa preparação de lance criado por Martinho, forneceu a Sério ensejo para defender bem; e uma insistência de Duarte não deu por pouco aos «azuis» a honra de encetar o marcador. Ernesto, depois de internamento de Diógenes que o faltou, esteve batido mas o extremo esquerdo belenense desequilibrou-se ao virar-se para a rede e Abreu pôde acorrer à jogada e afastar a bola para longe. A poucos minutos do intervalo o Atlético criou duas ocasiões excelentes a primeira, um «canto» marcado por Martinho, foi desperdiçada por mau remate de Caninhas; e a segunda, um centro com a bola rente ao solo, executado pelo mesmo Martinho, falhou-a por um triz e a um palmo da rede o interior esquerdo do Atlético. Energia e nervosismo a mais. A segunda parte pouco ou nada teve que a recomendasse. Os ânimos exacerbaram-se, dentro e fora do rectângulo, e a partida ficou lamentavelmente estragada com ininterrupta série de «livres», que prejudicaram o jogo e o espectáculo. Aos 7 minutos, Vasco e Abreu magoaram-se num choque. O belenense e o atlético saíram do rectângulo sangrando abundantemente da cabeça e regressaram, o primeiro aos 24 minutos e o segundo aos 17 minutos. Nesse lapso de tempo o Atlético fez derivar Morais para a defesa e Martinho para a linha média; e, quando Vasco regressou, os «azuis» modificaram a linha de ataque, colocando Duarte no meio da linha; Vasco a extremo direito e Palma Soeiro a interior esquerdo. O resultado manteve-se sem alteração até final, mau grado os esforços, nem sempre guiados pelo melhor propósito, dos intérpretes do prélio. Em duas ocasiões Palma Soeiro pareceu dar a noção de sair vitorioso de lances bem concebidos, mas no último minuto a baliza de Sério correu perigo, principalmente no momento de um «canto» que Caninhas marcou e Martinho rematou com pouco força e nenhuma direcção. Partida eriçada de dificuldades para a arbitragem. O encontro foi dificílimo de dirigir e não podia admitir o critério tolerante observado sempre pelo árbitro. António Rodrigues dos Santos, que, tecnicamente, quase não teve erros, e em nada influiu no desfecho da partida, usou de complacência em muitos casos que requeriam justificada severidade. Alguns jogadores e destes Vasco foi o mais useiro, discutiram com frequência as suas decisões, juntando ás palavras gestos de suficiente prova de falta de respeito pelo juiz do encontro. Isto seria suficiente para se chegar à expulsão e influiria, e muito, não só no comportamento de outros jogadores mas também no espírito de alguns espectadores menos acomodatícios e que fizeram como com os injustificados protestos. Unia entrada faltosa de Caninhas sobre Pinto de Almeida, registada na segunda parte, foi simplesmente ignorada pelo árbitro que deixou no campo o jogador do Atlético e se isso não foi o rastilho para outras faltas que por sorte não se verificaram a seguir, mas que já tinham ocorrido antes, coroou, pelo menos, a pouca autoridade que caracterizou o trabalho da arbitragem. EDMUNDO TAGARRO %% 1950/01/50-01-16/19500116.2.txt Título:"O ELVAS", 0 - F. C. -PORTO, 3 Subtítulo: Vitória merecida dos portuenses, mas um tanto facilitada pela defesa alentejana O F. C, do Porto foi ontem a Elvas conquistar preciosa vitória Data: 16 de Janeiro de 1950 Domínio: Comentário/relato de jogo Autor: GIL GONÇALVES Fonte: Mundo Desportivo "O ELVAS", 0 - F. C. -PORTO, 3 Vitória merecida dos portuenses, mas um tanto facilitada pela defesa alentejana O F. C, do Porto foi ontem a Elvas conquistar preciosa vitória ESTÁDIO MUNICIPAL "O ELVAS" - Roger; Osvaldo, Neves e Oliveira; Gomes Sousa; Manuelito, Massano, Patalino, Teixeira e Sanina. PORTO - Graça; Virgílio, Alfredo e Carvalho; Pinto Vieira e Romão; Sanfins, Gastão, Vital, Monteiro da Costa e José Maria. Árbitro: Olheira Machado, de Lisboa. Durante a primeira meia hora, os portuenses empregaram-se a fundo, obrigando a defesa elvense a trabalho verdadeiramente extenuante. Nestes primeiros trinta minutos de jogo pode dizer-se que a bola circulou quase sempre dentro do meio campo defendido pelos locais. Os interiores nortenhos com Gastão em primeiro plano foram os obreiros desse ataque constante. No entanto, os remates doe dianteiros visitantes morriam todos nas mãos do novo guarda-redes do Elvas um espanhol adquirido ao Hércules de Alicante. Roger assim se chama o novo elemento elvense entusiasmou a assistência com magníficas defesas, Passada essa primeira meia hora o jogo equilibrou-se. Os locais mercê do trabalho mais certo dos interiores apareceram frequentemente ao ataque, mas Graça com algumas boas intervenções, evitou que as suas redes fossem tocadas. O fim da primeira parte chegou com o resultado de 0-0. Na segunda fase os portuenses, embora não exercendo maior domínio que os alentejanos foram, no entanto mais felizes no remate. Ainda não havia decorrido um minuto já tinham marcado o primeiro tento. Num contra-ataque, depois de Carvalho ter anulado uma tentativa do extremo direito elvense. Gastão captou a bola e MONTEIRO DA COSTA, com um remate rasteiro, bateu Roger. OS locais não acusaram o toque e logo na jogada seguinte podiam ter obtido o empate. Patalino, porém, isolado em frente das redes dos nortenhos, desperdiçou a oportunidade, rematando por alto uma bola passada por Teixeira. Aos 9 minutos, o Porto alcançou o segundo ponto. Gastão, perseguido por Neves, conduziu o esférico até junto da bandeira de canto, o defesa elvense, naturalmente, julgando que a bola ia fora, hesitou e o dianteiro nortenho pôde servir VITAL em boas condições. O avançado-centro do Porto não teve dificuldade em bater Roger, cedendo um remate forte e rasteiro. Os locais não cederam e lançaram-se ao ataque. Alfredo, dentro da grande área, meteu mão à bola - mas o árbitro não viu a falta. Os locais reclamaram o castigo máximo, não sendo, porém, atendidos. Nesta altura o jogo tornou-se um pouco quezilento, com algumas entradas agrestes de parte a parte, o Elvas insistiu em procurar as balizas dos portuenses. Pinto Vieira, dentro da zona de rigor, tocou a bola com a mão e o árbitro ordenou o castigo mexiam. Sousa, encarregado de o marcar, rematou tão devagar que Graça não teve dificuldade em defender. Aos 22 minutos o Porto fixou o resultado em 3-0. MONTEIRO DA COSTA foi o autor do tento, que, contudo, só foi possível por via da defesa contrária ter hesitado, deixando o meia-ponta nortenho rematar à vontade. Apesar da desvantagem, os alentejanos não se deram por vencidos. A sorte não os bafejou em alguns lances decisivos. Patalino executou um excelente remate que a trave defendeu; e em nova insistência, depois; de Graça estar batido, Alfredo, sobre o risco de baliza, defendeu com o braço uma bola rematada por Massano. Os locais voltaram a reclamar grande penalidade, mas o juiz de campo mostrou-se outra vez insensível aos seus rogos. Reatado o jogo, Patalino teve ao seu alcance outra excelente oportunidade mas a bola embateu na trave. Nos últimos momentos da partida, Vital «arrancou» um belo «tiro», que proporcionou a Roger defesa de igual quilate. A exibição da turma elvense decepcionou os seus adeptos. Não por lar baixado bens deira perante o grupo nortenho, mas pelo pouco empenho demonstrado por alguns dos seus elementos. Com efeito, raras vezes vimos ontem no grupo alentejano aquela vontade, aquele brio, aquele espírito de luta que no seu meio tem feito tombar as melhores equipas portuguesas. Neste aspecto, o «onze» nortenho deu-lhe uma lição. Não bastam a técnica nem a táctica, é necessário é imprescindível, que também haja vontade e brio. Nos elementos locais apenas Patalino, Neves, Osvaldo e o novo guarda-redes Roger se bateram com ânimo e vigor. Os restantes desagradaram. É certo que em alguns lances capitais os avançados elvenses não tiveram a sorte pelo seu lado. No entanto, isso não justifica o seu desinteresse. A equipa portuense jogou, sobretudo, com vontade enorme de vencer. E venceu merecidamente. Todos os jogadores foram iguais em vontade. O trio defensivo actuou com segurança. Nos avançados. Gastão foi o melhor, seguido de Sanfins, Vital e Monteiro da Costa. A arbitragem do Sr. Oliveira Machado não deixou saudades... Principalmente na repressão do jogo violento, o juiz de campo lisboeta não teve pulso para se impor aos jogadores. GIL GONÇALVES %% 1950/01/50-01-16/19500116.3.txt Antetítulo: CAMPEONATO DA II DIVISÃO NACIONAL Título: TERMINARAM ONTEM as provas de oito clubes Subtítulo: Ficaram apurados para a fase seguinte do torneio : Vianense, Vila Real, União da Guarda, Académico de Viseu, Oriental, Casa Pia, Barreirense, Cuf, União de Montemor, Juventude, Portimonense e Farense Jogo no campo de Santo Amaro, perante reduzida assistência. Data: 16 de Janeiro de 1950 Domínio: Comentário/relato de vários jogos Autor(es): MATOS FERNANDES; JOÃO CARDOSO; J. I.; FERNANDO PIRES Fonte: Mundo Desportivo CAMPEONATO DA II DIVISÃO NACIONAL TERMINARAM ONTEM as provas de oito clubes. Ficaram apurados para a fase seguinte do torneio: Vianense, Vila Real, União da Guarda, Académico de Viseu, Oriental, Casa Pia, Barreirense, Cuf, União de Montemor, Juventude, Portimonense e Farense Jogo no campo de Santo Amaro, perante reduzida assistência. As equipas apresentaram a seguinte constituição: Casa Pia -2 - Alhandra -2 CASA PIA - Coutinho; Ramos Dias, Valente e Pereira Júnior; Júlio e Armindo; Jeremias, Rocha, Prates, Garção e José Emídio. ALHANDRA - Alves; Cancio, Marques e Morais; Carvalho e Aparício; Calçada, Santos, Rato, Tanganho e Pinhel. Árbitro: Sr. António Calheiros. Casa Pia, já com o segundo lugar garantido, chamou à primeira categoria alguns jogadores para experiência, numa decisão louvável, que demonstra o bom critério seguido pelo seu orientador técnico Sr. Manuel Alexandre. O resultado do encontro empate a duas bolas, não reflecte a supremacia evidênciada tecnicamente pelo conjunto «casapiano» cujo sector atacante desperdiçou ocasiões soberanas de golo feito, umas vezes por falta de calma, outras por excesso de passe e outras por má direcção no remate. O Alhandra empregou-se com vontade e por vezes com rudeza desnecessária por parte de um ou outro dos seus elementos e teve a virtude de saber explorar convenientemente o plano aberto pela frouxa exibição de Ramos Dias no primeiro tempo, a qual arrastou consigo o defesa central Valente, que por vezes se encontrou completamente desamparado, o grupo visitante conseguiu assim obter dois golos que foram outras tantas ofertas da defesa adversária. Apontamentos do jogo. O Casa Pia entrou a dominar e, aos 14 minutos, Garção, num «viranço» espectaculoso, fez passar o esférico a milímetros do poste. Logo a seguir, Prates, com um potente remate, fez o esférico embater no poste, perdendo-se a recarga por hesitação de Jeremias; na resposta os alhandrenses atacaram pela esquerda e Pinhel conseguiu um tiro que passou a rasar a trave das balizas à guarda de Coutinho. Reposto o esférico em jogo, Aparício captou-o, abriu a Pinhel, este passou a Tanganho, que se libertou com facilidade de Ramos Dias. Valente endossou a «Rato». Este obteve com facilidade o primeiro tento do Alhandra aos 32 minutos. Cinco minutos depois, «Rato» marcou também o segundo tento, depois de bom trabalho de Tanganho, que não encontrou oposição por parte dos defensores casapianos. No reatamento, «Jeremias» alcançou aos 2 minutos o primeiro tento casapiano, aproveitando da melhor maneira um óptimo toque de Rocha. Com a obtenção deste tento, o Casa Pia impôs-se e a defesa alhandrense não teve mãos a medir para suster o seu ímpeto. Aos 24 minutos, Garção conseguiu inesperadamente o tento do empate. Até final, ambos os conjuntos procuraram alterar o resultado. As melhores oportunidades ainda pertenceram mais vezes aos «casapianos», mas não as souberam aproveitar. Os jogadores e o árbitro. Por banda do Casa Pia, Coutinho não pode ser considerado culpado dos tentos sofridos porquanto os remates foram disparados de muito perto. Pereira Júnior foi o melhor dos três defesas, Valente, oscilante na primeira parte recompôs-se no 2.º tempo, merecendo nova chamada à primeira categoria, a fim de podermos aquilatar melhor das suas possibilidades. Nos médios, Júlio jogou um tanto abaixo do normal e Armindo preencheu cabalmente o lugar; no sector atacante, Garção, Prates e Jeremias sobressaíram; Rocha foi melhor interior do que médio de ataque; quanto ao estreante José Emídio, apesar de esquecido pelos seus companheiros durante grande parte do primeiro tempo, mostrou possuir bastante rapidez e engodo pela baliza. Nos alhandrenses, Alves defendeu bastante bem, apesar de lhe caberem culpas no segundo tento sofrido, pois lançou-se tardiamente. Marques e Morais estiveram melhores que Cancio; nos médios, Aparício foi superior a Carvalho; na linha da frente Rato e Pinhel evidênciaram-se; Tanganho prejudicou bastante a equipa por incorrer frequentemente em faltas. A arbitragem do Sr. António Calheiros foi optimamente conduzida, não se notando no seu trabalho o mais pequeno deslize. MATOS FERNANDES Terminaram ontem as provas que reúnem oito clubes. Apenas continuam, por mais dois domingos, as duas constituídas por dez clubes. Já ontem ficaram, pois, apurados doze clubes para a base imediata do torneio. Faltam mais quatro. Nalgumas séries a última jornada provocou grandes surpresas. Por exemplo: Vila Real e Académico de Viseu cederam o primeiro posto, respectivamente, ao Vianense e ao União da Guarda. Outro exemplo: nas séries 6 (clubes da A. F. Setúbal) e 7 (clubes das A. F. Évora e Portalegre) só no último dia de jogos tudo ficou aclarado quanto ao apuramento do segundo classificado e até por uma diminuta diferença de tentos! Eis um relance dos sucessos de ontem: SÉRIE 1 - A derrota que o Vila Real sofreu em Chaves implicou a fixação do Vianense no primeiro posto. SÉRIE 2 - Os «segundos», Boavista e Sporting de Espinho, perderam os jogos de ontem. Só o Leixões, portanto, pode considerar-se livre de apreensões. SÉRIE 3 - Perdendo em Lamego, o Académico de Viseu cedeu o primeiro lugar ao União da Guarda, que alcançou expressivo triunfo em Vildemoinhos. A diferença de marcação de tentos entre os dois primeiros, que totalizaram 21 pontos, dá a vantagem de duas bolas aos egitanienses. SÉRIE 4 - O Torriense, infligindo 3-0 aos Leões de Santarém, ficaram isolados no segundo lugar, com 3 pontos de avanço sobre os dois mais próximos competidores. SÉRIE 5 - Como já se sabia, Oriental e Casa Pia ficaram apurados para a segunda fase da competição. SÉRIE 6 - Nesta disputadíssima prova só ontem tudo ficou esclarecido. A CuF do Barreiro ganhou ao Desportivo da Cova da Piedade, ao passo que o Montijo venceu o Barreirense, que já tinha seguro o primeiro lugar. Como o Ginásio do Sul foi perder ao Barreiro, diante do Luso, ficaram no segundo posto, com 16 pontos, os cufistas e os montijenses. Nos dois desafios que ambas as equipas realizaram verificaram-se os empates de 1-1 e 3-3. Teve, portanto, que proceder-se à melhor diferença total de marcação de tentos e a vantagem, mui diminuta, por sinal, pertenceu à Cuf. SÉRIE 7 - União de Montemor já há muito tempo se tinha apoderado do primeiro lugar. Quanto ao segundo, tudo ficou também resolvido ontem, e de maneira surpreendente. O grande favorito, Estrela de Vendas Novas, que na quarta-feira anterior havia perdido em Évora, contra o Lusitano, por 2-1, apenas ontem conseguiu o empate de 0-0, no seu campo, em frente do Sporting Campomaiorense. Este e o Juventude de Évora, que no seu campo perdeu, contra o Portalegrense, ficaram no segundo lugar, com 15 pontos. Os dois jogos que ambos disputaram terminaram com empates - 1-1 e 2-2. E, no apuramento de melhor marcação total de tentos, a superioridade ficou a pertencer ao Juventude - apenas por 4! SÉRIE 8 - Portimonense e Farense, como se esperava, ficaram apurados. A despeito de todos os seus esforços, os bejenses não conseguiram evitar que dois clubes algarvios passassem à ronda imediata. Eis, pois, a lista dos doze apurados: SÉRIE 1 - Vianense e Vila Real; SÉRIE 3 - União da Guarda e Académico de Viseu; SÉRIE 5 - Oriental e Casa Pia; SÉRIE 6 - Barreirense e Cuf; SÉRIE 7 - União de Montemor e Juventude de Évora; SÉRIE 8 - Portimonense e Sporting Farense. Palmense-5 - Futebol Benfica-2 No campo de José Ramos e sob a direcção de Fausto Santos, as equipas alinharam: PALMENSE - Venâncio; Rodrigues e Mateus; Capeto, Arnaldo e Restolho; Soares, Mário Silva, Santos, Fernando e Luís Costa. FUTEBOL BENFICA - Martins; Edmundo e Diogo; Dias, Elísio e Augusto; Mário, Estevão, Coucelo, Jorge e Carvalho. O estado do terreno, quase impraticável, tirou toda a beleza ao desafio, que parecia destinado a fornecer um bom espectáculo, em face da classificação das duas equipas. No entanto, o Palmense que precisava de vencer para fugir ao último lugar, teve uma primeira parte excelente, em que os seus avançados, apoiados pelos médios de ataque, se fartaram de produzir jogadas perigosas, abrindo brecha com relativa facilidade na defesa adversária, que se viu constantemente envolvida, e teve trabalho aturado e difícil. Assim, como corolário do domínio que exerceram conseguiram atingir o intervalo com o resultado de 5-0, aliás merecido, tentos alcançados por Rodrigues, com um óptimo pontapé de recarga, Mário, Santos, Fernando e Luís Costa. Na segunda parte o cansaço apoderou-se dos jogadores, e o encontro passou a ser jogado sem convicção a espaços. Só apareceu alguma avançada regularmente delineada, limitando-se os contendores a passar tempo. Mesmo assim, o Futebol Benfica conseguiu minorar a derrota com a obtenção de dois tentos, de autoria de Estevão e Jorge. A equipa do Palmense, que teve actuação irregular durante a prova, mereceu, no entanto, o triunfo, pois o clube pela sua tradição tinha jus a melhor posição, atendendo até a que o onze possui, quanto a nós, uma das mais homogéneas defesas, de quantos clubes disputam a respectiva série. O Futebol Benfica, mercê de um final de prova deveras interessante, conseguiu fugir ao último lugar. Necessita de trabalhar para que tal facto não torne a dar-se, pois o valor do clube e o seu passado exigem uma melhor representação. A arbitragem cumpriu o seu papel. Teve autoridade e julgou da melhor forma a aplicação dos castigos. JOÃO CARDOSO Arroios-2 - Oriental-9 Jogo no campo de «Ribeiro da Silva» e arbitrado pelo Sr. Luís Vilaça. Os grupos: ORIENTAL - Szabo; Casimiro e Carlos Costa; lsidro, Alfredo Eleutério; Alvarinho, Salvação, Carlos França, Mário Vicente e Pina. ARROIOS - Rodrigues; Renato e Fonseca; Alves, Rocha e Chitas; Silva José Manuel, Augusto, Dário e Abrantes. O Oriental ofereceu Montemor aos seus adeptos 45 minutos de esplêndido futebol. O terreno, por enlameado não estava propício ao desenhar dos lances; mas a manhã, fresca, luminosa, agradável, convidava ao prazer do jogo. E os orientalistas, com alegria no ataque e rígida sobriedade na defesa aceitaram a solicitação do tempo Foram na realidade magníficos, os primeiros 45 minutos do encontro de ontem entre o Oriental e o Arroios, pela exibição da equipa de Isidoro. Adaptando-se da melhor maneira às deficientes condições do terreno o grupo visitante assenhoreou-se do comando do jogo logo de início. A defesa seca e imperturbável, «matava» quase a meio campo as poucas tentativas de infiltração dos avançados da casa; os médios, sem problemas importantes para resolver no que se refere ao sistema defensivo, dirigiu as operações atacantes com segurança e a-vontade; e os dianteiros, permutando amiúde de posições, fizeram a cabeça tonta aos homens do último reduto da equipa visitada. Três jogadores, porem, se salientaram nesta pequena demonstração de «como bem se joga em terreno enlameado». Eleutério, fogoso e brilhante, médio de muita categoria, encheu o campo com meia dúzia de arrancos só possíveis a um jogador de quilate. Carlos França, recuado, a fazer lembrar os médios centros de saudosa memória para muitos, pontava o jogo. O terreno onde desenvolvia a sua acção era seu. E os passes, ora em toques subtis, para o lado, ora em potentes pontapés, lançando os pontas surgiam com frequência a pôr a bola nos pés dos companheiros desmarcados. Carlos França não se esqueceu até de tentar romper, ele próprio, a defesa adversária e de tentar o golo Pina, jogador irrequieto, de inusitado infelizmente nusitado engodo pela baliza, vivo, sempre em luta, visando as redes com qualquer pé e de qualquer ângulo era o principal materializador da expressão numérica da superioridade da sua equipa. Assim, aos 3 minutos, Pina rematou forte Rodrigues não segurou o esférico e ALVARINHO não teve dificuldade em marcar a primeira bola do Oriental. Aos 18 minutos PINA, em rápida reviravolta, fez 2-0. Aos 19 minutos PINA sobre passe de França, passou a marca a 3-0 Aos 27 minutos, PINA concluiu um cruzamento de Salvação, elevando a conta a 4-0. Aos 31 minutos, CARLOS COSTA de livre obteve a quinta bola. Aos 37 minutos, Pina (sempre na brecha) teve um potente remate que a trave devolveu; e SALVAÇÃO, rápido, passou o resultado a 6-0. Dois minutos depois, uma descida de Augusto na qual a defesa do Oriental não «acreditou» deu azo a que ABRANTES marcasse, aliás muito bem, o primeiro golo do Arroios. Segunda parte menos brilhante. No segundo tempo, os visitados «encaixaram-se» melhor na táctica dos orientalistas, não consentindo que estes, de resto descansados em marca já confortável, manobrassem no campo com a perícia do primeiro tempo. França foi o primeiro a «dar de si» - passando-se largos minutos sem se dar por ele. O Arroios surgiu então mais audaciosamente no ataque e se isso lhes proporcionou novo golo, deu-nos ensejo para lembrar à defesa do Oriental que, sobre ser desagradável ver pés em riste, a confiança no valor próprio só se afirma benéfica quando não é exageradamente manifestada. Foi ABRANTES que obteve o segundo golo do Arroios decorridos 25 minutos de jogo. Prémio merecido à tenacidade do mesmo jogador e ao esforço de toda a equipa, em que DARIO se tornou o elemento de maior utilidade. Aos 30 minutos, CARLOS COSTA, repetiu o bom pontapé que dera na primeira parte - e transformou outro livre no sétimo ponto. E para finalizar a conta e este breve relato, registe-se que os dois últimos golos do desafio pertenceram a... PINA! Arbitragem satisfatória. J. I. Olivais-4 - Operário-4 O encontro Olivais-Operário foi jogado em família. As equipas alinharam: OLIVAIS - Jaime Pulva; Guilherme e João; Filipe, Abade e Carlos Paiva; Correia, Santos, Fernando Paiva, Ferreira e Macarrão. OPERÁRIO - Duarte; Curtinhal e Abel; Vicente, Rogério e Vilas; Ferreira, Alberto, Amorim, Nuno e Jaime. Árbitro: Fernando Soares. Aos 18 minutos Fernando Paiva abriu em profundidade à esquerda. MACARRÃO desmarcado e com Duarte ligeiramente adiantado, rematou com direcção, obtendo o primeiro tento. No minuto seguinte, CORREIA, depois de levar a melhor num lance com Abel, marcou a segunda bola da sua equipa. O Operário não quebrou de entusiasmo e, aos 23 minutos, alcançava o primeiro tento, por AMORIM, que fez passar a bola sobre a cabeça de Paiva. Pouco tempo o Operário esteve com a desvantagem de um tento, pois ao 28 minutos, FILIPE, na conclusão de um «canto» mercado por Correis, obteve terceiro golo, com um pontapé por alto, atirado aquém da grande área. Passada a meia hora a equipa da Graça esteve mais em evidência, colocando em dificuldade a defesa do Olivais, que cedeu vários «cantos». A concretizar esse período de ligeiro domínio, FERREIRA, aos 40 minutos, com um remate de cabeça, deu finalidade a um canto marcado por Jaime. Ao intervalo, 3-2. No reinício do jogo, o Olivais mostrou disposição de pôr-se a coberto de qualquer surpresa. Aos 10 minutos Ferreira teve um fortíssimo remate que rasou o poste. De repente, o Operário passou o resultado para 4-3. AMORIM, numa jogada confusa junto das redes de Paiva, tocou a bola para a baliza. Iam decorridos 14 minutos e, no minuto seguinte, um remate de FERREIRA fez tabela em Guilherme e entrou nas redes, traindo Paiva. Macarrão, aos 25 minutos, abandonou o campo de livre vontade. Aos 35 minutos Amorim obteve um tento nitidamente em posição de fora de jogo. O árbitro indicou o centro do terreno. Esta decisão do árbitro motivou protestos da assistência e de alguns jogadores do Olivais, um dos quais, Guilherme, foi expulso. Os protestos dos espectadores levaram o árbitro a consultar o juiz de linha, que assinalara a falta, resolvendo o árbitro anular o tento. Perto do final, CORREIA com um forte remate de longe, fixou o resultado. A bola fez tabela no poste esquerdo e tocou as malhas no lado contrário. O resultado está de harmonia com o desenrolar do jogo. Nunca houve ascendente pronunciado de uma equipa sobre a outra, mas sim períodos de ligeiro domínio, no que se igualaram os dois grupos. O encontro valeu pelas alternativas do marcador, pois as equipas, como que desinteressadas do jogo, realizaram exibição de técnica muito rudimentar. No Olivais, João, Filipe e Ferreira evidenciaram-se; no Operário, Abel, Ferreira e Amorim, cotaram-se como os melhores elementos. A arbitragem, à parte une deslizes sem influência no resultado, teve o seu maior erro no julgamento do quinto tento do Operário, que depois anulou, e que teve como consequência a expulsão de um jogador. FERNANDO PIRES %% 1950/01/50-01-16/19500116.4.txt Título: ACADÉMICA,4; SP. COVILHÃ, 6 Subtítulo: A vitória dos covilhanenses resultou do excelente labor dos seus avançados, ante os quais os defesas conimbricenses se mostraram perturbados Data: 16 de Janeiro de 1950 Domínio: Comentário/relato de jogo Autor: F. A. Fonte: Mundo Desportivo ACADÉMICA, 4; SP. COVILHÃ, 6 A vitória dos covilhanenses resultou do excelente labor dos seus avançados, ante os quais os defesas conimbricenses se mostraram perturbados ESTÁDIO MUNICIPAL DE COIMBRA ACADÉMICA - Capela; Branco e Braz; Eduardo Siados, Curado e Azeredo; Pacheco Nobre, Garção, Macedo, Serra Coelho e Bentes. SP. DA COVILHÃ - António José; Roqui e José Pedro; Diamantino, Marques e Fialho; Carlos Ferreira, Martin, Simonyi, Tomé e Livramento. ÁRBITRO -Rogério Melo Paiva, de Lisboa. Apesar da impressionante rapidez com que os covilhanenses chegaram a 3-0 o terceiro tento foi obtido exactamente aos 15 minutos do primeiro tempo a reviravolta da equipa da casa foi aguardada com algumas razões. Os visitantes não se haviam mostrado superiores em qualquer outro capítulo que não fosse o do aproveitamento daquelas oportunidades. A construção mais certa dos lances por parte da Académica respondiam os visitantes em contra-ataques mais velozes porventura no momento final. E o primeiro tento dos estudantes apareceu no instante susceptível de provocar a reviravolta. Três minutos depois, essa reviravolta parecia encaminhada com outro ponto e a ideia mais se havia de confirmar quando depois os locais estabeleceram o empate, aos 31 minutos. O quarto de hora final foi jogado pela Académica com vontade firme de ganhar a dianteira no marcador. Simplesmente, a defesa covilhanense, atenta umas vezes e afortunada outras, não permitiu que os estudantes marcassem o tento de que então precisavam. Se ele tem aparecido, natural seria que esta derrota, sem dúvida sensacional e surpreendente, não se tivesse verificado. No segundo tempo foram exactamente os covilhanenses os primeiros a voltar a obter golo, e este, inegavelmente, despertou por completo na equipa a ideia de poder vir a ganhar o desafio. Até à altura do novo empate, alcançado pelos locais aos 21 minutos da segunda porte, os visitantes evidenciaram possivelmente o melhor da sua disposição através do encontro Simonyi, com desmarcações constantes e permutas repetidas com o seu interior direito, perturbou visivelmente a defesa escolar. Por seu turno, o jogo calmo e bem visto de Carlos Ferreira, não menos contribuiu para os embaraços experimentados pelos sectores defensivos do grupo coimbrão. A explicação do resultado apareceu exactamente neste momento. Não restavam as menores dúvidas que tinham sido estes três homens os autores da proeza que constituiu ontem a vitória dos covilhanenses em Coimbra. Talvez uso se tenha acreditado e a Académica seria dos que mais descreram na valia da equipa visitante. Esta circunstancia fez com que o resultado do quarto de hora inicial se apreciasse com um tanto de cepticismo... Mas que no grupo covilhanense havia e há realmente uma força provou depois a sua «ponta final»... As equipas Esta vitória dos covilhanenses, alcançada ao campo de uma das equipas mais bem avançadas do presente campeonato, terá consequências importantes. Com o resultado de ontem os «leões da serra» obtiveram dois pontos que por certo se tornarão preciosíssimos. Já falámos dos três elementos mais salientes da sua linha de ataque, Simonyi, em movimentação, deve ter feito um dos seus melhores jogos em Portugal. O espanhol Martin provou exuberantemente que sem o «jogo» de um interior, e o reaparecimento de Carlos Ferreira afirmou-se utilíssimo. É realmente um jogador hábil e posse de uma experiência que muito valoriza as suas actuações. Nas linhas da retaguarda o jogo de Diamantino voltou a impor-se. Este rapaz é de uma actividade infatigável e de uma consciência que cada vez se desenvolve mais. António José, muito rápido nas saídas, cortou assim lances de muito perigo Os restantes dos mesmos sectores, atentos e rápidos, mas nem sempre certos. Aos estudantes voltaram a faltar mais uma vez, interiores com a indispensável resistência e este foi novamente o mal, o grande mal da equipa. Branco mostrou-se o mais regular dos sectores recuados, onde a falta de Castela se salientou, pois o seu substituto, sem velocidade e sem «chama» para desafios que requerem rapidez e insistência, deixou que se abrissem constantemente clareiras a meio do campo e na sequência dos lances. Também Curado se mostrou incerto e Braz presentemente perturbado ante as situações do ponta direita contrário. Capela não terá sido culpado em qualquer dos tentos, quase todos resultaram de remates despedidos à boca das redes. Azeredo de rendimento equilibrado, e Machado o mais insistente do ataque. As iniciativas de Pacheco Nobre voltaram a não encontrar a necessária continuidade. Os tentos. O primeiro tento dos vencedores apareceu aos 2 minutos, no seguimento de um lance «vivo» entre Simonyi e Martin. O espanhol permutou com aquele e aplicou o remate num abrir e fechar de olhos. Aos 13 minutos Martin lançou o seu avançado-centro com um passe por alto e Simonyi, de cabeça, marcou o tento. Aos 15 minutos, novo golo de Martin, em jogada idêntica à do primeiro tento como se tivesse sido copiada a papel químico. Aos 27 minutos, Serra Coelho, no aproveitamento de um falhanço de Roqui, colocou o resultado em 3-1. A' passagem da meia hora, Macedo recolheu um passe admirável de Pacheco Nobre, na conclusão de um veloz internamento deste, e despediu o pontapé. No minuto nulo imediato o mesmo Macedo ganhou a bola numa jogada por alto ao médio-centro contrário e alcançou 3-3, O quinto tento dos covilhanenses foi também marcado por Martin, após um lance bem visto do seu avançado-centro. O franco-húngaro obteve ainda outro tento, que o árbitro recusou, depois de ter consultado o juiz de linha. Aos 21 minutos, uma iniciativa de Garção, então a extremo direito, terminou com um centro atrasado, que Macedo concluiu com um excelente remate. Aos 38 minutos, na transformação de uma grande penalidade assinalada contra Curado, o avançado-centro covilhanense alcançou o sexto ponto. A arbitragem A arbitragem foi francamente má. O Sr. Rogério de Melo Paiva ter-se-ia deixado impressionar também pela marcha imprevista do resultado, o que contribuiu não só para tornar difícil o seu trabalho, como ainda para trazer ao de cima flagrantes falhas técnicas. F. A. %% 1950/01/50-01-16/19500116.5.txt Título: SPORTING, 1 - RACING,3 Subtítulo: A EFICÁCIA DO RACING PERANTE O SPORTING ficou patenteada no resultado, embora os "leões" tivessem realizado exibição que chegou a atingir brilho em alguns períodos Data: 16 de Janeiro de 1950 Domínio: Comentário/relato de jogo Autor: ALBERTO FREITAS Fonte: Mundo Desportivo SPORTING, 1 - RACING, 3 A EFICÁCIA DO RACING PERANTE O SPORTING ficou patenteada no resultado, embora os "leões" tivessem realizado exibição que chegou a atingir brilho em alguns períodos RACING - Rodriguez; Garcia, Perez; Fonda, Rastelli e Gutierrez; Salvini Mendez, Olsen, Simes e Sued. SPORTING - Azevedo; Barrosa e Juvenal; Canário, Passos e Veríssimo Jesus Correia, Vasques, Wilson, Travaços e Albano. ÁRBITRO - Harties (inglês). O Racing de Buenos Aires, campeão da Argentina, bateu o Sporting, campeão de Portugal, por 3-1. O resultado está em harmonia com aquilo que a partida ofereceu no conjunto do ponto de vista técnico, de domínio de terreno e de espectáculo. Os argentinos justificaram a vitória por dois tentos de diferença pela sua segunda parte. Até à altura do intervalo, comandando por 2-1, o Racing podia pensar que o resultado era lisonjeiro para ele bastante lisonjeiro. Porém, após o descanso da praxe, os visitantes jogaram de maneira a justificar a vitória que obtiveram. Talvez mais porque o Sporting consentiu do que propriamente por virtude própria. Mas, de qualquer modo, mereceram o triunfo. A partida não despertou o interesse que seria lógico esperar. Mas houve razões a pesar no caso. Em primeiro lugar a chuva, que só caiu durante o encontro Sporting-Racing, foi uma arrelia para os espectadores. Depois, os campeões argentinos não têm a mesma graça de jogo do S. Lourenço de Almagro, nem o mesmo mecanismo, nem a mesma toada de acção a que se pode chamar «complicada singela» e como o público tinha na retina a partida anterior, esfriou perante a frieza do Racing. É absolutamente normal. Como é normal que dois jogos seguidos tenham fatigado o público claramente cansado depois do intervalo do encontro Racing-Sporting do jogo entre o Benfica e o S Lourenço de Almagro um S. Lourenço bastante diferente daquele de 1947, mas que, no entanto, conserva o estilo do antecessor foi mais alegre, mais vibrante, mais espectacular que a partida dos campeões. Enquanto no desafio do Benfica com o S. Lourenço o tom do jogo foi de «exibição», na partida do Sporting com o Racing, a marca do jogo foi de «campeonato». Porque o Racing não saiba fazer melhor, porque o seu estilo seja diferente da outra equipa argentina ou porque o jogo não lhe saiu de feição? Qualquer destas hipóteses é de admitir. Mas comparando o trabalho das duas equipas argentinas nos desafios de ontem, não pode haver dúvida de que o fiel da balança se inclina francamente para o lado do S. Lourenço. O Racing impôs-se no segundo tempo, ganhando direito à vitória, mas a sua tarefa foi de certo modo facilitada pelo Sporting, cuja linha de ataque se desagregou, contaminando o resto da equipa. Contudo, mesmo no período em que os campeões portugueses ofereceram menor resistência, sendo flagrante a falta de velocidade e de compenetração entre os médios e os avançados - Travaços teve tentativas ingloriamente perdidas, por falta de compreensão dos companheiros mesmo nesse período, dizíamos, as sul-americanos não alardearam primores de técnica, não debruaram o seu jogo dos rendilhados que os espectadores esperavam. O Racing foi uma equipa que ontem ganhou bem um jogo, mas que amanhã podia perder com o mesmo adversário. Não terá deslumbrado ninguém. De uma equipa que traz o rótulo de campeã da Argentina onde existem tão boas equipas - tem, evidentemente, de se exigir mais. Pelo menos tanto como o S. Lourenço mostrou ser ainda capaz de fazer, apesar de o seu «onze» não ter semelhança com aquele que no mesmo Estádio do Jamor encantou o público com o seu jogo mágico. Ontem, por vezes, o S. Lourenço deu a sensação de «jogar o bilhar», mas não pôde manter-se nessa bitola com a firmeza do «outro S. Lourenzo», umas vezes por falta de capacidade própria, outras vezes porque o Benfica não lho permitiu. Mas o plano do seu jogo foi, no entanto, sempre mais elevado do que o do Racing. A fortuna de um lance. Os argentinos tiveram nos primeiros instantes do desafio a «boa estrela» a protegê-los. Porque depois de uma incursão aos lisboetas, puderam fazer, em contra-ataque, um golo inesperado que os surpreendeu tanto como ao Sporting. O interior direito Mendez lançou de longe um remate rasteiro e forte, e Azevedo tombou para deter a bola, mas depois de a haver parado, deixou-a escorregar para a baliza. O Sporting procurou dar imediata resposta, mas a sorte negou-se-lhe, porque, após um centro de Jesus Correia, Albano, bem desmarcado em frente da baliza, rematou com a cabeça, indo a bola esbarrar num poste. A fortuna de um lance para os argentinos, correspondeu a desfortuna de outro lance para os lisboetas que experimentaram nova negaça da sorte, após uma «combinação» em que intervieram Travaços, Albano e Vasques; a bola, batida pelo interior direito do Sporting, foi ás mãos do guarda-redes, que largou para diante, e na recarga Jesus Correia rematou ao lado da baliza, sem perigo e com muita precipitação. Pendendo o jogo para o meio campo defendido pelos sul-americanos, estes marcaram segundo golo - reproduzindo-se, assim, um «slogan» que em tempos, nos jogos internacionais da equipa portuguesa, andou muito em moda... O Sporting dominava e o Racing marcava. Simes foi o autor do tento, quando havia dezoito minutos de jogo, mas o sucesso não representou a consequência de uma acção arquitectada e realizada com arte, uma acção com princípio, meio e fim, sendo, antes, um golo nascido de um lance feliz. Porque não sentiu superioridade do adversário, o Sporting não acusou o toque. Se o Racing mandasse no terreno, se a bola passasse nos pés dos seus jogadores como se fosse puxada por cordel, se a forja dos avançados argentinos desde a sensação de bem temperados, levando cada um a sua seta apontada à baliza - seria natural que o Sporting se desmembrasse quando sofreu o segundo golo, pois as perspectivas denunciariam, a existência de terceiro, quarto e mais. Mas como os argentinos não esmaltavam o seu jogo de autoridade firme, marcando os golos como podiam não os marcar, o Sporting não perdeu o tino. A linha atacante dos lisboetas., trocando Wilson por Guiomra, adquiriu mais desenvoltura sobre um terreno que a chuva tornava cada vez mais pesado; e uma penetração na defesa contrária beneficiou de um canto. Jesus Correia marcou-o, cingindo muito a bola à baliza, e de tal modo que o guarda-redes, ao tentar defender, fez esbarrar a bola no ângulo superior Interno da baliza, confirmando o golo que se adivinhava no lance. Desacertos do árbitro. Este êxito espevitou o Sporting e o público. Seria possível mudar a face do desafio? - pensou-se. E dentro do campo o Sporting terá pensado da mesma forma, porque chamou a si, deliberadamente, o comando do jogo, vendo-se Travaços a pontar bem a acção de ataque e recorrendo a defesa argentina à cedência de cantos. As tentativas dos lisboetas tiveram, no entanto, uma contrariedade imposta pela acção do juiz de campo, O inglês Harties, repetidamente mostrou-se partidário do «benefício ao infractor», gorando uma mão-cheia de ataques do Sporting para castigar faltas dos argentinas, quando a bola ficara em poder dos lisboetas; e a acção continuava a desenrolar-se. E o caso é que os visitantes exploraram a tendência do árbitro, incorrendo em «pequenas faltas», que o director da partida castigou sempre, dando clara vantagem ao infractor. Por isso o árbitro ouviu frequentes demonstrações de desagrado que, afinal, nada remediaram, Sem os desacertos do árbitro, o Sporting talvez tivesse empatado num período de quinze minutos em que a equipa jogou abertamente ao ataque. Mas esses desacertos foram realmente preponderantes, acabando por «tocar» a equipa lisboeta. O melhor sentido de ataque não deixou, porém, de lhe pertencer. Guiomar teve, mesmo, um bom remate com a cabeça, após centro de Jesus Correia, que um poste «defendeu» quando o guarda-redes estava batido. O Sporting esgotado. O sistema de acção do Sporting criou evidentes embaraços aos argentinos mas fisicamente a equipa lisboeta tinha de se ressentir do esforço desenvolvido sobre um terreno pesado e batido peia chuta. A antecipação constante e a perseguição movida ao adversário possuidor da bola pelos jogadores do Sporting, gastaram a equipa. Nos primeiros passos do segundo tempo o Sporting manteve o ritmo anterior, mas depois cedeu. A equipa correra muito na primeira parte, não só neutralizando o adversário, mas ainda tomando a orientação do ataque e não podia deixar de acusar o esforço que demanda um vaivém sobre o terreno encharcado pela chuva e «pisado» pelo desafio anterior. Após uma dezena de minutos, os argentinos depararam com facilidades que não haviam tido e tornaram-se perigosos, sem que, contudo, o seu jogo adquirisse brilho. Quase toda a manobra partiu do interior direito Mendez o melhor jogador da equipa mas no respeitante a remate os companheiros não corresponderam, tardando em alvejar, a baliza, o que deu em resultado uma série de choques com a defesa do Sporting, em que esta levou clara vantagem. Perto dos vinte minutos o Sporting teve uma boa reacção, cabendo o remate a Albano; o tiro partiu forte e muito bem colocado, mas o guarda-redes Rodriguez pode alcançar a bola com um rápido voo, socando-a para canto. Foi depois deste lance que o Racing obteve o terceiro golo, marcado pelo extremo direito Salvini, numa altura em que a equipa do Sporting estava já francamente desagregada, aparecendo no jogo em esforços isolados de Travaços ou Albano. A defesa conservara o tino, embora menos vigorosa que antes e dando mais espaços livres, por baixa de velocidade, para o ataque argentino se firmar, mas o talento criador da equipa estava clara mente fatigado e só esporádicamente os avançados e os médios se conjugaram em acção de ataque. Os atacantes argentinos não souberam, no entanto, tirar partido da situação, teimando em procurar o golo «pela certa» a dois ou três metros da rede. Perderam por isso, muitas aberturas para a baliza, bem provocadas, mas que não renderam aquilo que podia esperar-se, por faltar no ataque do Racing um rematador decidido. Neste capítulo de remate, Travaços nas poucas bem ordenadas descidas do Sporting teve um belíssimo tiro, de longe, que o guarda-redes defendeu, mas sem segurar a bola, perdendo-se a recarga por falta de prontidão do interior direito lisboeta. Ontem, o Racing não impressionou... Os campeões da Argentina não produziram no jogo de ontem a impressão de sensacionais. O Racing foi neste jogo com o Sporting o mesmo que em Espanha: ponto brilhante, embora revelando a escola argentina. Fica muito longe do S. Lourenço de Almagro de 1947, mesmo ponderadas as «facilidades» que os argentinos encontraram essa altura e a comparação com o actual S Lourenço também lhe é desfavorável. Baseamo-nos evidentemente no jogo de ontem para apreciar a equipa da Racing. É possível que os campeões argentinos joguem mais do que ontem se viu, pois não fizeram alarde de grande classe. As equipas argentinas perderam elementos de primeiro piano, eia grados para. a Itália e para vários países sul-americanos, e não podem deixar de acusar esse facto. Os novos podem ter «estofo», mas não possuem ainda a pratica de muitos consagrados que desertaram. Em domínio de bola os jogadores do Racing são inferiores aos do S. Lourenço, excepção feita ao interior direito Mendez, jogador de bom domínio, de passe suavíssimo e de apuradíssima visão do jogo. Os outros jogadores não atingem a mesma craveira e alguns são, até, vulgares, acusando falhas no domínio da bola e na concepção do jogo. Se estas insuficiências se verificassem do lado português, seriam levadas imediatamente à conta da... falta do profissionalismo... Ora os argentinos são «profissionalíssimos» e ontem vimos-lhe fazer tantas coisas mal feitas como vemos aos que não são totalmente profissionais Enquanto o Sporting teve capacidade física para conter as avançadas argentinas e chamar a si a iniciativa do ataque, movimentando-se, antecipando-se, impondo a velocidade apropriada, o Racing não pôde aparecer à superfície senão para fazer dois golos de fortuna. No segundo tempo o Sporting quebrou acentuadamente e então os argentinos tomaram relevo, ganhando a partida com Justiça, mas sem produzir exibição notável. A falta de remate de que os acusaram em Espanha, verificou-se ontem claramente. No segundo tempo, quando o Sporting fraquejou, o Racing teve oportunidades para avolumar o resultado, mas não o fez por evidente embaraço no momento do «shot», preferindo forçar o caminho para a baliza em vez de arrancar um «tiro» o que demonstra falta de confiança no remate. A eficácia do Racing ficou demonstrada com os três golos feitos... porque no segundo tempo deixou de marcar algumas vezes... Mas os argentinos também foram afortunados. Podiam, mesmo, ter visto o desafio tomar um aspecto inquietante para os argentinos se não fosse o deslize de Azevedo no primeiro golo. Sem este tento o Sporting poderia, de facto, dar ao desafio, ou pelo menos ao resultado, um outro rumo. O melhor jogador da equipa foi o interior direito Mendez, a quem já fizemos referencia. O extremo direito Silvini merece citação a seguir, mas o extremo -esquerdo Sued, que diziam ser um sucessor de Orei, não justificou a distinção. A linha de ataque peca por fechar demasiadamente o jogo, por falta de profundidade e, é claro, falta de remate. A defesa teve um ponto fraco no primeiro guarda-redes, Rodriguez. O segundo foi bastante mais seguro. Garcia e Perez jogaram puramente no estilo defensivo quase à parte da equipa. Os movimentos de elástico do S. Lourenço, em que a defesa acompanha o ataque e ela própria dá muitas vezes o lamiré, não se viram na defesa do Racing - muito separada do seu ataque. Na linha de médios, o esquerdo Gutierrez, pareceu o melhor tecnicamente As duas faces do Sporting. Os campeões nacionais tiveram um primeiro tempo de acertos mas em que forem nitidamente infelizes, tanto por terem sofrido um golo que nada justificava, como por terem perdido lances de ataque que mereciam sorte diferente. Nesse primeiro período agradou, quase incondicionalmente, o trabalho de Travaços na linha avançada, sendo o interior esquerdo o impulsionador do Jogo e o instigador da acção dos companheiros e a única referência individual que nos parece dever fazer-se no primeiro tempo - porque o valor maior do Sporting foi a sua acção de conjunto, bem calculada, por vezes bem delineada, quer na defesa, em que a posição era a, melhor e em que o desembaraço imperava, quer no ataque, em que o labor dos interiores era do mais forte apoio para o que a equipa procurava. Vasques, porém, não durou muito tempo no seu papel, dando o primeiro toque de alarme à equipa, que ficou, por assim dizer, «coxa». E na segunda parte o defeito acentuou-se, simuitaneamente com a visível fadiga da equipa. Travaços, embora menos saliente que no primeiro tempo, continuou a ser o melhor avançado, mas a linha de ataque do Sporting não foi nesse perlado em conjunto, aquilo de que a equipa precisava. Praticamente Vasques desapareceu do jogo, não acompanhando as tentativas de avanço dos parceiros, quer fossem do lado direito, quer fossem do lado esquerdo, ficando-se numa zona de terreno que não era ofensiva nem defensiva. A ala esquerda, pelo empenho de Travaços e pela vontade de Albano, foi por assim dizer o ataque do Sporting na segunda parte. Muito pelico, portanto, para o que seria preciso e para o que seria possível. O desmembramento do ataque do Sporting levou ao retraimento dos médios. Este retraimento ocasionou a criação de muito espaço livre, no qual os avançados argentinos evoluíram. Mas essa reacção dos médios era infalível desde que a linha avançada não retinha a bola e esta caminhava com insistência sobre a defesa do Sporting. Logicamente os médios não podiam pensar em ataque - porque a feição do Jogo aconselhava a uma cobertura defensiva cuidada. No bloco da defesa Barrosa foi o Jogador mais regular, sem contar com Azevedo que, aparte o deslize do primeiro golo esteve sempre seguro, embora sem ensejo para luzir. A arbitragem do inglês Harties deixou muito a desejar. O juiz de campo pecou por beneficiar repetidamente o infractor e nisto os maiores prejuízos foram para o Sporting, mostrando um critério muito diferente doutros árbitros britânicos que temos visto. A coadjuvação dos árbitros portugueses Paulo Oliveira e Borques Leal, que actuaram nas linhas, foi muito criteriosa. ALBERTO FREITAS %% 1950/01/50-01-16/19500116.6.txt Título: GUIMARÃES, 4-VIT. SETÚBAL, 2 Subtítulo: Os vimaranenses ganharam bem, mas o excelente comportamento dos sadinos na primeira parte dificultou-lhes o triunfo Data: 16 de Janeiro de 1950 Domínio: Comentário/relato de jogo Autor: ALBERTO LOBO Fonte: Mundo Desportivo GUIMARÃES, 4-VIT. SETÚBAL, 2 Os vimaranenses ganharam bem, mas o excelente comportamento dos sadinos na primeira parte dificultou-lhes o triunfo CAMPO DA AMOROSA GUIMARÃES GUIMARÃES - Silva; Ferreira e Armando; Miguel, Costa e Magalhães; Franklin, Rebelo. Teixeira da Silva, Brioso e Custodio. SETÚBAL - Carvalho; Jacinto e Rogério Fontes; Pina, Primo e Orlando; Passos, Ataz, Cardoso Pereira. Nunes e Vasco. ÁRBITRO - Aldeie Morgado, do Porto. O Vitória de Guimarães experimentou ontem dificuldades de certo modo imprevistas para vencer o Vitória de Setúbal. Esperava-se, é certo, boa resistência por parte dos visitantes, com, passagem assinalada na prova mercê de alguns bons resultados obtidos contra grupos da melhor cotação. Mas o que naturalmente não estava nas previsões era que os sadinos pudessem chegar a duas bolas de vantagem e contassem imprimir á partida feição quase assustadora para as aspirações e necessidades do grupo local. Realmente foi preciso que os vimaranenses voltassem do vestiário, após o intervalo para que a equipa minhota pudesse encontrar o bom andamento. Ate aí, a rapidez demonstrada pelos visitantes, sobretudo no sector ofensivo, onde Nunes se mostrava um prodígio de vivacidade e um perigo constante para as redes adversárias havia sido bastante para destroçar a organização do grupo de Guimarães, que atacou falho de consistência e se defendeu com uma certa desorientação. O mérito na primeira parte foi, assim, todo do Vitória de Setúbal. Os sadinos revelaram logo desde o primeiro momento, disposição para disputar o resultado do encontro e, fazendo da rapidez a sua principal arma, procuraram sempre antecipar-se aos adversários e caminhar em ataques velozes até à baliza defendida por Silva Um tento, obtido quando havia apenas dois minutos de jogo, mais veio fortalecer o ânimo dos visitantes que, sem conquistarem domínio territorial, é certo se mostraram perigosíssimos de cada vez que se aproximavam da grande área dos contrários ao passo que os vimaranenses não conseguiam dar impressão idêntica ao amenizarem a baliza adversária. Tendo chegado até 2-0, cerca do quarto de hora, os setubalenses alcançaram o intervalo com a margem favorável de 1 ponto e não pode negar-se justiça a esse resultado, de tal modo toda a sua equipa se empregara até então. Regressados, porém, os grupos ao terreno, as coisas apresentaram-se de forma bem diferente. A virtude que até aí adornara o jogo dos visitantes passou também a ser pertença do grupo local, que evoluía em rápidos lances no meio campo contrário, utilizando para essa penetração os seus dois extremos, Custodio e Frangiam que depressa abriram brecha no reduto defensivo dos sadinos. A linha média dos minhotos encorporou-se na ofensiva e os setubalenses cederam em breve espaço de tempo bem mais depressa do que poderia supor-se pela sua actuação na primeira metade o Vitória de Guimarães resgatou-se então, e com brilho, do seu inferior trabalho dos 45 minutos inicias. O seu quarteto atacante urdiu esquemas bem ligados e toda a equipa se assenhoreou do jogo, concentrando-se bem sobre o adversário e só o deixando «respirar» quando de vencido o grupo passou a vencedor. Um período de afrouxamento dos vimaranenses e um assomo de energia dos visitantes trouxeram ainda equilíbrio a partida, mas não a sensação de que o marcador pudesse modificar-se. O perigo que o Vitória de Guimarães correra havia passado. Relance do desafio. Os vimaranenses desceram primeiro ao terreno adversário, mais o ataque foi repelido e na resposta Ataz teve excelente oportunidade de marcar, salva por intervenção oportuna do defesa direito local. A réplica dos visitados surgiu mediatamente. Primo lançou NUNES, que, internando-se velozmente, bateu dois adversários em corrida e apontou à boca de baliza o primeiro tento dos setubalenses sem possibilidade de defesa para Silva Os locais procuraram reagir um pouco e amiudadas vezes surgiram em frente das redes dos visitantes. Franklim e Rebelo remataram com força; Carvalho, porém, anulou os lances, defendendo corajosamente. Aos 16 minutos a bola foi do centro do terreno aos pés de VASQUES e o extremo esquerdo de Setúbal, após rápida corrida, lançou fortíssimo pontapé, que com algumas culpas de Silva, elevou o marcador para 2-0. O Vitória de Guimarães sentiu o perigo e passou a atacar com redobrado ardor. Teixeira da Silva desperdiçou uma oportunidade soberana aos 27 minutos, atirando por alto, perto da área, um centro de Custódio. E quando parecia que o marcador se mantinha até o intervalo surgiu a primeira bola dos minhotos, aos 44 minutos uma confusão junto à baliza de Carvalho e que REBELO concluiu fazendo a bola transpor o risco. No recomeço do jogo os locais atacaram em massa e a defesa visitante viu-se assoberbada com o intacto dos adversários. Aos 5 minutos, Custódio no seguimento de um livre apontado por MIGUEL despediu fortíssimo remate, ou fez embater o esférico na parte inferior do poste e entrar nas redes. Os sadinos procuraram libertar da pressão e Nunes teve um excelente pontapé, que Silva defendeu superiormente. O ritmo ofensivo dos vimaranenses manteve-se e, aos 13 minutos, uma combinação Rebelo-Brioso proporcionou a este último um remate vitorioso, que colocou o grupo da casa com vantagem. Os setubalenses ainda tentaram ripostar, mas a cadência da primeira parte não mais troteou e foram os locais que, aos 84 minutos, marcaram de novo por intermédio de TEIXEIRA DA SILVA, que de cabeça desviou um centro de Custodio, fixando o resultado em 4-2. Os grupos e o árbitro O Vitória de Guimarães mereceu o trunfo pelo seu fulgurante quarto de ladra Inicial da 2.ª parte. A equipa não fez, contudo, exibição notável, mostrando-se por demais embaraçada com a vivacidade do adversário. Individualmente Armando, Costa e Magalhães foram os elementos mais salientes na defesa, como Custodio o foi no ataque. Rebelo e Franklim não passaram do vulgar e Teixeira da Silva não se mostrou expedito quanto a remates. Os setubalenses impressionaram muito agradavelmente, em especial na primeira parte, em que a equipa se movimentou com boa penetração e rapidez. O grupo quebrou ante a reacção dos adversários, mas deu sempre boa luta, até mesmo quando o resultado passou a ser desfavorável. Carvalho nas redes fez exibição bastante regular e Fontes e Primo procuraram secundá-lo bem. Na frente, Nunes foi de longe o melhor jogador, como actuação de valor e esforçadíssimo. A arbitragem não registou dificuldades de maior não podendo apontar-se-lhe erros. ALBERTO LOBO %% 1950/01/50-01-30/19500130.1.txt Título: SETÚBAL, 4-LUSITANO, 2 Subtítulo: A falta de remate não correspondeu à vivacidade e rapidez que os jogadores puseram em quase todo o encontro Data: 30 de Janeiro de 1950 Domínio: Comentário/relato de jogo Autor: VASCO ROCHA Fonte: Mundo Desportivo SETÚBAL, 4-LUSITANO, 2 A falta de remate não correspondeu à vivacidade e rapidez que os jogadores puseram em quase todo o encontro CAMPO Setúbal VITÓRIA DE SETÚBAL - Carvalho Jacinto, Primo e Rogério Fontes; Pina e Orlando; Passos, Nunes, Ataz, Cardoso Pereira e Vasco. LUSITANO - Isaurindo; David, Caldeira e Branquinho; Faustino e Madeira; Almeida. Pedroto, Luís, Calvinho e Angelino. ÁRBITRO: Jaime Pires, de Lisboa. O jogo teve certos períodos de agrado. Ambas as equipas se movimentaram com vivacidade e desembaraço. E punham ainda na luta uma boa dose de rapidez Apenas no remate ais coisas não corriam pelo melhor. É verdade que se marcaram seis tentos, mas não é menos verdade que a maioria destes teve algo de fortuito. Devemos também dar relevo ao facto de o terreno se encontrar enlameado, o que evidentemente causava transtornos na execução do «tiro a baliza», pois a bola deveria parecer aos jogadores com o dobro do peso regulamentar. Todavia, descontada essa atenuante, a impressão de falta de remate entre os dianteiros subsiste ainda e corresponde veridicamente, ao que se verificou. Não serviu até para compensar a velocidade e energia que distinguiram a maioria dos avanços, principalmente os gizados pelos setubalenses, que em muito maior número foram. Que motivou essa deficiência no remate? Quase sempre a precipitação, a falta de calma e de raciocínio pronto. Bem sabemos que as características dos jogadores portugueses, mais de temer, continuam a ser e oxalá nunca lhes faltem a rapidez, a energia e a vivacidade. Devemos, pois, aplaudi-las, e mais ainda quando se observem entre equipas de momento menos bem qualificadas. Mas o certo é que rapidez, energia e vivacidade estão longe de excluir quase por completo, a calma e a reflexão. Essas são igualmente características que devemos a todos recomendar. No desafio de ontem, em Setúbal, os avançados perderam inúmeras oportunidades de visar certeiramente as balizas, só porque não guardaram serenidade e o espírito reflectido esteve ausente. Ás vezes, tudo era bem executado, até os «passes para remate». Mas os rematadores não se desempenharam satisfatoriamente da incumbência, a maioria das vezes porque pontapearam a bola à toa, estivessem ou não em posição favorável para terem êxito na tentativa, completamente de «olhos vendados». Alguns jogadores de nomeada em conversa amena, já nos confessaram que certos golos marcados com aparato e coroados com ovações extraordinárias, resultam de remates desferidos sem qualquer noção da direcção que a bola vai tomar. Ora não deverá ser bem assim. Se se exige execução rigorosa nos passes, mais deverá exigir-se ainda no remate. Quando os nossos jogadores souberem aliar ás faculdades atrás citadas, e por demais realçadas, a reflexão e a calma necessárias, darão certamente um grande passo em frente no seu progresso. Alguns, como ontem aconteceu em Setúbal, levaram a sua ânsia de agir com rapidez ao ponto de correr mais do que a bola... Ora, nem tanto ao mar, nem tanto à terra... Vitória justa Dada uma ideia do que foi o desafio entre setubalenses e Lusitano, há a acrescentar que a vitória da equipa local se revestiu de toda a justiça. Se tivesse sido mais expressiva, em nada surpreenderia. Com efeito, o Vitória dominou em quase todo o jogo. Desenvolveu até lances apreciáveis. Mas os seus avançados, pelos motivos atrás expostos (e ás vezes também devido a falta de sorte), desperdiçaram excelentes oportunidades de rematar com pontaria. Mesmo assim, ainda tiveram ensejo de dar muito que fazer à defesa adversária, na qual se distinguiram, a grande altura, o guarda-redes Isaurindo em primeiro lugar e o defesa central Caldeira, depois Os algarvios ordenaram alguns contra-ataques com visão e desembaraço mas os seus dianteiros também os estragaram quase sempre, por absoluta carência de perícia no remate. O dispositivo de defesa do Vitória de Setúbal claudicou várias vezes, principalmente no começo do encontro. Carvalho não foi chamado a intervenções de apuro. Os médios de ataque cumpriram na sua dupla missão precisam, no entanto, de passar com mais tino aos colegas da vanguarda entre os dianteiros, distinguiremos Passos, um extremo rápido e com bom domínio de bola. Os interiores complicaram, ás vezes, o seu trabalho e o dos extremos. Mas executaram bem alguns outros lances Ataz está mais desenvolto no capítulo de remate. Desmarca-se com inteligência Infiltra-se bem por entre os defesas. Vasco esteve ontem menos certo. Como já dissemos. Isaurindo e Caldeira foram as duas grandes figuras do Lusitano. Os outros defesas bateram-se com energia. Faustino e Madeira actuaram mais sobre a defesa. Viveram um, pouco longe dos avançados. Entre estes, apenas uma referência especial para o habilidoso Pedroto Foi visível na equipa a fadiga que dela se apoderou no final do desafio. Os seis tentos. Aos 12 minutos o Lusitano obteve o 1.º golo. Luís passou a bola por cima da cabeça de um adversário e, ficando liberto, atirou certeiramente ás redes. O Vitória, que começara o encontro em toada de franco ataque, ainda mais aumentou a sua superioridade. Isaurindo defendeu dois golos certos, arrojando-se afoitamente aos pés de Ataz e Nunes. Aos 17 minutos, o Vitória estabeleceu o empate. Mesmo de longe, Ataz, em choque com Isaurindo, que saíra celeremente das balizas cabeceou a bola para as redes. Um golo de bom efeito A três minutos do final da primeira parte, averbou-se 3º tento para os setubalenses. Passe de Nunes e Cardoso Pereira bem desmarcado, rematou pela certa, à boca das redes. Na segunda parte, a desperto do seu mundo, os setubalenses só obtiveram um tento, marcado por Fontes, na transformação de uma grande penalidade. Atas, aproveitando o ressalto da bola, que havia embatido contra a trave, executou a recarga com êxito, apesar de ver os seus movimentos estorvados por Isaurindo. O árbitro apitou, mas para assinalar o castigo máximo... A melhor avançada do Lusitano e talvez até de todo o desafio anotou-se a seguir, A bola girou dos pés de uns para os outros, sem que os setubalenses lhe tocassem. Um cruzamento para a direita, um centro rasteiro e bem medido de Almeida, mas desmarcado e pertíssimo das balizas, Luís falhou o remate? De quando em vez os algarvios ordenaram contra-ataques que se revestiam de certo perigo. Mas foi um tanto fortuitamente que eles diminuíram a desvantagem para 2-4, a três minutos do fim do desafio Luís, a extremo-esquerdo, marcou o ponto, beneficiando de uma rápida intervenção de Angelino, que passara para avançado-centro. A defesa setubalense teve um claro momento de desatenção nesse lance. O árbitro O Sr. Jaime Pires não teve trabalho feliz na direcção do encontro. Começou bem, serenamente, e por vezes esforçou-se por não beneficiar o infractor, embora esperando uns instantes antes de assinalar de determinadas faltas, o que o público reprovou, sem razão. No segundo tempo desorientou-se, cometendo um deslize de monta: Nunes, em dado momento desembaraçou-se dos defesas algarvios e quando se preparava para o remate, já perto das balizas foi derrubado com uma rasteira. Mas o árbitro fez gestos para exprimir que «aquilo» fôra de somenos... Já a seguir procedeu assisadamente não dando ouvidos aos que reclamavam outra grande penalidade por a bola ter sido desferida, à queima-roupa e com violência contra o braço de um defesa do Lusitano. VASCO ROCHA %% 1950/01/50-01-30/19500130.2.txt Título: COVILHÃ, 3 - "O ELVAS", 0 Subtítulo: Os tentos saíram de jogadas resultantes de três dos dezassete cantos que se marcaram contra os elvenses. Data: 30 de Janeiro de 1950 Domínio: comentário/relato de jogo Autor: JOÃO DE OLIVEIRA Fonte: Mundo Desportivo COVILHÃ, 3 - "O ELVAS", 0 Os tentos saíram de jogadas resultantes de três dos dezassete cantos que se marcaram contra os elvenses. CAMPO DR. SANTOS PINTO COVILHÃ - António José; Roqui e José Pedro; Diamantino, Pedro Costa e Fialho; Carlos Ferreira, Marli, Sintonyi, Tomé e Livramento. ELVAS - Roger; Osvaldo e Oliveira; Casimiro, Neves e Sousa; Vieira, Massano, Patalino, Teixeira e Manuelino ÁRBITRO: Domingos Vieira, da A. F. do Porto. O Sporting da Covilhã exerceu quase sempre domínio territorial, embora nem sempre jogasse bem. Marcou um tento na primeira parte e dois no segundo período o que esta realmente de harmonia com a marcha do encontro, pois a turma local jogou mais bem nos últimos 45 minutos. Uma note que expressa bem o domínio territorial e a pressão exercida pelos covilhanenses sobre a defesa contrária ressalta nitidamente do facto de este defesa ter cedido nada menos de dezassete cantos, quase todos em jogada de recurso. Como curiosidade, registe-se que os três golos dos vencedores resultaram de jogadas de canto. É caso para dizer: tantas vezes a bola vai ao canto que por fim lá ficou... dentro de baliza, por três vezes. A bem da verdade, deve dizer-se no entanto que os elvenses ganharam jus, pelo menos ao chamado ponto de honra. Foram perigosos em alguns dos contra-ataques criados, obrigando António José a várias intervenções de apuro. Os cantos, os tentos e outras jogadas. Logo no primeiro minuto de partida cederam os elvenses o primeiro canto, o primeiro de uma série que ía ser longa. Aos 3, aos 9 e aos 11 minutos mais três cantos se marcaram contra o Elvas, do último dos quais nasceu o primeiro golo o primeiro de um terceto, como demos, todos eles resultantes de idênticas jogadas. Antes dos tentos porém, já um remate de Martin, aos 8 minutos, deu ideia de que levaria a bola ás redes, mas o esférico saiu rente à trave. CARLOS FERREIRA foi o autor do primeiro tento na conclusão de canto marcado por Simonyi - e pode desde já dizer-se que Simonyi marcou quase todos os cantos e quase todos muito bem. Ao quarto de hora, o mesmo Carlos Ferreira foi menos feliz e desperdiçou boa oportunidade. Depois de mais um canto contas o Elvas em 20 minutos, criaram os visitantes pouco depois o primeiro contra-ataque de perigo. O remate de Massano perdeu-se por pouco, pois e bola embateu na trave. Aos 35 e aos 41 minutos, Roger executou duas magníficas defesas, desviando a bola para canto, claro! Mas, aos 44, foi António José que teve de executar difícil intervenção para deter um poderoso remate de Vieira. O começo da segunda parte foi assinalado pela marcação de cantos contra o Elvas, aos 4 e aos 7 minutos. O Sporting da Covilhã continuou a dominar e remates de Simonyi e de Tomé erraram o alvo por pouco. Aos 20 minutos foi António José chamado a intervir para anular uma tentativa de Vieira mas, em resposta, Carlos Ferreira teve um remate que levou a bola à trave. Mas a resposta alcançou também a sua resposta aos 22 minutos, e desta vez foi António José que se viu forçado a conceder canto. E quando a partida parecia assim ganhar um jeito mais equilibrado, registou-se o segundo tento do Sporting, que cortou as últimas esperanças dos visitados. Mais um canto marcado por Simonyi, aos 24 minutos e conclusão de TOME Logo a seguir à marcação do canto. Tomé magoou-se em choque com Osvaldo e teve de abandonar o campo. Não deixou o Sporting da Covilhã de dominar até que, aos 38 minutos, conseguiu elevar a conta para 3-0. Canto de Simonyi... golo de CARLOS FERREIRA. A última oportunidade de reduzir a desvantagem desperdiçou-a Teixeira quando, aos 41 minutos, apontou um livre para fora. Jogadores e árbitro. António José creditou-se de um punhado de defesas de valor, como acentuámos mas os melhores elementos da equipa foram, sem dúvida. Fialho e Carlos Ferreira, autor de dois tentos. Simonyi não pôde iludir a vigilância estreita a que o submeteu Neves, mas marcou a sua utilidade na execução de castigos, dos quais resultaram os três tentos da equipa Neves, como bem se deixa adivinhar, foi figura dominante, mas Osvaldo acompanhou-o bem. A ala direita evidenciou-se como o melhor sector do ataque. O jogo principiou 19 minutos depois da hora, porque o árbitro achou deficientes as marcações do campo, que foram depois postas em condições. Talvez por causa da demora, a assistência indispôs-se desde logo com o árbitro, que ouviu grande assoada ao intervalo, por não ter assinalado grande penalidade contra o Elvas por suposta mão de Neves. A verdade é que, de uma maneira geral, o trabalho do árbitro deixou muito a desejar e a crítica também se não pode dar por satisfeita. JOÃO DE OLIVEIRA %% 1950/01/50-01-30/19500130.3.txt Título: SP.BRAGA, 3-ACADEMICA, 1 Subtítulo: Vitória naturalíssima dos bracarenses ante uma equipa que somente no primeiro quarto de hora desenvolveu jogo agradável Data: 30 de Janeiro de 1950 Domínio: comentário/relato de jogo Autor: ADRIANO PEIXOTO Fonte: Mundo Desportivo SP.BRAGA, 3-ACADEMICA, 1 Vitória naturalíssima dos bracarenses ante uma equipa que somente no primeiro quarto de hora desenvolveu jogo agradável CAMPO DA PONTE, BRAGA BRAGA - Cesário; Palmeira e Abel; Daniel, António Marques e Joaquim; Arias, Diamantino, Mário, Fonseca da Silva e Sardinha. ACADÉMICA - Capela; Branco e Brás; Castela, Curado e Azeredo; Pacheco Nobre, Duarte, Macedo, Leite e Bentes. ÁRBITRO - Abel Ferreira, da A. F. de Lisboa. Não deixou de ser curioso o facto de o Sporting de Braga, no primeiro quarto de hora do encontro, dar a sensação de equipa pouco organizada e Insegura na defesa; como depois constituiu nota interessante, logo que o resultado passou para 3-1, vê-lo jogar ao ataque com uma vivacidade e até mesmo uma alegria que nele não parecem vulgares, talvez pelo sentido calmo e repousado que o anima e o torna um conjunto de movimentos certos e muito conscientes. Elói não alinhou, mas tudo Quanto é habitual ver à sua asa direita fazer, não deixou de ser executado por Daniel e Diamantino, e a espaços por Arias, que nos pareceu mais à vontade em extremo do que no jogo Covilhã-Braga a interior. A Académica apenas jogou alguma coisa nos primeiros quinze minutos, no período de desacerto do grupo local. Nessa altura, os estudantes movimentaram-se com desembaraço, a transposição de trás para a frente foi feita com singeleza e rapidez, os médios de ataque souberam a meio do terreno abrir caminho ao jogo e a linha da frente pôde dar continuidade aos lances, só falhando no remate, que na verdade não foi proporcional ao número de ocasiões criadas. Não obstante os conimbricenses terem sido os primeiros a marcar, o encontro ganhou outra fisionomia a partir desse momento, os bracarenses sentiram o perigo e forçaram o ataque. A breve trecho a Académica estava, por assim dizer sem médios nem interiores e, no imenso espaço aberto na zona central do campo, puderam os locais partir para as ofensivas que de então em diante não cessaram de urdir e ante as quais a extrema defesa contrária se viu em dificuldades, algumas vezes por culpa própria, mas na maioria de as por absoluta ausência de apoio dos quatro homens do «quadrado mágico». Nestas circunstâncias a vitória dos bracarenses foi naturalíssima, A sua insistência e a sua movimentação tiveram necessariamente de abrir brecha num grupo que evidenciava escassez de mobilidade e passou depois a revelar aturdimento. Os dois primeiros tentos do vencedor deram bem a imagem dessa dificuldade. Em qualquer dos lances os homens que obtiveram os golos puderam fintar um, dois ou três jogadores, que, batidos, não conseguiram recuperar. Daniel e Diamantino em magnífica forma. Daniel e Diamantino não foram apenas os melhores homens da sua equipa; foram mesmo as figuras de relevo do encontro. Visivelmente a acção do interior direito mostrou-se mais prolongada e mais regular, movimentando-se com uma frescura que Azeredo não pôde acompanhar, e uma compenetração do lugar surpreendente pelo auxílio prestado à defesa e pela contribuição dada ao ataque. Daniel, com um começo de algum modo retraído foi depois um médio entregue ao labor ofensivo com uma tenacidade constante e admirável visão das jogadas. Palmeira, sabendo tirar partido das defeituosas entregas feitas a Bentes, bateu-o em todas as antecipações e António Marques, não obstante defrontar o jogador mais pertinaz da linha dianteira conimbricense, vincou autoridade. Abel foi, porventura, o menos certo, e Casario teve a sua acção bastante facilitada. Joaquim, trasbordante de actividade e útil a acudir à defesa, não foi a mesmo homem a colaborar com a frente. Mário, com uma ou outra jogada intuitiva, e Sardinha, brioso mas sem classe. Havia interesse em ver actuar o novo interior direito da Académica - Duarte, que fez ontem a estreia no grupo escolar. De começo, o ex-benfiquista deu aqui e além uma indicação de valor, mas logo se perdeu na voragem do mau jogo do seu grupo. Insistiu, principalmente, e no mesmo erro caíram repetidas vezes Azeredo e Castela, este mais do que qualquer dos outros, nas entregas feitas a grande distância dos companheiros, no momento em que eles se encontravam marcados, o que facilitou extraordinariamente o trabalho à defesa bracarense. Leite foi como Duarte um interior que descambou nos mesmos erros. No quinteto dianteiro somente Pacheco Nobre teve um punhado de jogadas afinadas pela autêntica classe que nele está por completo, despertada. Capela consentiu talvez um golo, mas redimiu o deslize com duas ou três defesas que evitaram outras tantas bolas. Curado pôde cortar muitos lances, mas continua a mostrar pouca firmeza nos despachos. Branco, melhor do que Brás, beneficiou sem dúvida da falta de categoria do extremo que marcou. Os tentos A Académica marcou aos 16 minutos do primeiro tempo. A jogada começou em Costela, que lançou Pacheco Nobre. Este, sobre a linha de cabeceira fintou desconcertantemente Abel e centrou, Macedo apareceu para rematar junto do poste esquerdo de Casario. Aos 24 minutos surgiu o empate. Ferreira da Silva fintou alguns adversários e rematou raso para a esquerda de Capela, o guarda-redes conimbricense deu a impressão de ter julgado que a bola ia para fora. Aos 45 minutos a equipa de Braga passou a usufruir de vantagem de 2-1. Depois de uma insistência de Ferreira da Silva. Sardinha recolheu a bola e, após dois ou três dribles, rematou com êxito. O terceiro golo foi obtido aos 9 minutos do segundo tempo. Mário lançou um remate inesperado e a bola, fazendo tabela no paste do lado direito de Capela, anichou-se nas redes. A arbitragem O Sr. Abel Ferreira dirigiu a partida com admirável autoridade. O público protestou contra algumas das suas decisões, mas só em duas ou três ocasiões a razão esteve pelo seu lado. Essas falhas foram, porém, tão insignificantes, que não pesaram em nada no julgamento do seu trabalho, que pode considerar-se perfeito. ADRIANO PEIXOTO %% 1950/01/50-01-30/19500130.4.txt Título: F. C. PORTO, 0 - S. LOURENÇO, 1 Subtítulo: A defesa portuense teve papel preponderante no desenrolar da partida - A bola dos argentinos foi precedida de uma falta que o árbitro não assinalou Data: 30 de Janeiro de 1950 Domínio: Comentário/relato de jogo Autor: RODRIGUES TELES Fonte: Mundo Desportivo F. C. PORTO, 0 - S. LOURENÇO, 1 A defesa portuense teve papel preponderante no desenrolar da partida - A bola dos argentinos foi precedida de uma falta que o árbitro não assinalou NO ESTÁDIO DO LIMA F. C. PORTO - Barrigana; Virgílio e Carvalho; Pinto Vieira, Alfredo e Romão; Sanfins, Castão, Vital, Monteiro da Costa e Vieira. S. LOURENÇO - Blazina; Martinez e González; Zubieta, Resquini e Berterame; Reggi, Pappa, Uñate, Martorell e Silva. ÁRBITRO - Paulo de Oliveira, da A. F. de Santarém. A defesa do F C. Porto fez novamente una grande desafio. Se desculparmos alguns deslizes a Prato Vieira, que não jogou ontem tanto como contra o Old Boys, contou o F. C. Porto com uma formação defensiva que deve ter impressionado fortemente o grupo de S Lourenço de Almagro. A equipa argentina recordou-se, por certo, muitas vezes, durante o encontro, dos tentos que alcançou no Lima há anos e das facilidades dessa sua passagem pelo Porto... Neste desafio de ontem, teve o S. Lourenço de valer-se de uma desatenção do árbitro, Paulo de Oliveira, para marcar o único tento que leva da capital nortenha. De facto, o golo foi precedido de uma jogada irregular de Pappa sobre Romão, derrubado alguns segundos antes de Resquini atirar de longe a única bola do desafio, a 7 minutos do intervalo. Invocando, embora, esta falta, deve dar-se, no entanto, justo relevo ao remate fulgurante de Resqumi, executado a grande distância, mas com uma força e colocação difíceis de destruir. Se o guarda-redes portuense tivesse dado rapidamente um passo em frente, taparia, com facilidade, o ângulo descoberto. O S. Lourenço comparado ao Old Boys. O grupo argentino de ontem, teve ainda mais dificuldades que o Old Boys experimentara oito dias antes, A defesa do F. C. Porto jogou com extraordinária segurança, nunca permitindo simulações e «bonitos» à linha avançada contrária, actuando com atenção constante Alfredo, Carvalho, Virgílio e Romão evidênciaram-se na luta de perto, apertando sem tréguas os extremos e os interiores e estabelecendo à volta de Uñate uma clareira onde a bola raras vezes chegava sem atritos, pois, tanto Pappa como Martorell não ficavam com os movimentos livres quando entravam no campo portuense; e deixavam, por isso, de entregar ao seu avançado-centro o esférico em condições de remate. A «asa» Martorell, Silva, entretanto, impressionou fortemente todo o público tal como em Lisboa... A classe do Uñate, posta, portanto, em confronto com a de Benevides ficou assim comprometida. E o ataque, destruídas constantemente as iniciativas do rapidíssimo Martorell, que há quinze dias deixara o público do Estádio Nacional encantado, pareceu, por isso, menos perigoso e artista que o do Old Boys. Em nosso entender, porém, a categoria dos dianteiros do S. Lourenço é de igual quilate, pois não pode esquecer a quem o viu contra o Benfica. Simplesmente o «anel de ferro» da defesa portuense apertou-se ontem de um modo tal que tudo se tornou difícil para os sul-americanos, a certa altura do segundo tempo perturbados a ponto de provocarem atritos. Os suplentes e os dirigentes invadiram o campo com a maior facilidade deste mundo! No sector defensivo do S. Lourenço não se registaram complicações graves, mas se esquecermos a voluntariedade revelada por Calman, que jogou numa toada absolutamente diferente, pois esteve sempre colocado à retaguarda dos dois defesas laterais e dos dois médios de ataque, apanhando bolas que chegavam até ele livre da pressão dos adversários, houve mais ligação, sem dúvida um conjunto que não permitiu separar valores. De resto, os atacantes do Porto tiveram quase sempre os sentidos colocados na defesa embora isto não implique uma afirmação de falta de fé no trabalho de alguns. Para fechar este apanhado de apreciações à exibição das equipas argentinas que nos dois últimos domingos actuaram no Lima contra o F. C. Porto, diremos que a de S. Lourenço se viu forçada a contar com os médios para os remates mais fortes e perigosos. Mérito da boa defesa adversária. Que os avançados de S. Lourenço não puderam, em nenhuma ocasião, forçar a «muralha»! Mérito de novo para a defesa e meia defesa portuenses. E que por tudo isto não esteve aqui o S. Lourenço de há anos e talvez o próprio ataque do Old Boys. Repetindo que tudo foi ontem muito mais difícil para os visitantes tirar-se-á do caso a ilação mais apropriada. Se o ataque do F. C. Porto jogasse como a defesa!... Há desde já um elemento a pôr em justo lugar de honra: Gastão. O interior do F. C. Porto, obedecendo por certo, mais uma vez, a determinações de Augusto Silva, deixou aparentemente de colaborar com a linha avançada, onde estava enquadrado. Mas, interior ou médio de ataque, Gastão actuou com extraordinária felicidade. Valendo-se do seu bom domínio de bola, colocou o esférico nos pés de Monteiro da Costa e de Vital em condições que não foram convenientemente aproveitadas, Gastão chegou mesmo a ser brilhante tão útil à equipa como os colegas da defesa. Romão foi também um excelente médio até à altura de sair do terreno, por ordem de Augusto Silva, certamente levado pelo propósito de evitar mais atritos com o interior direito Pappa. Mas, na linha da frente portuense, nem sempre existiu a melhor ligação. Os avançados «azuis-brancos» criaram mais complicações a Chamorro, do Old Boys, do que a Biazina, do S. Lourenço, embora não lhes faltassem oportunidades. Monteiro da Costa, Vital, Vieira e Sanfins não tiveram decisão em vários lances junto da baliza argentina, por mais de uma vez o último, que entretanto soube servir a equipa com alguns passes inteligentes. Se o sector ofensivo portuense jogasse com a «garra» da sua defesa, não teriam os sul-americanos retirados do campo com a alegria revelada no final do encontro, pois abraçaram-se com um entusiasmo que denuncia as suas preocupações. O tento argentino foi marcado na primeira parte. A equipa argentina, como já se disse, obteve o seu único tento aos 38 minutos da primeira parte, por intermédio de Resquini. Romão entrou a uma jogada que Pappa pretendia desenvolver pelo lado direito, mas foi derrubado pelo argentino. Querendo levantar-se, pois tinha ainda a bola ao seu alcance, ficou «preso» intencionalmente nas pernas do seu adversário. Paulo de Oliveira julgou talvez que Romão se livrasse de Pappa e não apitou para beneficiar o infractor. A bola manteve-se sobre a defesa do Porto e o ágil médio esquerdo argentino, decorridos uns segundos, arrancou de trás para a frente, recebeu o esférico em boa posição e rematou para o canto direito do guarda-redes portuense. Os visitantes tentaram a seguir, até o intervalo, enveredar pelo caminho da exibição perceberam, a breve trecho, que isso não lhes seria permitido pela defesa do Porto, como não foi nunca em todo o desafio. Na segunda parte jogou-se mesmo em estilo de puro encontro de campeonato, ás vezes com muita dureza. Ainda no primeiro tempo, no período de maior sossego dos argentinos, aos 42 minutos, Pappa meteu nas redes do Porto, com uma cabeça fortemente aplicada, um golo que Paulo de Oliveira anulou por deslocação. O resultado, a despeito da actuação enérgica dos nortenhos, justifica-se pela bela categoria dos sul-americanos. A assistência esperava; talvez, que os visitantes actuassem dentro do estilo há anos apreciado, e saiu a interrogar-se a si própria: - O S. Lourenço de ontem ou o de hoje? - Mas a nós, visto ter havido luta franca oposição capaz por parte dos portuenses, agradou-nos bastante esta jornada. A derrota não coloca mal o F. C. Porto, onde nasceu uma esperança que parecia perdida. O árbitro Paulo de Oliveira teve de dirigir jogo difícil. Foi, mais uma vez, estranho a «apitadelas patrióticas» mostrando uma isenção que os argentinos iam prejudicando com atitudes indesculpáveis, no último quarto de hora do desafio, talvez enervados com a cerrada defesa adversária. RODRIGUES TELES %% 1950/01/50-01-30/19500130.5.txt Título: TRÊS NOTÍCIAS em que se fala do futebol português Data: 30 de Janeiro de 1950 Domínio: Notícias breves Fonte: Mundo Desportivo TRÊS NOTÍCIAS em que se fala do futebol português O Portugal-Espanha para o Campeonato do Mundo Conforme em devido tempo noticiámos, reuniram-se em Lisboa os delegados das Federações de Futebol de Espanha e de Portugal para tomarem resoluções acerca dos desafios entre as selecções dos dois países, com vista ao Campeonato do Mundo. Sabe-se que ficou resolvido disputar dois possíveis jogos de desempate, um em Paris no dia 23 e o outro na mesma cidade no dia 25. Deste modo, admite-se a possibilidade de haver quatro encontros Portugal-Espanha. Acerca da marcação dos desafios para Paris, o Sr. Gambardella, presidente da F. F. F., que não se tem mostrado muito gentil para os portugueses, declarou ao jornal «L'Equipe»: - A Federação Francesa honra-se muito com o facto, mas teria gostado de ser previamente consultada, tanto mais que a data (23) coincide com uma jornada do campeonato! Aquele jornal chega a admitir a possibilidade do desafio se realizar... em Marselha. Em nota da redacção lê-se no mesmo periódico e no mesmo dia este curioso reparo: esta última resolução (a de novo jogo de desempate) é contrária ao regulamento da Taça Júlio Rimet. O regulamento não prevê quarto encontro, mas sim tiragem à sorte se o eventual terceiro desafio não der vencedor! A presença na reunião de categorizados dirigentes dos dois países, leva-nos a admitir que «L'Equipe» esteja equivocada... Ainda a Taça Latina. Nas disposições tomadas pelos delegados de quatro Federações interessadas na Taça Latina, encontra-se uma que provocou surpresa: a de poder haver vencedores designados por sorteio. Trata-se, afinal, de um critério seguido no próprio regulamento da Taça do Mundo. E é curioso observar que, por um lado, se procurou tornear essa falha admitindo um quarto jogo Portugal-Espanha, enquanto por outro se previu a eliminação... por sorteio! A decisão de permitir-se a substituição de jogadores dos clubes qualificados por outros, mesmo de colectividades estranhas, desde que alguns deles tenham sido escolhidos para a final do campeonato do Mundo e já hajam seguido para o Brasil, também deu margem a reparos. O jornal «L'Equipe» enfileira entre os elementos que consideram essa decisão susceptível de proporcionar abusos. Quanto a nós parece-nos que, estando as Federações nacionais interessadas no torneio, a verificação que elas podem fazer assegura a regularidade das substituições. Não haverá este ano Taça de Portugal! Não se disputará este ano Taça de Portugal. A F. P. F. resolveu assim em consequência de se efectuar em princípios de Junho a Taça Latina, de ser necessário encarar com cuidado a representação do nosso país nos desafios com a Inglaterra e a Escócia e, também, admitindo a hipótese da qualificação de Portugal para a fase derradeira da Taça Júlio Rimet. Mais uma interrupção numa prova que tem tradições, que já se pensou excluir do calendário e que encontrou a mais ampla defesa na própria Federação. Os fins, todavia, justificam os meios. Em 1946-47 também não se realizou esta prova, em consequência da transição por que passaram as competições oficiais. Desta vez, porém, não pode dizer-se que a Taça de Portugal tenha sido sacrificada ao torneio de preparação. Ainda bem! %% 1950/01/50-01-30/19500130.6.txt ATLÉTICO, 1 - BENFICA, 1 Confiados com a obtenção fulgurante do seu único tento, os «encarnados» desorientaram-se perante a voluntariedade do adversário e os erros de uma arbitragem medíocre ATLÉTICO - Ernesto; Baptista, Armindo e Abreu; Lopes e Morais; Martinho, Teixeira da Silva, Ben David, Armando Carneiro e Caninhas. BENFICA - Rosa; Jacinto, Félix e Fernandes; Moreira e Francisco Ferreira; Rosário, Arsénio, Júlio, Melão e Rogério. ÁRBITRO: Eduardo Gouveia, de Lisboa. CAMPO DA TAPADINHA, LISBOA Depois de um jogo bom - um jogo mau... Depois do excelente comportamento do Benfica contra o Racing de Buenos Aires, oito dias antes, a equipa dos «encarnados» claudicou de modo flagrante no desafio de ontem contra o Atlético. O grupo sacrificou ingloriamente um ponto precioso e esteve prestes a nem mesmo aproveitar o que lhe ficou do «saldo» do encontro. Por mais isto e mais aquilo, o Benfica esteve longe, longíssimo de valer o Benfica vencedor dos campeões da Argentina. Marcado o seu tento a pouco menos de meio minuto do começo da partida, tento resultante de excelente jogada de ataque, o onze deu-nos a impressão de julgar, com muita e prejudicial confiança, que tinha o adversário no «papo». Como esse golo, aliás fulgurante, não teve influência nenhuma no espírito da equipa do Atlético, antes pelo contrário, logo aí começaram as dificuldades para o «comandante» da classificação do torneio. Os visitados apertaram a malha do seu cerco aos elementos preponderantes do ataque contrário, não os deixando livres em qualquer tentativa de movimentação; e, pouco a pouco, deram-se também a iniciativas que equilibraram o tom da partida conquanto fosse visível a maior segurança do conjunto benfiquista. Ao intervalo, a vantagem de um tento, favorável aos «encarnados», justificava-se por isso. Na segunda parte - «tomado o pulso», e bem, ao contendor - o Atlético impôs-se a custa de maior tenacidade. A dois minutos do recomeço, o grupo operou o empate e, a partir de aí, os «encarnados», ficaram visivelmente desnorteados e confundidos, não dando à luta, como antes, o cunho de autoridade com que se haviam empregado nos primeiros quarenta e cinco minutos. Para agravar o mal, o árbitro entrou a tergiversar de critério, prejudicando vários movimentos ofensivos do Benfica, intervindo um ror de vezes sem qualquer justificação, e quebrando, assim, o ritmo da partida. Com mais personalidade da parte de alguns jogadores, o Benfica poderia, ainda que a custo, tornear o «mas» do encontro; e com um pouco de sorte em dois ou três lances mudar o curso dos acontecimentos. Júlio, por três vezes, desfrutou de outras tantas grandes oportunidades para desempatar; e Rosário, de outra vez, não viu claro ao rematar uma bola que, passada ao seu avançado-centro, seguiria com mais probabilidades o caminho do êxito. Claro que também o Atlético desfrutou de ensejo para decidir o jogo a seu favor. Em dois momentos, de bom recorte ofensivo, a equipa apareceu na grande-área do Benfica com todos os trunfos a seu favor se não fora, evidentemente, a precipitação de Ben David, uma vez, e Martinho da outra. No «balanço» final do desafio pode concluir-se, pois, que o Atlético obteve bom resultado que podia ser melhor e o Benfica um mau desfecho para as suas previsões e necessidades e que podia ser pior... Não pode, no entanto, analisando bem o rendimento das duas equipas, deixar de dizer-se que os «encarnados» começaram, contra indicadamente, por encarar o jogo com muita confiança. Causas - o tento - relâmpago que marcaram logo de entrada. E que se «perderam», pouco a pouco, perante a crescente voluntariedade do adversário (o que é do jogo) e o avolumar de deslizes da arbitragem que os prejudicou, é certo, mas contra os quais não souberam reagir. Efeitos - um empate que não abona o moral da equipa que deve ser tanto mais forte quando as coisas não correm de feição, como não correram ontem. Fulgor que não se manteve Ainda não havia 30 segundos de jogo quando o Benfica marcou o seu tento. A meia defesa dos «encarnados» cortou o avance inicial do Atlético e organizou resposta pelo lado direito. Arsénio e Rosário colaboraram na tentativa, e um centro do extremo direito levou a bola aos pés de Melão. O interior do Benfica, depois de simular remate - rematou mesmo, depois; Ernesto não conseguiu repelir a bola para longe e JÚLIO, de pronto, atirou-a para a rede. Não demorou a réplica do Atlético. Um «falhanço» de Félix criou situação de embaraço para Rosa; e do lance de contra ataque, Júlio, sobre a esquerda, escapou-se agilmente a Baptista, mas não conseguiu ultrapassar Armindo. Aos cinco minutos, altura em que Francisco Ferreira concedeu um «canto» que Martinho marcou e Melão resolveu com auxílio à defesa, a partida era já disputada com relativo equilíbrio. O fulgor dos «encarnados» quebrara-se. Aqui e ali... - uma bola jogada de Arsénio que Ernesto anulou com muita dificuldade; dois excelentes lances de Rosário (com Arsénio, Melão e Rogério, este a concluir por alto a descida aparatosa, e, depois, a obrigar Ernesto a outra defesa difícil) - ainda alguns vislumbres... Depois, a meio do tempo, igualdade e réplica do Atlético: um «livre» marcado por Armando Carneiro a castigar falta de Félix sobre Ben David; um lance criado por centro de Caninhas, seguido por Ben David e desperdiçado por Teixeira da Silva. Uma fugida de Arsénio, sustida por intervenção de Ernesto no momento em que o interior do Benfica se preparava para concluir lance individual, voltou a dar momentânea superioridade à equipa visitante. Um cruzamento de Francisco Ferreira para Rosário perdeu-se por demora deste. E, logo a seguir, Rosa teve de usar os punhos para rechaçar uma bola que Martinho atirara sobre as suas redes - Morais fez a recarga e Ben David «emendou» a trajectória da bola, levantando-a... Prenúncios de complicações... Uma deslocação mal assinalada a Júlio quebrou ofensiva bem desenhada. Antes, uma carga simultânea de Armindo e Lopes sobre o avançado centro do Benfica, dentro da grade área, e passada em julgado, forneceu os primeiros reparos à arbitragem. Com eles surgiram imediatamente confusão e algumas reclamações atritos... que talvez desaparecessem se, a dez minutos do intervalo (depois de um canto bem marcado pelo extremo direito do Benfica e de consequente insistência de Moreira, de nova passagem de Rosário e de um «toque» de Rogério) Arsénio tem tido mais pontaria no remate. Sucedeu o mesmo a incisivo contra-ataque do Atlético, por Ben David. A defesa dos «encarnados» solucionou o lance com um canto que Caninhas marcou. Morais tentou a recarga e, ao acorrer à jogada, Martinho e Fernandes chocaram no ar. O benfiquista permaneceu no solo, por momentos, e Baptista, adiantado, visou a baliza com pontapé altíssimo... Ernesto, a seguir, executou boa defesa aos pés de Júlio, evitando bem visto cruzamento de Francisco Ferreira para Rosário e a passagem deste para o companheiro do centro. Um canto contra o Atlético; uma falta de Fénix sobre Ben David; e outro canto, este cedido por Jacinto, assinalaram o termo da primeira parte. Quando se esperava outro tento do Benfica, o Atlético empatou. O Benfica, aos dois minutos do segundo tempo, criou um lance quase idêntico ao da jogada em que obteve o seu golo. Talvez mais claro... e de solução mais evidente Um passe de Francisco Ferreira para Melão e deste, bem calculado para Júlio, que se encontrava livre da presença de Armindo. Quando se esperava que o avançado-centro do Benfica tirasse partido da situação, a bola foi rematada frouxamente e para as mãos de Ernesto. E quando todos jogadores e público benfiquistas se preparavam para aplaudir a proeza foram os do Atlético os que escutaram a ovação. O guarda-redes visitado «serviu» o seu extremo direito que Fernandes deixara à vontade, talvez para ir felicitar o autor do tento que não se marcou e MARTINHO percorreu num ápice o caminho livre, beneficiou da hesitação de Rosa e acabou por naturalmente, o bater. Com o empate, o fio de jogo do Atlético apareceu mais ao de cima. A equipa cresceu ante um adversário que acusou de modo notório a perda da vantagem que obtivera e que, depois, não voltou a imprimir ao seu jogo a mesma precisão e o mesmo rendimento. Que assim foi prova-o um canto mal marcado pelo extremo esquerdo; algumas entradas em falso de Félix de quem Ben David se esgueirou varias vezes uma delas, aos 9 minutos desperdiçando esplêndido ensejo a precipitação de Júlio que ao quarto de hora, bem solicitado por Moreira errou a direcção de remate, depois de Ernesto estar batido. Dessa precipitação sofreu também Rosário que, pouco depois, preferiu visar o alvo com todas as vantagens para o guarda-redes do Atlético, em vez de sentir Júlio, em muito melhores condições de êxito. Para não causar mais complicações ao jogo já de si nebuloso que a equipa adoptou, valeu ao Benfica a valentia de Rosa em dois lances remates, perigosos de Ben David e de Armando Carneiro e a energia e a aplicação de Francisco Ferreira e Moreira incansáveis de actividade e presentes em todos os lados onde a bola estivesse. Aos 35 e aos 38 minutos. Júlio repetiu a passagens de Melão e de Rogério, a jogada infeliz dos quinze minutos, deixando a bola tomar dianteira suficiente para ser apanhada por Ernesto; Caninhas distinguiu-se, a seguir, em remate violento; uma fuga de Rosário fez levantar a assistência mas o jogo terminou sem que os desejos de uma e de outra equipa se materializassem. Jogadores. A equipa do Atlético obteve, sem dúvida nenhuma, um bom resultado, Não se impressionou com o golo-relâmpago do adversário revelando personalidade e soube lutar com o «fogo» necessário para suprir possível desnível de conjunto. Tendo adoptado sistema de marcação estreita, de homem para homem, o Atlético manteve-se igual de princípio a fim, empregando-se valorosamente para não deixar o antagonista manobrar. Neste sentido foi preciosa a actuação de Abreu. O defesa esquerdo do Atlético colou-se a Rosário como placa de grude e não lhe deu nunca liberdades de qualquer espécie. Suprimindo com excelente colocação o que, porventura, lhe faltaria em velocidade, Abreu pôde, dessa forma, neutralizar todas as tentativas de Rosário e o Benfica viu, por esse lado, muitas possibilidades reduzidas a zero. Em parte, isso pode explicar o pouco rendimento da linha de ataque dos «encarnados»; mas falta acrescentar que a discreta actuação de Melão e infelicidade de Júlio estiveram também na origem do mal. Rogério acusou e falta de colaboração do companheiro de lado, e Arsénio, ontem o melhor atacante do grupo, não podia acorrer a toda a parte. Ernesto, na defesa das redes do Atlético, seguiu Abreu em mérito e valor. Armindo e Baptista actuaram em bom plano. José Lopes e Morais impulsionaram o grupo com as suas costumadas características - sóbrio e seguro, o primeiro, batalhador e ânimoso, o segundo. Martinho, que se feriu na cabeça quando chocou com Fernandes, moveu-se com desenvoltura, beneficiando dos lances criados por Armando Carneiro, que teve óptimo reaparecimento. Ben David deu tarefa árdua a Félix, especialmente no segundo tempo, fugindo várias vezes à sua vigilância. Não puderam fazer o mesmo Caninhas e Teixeira da Silva, em relação a Jacinto e Moreira. Rosa, a quem talvez bastasse um ligeiro passo para a frente das redes para evitar o remate de Martinho, que o bateu, executou três seguras defesas. No trio defensivo, Jacinto teve acção mais constante e firme do que Feliz e Fernandes este talvez inferiorizado pelo «toque» sofrido no primeiro tempo. Por último os dois médios Francisco Ferreira e Moreira, dois esforçados em trabalho. %% 1950/02/50-02-06/19500206.1.txt ACADÉMICA, 1 - ATLÉTICO, 2 NO CAMPO ALFREDO SANTARÉM AGUIAR A tarde inspirada de Martinho proporcionou aos lisboetas vitória difícil contra uma equipa que só se conformou com o resultado quando o árbitro terminou, o jogo ACADÉMICA - Capela; Branco, Curado e Brás; Castela e Azeredo; Pacheco Nobre, Serra Coelho, Macedo, Duarte e Bentos. ATLÉTICO - Ernesto; Baptista, Armindo e Abreu; José Lopes e Morais; Martinho, Armando Carneiro, Ben David, Teixeira da Silva e Caninhas. O campo de Alfredo Aguiar, em Santarém, foi ontem cenário de uma excelente partida de futebol de campeonato. Com efeito, o desafio Académica-Atlético que deveria realizar-se em Coimbra e que não pode efectuar-se naquela cidade por mór da interdição do campo das estudantes, proporcionou aos desportistas da capital do Ribatejo luta emocionante entre duas equipas que entraram no terreno dispostas a pleitear ânimosamente pela vitória. A traduzir eloquentemente o empenho com que os dois grupos se deslocaram para este jogo, estão as numerosas falanges de apoio de que ambos se fizeram acompanhar as dos lisboetas porventura maior dada a circunstância de Lisboa ficar mais perto. O encontro oferecia ainda esta particularidade: os estudantes desejosos de não perderem a sua posição de terceiros da classificação geral; os lisboetas a jogarem oportuna cartada para se alcandorarem precisamente ao 3º posto. Destas duas vontades, prevaleceu a do Atlético. E, diga-se, merecidamente. A Académica, no entanto, não saiu diminuída do embate. Lutou sempre com entusiasmo, com vontade, com brio. Simplesmente, os alcantarenses tiveram pelo seu lado melhor organização de jogo e maior personalidade na conclusão dos lances decisivos. Os estudantes não aproveitaram a vantagem do vento Durante o primeiro tempo o grupo de Coimbra. Jogando a favor do vento, não soube desfrutar dessa vantagem. Pertenceu-lhes, sem dúvida, o maior domínio territorial. Mas à equipa faltou qualquer coisa para concretizar esse domínio. Faltou nos seus avançados a variação de lances indispensável para obrigar a defesa contrária a descongestionar-se. Invariavelmente as incursões dos conimbricenses fizeram-se pela ala direita. É certo que o vento originava em parte a tendência. Aos médios de ataque impunha-se, todavia, a melhor distribuição de jogo. Castela, cujo labor nestes primeiros quarenta e cinco minutos foi realmente notável - seria o homem indicado para operar a mudança. Mas o médio direito da Académica teimou sistemáticamente em servir o interior e o extremo do seu lado. Assim, o compartimento defensivo dos lisboetas prestou, naturalmente, maior atenção a essa zona de terreno - não permitindo grandes largas à asa direita adversária. Contudo, Pacheco Nobre logrou ainda algumas vezes safar-se à vigilância exercida sobre ele e visar com perigo as balizas dos lisboetas. Valeu a estes o bom trabalho de Ernesto, momento numa excepcional defesa, a desviar em último recurso para canto, um potente remate do ponta-direita dos estudantes. O grupo alcantarense actuou nesta primeira parte com maior atenção na defesa. Isso não impediu, porém, de, sempre que lhe foi possível, descer ao ataque e obrigar Capela a intervenções de apuro. E se os conimbricenses tiveram por seu lado maior número de oportunidades de tento desperdiçadas, os lisboetas também não lograram converter algumas. A mais flagrante registou-se logo nos primeiros minutos da partida, quando Teixeira da Silva, em frente das redes de Capela. rematou ao lado do poste uma bola que Martinho centrara morosamente. O intervalo chegou com os grupos empatados por 0-0. Melhor jogo e superioridade do Atlético Na segunda parte os lisboetas, que no período inicial actuaram com Teixeira da Silva no eixo de ataque e Ben David a interior esquerdo, fizeram regressar aqueles dois dianteiros aos lugares habituais. Foi então a vez de o Atlético desfrutar do favor do vento, arma que soube utilizar melhor que o adversário. O futebol desenvolvido nesta segunda fase foi claramente superior ao do primeiro tempo. Não só as alterações verificadas no marcador deram ao prélio maior emoção como, igualmente, o futebol praticado atingiu melhor nível técnico. Jogo mais claro, mais pensado e também mais «limpo». Ao grupo lisboeta pertenceu, sem sombra de dúvida, a melhor urdidura de lances, principalmente verificada na ligação do jogo defensivo para o ofensivo. Tanto Morais como José Lopes cumpriram muito bem o seu papel de médios volantes, não só servindo os dianteiros em boas condições, como ainda aparecendo na zona de remate, a reforçarem a ofensiva. Porém, logo que os alcantarenses obtiveram vantagem no marcador, com um tento de Martinho aos 20 minutos, os estudantes, em rápidos contra-ataques, modificaram um pouco a fisionomia do jogo, empregando-se com muito entusiasmo em busca do empate, o qual obtiveram dois minutos após o ponto dos lisboetas: Pacheco Nobre lançou Macedo, que apareceu desmarcado em frente de Ernesto. Este saiu da baliza e desde logo ficou batido. Com o empate, o jogo atingiu mais emoção, quando, aos 32 minutos, o Atlético obteve o tento da vitória: Caninhas burlou Branco, centrou rapidamente e Linho, que aparecera à frente de Capela como uma flecha, mandou a bola para as redes com uma aparatosa entrada de cabeça. Os conimbricenses não cederem. E sempre que contra-atacaram fizeram-no com perigo. O Atlético, findo o plano, cotou-se como bom vencedor: a Académica, perdendo o terceiro posto da classificação temor da equipa lisboeta, não saiu, no entanto, diminuída de luta. Os jogadores Apreciada a actuação dos dois grupos, reste-nos analisar o trabalho individual dos jogadores. Capela, com duas ou três intervenções valorosas, mostrou-se, no entanto, muito «agarrado» ás balizas e lento sempre que teve de as abandonar. O trio defensivo, constituído por Branco, Curado e Brás, esteve mais certo no primeiro tempo. Na segunda parte não revelou tanta segurança, especialmente Brás, a lutar com um extremo que nunca se deixou marcar. Dos médios volantes, Castela, na primeira metade do encontro foi precioso auxiliar do ataque, com o senão, já apontado, de não tentar variar mais o jogo. Nos dianteiros, Pacheco Nobre evidenciou-se, demonstrando possuir bom domínio de bola e um poder de finta, por vezes desconcertante. Os interiores é que nem sempre corresponderam ás necessidades da equipa. Serra Coelho, ainda nos primeiros quarenta e cinco minutos, mostrou bom sentido de jogo. Duarte raras vezes conseguiu ligar com o seu extremo. E desta anormalidade ressentiu-se Bentes, que não teve, assim, ocasião de se evidênciar. Na equipa do Atlético, Ernesto continua na sua série de boas exibições, realizando ontem uma partida sem um deslize. Baptista, Armindo e Abreu, durante o primeiro tempo, tiveram certa dificuldade em se opor ao ataque dos estudantes, mas no segundo período impuseram a sua autoridade e saber. Morais realizou bom trabalho dentro das suas características de infatigável lutador. E José Lopes, numa toada mais calma, igualou o seu colega. Caninhas e Teixeira da Silva, na segunda parte, estiveram muito bem. No entanto, de todos os dianteiros, Martinho foi, quanto a nós, o melhor. Oportuno e acorrendo sempre a todos os lances de perigo para Ernesto, o extremo direito alcantarense esteve na base da vitória de sua equipa. Boa arbitragem O Sr. Vieira da Costa realizou bom trabalho. Na primeira parte, quando algumas entradas mais rijas dos jogadores podiam leves o jogo para mau caminho, o juiz de campo portuense impôs a sua autoridade e dominou os ânimos. E, assim, no segundo tempo, o seu trabalho esteve mais facilitado. ANTÓNIO DIAZ %% 1950/02/50-02-06/19500206.2.txt Título: SPORTING, 6 - OLHANENSE, 0 Subtítulo: A primeira bola dos «leões» deu tranquilidade à equipa, que venceu folgadamente, apesar da resistência da defesa algarvia Data: 6 de Fevereiro de 1950 Domínio: Comentário/relato de jogo Autor: MANUEL MOTA Fonte: Mundo Desportivo SPORTING, 6 - OLHANENSE, 0 A primeira bola dos «leões» deu tranquilidade à equipa, que venceu folgadamente, apesar da resistência da defesa algarvia ESTÁDIO JOSÉ DE ALVALADE LISBOA SPORTING - Azevedo; Passos, Leandro e Juvenal; Canário e Juca; Jesus Correia, Vasques, Wilson, Travaços e Albano. OLHANENSE - Abraão; Lopes, Marreiros e Loulé; Grazina e Nogueira; Joaquim Paulo, Soares, Cabrita, Salvador e Eminêncio. ÁRBITRO: Libertino Domingues, de Setúbal. Ainda não foi desta vez que o Olhanense Conseguiu matar o já célebre borrego. Os «leões» venceram com relativa tranquilidade, que começou a desenhar-se logo que o Sporting marcou a primeira bola. Já até esse momento os lisboetas tinham sido frequentemente ameaçadores, imprimindo ao seu trabalho ofensivo um jeito de eficácia, traduzido em duas defesas dificílimas de Abraão e num tento em que Marreiros evitou o ponto sobre a linha da baliza. Depois do tento de Wilson, o primeiro de uma série de três, os algarvios limitaram-se e algumas leves tentativas de ataque, cortadas sempre, sem esforço de maior, pela defesa «leonina». Todavia, os jogadores do Lumiar tardaram a marcar segunda bola, talvez porque carrilavam demasiadamente o jogo pelo centro do terreno, favorecendo o trabalho destruidor dos adversários. Apesar dessa circunstância, os «leões» chegaram ao intervalo com três bolas de vantagem, marca que lhes dava à vontade para o segundo tempo. E, realmente, a segunda metade do encontro caracterizou-se par evidente afrouxamento dos lisboetas, mais notório na ala esquerda da avançada. Foi já dentro do último quarto de hora que o Sporting obteve o quarto ponto tendo perdido seguramente uma boa meia dúzia de oportunidades, não obstante a extrema defesa olhanense se bater com muito vigor e, aqui e além, a roçar a dureza para além das regras... Os dois últimos tentos da equipa de Alvalade apareceram quando Abraão, que se lesionou, dera o lugar a Loulé. Estava-se num período de jogo sem interesse e apenas os dois golos valorizaram os minutos que precederam o final do desafio. Pelo que fica dito depreende-se facilmente como decorreu a partida. O Sporting nunca deixou de dominar, com maior ou menor intensidade, e apenas a meio do segundo tempo os visitantes tiveram uma série de ofensivas que chegaram a atrapalhar a complicativa defesa «leonina». Mas por aí se ficaram, sem capacidade para ir mais longe. O ataque olhanense foi completamente subjugado pela defesa «leonina», uma defesa que, aliás, esteve longe de agradar. Talvez seja mais acertado dizer que a tarefa de anular a dianteira algarvia pertenceu, em partes iguais, ao labor dos médios lisboetas e à inépcia dos próprios dianteiros do Olhanense. Havia certo interesse em analisar o trabalho de Cabrita que tinha a vantagem de enfrentar um elemento da reserva do Sporting. Mas a actuação do avançado centro algarvio tinha de reflectir, evidentemente, a falta de apoio doe companheiros. Por isso não conseguiu salientar-se. A primeira dose de tentos. Os seis pontos do desafio, todos averbados aos «leões», dividiram-se em duas doses. Ao intervalo o Sporting tinha 3-0. Nos primeiros minutos dois pontapés de Albano provocaram perigo para o Olhanense Abraão segurou muito dificilmente o primeiro e não viu o segundo... Até ao momento do primeiro ponto dos lisboetas a melhor jogada pertenceu a Juca e Travaços, o médio fazendo um primoroso passe ao avançado, e este continuando o lance com um dos seus movimentos característicos. Todavia, era de ala direita do ataque dos «leões» que partiam as descidas de maior perigo. Uma laboriosa jogada de Jesus Correia terminou com um centro rematado por Vasques em corrida, não podendo Abraão segurar o esférico, muito escorregadio e atirado com violência. Wilson, oportuno, executou a recarga. Sporting, 1-0. Os lisboetas firmaram-se numa ofensiva ampla, sem deixas para contra-ataques dos adversários. E quando eles apareciam, em regra movidos por Grazina, queimavam-se nos passes dos defesas lisboetas pene Azevedo... A reflectir a pressão dos verdes. Abraão interveio com frequência, ora para deter pontapés de Jesus Correia, ora para repetir remates de Vasques e de Travaços. Wilson foi, neste período, o avançado do Sporting que menos vezes atirou ás redes. A acção do onze leonino atingiu, com certa frequência, leve brilho. A luta travava-se entre um ataque a afunilar o jogo e uma defesa a barrar bem o caminho das balizas. Só aos trinta e cinco minutos o Sporting pôde marcar segunda bola. Entrega de Vasques a Jesus Correia, corrida deste, centro e remate do interior em plena corrida. Um golo perfeitamente dentro das características que deram realce o papel ofensivo dos dianteiros dos campeões nacionais. Foi, todavia, uma jogada poucas vezes repetida... Depois do tento, Abraão voltou a evidenciar-se na defesa de dois fortes remates de Travaços, até que aos quarenta e um minutos o marcador subiu para 3-0. Um ataque em nome dos lisboetas e, numa delas bem aproveitada, Canário aplicou de longe um pontapé que o guarda-redes de Olhão não podia defender, tapado como estava. Antes do intervalo esteve à vista mais uma bola. A primeira parte terminou com um preciosismo de arbitragem, assinalando o final quando, num canto, a bola vinha já no ar. Abraão, por casualidade, veio a largar a bola dentro das redes... Meia hora sem mais pontos. Ao começar o segundo tempo o Sporting atacou imediatamente, e numa avançada de Vasques o dianteiro centro perdeu excelente oportunidade. Noutro lance ofensivo dos lisboetas Abraão lançou-se ao solo para defender, mas não pôde evitar que Jesus Correia rematasse, atingindo-o em condições de o deixar contundido. Quando se levantou, o guarda-redes olhanense queixava-se da clavícula direita. O certo é que, pelo tempo adiante, não voltou a revelar a mesma segurança anterior. Apesar de evidente supremacia do grupo do Lumiar, o jogo tornou-se aberto, vendo-se os algarvios mais afoitos ao ataque. Simplesmente, as suas escapadas não apresentavam sinais de perigo. Só numa saída de Azevedo, para áquem da grande área, Cabrita esteve em condições de alvejar as redes com êxito. O pontapé, porém, saiu-lhe mal... A meio do tempo ainda os algarvios tiveram um assoma de energia, que chegou para complicar a defesa «leonina». Um pontapé longo de Grazine em direcção a um canto, por alto, teve de ser desviado por Azevedo para centro. E pode dizer-se que nunca mais os visitantes tiverem outro remate que conseguisse embaraçar o guardião sportinguista. Até à meia hora os «leões» mantiveram-se em plano superior ao adversário, sem contudo fazerem exibição de vulto. Certa displicência de Albano anulou muitos lances do ataque lisboeta. Por seu turno Jesus Correia, precipitado, perdeu duas belas ocasiões. Mas aos trinta e um minutos, no seguimento de uma habilidade de Wilson, Jesus Correia rematou fora do alcance de Abraão, em recarga de remate de Vasques à trave, e outro aos quarenta e quatro minutos, no seguimento de um centro de Jesus Correia. O desafio terminou com uma «parada» de incidentes, para os quais os visitantes contribuiram em larga percentagem. Sem necessidade, porque o resultado estava mais - que feito... Indiscutível vitória do Sporting... O resultado não deixa margem para dúvidas, claro. Uma vitória por seis bolas de diferença, não pode ter sido difícil. A turma lisboeta encontrou, certamente, mais facilidades do que esperaria. A tradicional resistência dos olhanenses apenas se observou na extrema defesa, à custa de muita decisão e vigor por vezes excessivo (Loulé). Como grupo de ataque foi inofensivo. Grazina fez várias tentativas para lançar os seus dianteiros, mas nenhuma delas teve êxito. E, assim, não admira que a única intervenção de Azevedo partisse de remate de Grazina. O Sporting não chegou a aplicar-se por completo. Cedo verificou que o desfecho do encontro só podia ser-lhe favorável. Os algarvios não davam a menor sensação de eficácia. Todavia, a defesa leonina complicou muita jogada, em regra por desacertos de Passos, que alterna exibições fracas com exibições de bom nível. O jovem Leandro, dominado por Cabrita na primeira parte, na disputa de bolas altas, melhorou de tal modo depois do intervalo que os papeis se inverteram. O avançado centro visitante nunca mais ganhou uma bola alta. Tal como seu pai, o antigo jogador leonino José Leandro (do tempo de Torres Pereira, Jaime Gonçalves, João Francisco, Stromp e Emílio Ramos), Carlos Leandro, corpulento, mostrou possuir forte pontapé. O pai Leandro era especialista em marcar bolas na execução de livres. Ontem o filho esteve quase a imitá-lo. Juvenal manteve-se regularíssimo o melhor elemento da defesa e Azevedo não teve ensejo de resolver qualquer problema bicudo. Canário, no plano que está a ser-lhe habitual. Juca voltou a demonstrar excelentes possibilidades. Quando ganhar mais rapidez de movimentos, o Sporting terá neste rapaz um dos seus melhores jogadores. Aplicado, enérgico, tem a virtude de entregar muitíssimo bem a bola aos companheiros e, numa perfeita compreensão do seu lugar de médio de ataque, aparece algumas vezes na frente como se fosse mais um avançado. Quando assim sucede vê-se Travaços recuar, a cobrir o seu lugar. Ao intervalo Juca recebeu uma ovação espontânea do público, que assim quis demonstrar-lhe o seu apreço e estimulá-lo. Na linha avançada houve muitos lances bem desenhados, mas especialmente no primeiro tempo os dianteiros leoninos fecharam muito o jogo. Sempre que se decidiram a alargá-lo, imediatamente houve perigo para os adversários. O segundo tento foi de excelente preparação, no jeito que tornou famoso o ataque do Sporting. Travaços e Vasques, logo seguidos de Jesus Correia, foram os melhores. Wilson deve progredir. Bom papel na defesa Olhanense repetimos, mostrou-se praticamente nulo ao ataque. Talvez a falta de João da Palma tenha contribuído para isso, certo como é que Cabrita passou o tempo à procura de jogo para caminhar para as balizas contrárias. Os companheiros nada fizeram nesse sentido. Foi na defesa que o grupo de Olhão melhor se manteve. Lutou sem desânimo, com vivacidade e vigor, merecendo todavia reparos algumas atitudes de Loulé, jogador que tem sido sempre duro, e de Marreiros, que abusou das «cinturas» aos adversários. Abrãao esteve, porem, em grande evidência apesar de um ou outro deslize, em parte provocado pelo estado da bola, pesada e escorregadia. Magoou-se muito e teve de sair do campo, mas sem que para o facto houvesse a menor responsabilidade de qualquer jogador do Sporting. O veterano Grazina, quase ou já quarentão, ainda apareceu na brecha com o desembaraço que muitos jovens não apresentam. Na segunda parte partiram dele, do seu saber e espírito de iniciativa, os melhores lances de ataque algarvio. Batalhou, nesse aspecto, em pura perda. Na linha dianteira faltou tudo: coesão, iniciativa e remate. Cabrita foi um náufrago no meio de duas alas falhas de decisão e de temperamento ofensivo. Gostaríamos de o ver enquadrado entre dois interiores do género de Vasques e Travaços. Foi a segunda vez que vimos o Olhanense em Lisboa. Ficámos com a impressão de que o grupo algarvio se inferioriza quando se desloca. Pelo menos os resultados que faz em Olhão e fora assim o deixam perceber... A arbitragem O Sr. Libertino Domingues teve uma primeira parte certa, com o preciosismo de terminar o tempo nas condições que já revelámos. Não deixou, todavia, de cumprir a lei. Depois do intervalo consentiu muita folga a alguns algarvios e só por isso o seu trabalho agradou menos. Essa falta de energia podia ter originado alguns incidentes, se os noventa minutos não surgissem como salvadores... MANUEL MOTA %% 1950/02/50-02-06/19500206.3.txt Título:"O ELVAS", 4 SP. BRAGA, 1 Subtítulo: Os minhotos equilibraram o jogo na primeira parte, mas na segunda foram subjugados pelos alentejanos, que realizaram boa exibição Data: 6 de Fevereiro de 1950 Domínio: Comentário/relato de jogo Fonte: Mundo Desportivo "O ELVAS", 4 SP. BRAGA, 1 ESTÁDIO MUNICIPAL DE ELVAS Os minhotos equilibraram o jogo na primeira parte, mas na segunda foram subjugados pelos alentejanos, que realizaram boa exibição ELVAS - Roger; Osvaldo, Neves e Oliveira; Gomes e Sousa; Vieira, Massano, Patalino, Cadete e Teixeira. SPORTING DE BRAGA - Cenário; Palmeiro, António Marques e Abel; Daniel e Joaquim; Arias, Diamantino, Mário, Janeiro e Sardinha. ÁRBITRO: Borques Leal,de Lisboa. O meu tempo afugentou o público. O terreno, muito enlameado, embaraçou os jogadores, especialmente os minhotos, cuja tendência para os passes rasos e curtos tem sido notória, de há épocas para cá. Mais incisivos nos lances de ataque, bola recebida, bola passada com mais rapidez e sentido de profundidade, os alentejanos assenhorearam-se do comando da partida no segundo tempo. Realizaram indiscutivelmente boa exibição. Dominaram em todos os capítulos do jogo. Os bracarenses, desalentados a partir do momento em que sofreram segundo tento, começaram a concentrar todas as atenções na defesa, livrando-se, por vezes, de situações de apuro com certos laivos de sorte. E quando ordenavam seus contra-ataques, faziam-no sempre com lentidão. Tinham manifesta dificuldade em mover-se no terreno enlameado. Deixaram-se anular facilmente pelos defesas adversários. Na primeira parte, o jogo revestiu-se de atractivos. Os minhotos deram réplica porfiada e os elvenses chegaram a atravessar instantes difíceis na defesa. Eram, todavia, mais perigosos os avanços gizados pelos alentejanos. Desde logo os seus dianteiros deram indicação de mais poder no remete e nas infiltrações. Os avançados bracarenses desenharam alguns lances apreciáveis, mas não tinham desenvoltura suficiente para se desembaraçarem de defesas afoitos nas antecipações. Por isso, falharam remates que coroariam passes bem executados. Uma das vantagens que entregaram aos defesas contrários foi, como atrás dizemos, e tendência para pôr em prática, em terreno enlameado, o sistema dos passes curtos e miudinhos, bonito, sim, mas nas circunstâncias absolutamente contra-indicado. A bola pesava como chumbo e só com muita dificuldade os jogadores a dominavam. Também por esse motivo os defesas tolheram intercepções e despachos. Estava indicado o sistema dos passes por alto e dos cruzamentos longos. Mas esse sistema apenas foi adoptado pelos alentejanos, cuja exibição realizada na segunda parte deixou bem impressionados todos os que assistiram ao encontro. Os avançados elvenses não se esquecerem igualmente de visar as balizas de todas as formas e feitios, de longe ou de perto, aplicando, várias vezes, como estava indicado, o bico à bola. Os dianteiros do Sporting de Braga, nesse pormenor, de suma importância, falharam quase por completo. A equipa nortenha perdeu ontem com uma equipa que lhe foi manifestamente superior. 1-1 na primeira parte Aos 20 minutos, o ELvas obteve o 1.º tento. Sousa passou a Patalino e este serviu MAS-SANO, que, mesmo de longe, fuzilou certeiramente as redes de Cesário. A um minuto do termo do primeiro tempo, os sportinguistas de Braga estabeleceram o empate. Cruzamento de Janeiro, que apanhou MÁRIO bem desmarcado no centro do terreno. E o remate partiu, com êxito. Três tentos sem resposta dos elvenses no segundo período Na segunda parte, os alentejanos dominaram de tal forma que mereciam melhor prémio que o de três tentos. Houve um lance que terminou com um remate de Patalino, o que levou a bola a embater contra a trave. E a recarga de Massano teve o mesmo destino. Aos 25 minutos o Elvas colocou-se na posição de vencedor. Massano driblou três adversários e serviu CADETE em boas condições. Consequente remate originou o 2.º golo dos locais. Aos 36 minutos, os elvenses alcançarem 3.ª bola. «Canto» marcado por Cadete. Patalino, com um golpe de cabeça, visou as balizas. E quando se esperava a intervenção dos defesas minhotos, VIEIRA, também com um golpe de cabeça, introduziu o esférico nas balizas. Um tento de espectáculo. Aos 39 minutos, VIEIRA, de colaboração com Palmeiro, e aproveitando um centro de Massano, executado quase sobre a linha de cabeceira, fixou o resultado em 4-1. Excelente arbitragem de Borques Leal Os elvenses jogaram com muita vontade. No entanto, há que fazer referência especial a Osvaldo, Oliveira, Patalino, Massano e Vieira. No Sporting de Braga estiveram em evidência: António Marques, Abel, Daniel, Diamantino e Aries. Borques Leal realizou arbitragem impecável, decerto uma das melhores, se não a melhor, que temos visto fazer ao apreciado juiz lisboeta. GIL GONÇALVES %% 1950/02/50-02-06/19500206.4.txt Título: ESTORIL, 4 - V. SETÚBAL,1 Subtítulo: Os setubalenses ganharam com merecimento a uma equipa sem inspiração Data: 6 de Fevereiro de 1950 Domínio: Comentário/relato de jogo Autor: EDMUNDO TAGARRO Fonte: Mundo Desportivo ESTORIL, 4 - V. SETÚBAL,1 NO CAMPO DA AMOREIRA ESTORIL Os setubalenses ganharam com merecimento a uma equipa sem inspiração ESTORIL - Sebastião; Gato, Elói e Fragateiro; Cassiano e Nunes; Gonzaga, Hernâni, Mota, Vieira e Raul Silva. VITÓRIA DE SETÚBAL - Baptista; Jacinto, Primo e Fontes; Pina e Orlando; Passos, Nunes, Inácio, Cardoso Pereira e Vasco. ÁRBITRO: Adriano Gonçalves, de Coimbra. Mesmo com a descida vertical que últimamente se tem notado na forma da equipa estorilista, ninguém (dos poucos espectadores que acorreram à Amoreira) previra, antes do encontro, que o Vitória de Setúbal, admitindo a hipótese de vencer o seu adversário, conseguisse ganhar a partida por margem tão acentuada reflectida nos cinco tentos a favor contra os dois do Estoril. O imprevisível fez, porém, valer a sua força e os setubalenses acabaram por ganhar o desafio com todo o merecimento denotando não só melhor conjunto, mas também mais personalidade em todos momentos do jogo. As duas equipas actuaram durante uma hora somente com dez unidades. Entre os 28 e os 30 minutos da primeira parte Orlando e Hernâni foram expulsos do campo por ordem do árbitro mas, mesmo assim, foram os visitantes que menos se inferiorizaram com o sucedido. O Estoril «sentiu» muito a falta do seu elemento, e na altura já em desvantagem no marcador - que registava 2- para o Vitória - pouco ou nada fez para remediar a situação nem para «tapar» a vaga aberta no sector ofensivo. Pelo contrário, os visitantes fazendo derivar Cardoso Pereira para o lugar de Orlando mostraram boa compreensão do que lhe competia. O interior esquerdo do Vitória jogou com mais utilidade no lugar do que o companheiro expulso, mas adjuvante principal para o rendimento, mesmo assim regular, dos seus avançados residiu principalmente na bela exibição de Pina, que esteve incansável na tarefa de auxiliar e coadjuvar todas as tentativas de ataque da equipa. O futebol exibido não atingiu, contudo craveira regular. Jogou-se aos repelões, por vezes com demasiada rudeza e muita quezília, e quase sempre sem a indispensável ligação no todo que deve constituir e distinguir um conjunto. Os melhores lances do encontro só se registaram depois que os setubalenses passaram o marcador de 2-1 para 4-1; mas até então, e mais claramente durante os primeiros trinta minutos do segundo tempo, qualquer dos grupos se exibiu de modo precário, sem fulgor, em toada de equilíbrio, verificado até na forma de encadear as jogadas à toa, com irreflexão e nenhum aproveitamento. Quando sossegados quanto ao desfecho da partida, os jogadores do Vitória entregaram-se a lances onde se verificou regular compenetração e entendimento, mais nítidos do que até ao intervalo. Os estorilistas, sempre na mira de modificar o resultado, entregaram-se decisivamente quando o adversário se impôs. Todavia, foi sempre flagrante a sensação dada pelo grupo de não estar em tarde de feição de não poder mostrar-se tão firme em todos os sectores como o antagonista, e de nem poder contar com ligeira dose de felicidade em alguns momentos. Duas falhas bem exploradas Referimo-nos, evidentemente, as duas jogadas de que resultaram os dois primeiros tentos da Vitória - registados aos 13 e aos 21 minutos. No «golo-abertura», marcado por Elói na própria baliza, é certo que prevaleceu uma jogada insistente de ataque por parte dos setubalenses. Inácio secundou uma iniciativa de Nunes e acercou-se, dentro da grande-área, da linha de cabeceira, do seu lado direito. Apesar de perseguido por Elói, o avançado centro setubalense conseguiu centrar para dentro do terreno e Elói, ao tentar interceptar a bola, e impedindo Sebastião do o fazer, acabou por lhe tocar com a cabeça e dar-lhe o rumo das redes abandonadas. No segundo tento houve também da parte de um estorilista (Cassiano) uma intervenção falhada e Inácio, aproveitando o deslize, completou o passe de Nunes rematando sem apelo. Aos 28 minutos, para, dar ainda mais a nota de sensaboria que caracterizava a partida, o Vitória ficou privado de um elemento. Assinalando falta de Jacinto a Mota, dentro da grande-área e em jogada que nos pareceu regular, o árbitro concedeu «livre-indirecto» ao Estoril. Sem justificação e portanto com adequado castigo, Orlando pretendeu agredir (ou agrediu) Mota e recebeu ordem de terminar ali a sua função. Dois minutos depois coube a vez a Hernâni de sofrer pena idêntica, por ter incorrido em falta sobre Jacinto. O árbitro, colocado perto dos dois jogadores, também não perdoou ao estorilista. Tirando, pois, o lance inicial do jogo que os estorilistas, por Hernâni, fizeram chegar perto de Baptista e na sequência do qual obtiveram um golo bem anulado por deslocação do marcador (Raul Silva); uma salda arrojada de Baptista que impediu Gonzaga de realizar o seu intento; um outro remate de Hernâni que obrigou o guarda-redes setubalense a defesa para «canto»; e duas ou três jogadas desperdiçadas pelo extremo direito local, bem pode dizer-se que se ficou por aí o labor atacante do Estoril. É certo que o dos setubalenses também não foi mais notório e valeu-lhes o terem sabido resolver com expediente as duas falhas que o adversário lhes ofereceu, para se creditarem dos dois tentos averbados até o intervalo. O primeiro tento do Estoril foi quase idêntico ao primeiro do Vitória Na segunda parte a luta continuou indecisa durante largo tempo e até que o marcador funcionasse de novo, Jacinto evitou, em última instancia, que Mota concretizasse avance de perigo para o Vitória; e o Estoril reclamou sem razão a aplicação de castigo dentro da área de rigor. Aos 29 minutos, porém, o Estoril marcou o seu primeiro tento quase idêntico ao obtido primeiramente pelo Vitória. Gonzaga, livre de adversário, pôde servir o outro extremo do seu grupo, Raul Silva acudiu ao lance, rematando com a cabeça; e Fontes, também com a cabeça e virado para as suas redes, acabou por fazer com que a bola tocasse o alvo. No lance de resposta, e com os locais em crescendo de entusiasmo para chegar ao empate, Vasco desferiu remate evitado pela barra; mas uma tentativa de Pina, aos 33 minutos, repôs a situação. Nunes completou o esforço do companheiro, e tirando proveito de um «toque» desajeitado de Cassiano, não teve dificuldade em bater Sebastião pela terceira vez. O quarto e quinto tentos marcados aos 36 e aos 43 minutos por Vasco ditaram a irremissível quebra do Estoril. No último minuto, contudo, Raul Silva obteve segundo tento para a equipa, colocando o resultado mais em conformidade com o desenrolar da partida e o acréscimo de superioridade dos vencedores. Onde se fala dos jogadores e da arbitragem O Estoril não tem grandes atenuantes a apresentar para desculpar a derrota. O grupo, onde faltou Alberto, jogou sem vibração e entusiasmo, acusando falhas que muito prejudicaram o conjunto. Aparte Nunes, que despendeu generosa actividade, e Vieira, que se multiplicou no desejo de cerzir jogadas com princípio, meio e fim, muito poucos dos elementos apresentados se creditaram de exibição que satisfizesse. Houve muito erro de colocação, na defesa, desacerto constante no ataque; e pouca ou nenhuma amostra de ligação em todos os sectores. Pode pensar-se, naturalmente, em tarde má de mais para corresponder à realidade e ás necessidades da equipa. Mas também pode pensar-se que ela em lapso há vários jogos seguidos, sofra de influência que se lhe conhecia e que não podia perder-se tão rapidamente. Na equipa do Vitória foram também um médio Pina e um interior Nunes os seus melhores elementos. O capitão do «onze» setubalense realizou excelente exibição, especialmente no que se refere a trabalho de ataque, arrastando todo o grupo para o desejado triunfo. Isto equivale ao melhor elogio que se lhe podia fazer. Nunes, no ataque, esteve também em plano de evidência, atraindo a atenção dos jogadores argentinos do Old Boys que assistiram ao desafio. Baptista, que reapareceu depois de longo período de inactividade, esteve muito bem em saídas para diminuir o campo de operações dos adversários mas pareceu-nos pouco seguro de mãos. Primo e Jacinto superiorizaram-se e Fontes; Cardoso Pereira foi um médio de boa colocação e colaboração à defesa; e no ataque, alem do acerto de Nunes, Vasco, Passos e Inácio seguiram-se em ordem tanto de utilidade como no desejo de procurar fazer bem. Adriano Gonçalves pode ter salvo a partida de maiores motivos de desagrado com a expulsão dos dois jogadores referidos: Orlando, antes da falta que o fez recolher aos vestiários havia já incorrido em comportamento incorrecto e mostrava-se o mais assomadiço de todos os jogadores; e Hernâni, sem mácula até aí, devia ter atentado em que o juiz de campo não estava em dia de permitir liberdades... No aspecto técnico também o árbitro conimbricense se houve sem motivos para reparos. EDMUNDO TAGARRO %% 1950/02/50-02-06/19500206.5.txt Título: BENFICA, 1-BELENENSES, 1 Subtítulo: Depois de um primeiro tempo equilibrado e em que o Benfica desfrutou de melhores ocasiões de tento. Data: 6 de Fevereiro de 1950 Domínio: Comentário/relato de jogo Autor: ALBERTO FREITAS Fonte: Mundo Desportivo BENFICA, 1-BELENENSES, 1 28 DE MAIO LISBOA Depois de um primeiro tempo equilibrado e em que o Benfica desfrutou de melhores ocasiões de tento. BENFICA - Rosa; Jacinto e Fernandes; Moreira, Feliz e José Costa; Rosário, Arsénio, Júlio, Gil e Rogério. BELENENSES - Caetano; Figueiredo e Serafim; Rebelo, Feliciano e Frade; Narciso, Rocha, Sidónio, Pinto de Almeida e Diógenes. ÁRBITRO: Paulo de Oliveira, de Santarém. Os «azuis» impuseram-se na segunda parte, mostrando superioridade física e mais sentido prático. Excelentes exibições de Rebelo, Serafim, Moreira e Frade Em dois domingos seguidos, empatando na Tapadinha e no Campo Grande, o Benfica comprometeu seriamente a sua posição de comandante da classificação do Nacional. E, simuitaneamente, o Sporting ganhou seis pontos nesses dois domingos quatro das suas próprias vitórias e dois que o Benfica deixou fugir. As «acções» do Sporting subiram, as do Benfica desceram... O empate de ontem, com os Belenenses devem os «encarnados» considerá-lo como resultado lisonjeiro. Se na primeira parte ao Benfica se depararam melhores ocasiões para tento do que aos Belenenses, embora estes também as tivessem e em especial uma em que Diógenes atirou a bola a trave e outra em que Fernandes, na ausência do guarda da baliza, evitou que um «tiro» de Sidónio chegasse ás malhas o desafio foi, no entanto, regularmente repartido pelos dois campos, nenhuma das equipas se impondo, verdadeiramente, na elaboração do seu jogo. O Benfica deu mais sensação de perigo quando avançou pela esquerda, onde Rogério teve várias intervenções da melhor categoria; mas o seu jogo foi demasiadamente trabalhado, cheio de retoques de demoras, de corridas fatigantes sobre um mar de água e lama. No segundo tempo a feição da partida foi, claramente, favorável aos Belenenses, superiores em sentido prático e em condições físicas impondo-se, nitidamente, durante quase os três quartos de hora completos. Neste período o Benfica, destroçado, actuou em improfícuos esforços individuais, vivendo quase exclusivamente de Moreira, o jogador dos «encarnados» com mais talento na realização do jogo sobre um tabuleiro de terra amassada e de uma ou outra tentativa de Rogério. A maior parte dos jogadores do Benfica e Gil mais do que qualquer outro mostraram esgotamento físico, não podendo opor-se ao vigor desembaraçado dos belenenses, ás suas rápidas «entradas» a procurar e a conseguir tirar partido desse esgotamento, à insistência dos longos pontapés de Serafim, de Rebelo e de Frade. Os visitantes tiveram «feito» o golo da vitória aos 37 minutos, quando Sidónio visou a baliza, a aproveitar, rapidamente, uma saída de Roas; a bola, porém, bateu num poste. O empate do primeiro tempo que foi o resultado final. As duas primeiras jogadas do desafio agitaram os espectadores. Frade criou para Sidónio uma boa ocasião de remate com possibilidades de êxito mas Sidónio demorou um instante o remate e, quando o fez, o ângulo de tiro era já muito apertado para que o guarda-redes pudesse ser iludido. Como resposta, Rogério tirou um excelente centro, Rosário rematou sem delongas e Feliciano, à boca da baliza repeliu a bola para perto, fazendo Moreira a recarga com um bom pontapé em que, no entanto, a bola subiu um pouco. Aos quatro minutos desenvolveu-se a jogada do tento do Benfica. Feliciano cortou com a mão um avanço de Arsénio, sendo o «livre» marcado por Moreira, que endossou a bola a Júlio. O avançado-centro quis estacar a bola, mas esta escorregou na lama e Gil, numa entrada rápida, obteve o tento. Após este êxito o Benfica mostrou-se mais empreendedor no ataque, mas os defensores belenenses apareceram sempre à altura da situação, excepto Figueiredo, que várias vezes se confundiu diante de Rogério. A organização da defesa belenense permitiu, ainda, o desenvolvimento de alguns contra-ataques, num dos quais Diógenes rematou à trave, não tardando a resposta dos «encarnados», tendo Gil a baliza à mercê e errando-a. Um pontapé de surpresa de Fernandes que antes estivera alguns momentos fora do campo a receber tratamento foi bem parado por Caetano e, em nova insistência do Benfica, Gil teve bom remate com a cabeça, mas perdido na trave. O jogo caiu depois em nivelamento claríssimo, mas com mais firmeza dos «encarnados» no ataque. Aos 35 minutos Sidónio teve uma «aberta» para a baliza e não hesitou em rematar; Fernandes, porém, salvou o golo, criando imediato contra-ataque para Júlio, que pôde atirar à baliza, mas Caetano defendeu. Como Júlio pretendeu captar a bola que ficara mal segura, o árbitro castigou-o, com exagero, pois mais castigo merecera a carga que momentos antes Júlio fizera sobre Feliciano, e, no entanto, o juiz entendeu-a regular. Nos últimos momentos da primeira parte Diógenes fez uma rápida incursão, pela esquerda, ao campo do Benfica, cruzou para a direita, deixando Rosa, que se fizera à defesa e a falhara, desequilibrado, e Narciso rematou com êxito. O empate do primeiro tempo havia de ser o resultado do desafio, pois na segunda parte nenhuma das equipas marcou. Ao cabo de dez minutos de igualdade, em que, todavia, o Benfica teve duas ocasiões para tento, uma falhada por Júlio e outra por Gil, os belenenses tomaram o comando das operações e não mais o largaram. Os «encarnados», num abrir e fechar de olhos, deixaram de dar qualquer sensação de equilíbrio, de entendimento e de poder físico para se imporem ao adversária. Os belenenses, pelo contrário, puseram na luta não só entusiasmo e vontade, mas também capacidade física, e do ponto de vista técnico as suas linhas atrasadas que já na primeira parte se haviam distinguido, alçaram-se ao melhor nível, sendo impressionante a autoridade que revelaram em frente dos avançados do Benfica. Os belenenses não terão tido muitas avançadas dignas do nome, mas em organização defensiva, em teimosia dos médios a manter a defesa contrária em respeito com pontapés longos decididamente seguidos pelos dianteiros, realizaram excelente labor. E nas avançadas em forma que fizeram foram perigosos. Recordemos um «bico» de Diógenes, o já referido remate de Sidónio a um poste e ainda outro remate de Diógenes o mais efectivo avançado belenense no jogo de ontem, como momentos em que a vitória dos «azuis» podia ter sido decidida. O Benfica teve, a um minuto do fim, uma descida perigosa, por intermédio de Júlio e interrompida por Feliciano, e em que a falange dos «encarnados» reclamou «grande penalidade». O árbitro entendeu não haver motivo para isso. A brilhante partida de Rebelo e Frade e também de Serafim e Moreira. A equipa belenense deve ter entrado ontem no Campo Grande com a decisão assente no seu espírito de não perder o desafio com os guias do Campeonato. E, realmente, não o perdeu. Nem o merecia perder. A segunda parte justificaria, até, um resultado favorável e isto pode concluir-se que o empate dos belenenses não «apareceu» como incidente do jogo, sendo, antes, imposto. Desde que Serafim não se deixou trair pela velocidade de Rosário, que Feliciano tomou ascendência sobre Júlio e patenteou um poder de recuperação, quando batido, que nele parecia estar perdido há dois meses, e que em relação aos interiores do Benfica, Rebelo e Frade não só os subjugaram, desfazendo quase todo o plano de jogo de ataque dos «encarnados», como ainda instigaram os seus avançados a tomar o caminho da baliza, os belenenses podiam, de facto, pensar em colocar em cheque os comandantes do «Nacional». Ao acertado funcionamento destas peças da equipa belenense, juntou-se a segurança do guarda-redes Caetano, substituto de Sério e no segundo tempo a firmeza de Figueiredo. Foi, pois, o bloco defensivo belenense, pela sua união, pela sua coragem, pelo sentido prático que revelou perante as condições do terreno e pela sua excelente capacidade física, que levou a equipa do Benfica a perder o tino, apropriando-se os azuis do comando do jogo na segunda parte. Rebelo teve ontem e mais uma vez, uma grande exibição. Mas ontem melhor do que noutras vezes transcendente. Foi o melhor de todos os jogadores no terreno, estando em todos os pontos do campo onde era necessário, defendendo e atacando, cortando jogo com os pés ou a cabeça e mostrando um poder de resistência extraordinário. Para Rebelo encontremos uma classificação exacta: o «jogador de maratona» do desafio de ontem. Frade, menos buliçoso que o seu companheiro, foi igualmente útil e na primeira parte, até, o jogador que melhor bateu a bola, procurando sempre fazer alívios longos e para os extremos. É um jogador em nítido progresso e no qual se sente a mão de um treinador competente, Serafim teve um segundo tempo excelente - igual ao seu melhor dos seus melhores desafios. Feliciano recuperou a forma não pode haver dúvida. E recuperou, sobretudo, o moral, pois ontem vimo-lo voltar à luta quando batido, o que não sucedia há algumas semanas, em que denunciava falta de confiança nas suas possibilidades. Na frente houve de tudo desde o muito mau, ao muito bom. Nesta classificação cabem as intervenções de Diógenes, o avançado que com Rogério mostrou melhor adaptação ás condições do terreno. A actividade de Narciso e o labor de Pinto de Almeida no segundo tempo, unindo repetidas vezes defesa com ataque, merecem inclusão nas boas coisas da linha avançada belenense. Na primeira parte Rocha não aproveitou convenientemente a folga que lhe deu o médio contrário e Sidónio pecou por receber mal a bola, colocando-se de modo a facilitar a acção do adversário. Os Belenenses alcançaram um resultado que, se não lhes dará satisfação completa, incitará a prosseguir na recuperação que a equipa tem vindo a evidênciar. Os «azuis» não terão sido brilhantes na partida de ontem (qual a equipa que poderia luzir naquele atoleiro do Campo Grande?), mas jogaram com espírito adequado ás circunstâncias, mostrando saber o que estavam a fazer e patenteando uma vontade de ferro, além de provarem condição física muito superior à do adversário. O Benfica podia ter ganho o jogo, na primeira parte; mas, desde que o não soube ganhar nesse período, não merecia arrecadar a vitória no segundo tempo, porque depois do intervalo a melhor equipa foi claramente a dos Belenenses. No encontro de ontem, não foi só o ataque que fraquejou em conjunto foi também a defesa que oscilou, que se perdeu perante aqueles pontapés longos dos belenenses, sendo repetidamente surpreendida. O único avançado que esteve realmente bem foi Rogério, sobretudo na primeira parte. Mas a linha sofreu as consequências de Gil se haver gasto rapidamente e de Júlio ter sido subjugado por Feliciano. Arsénio, que principiou bem, cedo se eclipsou. E Rosário, notado em meia dúzia de lances no primeiro tempo, foi depois implacavelmente imobilizado por Serafim. A troca entre Rogério e Gil só aparentemente terá sido de utilidade. Porque no fundo Rogério continuou a ser uma unidade sem companheiro que lhe desse o jogo de que ele carecia e sem companheiro capaz de continuar as suas iniciativas. Moreira foi o melhor jogador do Benfica, cortando jogo e dando-o à frente rápidamente, em passes longos para nada... Félix não teve uma tarde em harmonia com a sua forma. Em parte excesso de confiança. E também virtude do jogo do adversário. Fernandes oscilou na primeira parte, como reflexo da acção descoordenada do seu médio esquerdo; este melhorou na segunda parte o suficiente para que Fernandes pudesse ser o melhor «encarnado» da defesa - depois de Moreira, está claro. Jacinto fraquejou muito, e mais acentuadamente depois do intervalo. Rosa, como Caetano, não teve remates difíceis para parar. A arbitragem de Paulo de Oliveira foi difícil, como é sempre o trabalho do juiz de campo quando o terreno está nas condições que o campo do Benfica ontem oferecia. Julgou com critério uniforme, sendo visível a preocupação de dar o necessário desconto à influência do terreno nas cargas e nas quedas aparatosas. Um ou outro erro, mas no conjunto trabalho equilibrado. No último lance do desafio o público reclamou «grande penalidade», mas o árbitro entendeu não haver motivo para isso, seguindo o critério que antes adoptara. ALBERTO FREITAS %% 1950/02/50-02-06/19500206.6.txt Antetítulo: CAMPEONATO DA II DIVISÃO NACIONAL Título: O PORTALEGRENSE conquistou o melhor resultado DA PRIMEIRA JORNADA DA SEGUNDA FASE DO TORNEIO EXCELENTES VITÓRIAS DO BOAVISTA, TORRIENSE E ORIENTAL Data: 6 de Fevereiro de 1950 Domínio: Relato/resumo de jogos Autor(es): FERNANDO PIRES; J. L; MATOS FERNANDES Fonte: Mundo Desportivo CAMPEONATO DA II DIVISÃO NACIONAL 0 PORTALEGRENSE conquistou o melhor resultado DA PRIMEIRA JORNADA DA SEGUNDA FASE DO TORNEIO EXCELENTES VITÓRIAS DO BOAVISTA, TORRIENSE E ORIENTAL Torriense - União da Guarda Torriense alcançou ontem um resultado com o qual certamente não contava o próprio jogo se nos encarregou de demonstrar a verdade daquela afirmação. A equipa de Torres Vedras entrou no rectângulo cônscia das suas possibilidades, das responsabilidades do encontro. De facto adivinhava-se difícil a partida o União da Guarda, vencedor da sua série rotulado de possuidor de melhor conjunto. O terreno de piso enlameado aqui ali algumas poças de água, os unionalistas porém sossobrararam, tocados por absoluta infelicidade. Ainda não se jogava há vinte minutos e já o marcador acusava o resultado de 3-0 nada condizente com a imagem do encontro. No primeiro tento, a bola prendeu-se na lama antes de chegar ao alcance do guarda-redes, permitindo a intervenção vitoriosa de um adversário; no terceiro, Fernandes, ao tentar intervir, escorregou, deixando o avançado-centro contrário com o caminho aberto. Mas a totalidade que os números abalaram visivelmente a equipa. Na ânsia incessável de se defenderem, os médios recusaram para a defesa, deixando a turma dividida em duas. E na larga zona entre avançados e defesas, limpa de adversários, os interiores do Torriense puderam balançar o campo no ataque, com visão, sempre com perigo. Fatigados os donos da casa pelo esforço dispendido na primeira parte, o União da Guarda pôde, no segundo tempo, dar uma ideia do seu valor. Por vezes o grupo «meteu-se» bem, passando com facilidade da defesa para o ataque. Só não obteve pontos porque a luta também o cansou... porque os torrienses se aplicaram com atenção na defesa. O Torriense mereceu a vitória. Sem dúvida. O grupo, treinado pelo antigo inter nacional do Belenenses, Rafael Correia, evidenciou excelentes qualidades e ritmo, todas as pernas a entenderem-se como ontem, a revelarem o mesmo sentido prático, pensamento no ataque a equipa pode ir longe na prova. Mas não faltamos a verdade se dissermos que o resultado é por demais expressivo ainda que o maior quinhão de domínio fosse dos locais, os rapazes da Guarda souberam ripostar com ânimo e, de quando em vez, dar rumo equilibrado ao desafio Se não puderam contrariar a dose de infelicidade que os atingiu no primeiro tempo. Os capitães das equipas trocaram galhardetes a meio do campo e, depois, sob a arbitragem do Sr. Santos Marques, alinharam: TORRIENSE - Idalecio; Camocho e Acácio, Raul, Amílcar e Góis; Andrade, Alberto, Portas II e Portas III. UNIÃO DA GUARDA - Vaz; Carreira e Horácio; Milheiro, Fernandes e Pina; Valente, Viriato, Lucas, Pireza e Chitas. O jogo principiou com uma incursão do Torriense pela direita e que terminou com um remate de Portas III, ao lado. Na jogada seguinte, quando Pireza se aprestava para lançar Lucas foi desarmado por Artur que «abriu» em profundidade a Andrade centrou, Vaz defendeu a soco e a recarga perdeu-se sobre a barra. O primeiro tento registou-se aos 7 minutos. Raul atirou de longe à baliza. Fernandes deixou seguir o couro para o seu guarda-redes, mas a lama prendeu a bola. PORTAS II, atento, explorou a indecisão dos unionistas para rematar com êxito. Minutos depois, novo tento, Horácio mal numa bola, que ficou em poder de Andrade. O centro não demorou e PORTAS III, sem deixar o esférico tocar no chão rematou imparavelmente. Desalentados, aos visitantes faltou a ao seguir a calma precisa para transformarem em tento um lance confuso na grande área dos torrienses. Idalecio não blocou a bola largando-a das mãos. Acorreu Pireza, depois Lucas e por fim Valente, mas a última palavra pertenceu a Acácio, que livrou a sua equipa de apuros. O resultado sofreu alteração, aos 20 minutos, com o terceiro ponto doe locais Fernandes, ao tentar interceptar um centro de Andrade, escorregou na poça de lama existente na sua grande área. CARLOS ALBERTO, a quem era dirigido o centro ficou assim, com o caminho aberto, aproveitando a situação. Os «encarnados» de Torres abrandaram e o jogo passou a repartir-se mais pelos dois campos. Contudo, o Torriense mostrou-se sempre mais ameaçador. No último minuto, CARLOS ALBERTO bateu a defesa da Guarda em corrida, obtendo o quarto tento. No segundo tempo não se marcaram pontos embora por vezes surgissem ocasiões para tal. Um bom movimento de Fadié levou a bola a Carlos Alberto. A baliza estava escancarada do lado esquerdo... e o avançado-centro do Torriense rematou para as mãos do guarda-redes, colado ao poste direito. Vaz defendeu a soco um «tiro» de Portas III e Lucas mandou um pontapé de Sorte, mas mal dirigido. A oportunidade para o União marcar chegou Viriato fintou Góis, enganou, mais adiante, o defesa Acarta e rematou. O remate foi dificilmente seguro por Idalecio. Manobrando com á-vontade, o União forçou o jogo. Lucas e Pireza tiveram remates que Idalecio defendeu e Valente solicitado por Pina, rematou ao lado. Perto do final o jogo endureceu e Fernandes teve que sair do campo para receber assistência. A última ocasião difícil teve como resultado um mergulho arrojado de Vaz aos pés Carlos Alberto. Os vencedores, já o dissemos, evidenciaram bom conjunto Salientaram-se, no entanto o defesa Amílcar, o médio Raul, os interiores Fadié e Portas II, que dominam a bola com perfeição e fintam com facilidade e o extremo Portas III. O União da Guarda teve em Carreira, Pina e Lucas os seus melhores elementos. Pireza acusou o peso dos anos. A arbitragem do Sr. Santos Marques agradou. A assistência criou, por vezes, mau ambiente, protestando contra faltas inexistentes ou de somenos, mas o árbitro soube impor-se. Três deslizes os únicos que lhe apontamos, não influíram no seu bom trabalho. FERNANDO PIRES Começaram ontem os jogos da segunda fase do torneio secundário do País. Disputaram-se oito jogos, dois em cada uma das quatro zonas com que foi dividida esta segunda edição. As equipas contendoras estão empenhadas numa luta que se reveste de extrema dificuldade, por motivo da curta duração das referidas quatro provas. A perda de um simples ponto poderá significar, para qualquer dos clubes, o afastamento definitivo do torneio. Porque bastará relembrar que de uma zona apenas sairá um clube qualificado para a terceira e última fase do campeonato. A despeito de toda a boa vontade que as equipas puseram ontem na luta, quatro delas perderam os jogos que disputaram em campo próprio, o que quer dizer que outras quatro não sofreram idêntico percalço. Casa Pia A. C- 0 ; Barreirense- 3 O Barreiro continua sendo o extraordinário viveiro de jogadores que todos os futebolistas do País conhecem por via das proezas do próprio clube da vila e de muitos elementos dispersos, nesta última quinzena demos, por outros grémios de maior nomeada; e o Barreirense actual prossegue, galhardamente, na tradição de uma «escola» que impôs os Pirezas à admiração do País. É esta, pelo menos, a ideia principal que ficou do seu encontro de ontem com o Casa Pia A. C. Na primeira parte, jogando a favor do vento, e nos primeiros vinte minutos após o descanso, os homens do Barreiro chegaram a períodos de grande fulgor gizando os mais desconcertantes lances e evidenciando notável colocação no terreno, que lhes permitiu anteciparem-se sistematicamente aos adversários, a disputar a bola. Duas falhas se apontam desde já no aspecto técnico: carência de remate potente dos avançados e deficiente despacho dos defesas laterais sempre que os dianteiros contrários lhes dificultavam a acção. Ora, contra uma equipa denunciando belos predicados técnicos como foi a do Barreirense, o grupo casapiano opõe tenaz resistência na primeira parte mas uma resistência por sectores, e mesmo assim, claramente deficiente no estorvo, que se exigia constante, dos interiores aos médios visitantes. Valeu aos casapianos a energia da sua defesa e a supracitada falta de remete dos jovens e habilidosos, extraordinariamente habilidosos, avançados barreirenses. E de tal maneira isto foi notório no primeiro tempo que, a despeito da nítida superioridade dos visitantes, os casapianos puderam chegar ao intervalo apenas com a desvantagem de 0-1, tento aliás evitava, marcado por VASQUES, aos 39 minutos, numa das suas repentinas desmarcações para o meio do terreno. Na segunda parte, os casapianos, então com o vento soprando contra o adversário, entraram no campo com o visível empenho de modificar a feição do desafio. Uma descida de Jeremias, não teve porém, o remate adequado... e aos 5 minutos foi o Barreirense que elevou a conta, com um tento de FERREIRA, proveniente de passes com o «mexido» Costa e na qual a defesa casapiana se tornou mera espectadora. Não desanimaram os casapianos nos seus intentos mas sentia-se que a equipa mais poderosa e mais consciente no terreno era a do Barreirense. A sua terceira bola, um belo tento por sinal, surgido nos 1º minutos FERREIRA não chegou a causar admiração nas hostes casapianos e encheu de jubilo a numerosa falange de apoio dos visitantes. Todavia, umas quantas jogadas mais de excelente factura dos barreirenses, puseram termo à ascendendo do grupo de Ricardo Vale. Os casapianos, por inspiração própria e beneficiando do cansaço desse mesmo Ricardo e de Gervásio, reagiram admiravelmente já com os seus médios na colocação devida. A sorte do jogo, porém, não quis nado com eles, que, contudo, apesar do domínio exercido até final, e de dois ou três «perdidos» por evidente infelicidade, não destruíram nunca a confiança dos barreirense forjada no confortável avanço de 3-0 e no bela exibição que lhe dera origem. Confiança, por vezes, levada ao exagero, quando Vale e Pascoal, e também Carlos Silva e Reis, respondiam com sorrisos absolutamente extemporâneos ás legitimas e denodadas tentativas dos casapianos para amenizar o resultado. O jogo, disputadíssimo e, aqui e ali, com algumas entradas mais ao homem que à bola tornou-se difícil de dirigir; mas o árbitro, Sr. Inocêncio Calabote, apenas deixou passar duas «mãos» soe barreirenses e aplicou dois castigos de claro beneficio para o infractor... Donde se infere que o juiz eborense teve acção de aplaudir. Os grupos alinharam assim: BARREIRENSE - Francisco Silva; Reis e Carlos Silva; Gervásio, Pascoal e Ricardo Vale; Manuel Gonçalves, Afonso, Ferreira, Costa e Vasques. CASA PIA A. C. - Coutinho; Caldeira e Pereira Júnior; Júlio, Marques e Carvalho; Jeremias, Dias, Pratos, Armindo e Garção. J. L Bem que desta vez não houve grande vantagem para os que jogaram «em casa». Não se registou nenhum empate. Marcaram-se 32 tentos, o que dá a apreciável média de 4 por desafio. O mau estado dos terrenos, devido à intempérie, dificultou naturalmente em extremo a acção dos compartimentos defensivos. De ai, com certeza, o elevado número de tentos que se anotou, a despeito da sensível igualdade de forças das equipas contendoras. Zona A: O Leixões, no seu campo, deixou-se surpreender pelo Boavista, que sobe de forma a olhos vistos. Excelente resultado para os «axadrezados». Em Vila Real o clube local infligiu 3-0 ao Vianense. Previa-se a vitória dos transmontanos, mas não por diferença tão nítida. Zona B: Em Viseu o Académico bateu o União de Coimbra por 2-1. Os unionistas da Lusa Atenas travaram assim conhecimento com equipas mais bem apetrechadas. Em Torres Vedras o Torriense obteve magnífico triunfo: 4-0 sobre a ânimosa equipa do União da Guarda. Não se aguardava revés tão duro pura os egitanienses. Zona C: Dois jogos - duas vitórias alcançadas fora de casa. O Oriental encheu de regozijo os desportistas lisboetas ao ganhar no Barreiro à Cuf por 2-1. E no campo de Santo Amaro o Barreirense venceu o Casa Pia por 3-0, resultado expressivo e... bem elucidativo. Zona D: Em Montemor-o-Novo, no decorrer de encontro acidentado, o União local venceu o Portimonense por 2-0. Os algarvios também começam a travar conhecimento com equipas de maior valor. De lamentar a infelicidade que perseguiu as duas equipas, que ficaram privadas de um elemento: Viegas, do União, e Vitorino, do Portimonense. Ambos fracturaram uma perna. Finalmente, o Portalegrense, que conseguiu ingressar na segunda fase do torneio, depois de ter inicialmente sido designado pela Federação o Juventude de Évora, caprichou em fazer boa figura nesta primeira saída e... Fê-la mesmo. Não só alcançou o resultado mais volumoso da jornada, como também conquistou esse êxito em Faro, contra o Sporting local. Classificações: Zona A - 1.º, Vila Real, 2 pontos; 2.º, Boavista, 2; 3.º, Leixões, 0; 4.º, Vianense, 0. Zona B - Torriense, 2 pontos; 2.º, Académico de Viseu, 2; 3 União de Coimbra, 0; 4.º, União da Guarda, 0. Zona C - 1.º, Barreirense, 2 pontos; 2.º, Oriental, 2; 3.º, Cuf do Barreiro, 0; 4 Casa Pia, 0. Zona D - 1.º, Portalegrense, 2 pontos; 2.º, União de Montemor, 2; 3º, Portimonense, 0; 4. Sporting Forense, 0. Jogos para o próximo domingo: Boavista-Vila Real e Vianense-Leixões; União Coimbra-Torriense e União da Guarda-Academico de Viseu; Oriental-Casa Pia e Barreirense-Cuf do Barreiro; Portimonense-Farense e Portalegrense-União de Montemor. C. U. F ,1 - Oriental, 2 Jogo no estádio de Santa Barbara, perante a maior assistência da época. As turmas alinharam sob a direcção do Sr. Rui Santos, da A. F. Santarém: CUF - Libanio; Celestino, Carreira e Vale; Mota Gomes e Baptista, Graciano, Fernandes, Vaz, Viegas e André. ORIENTAL - Szabo; Casimiro, Alfredo e Carlos Costa; Isidoro e Eleuteurio, Salvação, Leitão, França, Vicente e Pina. O resultado conseguido pelo Oriental perante a Cuf do Barreiro poderia ter sido outro, se os avançados «cufistas» tivessem a sorte pelo seu lado em várias lances em que o tento seria o desfecho natural; no entanto, como aos «orientalistas» não cabe qualquer culpa na falta de sorte dos donos do terreno, e como souberam ainda aproveitar convenientemente algumas das situações que se lhes depararam, o resultado aceita-se como o desfecho lógico de pugna. O Oriental, adoptando na ofensiva o sistema de quatro em linha, com França no papel de avançado volante, criou de início varias situações de perigo, mas, a partir do segundo tento, consentiu o ascendente da defesa adversária, rude na conquista do esférico e refeita já da surpresa inicial. Tecnicamente, a turma do Oriental foi superior, mas os «cufistas» exerceram maior domínio territorial, mormente no segundo tempo, em que, fisicamente superiores ao adversário, mostraram não só maior engodo pela posse do esférico, mas, também, maior impetuosidade na pugna, que no final lhes foi desfavorável não por falta de sorte somente, mas também porque os seus avançados não demonstraram ter a pontaria muito afinada. Dois tentos para o Oriental Logo de entrada e Cuf concedeu dois cantos, que não deram resultado, e Vicente, em frente das redes, atirou por alto. O Oriental continuou a dominar até que, aos 10 minutos, Salvação, libertando-se da vigilância de Vale, progrediu no terreno e entrou com boa conta para VICENTE obter com um golpe de cabeça o primeiro tento orientalista; o mesmo jogador poderia cinco minutos depois aumentar a vantagem, se não rematasse de longe. A Cuf libertou-se da pressão e passou a atacar com grande empenho. Aos 17 minutos, Carlos Costa incorreu em grande penalidade, ao derrubar Graciano irregularmente falta que o juiz de partida não assinalou. Os «cufistas» continuaram a apertar o cerco na grande área do Oriental, que foi bafejado pela sorte numa sucessão de tiros dos avançados adversos. Depois de Vaz e André terem desperdiçado ocasiões soberanas e de Alfredo ter afastado uma bola já sobre o risco, conseguiu o Oriental o segundo golo, aos 32 minutos numa recarga de ISIDORO. Perto do intervalo, uma entrada violenta de Fernandes deixou Szabo contundido Um tento para a C. U. F. No reatamento, a Cuf parecia disposta a modificar o resultado. Aos 2 minutos, Fernandes, com a defesa do Oriental parada, atirou por alto, e, aos 12 minutos, Viegas, com a baliza à sua mercê, fez o mais difícil atirando para fora. Logo a seguir Fernandes teve um bom tiro, a que Szabo correspondeu com uma grande defesa. Aos 27 minutos, FERNANDES marcou imparavelmente o tento de Cuf e, logo no minuto seguinte, Vaz disparou um bom remete, que Szabo segurou. Na resposta, uma incursão de Pina, que se adivinhava perigaria, foi desfeita por Celestino para canto, cuja marcação não surtiu efeito. Os «cufistas» assediaram a defesa do Oriental, sobretudo por intermédio de Graciano, que quase sempre levava a melhor sobre Carlos Costa; Fernandes, aos 38 minutos, falhou sem explicação possível uma oportunidade excelente. Os jogadores e o árbitro Na Cuf, Libanio não foi culpado nos tentos sofridos e creditou-se de bom trabalho. Celestino, Correia e Vale surpresos de início com a posição adoptada no terreno pelos avançados à sua guarda, recompuseram-se e exibiram-se bem no segundo tempo; Mota Gomes e Baptista actuaram em grande plano, sobretudo o segundo, e da sua acção nasceu o maior domínio exercido pela equipa; no sector atacante, Graciano e Vaz actuaram em bom nível, logo seguidos de Fernandes, que só pecou nalguns lances por morosidade, e André. O mais fraco do conjunto foi Viegas. No Oriental, Szabo muito bom; Alfredo e Casimiro superiores a C. Costa; Eleuterio bom durante toda a partida; Isidoro rendeu mais no primeiro tempo; na linha da frente. França, no papel de avançado volante, desempenhou-se da sua missão de forma que merece elogios; Leitão, no segundo tempo, ressentiu-se da rudeza que os defensores «cufistas» puseram na luta, o mesmo acontecendo a Salvação e Vicente; Pina fez-se notar nalguns lances. A arbitragem do Sr. Reis Santos foi demasiadamente benévola, permitindo alguns excessos dos jogadores. MATOS FERNANDES %% 1950/02/50-02-13/19500213.1.txt Antetítulo: CAMPEONATO DA II DIVISÃO NACIONAL Título: O LEIXÕES alcançou excelente triunfo em Viana do Castelo Data: 13 de Fevereiro de 1950 Domínio: Relatos/resumo de jogos Autor(es): FERNANDO PIRES; MATOS FERNANDES; ADRIANO PEIXOTO Fonte: Mundo Desportivo CAMPEONATO DA II DIVISÃO NACIONAL O LEIXÕES alcançou excelente triunfo em Viana do Castelo Barreirense 2; Cuf do Barreiro 1 Para não fugir à tradição, o encontro entre as duas fortes equipas do Barreiro revestiu-se de grande entusiasmo. O pequeno campo do Rossio que pena o Barreirense não possuir um campo à altura da projecção do clube, estava repleto de uma assistência que vibrou intensamente durante todo o desafio. E teve motivos para isso. Não porque a qualidade de jogo fosse de aplaudir, mas porque as duas equipas se entregaram à luta com afinco, com energia. Foi esta a particularidade mais notada no encontro, por vezes, até, demasiado notada. Alguns elementos excederam-se, aproveitando um pouco da folga que o árbitro lhes deu. Os atritos sucederam-se, mais na segunda parte que na primeira, dando ao encontro aspecto feio. O jogo exibido por ambos os grupos, como atrás deixamos antever, não atingiu craveira elevada. A ânsia de ganhar um jogo de responsabilidade sobrepôs-se ao desejo de jogar bem. Até certo ponto, este modo de pensar, ou melhor, esta tendência das duas equipas, justifica-se. Num desafio em que os grupos precisam da vitória, não há tempo para «pensar» o jogo, para rendilhar os lances. Mas dissemos até certo ponto. E este situa-se num limite quando os jogadores se esquecem de fazer a destrinça entre jogar com entusiasmo e jogar com dureza. Contudo, houve dois ou três lances bonitos, perfeitos, medidos com régua e esquadro. Mas muito espaçados, obra de uma inspiração depressa perdida na toada do desafio. As equipas alinharam: Barreirense - Francisco Silva: Reis e Carlos Silva; Gervásio, Pascoal e Ricardo Vale; Gonçalves, Afonso, Ferreira, Costa e Vasques. Cuf do Barreiro - Libanio: Celestino e Vale; Mota, Carreira e Baptista; Graciano, Vaz, Aureliano, Viegas e André. Árbitro: Luís Vilaça, de Lisboa. Ao intervalo, 1-1. A Cuf marcou primeiro, aos 20 minutos. Pascoal e Reis hesitaram na intercepção de um pontapé longo da defesa da Cuf. E enquanto perguntavam qual deles desfaria o lance, AURELIANO surgiu, rápido, entre ambos, dando à bola o caminho das redes, não obstante os esforços de Francisco Silva, que ainda se arrojou ao solo. Ferreira, ao disputar uma bola com Celestino, foi por este atingido com um pontapé no sobrolho e por esse motivo abandonou o campo para receber tratamento. O Barreirense teve depois oportunidade de modificar o resultado, quando o árbitro assinalou uma grande penalidade, por mão de Vale, um tanto forçada, pois não se viu intenção de cortar o lance por parte do defesa da Cuf. Pascoal atirou à trave. Minutos passados, surgiu o empate. A cerca de 40 metros da baliza, CARLOS SILVA desferiu um grande pontapé que colheu Libanio de surpresa e entrou nas redes. Ao quarto de hora do segundo tempo, COSTA fixou o resultado. O lance nasceu em Carlos Silva, que centrou de longe. Libanio aprestou-se à defesa e, já segura a bola, largou-a das mãos. O interior esquerdo do Barreirense aproveitou a oportunidade, Libanio ficou magoado neste lance, mas depressa se recompôs. A reacção da Cuf não se fez esperar. Mas a acertada expulsão de Baptista, por agressão a Ricardo Vale, reduziu as possibilidades da turma. No entanto, os adeptos do Barreirense ainda levaram as mãos à cabeça quando um remate de Aureliano, a poucos minutos do fim, saiu a milímetros do poste, com Francisco Silva batido desde que o remate partiu. O Barreirense mereceu a vitória. Sem que se tivesse superiorizado, quer no capitulo técnico, quer no capitulo de domínio. O Barreirense evidenciou, contudo, mais personalidade e melhor espírito de entreajuda. A defesa, se exceptuarmos o deslize do 1º tento da Cuf, foi o ponto forte da equipa, não dando tréguas aos avançados contrários. Ricardo Vale e Gervásio estiveram bem até alturas da meia hora da segunda parte. A sua quebra física depois desse período foi notória, o que permitiu, de certo modo, o domínio da Cuf nos últimos minutos do desafio. No ataque, poucos merecem referência. Ferreira, lutador incansável, que causou algum pânico, e Gonçalves, a dar bom seguimento ao jogo, foram, quanto a nós, os melhores nesse sector. Costa apagou por completo a sua exibição, e a atenção revelada no tento da vitória, com as escaramuças em que andou «entretido» juntamente com Mota. Este rapaz é um médio habilidoso. Tem estofo. Sobejam-lhe qualidades. Possui, porém, uma grande tendência para jogar com rudeza e discutir por tudo e por nada. Tem de corrigir-se. Para seu bem...e do seu clube. A equipa da Cuf aceitou bem a derrota. Tentou contrariá-la, lutando. Mas nem sempre pôde vencer a oposição da defesa Barreirense. Carreira, Aureliano e Graciano distinguiram-se, principalmente o primeiro, certo nas antecipações e nos despachos, atento ao jogo e correcto. Os dois médios de ataque tiveram momentos de intenso e útil labor. Toldaram o seu trabalho pelos mesmos motivos do interior esquerdo do Barreirense. Se o encontro durasse apenas 45 minutos, criamos de considerar excelente a arbitragem do Sr. Luís Vilaça. Deu alguma folga, é certo, mas nunca permitiu excessos censuráveis. Uma falta de Vale a Afonso, pontapé no peito, que merecia expulsão pura e simples, passou-lhe despercebida, pois o defesa da Cuf cometeu a falta depois de ter colocado a bola para além da linha de cabeceira, portanto, fora de jogo, e com o árbitro de costas para o local. No segundo tempo, ainda que o julgamento das faltas continuasse a ser uniforme e justo, não teve «pulso» para segurar os ânimos excitados. Uma altura houve em que o Sr. Luís Vilaça cruzou os braços quando Baptista e Ricardo Vale discutiam acaloradamente, só não chegando a vias de facto o que se registou mais tarde porque os seus companheiros intervieram. FERNANDO PIRES A segunda jornada da segunda fase da 2.ª Divisão forneceu resultados de surpresa. O torneio ganha, de domingo para domingo, mais expectativa. Na zona A. o Boavista infligiu no Porto pesada derrota ao S. C. Vila Real, a mais severa da jornada: 6-0 Em Viana do Castelo, o Leixões obteve excelente triunfo. Foi o único clube que conseguiu ganhar no terreno do adversário. Os representantes do Porto estão a distinguir-se. Na zona B, também se registou uma excelente proeza do Torriense, que em Coimbra arrancou um empate ao União. Os torrienses comandam briosamente a prova! O outro União, o da Guarda foi mais feliz, pois desembaraçou-se, na sua terra, do Académico de Viseu. Na zona C. Oriental e Barreirense, vencedores, respectivamente, do Casa Pia e da Cuf, voltaram a distinguir-se. Vai ser falado o encontro que se aprestam para disputar no próximo domingo... Finalmente, na zona D, há a assinalar a estrondosa vitória que o Portalegrense, no seu campo, infligiu ao até à data invencível União de Montemor. Os portalegrenses continuam a caprichar em justificar a sua presença na prova! Em Portimão, o Portimonense viu-se e desejou-se para ganhar, por 2-1, ao Sporting Farense. Oriental, 6 - Casa Pia, 1 Jogo efectuado no campo «Eng. Carlos Salema», perante razoável assistência. As turmas, sob a direcção do Sr. Gameiro Pereira, formaram do seguinte modo: ORIENTAL - Alexandre; Casimiro e Moraes; Isidoro, Alfredo e Eleuterio; Salvação, Leitão, França, Vicente e Pina. CASA PIA - Coutinho; Valente e Pereira Júnior; Júlio, Mark e Armindo; Jeremias, Prates, Lírio, Garção e Rocha. O Oriental exerceu domínio técnico territorial suficiente para merecer o resultado que, todavia, poderia ser mais expressivo, se os seus avançados por vezes fossem menos dados à finta desnecessária e em certos momentos mais lestos na entrada ao lance. A turma casapiana actuou muito longe daquilo que produziu na fase inicial do torneio em curso, denotando alguns dos seus elementos a preocupação única de se desfazerem do esférico de qualquer modo. Dois tentos... à tabela. Logo de início os orientalistas impuseram a toada de ataque, forçando os casapianos a actuar dentro do seu terreno um óptimo lance da asa esquerda não deu resultado, por Vicente ter atirado por alto. O mesmo aconteceu a um livre apontado por Leitão aos 12 minutos. Apesar do seu domínio constante, cortado de quando em vez por uma o outra fuga dos casapianos, sem perigo aparente, só aos 27 minutos o Oriental abriu a marcação por intermédio de ELEUTERIO, com um forte pontapé, que levou o esférico a fazer tabela em Pina e tornando inútil qualquer acção do guardião adverso. Minutos depois Vicente falhou uma oportunidade e aos 38 minutos LEITÃO marcou o segundo tento, fazendo o esférico tabela num jogador casapiano. Um tento limpo que não contou. No reatamento, LÍRIO conseguiu, aos 4 minutos, com um remate indefensável, o único tento dos casapianos. LEITÃO, volvidos seis minutos, repôs a diferença, dando seguimento um bom passe de França. Aos 10 minutos, Júlio incorreu em grande penalidade, que Leitão não soube aproveitar, atirando sobre a barra. Aos 18 minutos, PINA, com um remate frouxo, conseguiu o quarto tento de sua equipa, com largas culpas para Coutinho. Com a baliza completamente desguarnecida, França atirou sobre a barra, com bastante infelicidade; aos 42 minutos, surgiu o quinto tento, numa situação de «puro para os casapianos, em que o defesa VALENTE, acossado por Pina, introduziu o esférico nas próprias redes. Na avançada seguinte um estupendo trabalho de Leitão proporcionou a FRANÇA a marcação da sexta e última bola. No último minuto, Pina, com um remate potente, forçou Coutinho a defesa apertada, mas já depois de o esférico ter transposto a linha limite cerca de meio metro. O árbitro, porém, não assinalou o ponto. Apreciações No Oriental, Alexandre não teve de resolver situações difíceis, mas nas suas poucas intervenções mostrou visão e segurança. Casimiro cotou-se o melhor dos três defesas, logo seguido de Alfredo e Morais. Nos médios de ataque, Eleuterio teve aberturas de excelente quilate e manteve-se em nível elevado durante toda a partida; Isidoro não destoou, embora para o final tivesse perdido alguns lances por morosidade. No sector atacante, Leitão e Pina sobressaíram. França e Vicente estiveram muito melhor no primeiro tempo, sendo Salvação o mais discreto. No Casa Pia, o melhor elemento da defesa e da equipa, foi Pereira Júnior, seguido de Lírio e Júlio; Prates, magoado de início, não rendeu o suficiente, e Coutinho esteve bastante infeliz. O Sr. Gameiro Pereira conduziu excelentemente a arbitragem. Apenas há apontar-lhe o lapso do último minuto, porquanto na posição em que nos encontrávamos perto da baliza, verificámos que o esférico foi defendido dentro dela. No entanto, é poesia que a posição do Sr. Gameiro Pereira, próximo do meio do terreno, não lhe permitisse ver o lance com clareza. MATOS FERNANDES União de Coimbra, 1 - Torriense, 1 No final os torrienses reuniram-se no meio do campo e saudaram o público como se tivessem sido os vencedores. Tiveram razão. O empate representava para eles uma vitória. Se o clube de Torres Vedras havia feito tudo, primeiro para alcançar e depois para defender a vantagem de um tento, marcado aos 12 minutos da primeira parte, e a sustentara com todo o mérito até aos 5 minutos do segundo tempo, não restaram dúvidas que após o empate, os locais não souberam construir a vitória por sua própria culpa. Teixeira, por exemplo, perdeu inacreditavelmente duas oportunidades e logo a seguir, Faria desperdiçou uma grande penalidade, apontando de forma a tornar possível a fácil intervenção de Idalecio. Pode dizer-se, portanto, que foi o ataque dos «azuis» que não soube ganhar o jogo. Nos quarenta e cinco minutos iniciais talvez a culpa não tivesse sido apenas sua, pois os médios de auxílio não lograram entregar-lhe a bola nas condições exigidas, tanto mais que a defesa visitante se mostrou difícil de transpor, justamente no jogo, por alto. E foi quase sempre nestas condições que Bernardino e Faria, este sobretudo, pela colocação atrasadíssima que adoptou, tentaram apoiar a sua dianteira. Porém, no período final, só se poderá responsabilizar a própria formação atacante. Na verdade ela teve o triunfo ao alcance as vezes mais que suficientes, dado até a desorientação da defesa torriense em algumas ocasiões a ter facilitado. Os grupos alinharam: União - Celso; David e Velha; Bernardino, Carvalho e Faria; Gomes, José da Silva, Conceição Rodrigues, Teixeira e Mota. Torriense - Idalecio; Camocho e Acácio; Góis, Amílcar e Raul; Andrade, Fadié, Carlos Alberto, Portas II e Portas III. Árbitro: Abel Ferreira, de Lisboa. O tento do Torriense foi obtido por PORTAS II, na recarga de uma bola desviada por Celso na defesa de um canto, e o do União alcançado por JOSÉ DA SILVA, desviando de cabeça uma bola apontada por Faria na marcação de um castigo e que Idalecio blocou em voo já para além da linha da baliza. O União foi a equipa que por mais tempo se manteve ao ataque. No entanto, os torrienses foram mais perigosos sempre que puderam sustentar igual toada. Viram dois golos recusados por deslocação nítida, sem dúvida a do primeiro e se não fosse a timidez do seu extremo direito teriam, por ventura, feito passar por maiores dificuldades a defesa local. Todavia, o ataque conimbricense não revelou capacidade nem mesmo depois das alterações nele introduzidas. Faltou-lhe sempre um avançado-centro e somente ao declinar da partida encontrou em Teixeira um extremo susceptível de dar ao jogo o exacto caminho. Teixeira, porém, falhou no remate... O Torriense é essencialmente uma equipa tenaz. A sua defesa aceita qualquer toada e não sabe o que é a renuncia. O médio-centro e o defesa direito são excelentes nos capítulos de antecipação e no despacho. O esquerdo é claramente menos bom. Os médios de ataque parecem ou então estiveram ontem lentos nas entregas, mas os interiores têm vida que chega e sobra para não deixar ganhar evidência à morosidade daqueles. O avançado-centro é incontestavelmente o mais hábil da equipa. No União o médio-centro Carvalho foi o único jogador com presença e autoridade de princípio ao fim. Não gostámos da arbitragem. O Sr. Abel Ferreira permitiu de entrada uma largueza que depois não soube cortar, pelo que teve, contra si, repetidas vezes os protestos do público e dos próprios jogadores. ADRIANO PEIXOTO %% 1950/02/50-02-13/19500213.2.txt Título: F.C.PORTO, 3 - ESTORIL, o Subtítulo: Os portuenses tiveram dificuldade em dominar a defesa adversária, que actuou com segurança no decurso de um jogo assaz duro Data: 13 de Fevereiro de 1950 Domínio: Comentário/relato de jogo Autor: RODRIGUES TELES Fonte: Mundo Desportivo F.C.PORTO, 3 - ESTORIL, o CAMPO DA CONSTITUIÇÃO PORTO Os portuenses tiveram dificuldade em dominar a defesa adversária, que actuou com segurança no decurso de um jogo assaz duro F. C. PORTO - Barrigana; Virgílio, Francisco e Carvalho; Joaquim e Romão; Sanfins, Gastão, Vital, Monteiro da Costa e Vieira. ESTORIL - Sebastião; Gato, Elói e Alberto; Cassiano e Nunes; Gonzaga, Mota, Negrita, Vieira e Raul Silva. Árbitro - José Teixeira (Braga). Um jogo como este não pode agradar seja a quem for. As duas equipas jogaram quase sempre aos repelões, provocando atitudes feias, ora desculpadas pelo árbitro, ora resolvidas por castigos marcados ao contrário. Houve, por isso, motivo para aborrecimentos e para condenar o trabalho de uma grande parte dos elementos que actuaram ontem no campo da Constituição. Alguns, jogadores excederam-se em entradas duras, daquelas que não marcam o corpo de adversário, e certo, mas contribuem para vincar a nota deselegante, tornando os desafios aborrecidos e indesejáveis. No desafio de ontem, entre o F C. Porto e o Estoril, assistimos a muitos casos dignos de censura e infelizmente por culpa de elementos de ambos os grupos. O árbitro, naturalmente levado por informações discutíveis, resolveu logo de entrada apitar para castigo ao portuense Monteiro da Costa, mas equivocando-se constantamente. Raras vezes viu as cargas com justiça e de aí resultou que o interior do F. C Porto nunca beneficiou da sua vivacidade, sofrendo ainda com a protecção dispensada a Cassiano nas jogadas de choque. Não compreendemos, nem uma só vez, a destrinça simplista que o árbitro estabeleceu à volta das cargas. Também os jogadores o compreenderam assim e só por isso se admite que o defesa portuense Carvalho tivesse aplicado dois golpes castigáveis, espaço de poucos minutos, visando Negrita, quando este esteve temporariamente a extremo direito. O errado critério do Sr. José Teixeira contribuiu largamente para tirar beleza ao desafio, levando-nos a supor que era pessoa indicada para o dirigir. No tocante a imparcialidade não pode viver discordância. O seu espírito tolerante é que eliminou as virtudes que o desafio poderia vir a ter, dada a categoria dos dois adversários. O Estoril dificultou sempre os jogos do F. C. Porto os rapazes da Costa do Sol tiveram sempre certa queda para dificultar o trabalho do F. C. Porto, Não foi, portanto, sem apreensão que os «azuis-brancos» viram a equipa desfalcada do defesa central Alfredo, últimamente em excelente forma. Francisco, que o substituiu, principiou sem grande segurança, mas acabou por impor-se pelo tempo adiante, concluindo mesmo o desafio numa toada brilhante. A vitória portuense começou aos 20 minutos com um tento de Vital, que aproveitando a falta de vigilância por parte de Elói, desferiu um pontapé dentro da grande área, não dando tempo a que Sebastião interviesse. Marcado este tento, apertou-se bastante mas o labor ofensivo portuense, mas de modo tão desligado e inofensivo no remate, que raras vezes teve o guarda-redes estorilista de aplicar-se. Já no campo portuense as coisas se passaram de maneira diferente: menos assédio, mas função mais envolvente dos dianteiros da Costa do Sol, onde Vieira, Gonzaga e Negrita se mostraram habilidosos e Mota e Raul Silva, perturbadores. O guarda-redes portuense, todavia, denunciou largamente a sua subida de forma, pegando, com facilidade, nas bolas rematadas. Só não chegaria a um belo tiro de Vieira, dada a sua colocação no meio da baliza, quando o esférico saiu a rasar o ângulo superior do seu lado esquerdo. As dificuldades do F. C. Porto não foram, portanto, eliminadas ainda neste primeiro tempo. A equipa do Estoril, não se mostrando tão sólida como já foi, conseguiu, no entanto, atemorizar o adversário em vários lances, embora o resultado corresponda, sem dúvida, a um domínio mais amplo do F. C. Porto, posto que pouco disciplinado e sem efeitos práticos. No prosseguimento da partida o Estoril apenas cedeu ao segundo tento do F. C. Porto. No reatamento do desafio, ainda as portuenses não trouxeram para o calma maior capacidade técnica. As primeiras descidas pertenceram ao Estoril, evitando-as a desleais nortenha com a cedência de alguns «cantos», um dos quais desperdiçado por Mota à boca das redes. Só muito próximo dos dez minutos, melhorou o plano de ataque portuense, um pouco porque o interior Gastão dirigiu melhor as operações, coisa que não havia acontecido nos primeiros 45 minutos de jogo. Aos 16 minutos, um «canto» marcado por Vieira, no lado direito (até que enfim se provou a utilidade do ponta esquerda portuense ir marcar este castigo ao lado contrário...) entrou directamente, aumentando a vantagem do F. C. Porto para 2-0. A bola, que trazia efeito e foi realmente bem dirigida, anichou-se no canto oposto, a despeito de para ela saltarem várias jogadores. Este golo quebrou o ânimo estorilista. A equipa deixou de atacar para defender, e nesta toada deram ainda boas provas Elói e Alberto. Acima de todos, no entanto, distinguiu-se Sebastião, que se lançou admiravelmente aos remates do ataque portuense. As operações ofensivas do Estoril resumiram-se depois a várias corridas de Mota, Raul Silva e Negrita, a bocados de bom jogo a meio do campo por parte de Nunes e Vieira, este menos integrado na linha da frente, por certo com a preocupação de evitar o progresso das avançadas locais. O 3.0 tento do F. C. Porto surgiu aos 40 minutos: um bonito centro de Vieira foi captado por Vital, de cabeça, atingindo as redes sem qualquer culpa de Sebastião. Quase no limite do tempo, Mota desperdiçou, o mais desajeitadamente possível. uma boa ocasião de rematar e um pontapé de Negrita foi providencialmente parado pelo guarda-redes portuense. Entretanto, diga-se que entre o 2.º e 3.º pontos do vencedor se perderam junto da baliza do Estoril bolas em série. Comentários finais a um jogo, o que não agradou. A dureza consentida pelo árbitro, é inegável, contribuiu, como já dissemos para complicar o jogo. Esqueçamos tudo o que foi mau para referir apenas o que possa ter sido bom. Por exemplo: o bom reaparecimento de Joaquim, que durante todo o jogo desenvolveu trabalho a todos os títulos notável. Parece ter desaparecido, por completo, a sua quebra de resistência física. Depois de Joaquim, Monteiro da Costa, Virgílio (com o senão de brincar desnecessariamente...), Carvalho e Francisco. O guarda-redes também se deve ter preparado para conquistar boa forma, pois actuou sempre com segurança. No Estoril, Sebastião foi, sem dúvida, o jogador mais valoroso, não tendo culpa em qualquer das bolas consentidas. Foi muito bem acompanhado pelos seus colegas de defesa, principalmente Elói e Alberto. Vieira jogou com muito desembaraço, entregando excelentes bolas aos colegas. Um apontamento que a equipa estorilista merece: o seu apego à luta, animada possivelmente pela tradição… que a incluiu na lista das mais difíceis e lutar pelo F. C. Porto. Do árbitro já dissemos o suficiente. Não custa afirmar, todavia, que os seus erros não contribuíram para aumentar ou diminuir o resultado do desafio. RODRIGUES TELES %% 1950/02/50-02-13/19500213.3.txt Título: OLHANENSE, 1-S.L. BENFICA, 2 Subtítulo: O Benfica alcançou o tento da vitória na segunda parte num lance desafortunado da defesa contrária Data: 13 de Fevereiro de 1950 Domínio: Comentário/relato de jogo Autor: ANTÓNIO DIAS Fonte: Mundo Desportivo ESTÁDIO Padinha OLHANENSE, 1-S.L. BENFICA, 2 O Benfica alcançou o tento da vitória na segunda parte num lance desafortunado da defesa contrária OLHANENSE - Abraão; Rodrigues, Nogueira e Loulé; Acácio e Grazina; Soares, Salvador, Cabrita, João da Palma e Eminêncio. BENFICA - Rosa; Jacinto, Félix e Fernandes; Moreira e Francisco Ferreira; Corona, Arsénio, Júlio, Pascoal e Rogério. Árbitro - Cunha Pinto (Setúbal). Estádio Padinha registou ontem a maior enchente da época. Para presencear o embate entre o grupo algarvio e o Benfica, acorreram a Olhão milhares de entusiastas vindos de todos os recantos do Algarve e de muitos ponto do Baixo Alentejo. A turma lisboeta fez-se também acompanhar de numerosa falange, que se transportou em autocarros. Numa tarde precursora da Primavera, o campo algarvio, circundado pela paisagem lindíssima das amendoeiras em flor, oferecia, com a moldura de milhares de entusiastas, panorama magnífico que ainda não tínhamos presenciado em campos de futebol. O desafio foi disputado com grande emoção, principalmente na primeira parte em que o empate de 1-1, findo esse lapso de tempo, serviu para emprestar ao prélio, a incerteza e a nota vibrante que são afinal os grandes atractivos do futebol. Tecnicamente, o encontro não contentou ninguém. Estamos mesmo convencidos de que nem os adeptos dos vencedores saíram satisfeitos do campo sob esse aspecto. Somente a partir do primeiro golo do desafio, marcado por CABRITA aos 19 minutos, conseguiu a partida agradar, pena rapidez e movimentação com que se passou a desenrolar. O Olhanense, com a vantagem de 1-0, a forçar o ataque e o Benfica, não se mostrando surpreendido, a parar a ofensiva dos algarvios e a tentar, por sua vez, tocar as redes adversárias. Depois que os lisboetas obtiveram o ponto do empate, marcado aos 26 minutos por Júlio sobre um passe de Arsénio, o jogo decaiu consideravelmente. Entrou-se numa fase de monotonia, cortada aqui e ali por um lampejo de iniciativa individual de um ou outro jogador. No segundo tempo, as coisas não se modificaram para melhor no que respeita ao valor técnico do prélio. Aos 8 minutos, numa confusão em frente das redes dos algarvios. Rodrigues introduziu, com um toque infeliz, a bola nas próprias redes e o Benfica passou assim a vencedor. Com este golo, os encarnados fizeram recuar os seus interiores com a preocupação manifesta de segurar o resultado, passando só a mostrar-se perigoso em alguns contra-ataques conduzidos pelo avançado-centro ou pelos extremos. O Olhanense passou efectivamente a desfrutar de mais domínio, mas a equipa não teve talento para levar de vencida a bem organizada defesa dos lisboetas. Os algarvios, deslocando para o centro do terreno o extremo Eminêncio, miram constantemente na pecha de afunilar o «jogo» e, deste modo, deram toda a vantagem ao compartimento defensivo do Benfica. Feliz era uma autêntica muralha intransponível e a grande vontade de Eminêncio que realmente foi grande, desfez-se na colocação e subtileza do defesa central do Benfica. Desta forma, foram ainda os «encarnados» que desperdiçaram oportunidades mais flagrantes de tento: - os pés de Corona teimaram, em frente de Abraão em atirar o esférico para as nuvens ou para os lados. Por tudo isto, a vitória pertenceu, sem dúvida, à equipa que soube utilizar melhor táctica e que mais ocasiões de golo teve à frente dos olhos. O Olhanense também pode alegar que não teve felicidade nalguns lances capitais e que a vitória dos lisboetas resultou de um lance desafortunado de um seu defesa. Duas decisões do árbitro muito discutidas. Houve duas decisões muito discutíveis neste encontro e muito discutidas pelos algarvios. A primeira refere-se à validação do primeiro golo do Benfica; a segunda diz respeito a uma bola que Fernandes despachou já dentro da baliza. Este lance verificou-se aos 12 minutos da segunda parte. Dado o local em que nos encontrávamos no campo, pudemos observar com exactidão qualquer das jogadas. Na primeira, tanto os protestos dos jogadores como os protestos do público, não tinham razão de ser. Arsénio endossou a bola em profundidade a Júlio e este realmente, quando lhe tocou, não tinha defesa algum adversário à sua frente, mas, quando o esférico partiu dos pés de Arsénio, o defesa Rodrigues estava à frente de Júlio e foi ultrapassado pelo marcador do golo durante a marcha da bola. De aqui o erro em que incorreram o público e os jogadores locais, pedindo a invalidação do golo por fora de jogo. No segundo caso, a bola, rematada por Salvador, passou por entre um aglomerado de jogadores e ultrapassou efectivamente o risco da baliza. Foi já dentro da baliza que Fernandes despachou a bola. Neste lance, os demorados protestos com razão de existir, mas, por outro lado, o árbitro, devido ao grande aglomerado de jogadores, não pôde aperceber-se da entrada da bola e, por conseguinte, não podia em consciência validar o golo. O ataque do Benfica não carburou bem a vitória da turma visitante assentou no bom trabalho dos sectores defensivo e médio. Os avançados tiveram uma tarde muito discreta. Coroas não esteve à altura de substituir Rosário; falhou nos internamentos necessários e, no capítulo de remate, foi verdadeiramente nulo. Por outras palavras, remeteu, mas sempre mal... A linha dianteira do Benfica claudicou ainda em ligação pela falta de apoio dos interiores, principalmente de Pascoal, que raras vezes - se alguma vez houve - executou um passe em boas condições aos seus companheiros. Lutou muito, mas isso não bastou... Arsénio tentou e por várias vezes conseguiu - estabelecer entendimento com Júlio e Corona. Valeu, no entanto, o valor individual de Rogério e de Júlio, que, além de se mostrarem muito empreendedores, foram também os elementos que criarem os lances de maior perigo. Os médios Moreira e Ferreira despenderam generosa actividade, apontando-se-lhes apenas o senão de levantarem muito o jogo. Em insistências de ataque, Francisco Ferreira inferiorizou-se ao companheiro. Rosa, nas balizas, actuou com segurança, executando duas ou três defesas muito erradas. Como já atrás dissemos, Félix realizou excelente partida. Sempre que entrou em luta com Cabrita, nunca perdeu um lance, e quando defrontou Eminêncio não permitiu a este nenhuma folga... Fernandes esteve mais próximo de Feliz, e Jacinto manteve-se na sua toada muito certa, mas no primeiro tempo, em luta com Eminêncio, foi algumas vezes batido pela velocidade deste. Sistema errado dos algarvios. Na segunda parte, quando o Benfica se colocou cautelosamente à defesa, o Olhanense não pôde explorar convenientemente o facto. Em vez de abrir o jogo pelos extremos, adoptou o processo a que já nos referimos de «afunilar» os seus ataques. Do sector avançado, Salvador teve um período na segunda parte muito bom, mas os seus companheiros não souberam tirar partido do seu magnífico labor. Cabrita foi apenas notado em algumas jogadas de desmarcação e no golo que obteve. Eminêncio, a extremo, foi o avançado mais perigoso. João da Palma, muito lento, agarrou-se demasiadamente à bole. Soares, realmente com boa intuição para o lugar de extremo, prejudicou-se com a sua tendência para as jogadas «menos limpas». Grazina inferiorizou-se a Acácio, mas no arranque para a bola foi um pouco demorado. Da defesa, Loulé e Rodrigues exibiram-se em bom plano. Nogueira, na segunda parte, fraquejou muito. Abraão executou algumas excelentes defesas, não sendo culpado nos golos. O árbitro À parte os lances a que já nos referimos, o Sr. Cunha Pinto pereceu-nos não usar do melhor critério quando puniu Júlio, por duas vezes, por carga. Esses lances seguirem-se a uma das «broncas» e por isso quis-nos parecer que o árbitro, desorientado de momento, se tenha deixado influênciar pelo público. ANTÓNIO DIAS %% 1950/02/50-02-13/19500213.4.txt Título: COVILHÃ, 3-LUSITANO, 0 Subtítulo: A extraordinária actuação de Isaurindo nas redes dos algarvios dificultou o trabalho dos dianteiros locais Data: 13 de Fevereiro de 1950 Domínio: Comentário/relato de jogo Autor: JOÃO OLIVEIRA Fonte: Mundo Desportivo CAMPO DR. SANTOS PINTO COVILHÃ COVILHÃ, 3-LUSITANO, 0 A extraordinária actuação de Isaurindo nas redes dos algarvios dificultou o trabalho dos dianteiros locais SPORTING DA COVILHÃ - António José; Roqui, Pedro Costa e José Pedro; Diamantino e Fialho; Livramento, Martin, Carlos Ferreira, Tomé e Guedes. LUSITANO - Isaurindo; David, Caldeira e Branquinho; Faustino e Madeira; Mortágua, Pedroto, Luís, Raul e Angelino. Árbitro - José Sarandezes (Lisboa). O encontro entre o Sporting da Covilhã e o Lusitano de Vila Real de Santo António despertou bastante interesse entre os desportistas locais, que compareceram em elevado número no Estádio Dr. Santos Pinto. A partida entre «leões da serra» e algarvios teve um aliciante agradável. A extraordinária actuação do guarda-redes visitante do melhor que se tem presenciado na Covilhã constituiu a nota aliciante do desafio. Os dianteiros locais procuraram com afinco atingir as balizas dos adversários Isaurindo, porém, frustrou-lhes quase todos os intentos. Os covilhanenses obtiveram três golos, é certo, mas os dois primeiros surgiriam de lances em que as culpas não podem ser assacadas ao guarda-redes visitante. No primeiro, na sequência de um canto, estava tapado por dois companheiros e não conseguiu ver a trajectória da bola. No segundo, de castigo máximo, as suas possibilidades eram quase nulas. Os covilhanenses acusaram demasiadamente a falta do seu excelente avançado- centro titular, Simonyi, magoado ainda do último desafio. Os atacantes esportinguistas precipitaram-se muito nos momentos decisivos, permitindo a entrada valorosa dos defensores contrários ou as intervenções magníficas de Isaurindo. O resultado de 3-0 é diminuto ante a superioridade que os vencedores exerceram nos noventa minutos de jogo. Os algarvios só de espaços a espaços conseguiram acercar-se das redes do Sporting da Covilhã. As suas tentativas, porém, foram facilmente anuladas pelos defensores dos locais. Na 1ª parte, 2-0 a favor dos «leões da serra». Os covilhanenses cedo deram a noção do seu ascendente técnico e territorial. Aos dois minutos obrigaram Isaurindo à sua primeira grande defesa, blocando em voo um poderoso remate de Carlos Ferreira. Depois do avançado-centro haver desperdiçado boa oportunidade de abrir o activo, por o remate lhe ter saído com má direcção, os algarvios sofreram idêntico percalço, em bola mal apontada pelo seu interior esquerdo. O Lusitano numa interessante reacção urdiu algumas avançadas, perigosas. Assim, aos 8 minutos, António José teve que se lançar corajosamente para anular um potente remate de Angelino Os «leões da serra», porém, em breve voltaram a assediar os algarvios. A primeira bola do desafio surgiu aos vinte minutos na sequência de um canto executado por Guedes e em que DIAMANTINO, com um oportuno golpe de cabeça, anichou a bola nas redes contrárias. O Lusitano foi punido com um livre ao pé da grande área, por mão intencional de Caldeira. Diamantino, porém, apontou o castigo para fora. Aos 29 minutos o Sporting da Covilhã elevou a marca para 2-0. Carlos Ferreira foi derrubado por Caldeira dentro da área de rigor, pelo que o árbitro assinalou a respectiva penalidade máxima. FIALHO com um pontapé bem colocado, frustrou a tentativa de Isaurindo para deter o esférico. Uma cerimónia no intervalo do desafio. No intervalo do encontro e com as equipas formadas a meio campo, entraram no terreno de jogo vários dirigentes locais para acompanharem o vice-presidente da Associação de Futebol de Castelo Branco, Sr. Júlio Inácio da Costa, na cerimónia da entrega da valiosa Taça Preparação, brilhantemente conquistada pelo Sporting da Covilhã. Martin obteve a 3.ª bola dos locais A feição do encontro no segundo tempo manteve-se como nos 45 minutos iniciais. Superioridade técnica e territorial dos covilhanenses e aturado trabalho do último reduto defensivo dos algarvios. O Lusitano nos primeiros vinte minutos concedeu três cantos seguidos, que marcados nada resultaram. MARTIN, com um poderoso remate, aos 2I minutos, conseguiu atingir as redes de Isaurindo, de nada valendo a estirada deste. Até ao fim do encontro as duas equipas, especialmente a dos locais, desperdiçaram várias oportunidades de marcar. Contudo, ou por imperícia dos atacantes ou por decididas intervenções dos guarda-redes, o resultado não sofreu alteração. Os jogadores e o árbitro Nos vencedores, quase todos os elementos estiveram em plano muito igual. Roqui, Fialho, Livramento, Guedes e Carlos Ferreira sobressaíram nalguns lances. Nos vencidos, além de Isaurindo, que foi o melhor elemento em campo, creditaram-se de bom trabalho Faustino, Pedroto e Angelino. O Sr. José Sarandezes realizou excelente arbitragem. JOÃO OLIVEIRA %% 1950/02/50-02-13/19500213.5.txt Título: SP, BRAGA, 0- V. GUIMARÃES, 1 Subtítulo: O empate não é resultado injusto, mas a equipa de Braga actuou em condições de inferioridade, pois jogou só com dez elementos Data:13 de Fevereiro de 1950 Domínio: comentário/relato de jogo Autor: ALBERTO LOBO Fonte: Mundo Desportivo SP, BRAGA, 0- V. GUIMARÃES, 1 O empate não é resultado injusto, mas a equipa de Braga actuou em condições de inferioridade, pois jogou só com dez elementos SPORTING DE BRAGA - Cesário; Palmeira e Abel; Daniel, Marques e Joaquim; Arias, Diamantino, Mário, Fonseca e Sardinha. VITÓRIA DE GUIMARÃES - Silva; Ferreira e Armando; Magalhães, Costa e Miguel; Franklin, Rebelo, Teixeira da Silva, Brioso e Custodio. Árbitro - Borques Leal (Lisboa). O Sporting de Braga não teve a sorte pelo seu lado no tradicional jogo minhoto, que atraiu ontem ao campo da Ponte numerosa assistência, embora não superasse a do encontro anterior, certamente pela incerteza do tempo, ameaçador de chuva, que ainda veio a cair no decorrer da segunda parte efectivamente, o grupo de Braga, privado do seu extremo direito logo aos dois minutos e tendo de suportar essa desvantagem até final do encontro, viu a sua melhor formação, já de si inicialmente diminuída pela falta de Elói, peça preciosa do seu mecanismo, fortemente desarticulado e com as possibilidades extraordinariamente reduzidas. Com o seu incontestável talento e grande vivacidade. O habilidosíssimo Diamantino tentou ainda, a espaços, suprir a falha aberta no lado direito da ofensiva bracarense, acorrendo a centrar, actuando como extremo, ora a buscar e conduzir jogo, no papel de interior. Mas era impossível, era sobre-humano. E, além disso, os choques eram por vezes rudes de mais para o frágil jogador esportinguista. Jogo áspero Porque, deve dizer-se, o encontro nem sempre decorreu na toada mais aconselhada e... desejável. A rivalidade existente entre os dois grupos, o desejo de afirmar supremacia, aquecido pelo próprio ambiente que cercava o campo levou em muitas ocasiões a excessos condenáveis, que a autoridade do árbitro nem sempre foi bastante para evitar. A partida sofreu com isso, e foi pena, porque a dificuldade que os grupos encontravam para construir o resultado e o empenho posto na luta podiam, muito bem, proporcionar um excelente espectáculo desportivo. Já na segunda parte os bracarenses procuraram remediar, por outro modo, o mal que os atormentava, fazendo aproximar Daniel dos quatro atacantes que restavam. O recurso surtiu efeito e dele resultou, sem dúvida nenhuma, período de acentuado domínio que os esportinguistas alcançaram desde o reinício e mesmo o seu tento, que chegou a radicar a impressão de que o triunfo lhe pertenceria. Mas a solução tinha os seus perigos, bem visíveis nas reacções rapidamente lançadas pela equipa de Guimarães. Por mais de uma vez a classe de Cesário teve de compensar as facilidades assim oferecidas aos dianteiros visitantes, sem conseguir, no entanto, evitar as suas consequências fatais quando a vitória parecia não poder já escapar à sua equipa. Resultado aceitável? O resultado é justo? Não inteiramente. O Vitória, em casa alheia, lutou com extraordinária vontade, E se pode atribuir-se ao grupo de Braga maior quinhão de vantagem, realçado o facto da sua inferioridade numérica a verdade é que os visitantes também tiveram o seu médio centro, Costa, fortemente magoado e em muitos aspectos não foram inferiores aos adversários. A equipa contou com uma boa defesa e com um elemento, o seu interior direito, para a transmissão do jogo. Rabelo neste particular, teve realmente actuação digna de nota, fazendo passar o seu grupo, rapidamente, da defesa para o ataque. com excelentes entregas e oportunos lançamentos aos extremos. Esteve nele, sem dúvida, a origem da maior parte das ofensivas do Vitória e a razão de ser do empate alcançado nos últimos momentos. A marcha do jogo Após um minuto de silêncio em memória do Sr. tenente Joaquim Martinho, antigo director do Sporting de Braga, a partida começou com um avanço para cada lado, a experimentar forças, o nervosismo dos jogadores prejudicava a urdidura dos lances. O grupo da casa foi o primeiro a desenvolver o ataque de perigo, pelo lado esquerdo, mas Mário desperdiçou a oportunidade, atirando por alto. Os locais insistiram e Arias, com um golpe de cabeça, fez, passar a bola sobre a barra, estando as redes desertas. A jogada inutilizou o extremo direito de Braga, que se magoou num braço, abandonando o terreno para não mais voltar. Embora reduzidos a dez unidades os bracarenses não perderam ânimo e procuraram toada de domínio a que o Vitória respondeu bem, tendo Rebelo um remate ao lado dos postes. A feição viva que caracterizava o encontro originou um período de dureza a que o árbitro procurou pôr termo, sem o conseguir inteiramente. Desta maneira enérgica resultaram alguns lances perigosos e em consequência disso o médio-centro vimaranense teve de abandonar o terreno fortemente contundido, regressando dez minutos depois. Antes disso, Diamantino perdera excelente oportunidade, atirando a bola ás mãos de Silva, depois de se libertar dos defesas contrários. E até ao intervalo foi Custodio quem desfrutou da melhor oportunidade, mas Cesário salvou em bom estilo. Recomeçado o jogo, Braga apareceu a forçar o ataque, com Daniel em posição adiantada a apoiar a ofensiva. O ímpeto dos locais forçou a defesa visitante a conceder dois «cantos», sem consequências. O Vitória procurou sacudir a pressão, mas não o conseguiu e, aos 25 minutos, os bracarenses marcaram. Daniel apontou um livre quase sobre o limite da grande área; a bola foi atirada para o lado direito da baliza de Silva, donde SARDINHA perante um aglomerado de jogadores a enviou ás redes o ponto fez crescer ainda mais o grupo local e o Vitória teve um período de cerrada defesa das suas balizas, do qual a equipa se saiu com sorte algumas vezes. Silva executou excelente defesa a grande remate de Fonseca quando segundo tento parecia iminente e o facto pareceu dar novo impulso aos visitantes, que aproveitando a folga dada pela colocação adiantada da defesa bracarense, lançaram dois rápidos ataques, os quais foram dificilmente anulados por Cesário. O grupo da casa pareceu não se aperceber do perigo e quando o resultado parecia vir a não sofrer alteração e o público começava a abandonar o campo, Custodio, aos 42 minutos, desceu velozmente pela esquerda, fez chegar a bola aos pés de TEIXEIRA DA SILVA e este com um bico atirado de baixo para cima à boca das redes, estabeleceu o empate. Jogadores e árbitro Já falámos em alguns dos jogadores que mais se distinguiram. A Daniel e Diamantino, no grupo de Braga podemos acrescentar Fonseca e António Marques. E no vitória, além de Rebelo, há que citar Costa, Miguel e Custodio e ainda Teixeira da Silva pela maneira como seguiu o ponto. O Sr. Borques Leal teve partida difícil de dirigir, mas não se saiu mal, embora, por vezes, se lhe notassem falhas de autoridade. ALBERTO LOBO %% 1950/02/50-02-13/19500213.6.txt Título: SETÚBAL, 0 - SPORTING, 1 Subtítulo: A equipa lisboeta desorganizou-se ante o entusiasmo e energia dos setubalenses, que venceram com brilho, continuando sem perder no seu campo Data: 13 de Fevereiro de 1950 Domínio: Comentário/relato de jogo Autor: MANUEL MOTA Fonte: Mundo Desportivo SETÚBAL, 0 - SPORTING, 1 CAMPO DOS ARCOS SETÚBAL A equipa lisboeta desorganizou-se ante o entusiasmo e energia dos setubalenses, que venceram com brilho, continuando sem perder no seu campo VITÓRIA DE SETÚBAL - Baptista; Jacinto, Primo e Fontes; Pina e Gonçalves; Passos, Nunes, Inácio, Ataz e Vasco. SPORTING - Azevedo; Barrosa, Passos e Juvenal; Canário e Juca; Jesus Correia, Vasques, Wilson, Travaços e Albano. Árbitro - Vieira da Costa (Porto). Ganham-se e perdem-se desafios com bolas que se marcam e tentos que se desperdiçam. O Sporting pode argumentar que não venceu a partida de Setúbal porque, em três lances, o esférico foi repelido pela trave e pelos postes com o guarda-redes adversário já batido. É verdade. Todavia, casos desses ocorrem todos os domingos, em todos os campos. E, sendo meros incidentes do jogo, entraram no caminho das coisas triviais. Os «leões» podem, evidentemente, apresentar essa atenuante. Simplesmente, o que fica para além desse condicionalismo, é a impressão nítida, absorvente, de que foi justa a vitória setubalense. Justíssima mesmo; e, mais ainda brilhante. O Vitória forjou o triunfo a golpes de energia, de entusiasmo, de vigor. Deu uma magnífica lição de brio, de amor-próprio e de sentimento clubista, batendo-se de princípio a final do encontro com o mesmo ardor, a mesma tenacidade. Sem um desfalecimento, sem um período, sequer, de abrandamento. Nos primeiros dez minutos houve a sensação de que os leões regressariam a Lisboa com os dois pontos da vitória. O Sporting, nesse lapso de tempo, jogou realmente bem, com princípio, meio e fim, impondo-se com um tento aos dez minutos, a concretizar a supremacia. Porque o ponto espevitou os setubalenses. Deu-lhes mais apego à luta, mais bravura, passe a expressão. O grupo visitante sentiu o golpe vigoroso, vibrado de alto a baixo pelo adversário e nunca mais conseguiu organizar-se. Perdeu o ritmo e acabou por se desagregar, por vezes dando até a impressão absoluta de desorientação evidente. Porque os sadinos não tinham uma paragem, uma interrupção, uma quebra. Sempre a mesma rapidez desconcertante. Sempre a mesma aplicação, a mesma invulgar centelha a fazê-los vibrar num esforço que se via, que se sentia, desde a defesa ao ataque. Os interiores leoninos cedo acusaram a maneira decidida como os setubalenses batalhavam. E o Sporting ficou praticamente sem ataque, tão notório era o retraimento de Vasques e Travaços ante jogadores destemidos, dispostos a todos os sacrifícios, voluntariosos e desembaraçados. Houve no «onze» do Vitória, como é natural, elementos que se distinguiram. Mas o que deu a nota mais impressiva da sua exibição foi o conjunto, a renuncia ao individualismo, todos à procura de um triunfo que seria difícil, eles sabiam-no bem, mas que a ser obtido ficaria valorizado pela categoria do adversário. Não há vencedores antecipados. O Sporting, diga-se em abono da verdade, foi uma equipa que nunca deixou de estar na brecha para a luta. Também se bateu bem. Também se aplicou, salvo uma ou outra excepção, em busca dos tentos que lhe dessem o triunfo ou, a partir de certa altura, o empate. Nada custa dizer isto porque é verdade... Mas, em conjunto, os setubalenses dominaram os «leões» em todos os predicados indispensáveis para se conquistar um êxito na base da vontade e do querer. Isto é, os rapazes do Vitória quiseram melhor, com mais firmeza, que os do Sporting. A capacidade física dos locais tornou-se, desde os dez minutos de jogo, tão clara que nela deve filiar-se o mérito do seu brilhante triunfo. Porque, deve acrescentar-se, só uma condição física perfeita, como a que os sadinos mostraram, lhes podia permitir o luxo de jogarem praticamente os noventa minutos no mesmo ritmo constante. Sabemos que, efectivamente, o Vitória está a ser preparado pelo professor de educação física Serradas Duarte. E não será descabido chamar para este facto, aliás decisivo, a atenção geral. A preparação fieira tem de estar na base de qualquer equipa que queira impor-se. O Vitória repare-se, tem quase o mesmo grupo da época passada. E, contudo, que diferença! O esforço desenvolvido pelos locais encontrou, em muitos sectores do «onze» lisboeta, réplica adequada. Para o final do encontro, quando o resultado estava ainda em 2-1, os lisboetas lançaram-se numa ofensiva persistente, um tanto desnorteada, porém, e sem êxito. Porque, se ao ataque os setubalenses imprimiam velocidade ao seu jogo, na defesa mantinham-se com um fulgor de todos os instantes, sem um lapso, sem uma perda de atenção. O Sporting, contudo, falhou em dois pontos vitais da equipa falhou pelos interiores... E essa falha, visível para toda a assistência, mesmo a que era favorável ao Sporting, tinha de reflectir-se no rendimento global do grupo. Depois, o Sporting entrou numa toada de jogo diferente da habitual. Há preciosismos a mais e remates a menos. E há, principalmente, um avançado centro que pode progredir, não o contestamos, mas que por ora fraqueja por falta de desembaraço, de rapidez, diríamos de cabeça. Um remate à trave, quando havia 1-1, uma oportunidade mal perdida quando havia 2-1, podem ter sido as «chaves» da vitória setubalense, que o mesmo é dizer da derrota esportinguista. Insistimos, todavia, neste ponto: o Vitória suplantou o Sporting em muitos capítulos, os suficientes para que o grupo do Sado merecesse ganhar. E de aqui se conclui que não há vencedores antecipados e que a tradição pode ser uma força. Ela diz-nos que o Sporting luta sempre com insuperáveis dificuldades em Setúbal e que, na presente época, seria necessária muita decisão e energia em «todos» os seus jogadores para derrubarem o belo recorde dos setubalenses que nos Arcos o pior que fizeram foi um invulgar 5-5 com o Estoril... Os primeiros avisos Na primeira avançada, digamos, um remate de cabeça de Wilson foi devolvido por um poste. Albano acorreu à recarga e o mesmo poste voltou a repelir a bola... Mais duas descidas dos «leões» forçaram Baptista a outras tantas intervenções, para imediatamente se ver o Vitória ao ataque, com desenvoltura e certo perigo. Vasco, batendo Barrosa em velocidade, apareceu duas vezes em frente das redes de Azevedo e em ambas levantou a bola. Era o primeiro aviso... Entretanto, o Sporting manteve-se superior, fazendo até um jogo de boa marca, com Juca e Canário em evidência, fornecendo aos dianteiros belíssimos passes. Já então o desafio ganhara uma toada de extremo vigor, sucedendo-se os lances de entradas rijas, na defesa do Vitória, a varrer o terreno. Pina, no Vitória, orientava a equipa no sentido ofensivo e dos seus movimentos sairam muitas dificuldades para os visitantes. Globalmente, porém, o Sporting estava a ser superior. De modo que não surpreendeu o primeiro ponto, marcado aos dez minutos por Jesus Correia, mas com o quê de «esquisito». Uma apitadela de fora do campo paralisou os jogadores. E quando estes verificaram que não fora o árbitro quem interrompera o jogo, houve as naturais hesitações. Mais lesto, Jesus Correia correu para as balizas e com um remate rasteiro, de viés, colheu Baptista ainda hesitante... O Vitória caiu, imediatamente, a fundo sobre o meio campo leonino. Azevedo teve de executar a primeira defesa trabalhosa e no seguimento do lance um remate de Nunes roçou o poste. Nesta altura, contudo, os lisboetas mantinham-se na brecha, prontos a responderem taco a taco. A iniciativa do ataque ainda lhes pertencia. Mas era evidente que os sadinos cresciam a olhos vistos, enquanto o ataque do Sporting começava a ser uma sombra de si próprio. O empate, aos vinte e um minutos, não teve nada de inesperado. Uma entrada vagarosa de Passos, batido pela maior rapidez de deslocação de Nunes, e este sózinho em frente das redes. Saída de Azevedo, a tentar impedir o remate, e toque para as balizas desertas. O empate enervou os visitantes. A tal ponto que passaram a ser frequentes os lances de bola alta, até porque os dianteiros do Sporting não tinham tempo para executar. As antecipações dos adversários queimavam à nascença as tentativas de Travaços e Vasques e no meio de ambos Wilson deixava-se dominar por Primo, que é pedra de valor do sistema defensivo dos locais. Com Pina a forjar ataques sobre ataques, Nunes a conduzi-los e Vasco a tentar rematá-los, os setubalenses atingiram o último quarto de hora em jeito de ofensiva porfiada. Por duas vezes os «leões» atravessaram grandes dificuldades e numa delas, a primeira, foi Canário quem evitou o tento já sobre a linha da baliza. Azevedo foi, então, o guarda-redes mais em acção. Mas perto do intervalo os lisboetas tiveram um assomo de energia, ganharam um canto e no prosseguimento da jogada o remate de Wilson, de cabeça, levou a bola a esbarrar na trave, por cima. Confirmação! No princípio do segundo tempo viu-se novamente o Vitória lançado ao ataque. Havia, porém, poucos minutos querido Wilson desferiu um fortíssimo remete e a bola, mais uma vez, encontrou a barra... De facto, os lisboetas, apesar de tudo, estavam sem sorte! A rapidez dos setubalenses mantinha-se. Era impressionante, diabólica. Os esportinguistas viam-se em sucessivos apuros, e o mal de equipa agravara-se, entretanto, porque Canário e Juca pareciam fatigados. O segundo tinha, até, muita dificuldade em suportar o ritmo imprimido ao jogo pelos adversários. Aos dez minutos o Vitória abriu caminho para o seu sensacional triunfo. Um pontapé sobre as redes de Azevedo, que repeliu a bola a soco, recarga de Passos e entrada fulminante de Vasco, em voo. O Sporting ainda respondeu. Os lisboetas pareciam dispostos a operar a reviravolta, jogando com firmeza. Uma descida de Jesus Correia foi cortada por entrada irregular de Primo, sendo o livre atirado para fora por Barrosa. E o Vitória não parava! Dir-se-ía que os setubalenses tinham começado agora a partida, tanta a frescura ainda evidênciada. A reacção dos visitantes terminou, pode dizer aos dezanove minutos, quando Travaços, já então a extremo, saiu do campo magoado. O Sporting ficou sem uma unidade válida embora fosse uma unidade que não estava a dar o rendimento preciso. Mas, mesmo assim, sempre era um homem a menos... O jogo de ataque dos «leões» passou a fazer-se em esforços individuais. Com energia, realmente, vendo-se Barrosa a tentar empurrar os companheiros, a arrastá-los para luta mais cerrada, mais sem tréguas, mas sem coordenação. A defesa ainda foi frequentemente chamada a intervir, e Passos, aos vinte e cinco minutos, beneficiou de uma ligeira hesitação de Vasco para impedir que este, a poucos metros das redes, rematasse. Cinco minutos depois um centro de Jesus Correia abriu a defesa setubalense, Baptista ficou batido, por ter deixado cruzar o jogo, e Wílson perdeu inexplicavelmente uma ocasião soberana. Logo o Vitória replicou para ganhar um canto e Vasco quase imitar Wilson... E com os lisboetas a tentarem o empate, que ainda estava ao seu alcance, embora parecesse difícil de conquistar, os setubalenses confirmaram o seu brilhante êxito. Gonçalves fintou três adversários, deu a bola a Inácio e este, sem a deixar tocar no solo, deu-lhe violentamente ao caminho das redes. Havia quarenta e dois minutos de jogo. Tudo ficou acabado, então o Vitória continuava e não perder no seu campo. Algumas referências pessoais Não é demais acentuar que o Vitória ganhou muitíssimo bem. Os próprios adeptos do Sporting o reconheciam, no final do desafio... Lamentando que os interiores não tivessem dado o rendimento desejado, que e defesa oferecesse algumas vezes o flanco e que, em conjunto, os «leões» tivessem sido subjugados pela extraordinária rapidez, pelo enorme entusiasmo dos setubalenses. E também pelo seu invulgar vigor, a revelar uma condição física de grande expoente. No Sporting, Azevedo teve defesas muito difíceis, porque os dianteiros do Vitória nunca lhe deram liberdade, carregando-o sempre, principalmente nas bolas altas. Para nós, o guarda-redes esportinguista não teve responsabilidade em qualquer dos tentos. Os companheiros da defesa oscilaram um tanto. Algumas hesitações, principalmente de Passos, no começo de cada tempo; embaraços de Barrosa provocados pela rapidez de Vasco; maior certeza, mais regularidade, de Juvenal, que nunca virou a cara aos adversários. Para o final do encontro a defesa «leonina» melhorou e Passos chegou a brilhar. Barrosa distinguiu-se pela tenacidade que revelou e tentou em vão que irradiasse para os avançados... Canário e Juca jogaram muitíssimo bem na primeira parte. Canário, no segundo tempo, foi menos brilhante e Juca decaiu muito. A velocidade do jogo tornou-se demasiada para ele. Quanto ao ataque, ressalvam-se algumas tentativas de Jesus Correia e que podiam ter resolvido o jogo, e a boa vontade de Wilson. Boa vontade a que faltou, todavia, orientação e desembaraço. Os interiores retraíram-se demasiadamente. Demasiadamente, insistimos. Albano fez o possível para se ver livre da bola... No Vitória, repita-se, o que se impôs foi o conjunto, o vigor e a condição física de todos os jogadores. E se é licito salientar alguns deles, vão as melhores referencias para Primo, Jacinto, Pina, Nunes, Ataz e Vasco. Pina pode, mesmo, colocar-se em primeiro plano em relação a companheiros e adversários. Boa arbitragem Viera da Costa, o conhecido árbitro portuense, realizou trabalho à altura do seu justificado renome. O desafio só perto do final teve alguns aspectos desagradáveis, originados num incidente entre Jesus Correia e Baptista, com culpas para este, e logo propagado a outros elementos. Mas tudo veio a acabar em bem! Até então o encontro, apesar de disputado com ardor, fora o que se costuma designar por um autêntico jogo de campeonato. MANUEL MOTA %% 1950/02/50-02-13/19500213.7.txt Título: ACADÉMICA, 0 - Belenenses, 2 Subtítulo: Entusiasmo e energia, equilíbrio na luta - e dois deslizes dos conimbricenses, que os ((azuis)) aproveitaram para obter os seus tentos Data: 13 de Fevereiro de 1950 Domínio: Comentário/relato de jogo Autor: EDMUNDO TAGARRO Fonte: Mundo Desportivo ESTÁDIO JOSÉ M. SOARES, LISBOA Entusiasmo e energia, equilíbrio na luta - e dois deslizes dos conimbricenses, que os ((azuis)) aproveitaram para obter os seus tentos ACADÉMICA, 0 - Belenenses,2 BELENENSES - Caetano; Figueiredo, Feliciano e Serafim; Rebelo e Frade; Narciso, Pinto de Almeida, Sidónio, Duarte e Diógenes. ACADÉMICA - Tito; Branco, Curado e Brás; Castela e Azeredo; Melo, Duarte, Macedo, Serra Coelho e Garção. Árbitro - Reis Santos (Santarém). Todo o encontro de ontem - disputado nas Salésias entre os Belenenses e a Académica - se caracterizou por acentuado equilíbrio, pelo entusiasmo e energia postos na luta pelas duas equipas e, vamos lá, pelo razoável comportamento dos estudantes, que se apresentaram sem três elementos titulares do «onze» - Capela, Pacheco Nobre e Bentes. Perante tão enfraquecida formação, esperar-se-ia que os «azuis» correspondessem não só à sua maior categoria mas também ao belo resultado obtido oito dias antes, contra o Benfica. Não sucedeu, porém, assim. O grupo de Belém, possivelmente confiando em demasia, teve de empregar-se a fundo contra um adversário que usou armas iguais ás suas: voluntariedade, espírito de equipa, de sacrifício, e, por vezes, mais notório entendimento global. A primeira parte - precisamente o período de jogo que mais interessou, tanto no aspecto de movimentação como no de aplicação, de parte a parte - terminou com o marcador em branco. Pode afirmar-se, com referência a esse período, que os Belenenses tiveram mais demorada permanência no meio campo da equipa visitante, mas também é de justiça dizer que das ocasiões consideradas perigosas para qualquer das balizas, foram os estudantes os que mostraram mais desembaraço em criar uma ou duas. No segundo tempo, e com a maioria dos jogadores (mais os da Académica) rendidos pelo esforço anteriormente feito, também a partida não acusou grande desnível territorial e técnico em desfavor de qualquer dos grupos. E aconteceu, porventura em dois lances de pouca consistência ou de nenhuma eficácia, que a defesa dos escolares incorreu em dois deslizes - os precisos para que os «azuis», atentíssimos, soubessem tirar partido da situação - dos considerados irremediáveis e de efeitos notoriamente desgastadores da aplicação certa demonstrada antes. Claro que, com toda a naturalidade e com o maior proveito, os Belenenses não pensaram mais do que conservar a vantagem e até de a aumentar. Não foi isso possível e a Académica, sem dúvida nenhuma merecedora de averbar um tento a seu favor, ficou batida, sem apelo dos valiosos trunfos postos à sua mercê. Luta entre avançados e defesas Como já dissemos, o encontro circunscreveu-se essencialmente à luta porfiada oferecida pelos sectores defensivos aos respectivos sectores atacantes - ou vice-versa. Apesar do bom começo dos «azuis», ao ataque, foram os estudantes que primeiro deram noção de confiança no reduto defensivo. Com duas ou três intervenções acertadas de qualquer dos elementos do reduto defensivo, e ainda com outras tantas seguras defesas executadas pelo guarda das balizas, os escolares ganharam imediatamente superioridade na colocação, quer no terreno onde lhes incumbia actuar, quer na posição a adoptar em relação ao adversário. Sucedeu o mesmo com os homens da defesa dos Belenenses, logo que foram experimentados por algumas tentativas dos avançados da Académica. Nivelados em acção, neste particular, e no rendimento dos avançados, as equipas viveram, em grande parte, das iniciativas dos seus médios. Castela, com aplicação permanente durante os primeiros quarenta e cinco minutos do desafio, fez prevalecer a melhor qualidade do jogo ofensivo da sua equipa. De insistência em insistência com bons cortes dos lances aos avançados contrários, o médio direito de Coimbra impulsionou várias vezes o seu ataque, solicitando com passagens bem julgadas tanto o interior do seu lado como, com propositados cruzamentos, o extremo do lado esquerdo. Foi precisamente Garção - também neste período - o avançado que melhor correspondeu ao esforço do companheiro, logo seguido por Serra Coelho. Por parte dos Belenenses, porém, nem Rebelo nem Frade puderam dar amparo firme à sua linha de ataque. É certo que quando de posse da bola na maioria dos casos captada pelos despachos longos da defesa os atacantes de Belém não deixaram de caminhar com decisão para a baliza de Tito. Mas, umas vezes por virtudes da defesa de Coimbra (e com Tito a defender superiormente um belo remate de Sidónio, e outro não menos esplêndido, de Diógenes) e outras por certo desentendimento ou ânsia de levar longe de mais a corrida com a bola nos pés, nenhum avançado lisboeta soube encontrar o caminho livre para se aproximar da baliza e poder, com perigo, apontar com possibilidades de êxito. Umas quantas infiltrações de Diógenes, fintando habilmente o defensor que o marcava, puseram emoção nos lances - mas só isso. Um aparatoso remate de cabeça executado por Sidónio, e que levou a bola a passar poucos centímetros acima da barra, teve espectaculosidade - e nada mais. Pelo que tocou à tarefa ofensiva dos estudantes também se pode dizer que ela foi igualmente aparatosa, mas nula. Uma troca de passes entre Macedo, Melo e Duarte - e que este rematou ao lado e um centro de Garção a que Melo não acorreu com a presteza devida; ainda uma boa jogada de Garção, à qual Caetano se opôs com excelente defesa, ficaram sem finalidade. E, sem forçar, pode acrescentar-se ao «balanço» deste tempo que aos «azuis» ficou pertencendo a oportunidade de encetarem o marcador, principalmente quando, à beira do intervalo, Narciso executou precioso centro a quem ninguém (belenenses e estudantes) acorreu; e quando Duarte, sem adversário perto, se precipitou ao tentar visar a baliza. Os dois tentos dos Belenenses A possível dose de sorte que havia faltado aos «azuis», nos últimos momentos da primeira parte, ficou compensada no recomeço da partida. Logo de entrada, com os defesas quase postados na linha divisória do campo, Tito defendeu com os punhos uma bola que se encaminhava perigosamente para a sua baliza e Sidónio, depois de troca de passes entre Pinto de Almeida e Narciso, que o colocaram em boa posição de remate, falhou o lance com todas as culpas para si. Estava escrito, porém, que os Belenenses não ficariam sem tirar fruto da sua pressão e não faz ao caso que tivessem beneficiado de um deslize de Tito. A jogada de ataque desenvolvida aos 11 minutos teve princípio, meio e fim. Derivou de lance de resposta a uma avançada da Académica, que Feliciano interceptou. Duarte, ao captar a bola, organizou de pronto uma descida pela esquerda, que ele próprio completou visando a rede. Tito não conseguiu segurar a bola, deixando-a ressaltar para a frente, e Pinto de Almeida atento ao movimento do companheiro, não demorou a fazê-la anichar nas redes. Oito minutos depois, e em lance fortuito, os visitados marcaram pela segunda e última vez. Branco ofereceu o flanco esquerdo, adiantando-se do seu lugar; Castela também não conseguiu travar a corrida de Duarte e, depois de recuar para proteger a baliza, colocou-se na trajectória da bola, impedindo a acção de Tito. Ainda procurou opor-se ao centro do interior esquerdo de Belém, mas foi infeliz quando a bola lhe tabelou no corpo e tomou a direcção da baliza. Momentos antes, em jogada confusa, toda a gente teve a impressão de a bola ter transposto o risco fatal. Toda a gente menos Brás, que interveio no último instante, e o árbitro, que, colocado perto, não validou o pretenso golo. Com a vantagem adquirida os Belenenses puderam, então, tranquilizar-se. Notou-se azáfama na equipa para melhorar o resultado, mas os estudantes, sem se darem por convencidos, não deixaram de pensar em organização ofensiva. O certo é que, depois do segundo tento, a Académica teve ainda energias para dar trabalho à defesa dos Belenenses. Duarte, servido excelentemente por Melo, perdeu ensejo para minorar a derrota; Melo imitou-o pouco depois, e quando toda a defesa visitada se encontrava batida. Mas os últimos «fôlegos» pertenceram ainda ao ataque dos lisboetas, registando-se uma «perdida», de Narciso e, no último minuto, uma defesa arrojada de Tito aos pés de Sidónio. Os vinte e três elementos do jogo O triunfo premiou, sem dúvida, a equipa de mais poder atlético. O factor preparação física influiu no comportamento dos lisboetas, visto que no aspecto técnico os grupos se equivaleram. Não foi de grande nível o futebol exibido, mas o encontro, passado um período em que os jogadores tenderam para a dureza (Curado e Duarte, interior lisboeta, estiveram fora do rectângulo a receber assistência dos massagistas) seguiu-se com agrado. Os dois guarda-redes, Caetano e Tito, creditaram-se de boas intervenções. Nas defesas, aparte a já reconhecida tendência de Figueiredo para o jogo violento, estiveram aplicados Serafim e Curado, Branco, Brás e Feliciano alternaram períodos de valia com outros de discrição. Se Castela tem mantido a exibição do primeiro tempo, teria conquistado, sem favor, plano de relevo maior do que os restantes médios, visto nem Rebelo, nem Frade, nem Azeredo terem sustentado o ritmo certo do jogo, em colocação e em iniciativas. Dos avançados, o melhor, a espaços, foi Diógenes. Garção, o outro extremo esquerdo, ganhou notoriedade no primeiro tempo. No segundo foi pouco servido. Serra Coelho e Duarte (dos «azuis») não tiveram «pernas» para todo o encontro. Pinto de Almeida, Sidónio e Macedo equivaleram-se. Melo desapareceu da cena depois de uma entrada mais impetuosa de Serafim; e Narciso, activo em alguns lances, esteve precipitado noutros. Duarte o interior da Académica, foi o mais discreto dos atacantes. Reis Santos dirigiu o encontro com bom critério, e só nas cargas a destempo acusou ligeiros erros de interpretação. EDMUNDO TAGARRO %% 1950/02/50-02-13/19500213.8.txt Título: ATLÉTICO, 2 - "O ELVAS", 2 Subtítulo: Oscilações na equipa lisboeta - Réplica enérgica e decidida dos alentejanos, que alcançaram o tento do empate a 15 segundos do fim Data: 13 de Fevereiro de 1950 Domínio: Comentário/relato de jogo Fonte: Mundo Desportivo ATLÉTICO, 2 - "O ELVAS", 2 Oscilações na equipa lisboeta - Réplica enérgica e decidida dos alentejanos, que alcançaram o tento do empate a 15 segundos do fim ATLÉTICO - Ernesto; Baptista, Armindo e Abreu; José Lopes e Morais; Martinho, Teixeira da Silva, Ben David, Armando Carneiro e Caninhas. ELVAS - Roger; Osvaldo, Neves e Oliveira; Comes e Sousa; Vieira, Massano, Patalino, Cadete e Teixeira. Árbitro - Paulo Oliveira (Santarém). O jogo de ontem, na Tapadinha, teve vários lances de emoção. Quase só isso, de emoção. Já não é pouco, convenhamos. No aspecto técnico raramente se galgou a barreira da vulgaridade. Os contendores empregaram-se na luta com entusiasmo. Não se pouparam. Sofreram e aplicaram cargas rudes quase sempre com olímpica indiferença. Olímpica, claro, no sentido lato da palavra. Não se vá julgar outra coisa... O Atlético terminou a primeira parte com o merecido avanço de 1-0. No segundo tempo, aos 24 minutos, os elvenses estabeleceram o empate, sem que o facto provocasse surpresa. Todavia, os lisboetas reagiram, conseguindo superiorizar-se no marcador a 9 minutos do fim. Esperava-se que o resultado não passasse por mais alterações, mas quando apenas faltavam 15 segundos para o termo da partida, os alentejanos restabeleceram o empate. E pronto: tudo ficou decidido... Oscilações na equipa do Atlético Os lisboetas desfrutaram de mais amplo domínio territorial. Estiveram, inquestionavelmente mais perto da vitória que os visitantes. Mas alternaram bons períodos de jogo, no que se refere apenas à pertinácia na ordenação de lances ofensivos, com outros pródigos em hesitações claras e comprometedoras. Acumularam deslizes em quase todos os capítulos do jogo, passando, colocando-se, rematando e desmarcando-se defeituosamente. Só nunca economizaram energias. O seu espírito batalhador serviu-lhes ontem de muito. As oscilações na equipa do Atlético resultaram, todavia, de deficiências próprias ou das virtudes do adversário? Quando os elvenses se lançaram ardorosamente no ataque, procurando chegar à baliza o mais depressa possível, à custa de rápidas desmarcações, de passes rasos e de destemor pelo choque, a defesa adversária, claudicou bastas vezes. Não atinava com o melhor sentido de colocação. Receava ver-se desfeiteada nas antecipações. Hesitava, não podia com êxito recuperar o terreno perdido. Quando os elvenses jogavam a bola pelo ar tudo era então mar de rosas para os atléticos. Diga-se, no entanto, que foram fugidios os momentos de fulgor por parte dos avançados alentejanos, cuja equipa se preocupou assaz com os movimentos defensivos, embora diligenciando sempre beneficiar de surpreendentes contra-ataques. Os dianteiros lisboetas também complicaram demasiadamente o seu trabalho. Notamos-lhes certa tendência para os lances de carácter individual. Não souberam tornear o obstáculo constituído por defesa ânimosa e decidida, abrindo o jogo, de maneira a provocar mais favoráveis ensejos de passes e remates executados com acerto e visão. %% 1950/03/50-03-06/19500306.1.txt Título: " O ELVAS”, 3 - ACADÉMICA, 3 Subtítulo: A defesa alentejana comprometeu a sua equipa no período em que se registou uma forte reacção dos conimbricenses. Data: 6 de Março de 1950 Domínio: Comentário/relato de jogo Autor: Matos Serras Fonte: Mundo Desportivo " O ELVAS”, 3 - ACADÉMICA, 3 A defesa alentejana comprometeu a sua equipa no período em que se registou uma forte reacção dos conimbricenses ELVAS - Roger; Osvaldo, Neves e Oliveira; Cadete e Sousa; Vieira, Massano, Patalino, Teixeira e Manuelito. ACADÉMICA - Capela; Branco, Curado e Diogo; Castela e Azeredo; Pacheco Nobre, Duarte, Macedo, Serra Coelho e Bentes. ÁRBITRO - Filipe Gameiro Pereira (Lisboa). Os contendores imprimiram grande rapidez ao desafio. E esbanjaram também energias. O empate ajusta-se ao desenrolar da partida. Técnica e territorialmente registou-se sensível equilíbrio. Por tudo isto, até o sol primaveril ajudou... o encontro despertou entusiasmo e merece as agradáveis notas de movimentado e bem disputado. Uma das facetas que mais contribuíram para a valorização do desafio foi a oscilação do marcador. Na primeira parte cada equipa tinha alcançado um tento. No segundo tempo, a energia e a rapidez não abrandaram, até quando os elvenses chegaram a 3-1. A partir deste momento, no entanto, os conimbricenses reagiram ânimosamente e tão bem sucedidos foram que puderam restabelecer o empate. Nesse período os estudantes desfrutaram de superioridade, mas deve dizer-se que alguns lapsos da defesa adversária contribuíram largamente para o êxito da sua esforçada reacção. Ao contrário do costume, os defesas alentejanos constituíram, desta vez, o sector mais incerto da equipa. Nalguns momentos da segunda parte estiveram mesmo irreconhecíveis. Roger, o guarda-redes, foi, no entanto, o menos mau, principalmente durante o período em que a desorientação se apossou dos elvenses. Apontamentos do jogo Logo na primeira avançada o Elvas se mostrou perigoso. Curado, porem, com um golpe de cabeça, parou o forte remate de Teixeira. Aos 5 minutos, Pacheco Nobre, ao explorar um «falhanço» de Oliveira, atirou a bola sobre a trave. Aos 17 minutos, Massano apontou um canto e Patalino, entre vários jogadores, rematou de cabeça. A bola foi repelida para perto e Patalino executou a recarga, defendendo Capela sobre a linha da baliza. Aos 25 minutos, surgiu o primeiro tento, mas nas redes dos alentejanos. Pacheco Nobre serviu Macedo em boas condições. O avançado-centro dos estudantes, em frente de Roger, atirou à figura do guarda-redes, que desviou a bola sobre a direita. Pacheco Nobre voltou a centrar e Macedo voltou a rematar, desta vez com êxito. Três minutos depois, porem, os elvenses estabeleceram o empate. Capela saiu das redes para interceptar uma bola, mas falhou; e Manuelito com um remate de cabeça, introduziu a bola nas redes. Aos 34 minutos, Capela, em choque com Patalino, executou grande defesa. E quatro minutos depois o guarda-redes da Académica voltou a evidênciar-se, ao parar um «tiro» disparado, à queima-roupa, por Vieira. Na segunda parte, aos dois minutos, Teixeira apareceu isolado defronte de Capela, depois de ter passado Curado. Rematou mas a bola saiu por sobre a trave. Aos 12 minutos, Serra Coelho, de longe alvejou as redes. Roger adiantou-se, mas falhou a intercepção, valendo-lhe na emergência Osvaldo, que repeliu a bola quando esta já estava quase sobre a linha da baliza. No lance imediato, Capela defendeu muito bem um remate fortíssimo de Teixeira. Aos 19 minutos, Vieira avançou pela direita e, junto à bandeirola de «canto», centrou com boa conta, proporcionando a Teixeira um remate de cabeça, de que resultou o segundo ponto doe alentejanos. Três minutos depois outro tento nas redes de Capela, este na transformação de uma grande penalidade. Na área de rigor, Curado «rasteirou» Patalino. Teixeira encarregou-se da execução do respectivo castigo e Capela, em magistral voo, parou o tiro. A bola, porém, foi devolvida para perto. E Teixeira, desta feita beneficiando do alheamento de Branco, atirou o esférico para dentro da baliza. Seguiu-se então o fulgurante e bem sucedido período de supremacia dos estudantes. Aos 27 minutos, Bentes, beneficiando da indecisão de Nunes, rematou. A bola bateu no poste e Macedo, na recarga, rectificou a pontaria do seu colega, transformando o segundo tento da Académica. À meia hora, precisamente, 3-3 - o resultado final. Bentes atirou fortemente e a bola só pôde ser repelida para perto pelos defensores, que se, haviam aglomerado junto das suas balizas. E na embalagem o mesmo Bentos estabeleceu, finalmente, a igualdade. Dois minutos volvidos, Massano apareceu bem colocado para desfazer o empate. Todavia, demorou muito o remate, acabando por atirar a bola à figura do hercúleo Capela, que executou difícil defesa para «canto». Jogadores e árbitro No Elvas, os médios formaram o sector mais regular da equipa. Dos defesas já falámos. Entre os avançados, Patalino e Manuelito estiveram várias vezes em foco. Os interiores não cumpriram, perdendo-se em fintas demoradas e por vezes desnecessárias, que retardaram a progressão e conclusão das jogadas. Na Académica, a defesa revelou segurança, com relevo para Capela. Pacheco Nobre também se distinguiu, a despeito de, no princípio do jogo, ter sofrido um ferimento no sobrolho, provocado por um choque com Oliveira. Duarte esteve melhor do que Serra Coelho, que pecou por lentidão. Macedo serviu bem os extremos e não se deixou anular por Neves. Bentes ressentiu-se do mau jogo que o seu interior lhe forneceu. Os médios de ataque agiram com regularidade, embora os adversários lhes tivessem dado muitas largas. Bem auxiliado pelos fiscais de linha, o árbitro desempenhou-se muito bem da sua missão. Apenas um lapso: ter, no começo do jogo, transformado uma «bola fora» num pontapé de «canto» contra a Académica. MATOS SERRAS %% 1950/03/50-03-06/19500306.2.txt Título: SETÚBAL, 2 - SP. COVILHÃ, 0 Subtítulo: Os setubalenses beneficiaram da falta de remate da equipa serrana, que em conjunto lhes foi nitidamente superior. Data: 6 de Março de 1950 Domínio: Comentário/relato de jogo Autor: Vasco Rocha Fonte: Mundo Desportivo SETÚBAL, 2 - SP. COVILHÃ, 0 Os setubalenses beneficiaram da falta de remate da equipa serrana, que em conjunto lhes foi nitidamente superior VITÓRIA DE SETÚBAL. - Baptista; Jacinto, Beirão e Primo; Pina e Orlando; Passos, Ataz, Inácio, Nunes e Vasco. SPORTING DA COVILHÃ - António José; Roqui, Francisco Marques e José Pedro; Diamantino e Fialho; Livramento, Martin, Carlos Ferreira, Tomé e Guedes. ÁRBITRO - António Rodrigues dos Santos (Lisboa). Os desportistas setubalenses não esperariam certamente que a equipa da Covilhã, no encontro de ontem, disputado no terreno onde esta época baquearam grupos de mais renome, manifestasse indiscutível supremacia em todos os capítulos do jogo, excepto no remate, aliás o nó dos problemas futebolísticos. O Vitória sadino ou actuou abaixo das suas possibilidades ou então tomou conhecimento com uma crise de forma. Talvez as duas hipóteses se conjuguem um pouco. De facto, os setubalenses são capazes de desenvolver futebol de mais qualidade, mas também já não exibem aquela crença que os guindou, ainda não há muito tempo, a posição de relevo. Portanto, um período de crise, embora de fácil remédio, é de admitir. Aliás coisas que naturalmente sucedem ás equipas que disputam longos e árduos torneios. Todavia, reportando-nos exclusivamente ao desafio de ontem, há que analisar também a actuação da equipa setubalense por outro prisma, quem sebe se o mais verdadeiro: os esportinguistas da Covilhã, passados alguns momentos iniciais de hesitação, demonstram clara supremacia. Principalmente na segunda parte, chegou a ser um regalo vê-los em plena carburação. A bola deslizava de uns para os outros sem atritos de maior, ora em pequenos e hábeis toques, ora em cruzamentos bem calculados. A defesa mostrava-se sólida. Médios e interiores denotavam vastos conhecimentos no processo de fazer chegar, o mais lestamente possível, a bola ao campo adversário. Em pormenores de execução individual, superioridade indiscutível. Nas antecipações e na luta pela posse de bola, singeleza e eficácia a toda a prova... ...Só no remate!... Que pena terem falhado em tão importante capitulo do jogo! Assim, a sua bela exibição foi uma espécie de... sinfonia incompleta. O avançado-centro Carlos Ferreira ainda despediu dois ou três remates perigosos, que obrigaram Baptista a outras tantas defesas de categoria. Mas no comando das operações na zona de tiro, onde avulta o trabalho do avançado-centro, criando aos colegas e a si próprio ensejos de remate certeiro, falhou muitas vezes. Conclusão: fez falta Simonyi!... Virtudes dos setubalenses Forçando um pouco a nota, quase poderia dizer-se que os setubalenses só tiverem de bom os dois tentos que obtiveram, o segundo dos quais na altura em que era mais nítida a supremacia técnica e territorial dos serranos Mas, claro, os sadinos, em relação aos adversários, também tiveram virtudes. Uma delas, de inquestionável importância: mais decisão no remate. Outra, também de tomo: a vontade e a energia com que se aplicaram na luta. Assim, puderam conquistar o triunfo perante uma equipa tecnicamente superior. Não tiveram certamente culpa da imperícia ou da má sorte dos adversários no remate... Os dois tentos foram apontados por Inácio, um em cada parte. O primeiro registou-se aos 20 minutos. Um passe de Vasco para Inácio e este, beneficiando de uma entrada em falso de Marques, introduziu a bola nas redes, com um toque brando. O segundo surgiu aos 38 minutos do segundo tempo. O Sporting estava ao ataque franco. Os seus defesas, adiantados no terrenos e um tanto despreocupados, foram batidos primeiro por um passe de Ataz e depois por um rasgo de Inácio, que, valendo-se da sua velocidade, se aproximou das balizas o suficiente para disparar remate certeiro. Os setubalenses raramente ordenaram lances de ataque com princípio, meio e fim. A sua defesa e os seus médios viram-se por demais enleados na teia de passes executados pelos adversários. E os avançados, combativos embora, e também mais afoitos no disparo à baliza, deixaram-se, com frequência, desarmar ou então davam todas as facilidades aos defesas covilhanenses, ou porque se embrulhavam desnecessariamente com a bola, ou porque a entregavam precipitadamente e em muitas ocasiões ao colega menos apto para dar seguimento ao jogo. Isso não abateu, no entanto, a que houvessem provocado situações de apuro à defesa adversária. Com um pouco mais de sorte, teriam robustecido até o seu triunfo! Lances principais da partida Eis os apontamentos do jogo, que reputamos de mais importância. PRIMEIRA PARTE - 6 minutos: primeiro remate perigoso, arrancado por Tomé. Baptista correspondeu com uma boa defesa. Um pouco antes, António José havia interceptado, com acerto, um difícil centro de Asas, 8 minutos - Jacinto, ao tentar passar ao seu guarda-redes, fê-lo com um pontapé alto e forte. Baptista foi por isso coagido a uma defesa de apuro, da qual saiu magoado. O jogo esteve interrompido cerca de 3 minutos, por esse motivo. 26 minutos - Carlos Ferreira, beneficiando de um lapso de Beirão, ficou isolado em frente de Baptista, mas atirou violentamente por cima da trave. 35 minutos - Outro remate de Carlos Ferreira, este certeiro. Baptista, porém, executou defesa de categoria, atirando como recurso a bola para «canto». SEGUNDA PARTE - 11 minutos: Nunes escapou-se à vigilância da defesa, mas diante das redes mais não conseguiu do que provocar uma dificílima defesa a António José. 33 minutos - Depois de um «canto» apontado da esquerda, os avançados do covilhanense, especialmente Tomé, tiveram o golo à sua mercê. Mas a bola ficou pregada ao terreno enquanto vários pés lhe passaram por cima! Roqui realizou excelente exibição O defesa covilhanense Roqui esteve ontem em plano de grande evidência. Levou quase sempre a melhor contra um adversário impetuoso como é Vasco. Ágil, rápido e seguro na luta pela posse da bola e nas antecipações. Francisco Marques, António José e José Pedro (pela ordem) também se distinguiram. Os médios acompanharam, conscienciosamente, o ritmo da equipe, quer ao ataque, quer à defesa. Martin foi o melhor avançado e Livramento o mais discreto. Baptista evidenciou-se na equipa setubalense. Os defesas tiveram altos e baixos. Os médios mostraram-se empreendedores. Pina realizou até exibições de agrado. Entre os avançados, Inácio esteve, como de costume, muito mexido, mas também muito complicativo. Fez-se valer da sua rapidez em dois momentos capitais da luta. Os outros seus colegas também não atingiram craveiras mentoras. Até Nunca... O árbitro O trabalho do juiz da partida, Sr. António Rodrigues dos Santos, caracterizou-se pela regularidade. Apenas, nos primeiros passos do encontro, um ou dois lapsos de somenos. Depois, tudo bem. VASCO ROCHA %% 1950/03/50-03-06/19500306.3.txt Antetítulo: 2ª Divisão Nacional Título: Torriense, 3 - União de Coimbra, 0 Data: 6 de Março de 1950 Domínio: Comentário/relato de jogo Autor: Fernando Pires Fonte: Mundo Desportivo Torriense, 3 - União de Coimbra, 0 O vencedor da partida de ontem em T. Vedras, entre torrienses e Conimbricences cedo começou a apresenta-se. Desejosos de se evidênciarem perante o seu público, os torrienses iniciaram o jogo em clara toada de ataque. E assim se mantiveram até ao intervalo, impondo-se da defesa a linha da frente, submetendo os unionistas de Coimbra a aturado labor defensivo. Os avançados, servidos pela inspiração de Fadié, a abrir o jogo, ora para a esquerda, ora para a direita gizaram lances de bom recorte, a que não faltou o ponto final o remate. Mas nas redes dos conimbricenses estava um Celso em tarde de muito acerto, a defender tudo, mesmo o que parecia não ter remédio. Se o União de Coimbra chegou ao fim do primeiro tempo sem sofrer tentos, deve-o em grande parte à acção do seu guarda-redes, o maior obstáculo à vitória do Torriense. A segunda bola, que com uma defesa colossal de Celso na primeira parte, voando para arrebatar o esférico a Carlos Alberto, nos ficou na retina como as melhores fases do encontro, tranquilizou o Torriense. O seu jogo, porém, baixou da bitola a que se guindara, permitindo ao União da Lusa Atenas algumas descidas até à grande área dos visitados, sem perigo aparente. Um tento irregular, nos últimos minutos da partida, que o árbitro validou, pôs o resultado absolutamente de harmonia com o aspecto do jogo. TORRIENSE - Idalécio; Camocho e Acácio; João Carvalho, Amílcar e Góis; Andrade, Fadié, Carlos Alberto, Portas II e Portas III. UNIÃO DE COIMBRA - Celso; David e Velha; Silva, Carvalho e Faria; Lopes, Mário, França, Belarmino e Teixeira. ÁRBITRO - Libertino Domingues, de Setúbal. Como atrás dissemos, o Torriense dominou intensamente na primeira parte. O jogo desenvolveu-se no meio campo defendido pelos conimbricenses, que tiveram de multiplicar-se na defesa para anular os ataques dos locais. Obrigado a ceder alguns cantos, por vezes, até, sem necessidade, o União de Coimbra viu passarem-se os minutos, uns de sorte, outros em que patentearam o valor da sua defesa, sem que o adversário pudesse colar a bola ás malhas das redes do portentoso Celso. A baliza dos azuis foi alvejada constantemente, de todos os ângulos e para todos os lados. Mas aquela área de sete metros era intransponível. Celso defendeu-a galhardamente, escutando demorados aplausos. Aplausos de satisfação, porque Celso é de Torres Vedras e jogou muitos anos no Torriense. Na segunda metade do desafio, a toada dos locais não se modificou. Esta defesa tem de ceder pensaram os torrienses. E quando iam decorridos onze minutos, POR-TAS II, com um forte remate rasteiro, desferido aquém da área de rigor, alcançou o primeiro tento. Outros tantos minutos se passaram e novamente PORTAS II, com uma calma impressionante aprestou a bola vinda de Góis, e, entre David e Carvalho, tocou-a por cima de Celso, na direcção precisa, quando aquele saiu ao seu encontro. Os unionistas de Coimbra, aproveitando a folga que os adversários lhes deram após o segundo ponto, entregaram-se a rápidas incursões, sem êxito. Chegava o fim do encontro, quando Portas III, em jogada de insistência, executou um centro a cair sobre as redes. Celso e FADIÉ pularam, com intenções diferentes, e o interior do Torriense, com a mão, empurrou a bola para a baliza, a fixar o resultado. Os conimbricenses protestaram. Mas Libertino Domingues, depois de consultar o seu auxiliar, validou o ponto. A vitória do Torriense não tem contestação e podia ser, até, mais expressiva. A equipa de ontem, sendo a mesma que defrontou o Académico de Viseu, foi, contudo, diferente, servida por onze vontades que se entregaram à luta com entusiasmo e forte desejo de ganhar. Amílcar, Góis, Andrade e Fadié estiveram sempre em nível elevado. João Carvalho, chamado a ocupar o lugar de Raul desapareceu no segundo tempo. Dos restantes, salientemos Acácio e Portas II, Carlos Alberto, perseguido como uma sombra por Carvalho, rendeu menos que o normal. O União de Coimbra, tal como ontem se nos mostrou, é equipa sem garra e sem poder de infiltração. Claro, esta análise não deve corresponder aquilo que o União de Coimbra na verdade vale. A carreira na fase inicial do campeonato, pode confirmar o nosso pensamento. No entanto, pelo que vimos o Torriense, os conimbricenses apenas estiveram bem na defesa, com relevo para Celso. Os sectores médio e avançado, andaram perdidos no rectângulo, sem uma orientação definida. Mário procurou, sempre que lhe surgiu uma oportunidade, ordenar o grupo no caminho do ataque. Foi remar contra a maré... Libertino Domingues teve trabalho difícil, pois o jogo caiu por vezes em dureza. Soube impor-se quase sempre, mas, para tanto, não era preciso aquele concerto de apito... Errou no julgamento do lance que originou o terceiro tento dos locais e assinalou algumas faltas a beneficiar o infractor. FERNANDO PIRES %% 1950/03/50-03-06/19500306.4.txt Titulo: F.C.Porto, 1 - Olhanense 1 Subtítulo: O duelo Alfredo-Cabrita, os dois melhores em campo, foi o único atractivo de um desafio que os algarvios jogaram quase sempre à defesa Data: 6 de Março de 1950 Domínio: Comentário/relato de jogo Autor: Rodrigues Teles Fonte: Mundo Desportivo F.C.POrto 1 - Olhanense 1 F. C. PORTO - Barrigana; Virgílio, Alfredo e Carvalho; Gastão e Romão; Vital, José Maria, Monteiro, Joaquim e Sanfins. OLHANENSE - Abraão; Rodrigues, Nogueira e Loulé; Acácio e Grazina; Soares, Santos, Cabrita, João da Palma e Eminencio. ÁRBITRO - Santos Marques (Lisboa). O duelo Alfredo-Cabrita, os dois melhores em campo, foi o único atractivo de um desafio que os algarvios jogaram quase sempre à defesa. Não pode dizer-se que o F. C. Porto tenha sido feliz neste jogo com os algarvios, mas, por outro lado, pode também afirmar-se que os olhanenses mereceram o empate. Deram-se as duas coisas e mais o seguinte: exibição inferior dos portuenses ao ataque, uma exibição que desiludiu quantos assistiram ao seu trabalho de oito dias antes. Os adeptos locais saíram do campo um tanto aborrecidos com o trabalho dos seus favoritos, que não souberam concretizar, durante a primeira parte, o grande domínio exercido, perdendo-se sempre na luta contra uma defesa dura como a olhanense. Os dianteiros do F. C. Porto, com um pouco mais de serenidade, poderiam passar para o segundo tempo sem as preocupações que vieram a experimentar. O número de ocasiões perdidas pelos «azuis-brancos» na frente da baliza de Abraão deu ideia de haver pouca sorte pelo seu lado, mas também o facto corresponde ao bom esforço dos defensores olhanenses. A falta de domínio de bola por parte dos nortenhos, que jogaram exageradamente com a bola no ar, justifica também a sua falta de êxito neste desafio. Quando o primeiro e único tento portuense apareceu, já tarde, notava-se certo desassossego no público e enervamento nos jogadores. O tento foi marcado aos 39 minutos, numa jogada de Monteiro da Costa, em que, primeiramente, a bola foi devolvida em recurso por Abraão e Loulé, mas encaminhada por fim para as redes por Vital. Todavia, dois minutos depois, um canto desnecessário de Virgílio foi marcado muito bem por Eminêncio. A bola tomou efeito enganador para Barrigana, que a deixou escapar das mãos para dentro das balizas. O empate, feito com alguma sorte e na melhor altura por os algarvios, trouxe a estes o necessário alento, mas nem por isso deixaram de continuar a jogar acentuadamente sobre a defesa. No segundo tempo, viram-se as equipas dentro de toada mais igual. Os algarvios, no entanto, marcando mais de perto os adversários e provocando paragens e demoras do jogo - sempre consentidas por arbitragem benévola ou incoerente - saíram várias vezes do seu meio campo em contra-ataques velozes, só não vencendo a oposição de Alfredo, Carvalho e Virgílio. Não fora o trabalho acertadíssimo, mesmo brilhante, do defesa central do Porto e talvez a segunda parte do desafio «complicasse» ainda mais o resultado para os nortenhos. O empate obtido pelos homens do Algarve, veio assim a justificar-se Inteiramente, mesmo tomando em conta que as ofensivas portuenses se fizeram sensivelmente na proporção de três para uma, verificando-se, porém, uma média de remates em nível baixo e até desmoralizador. Em verdade, o excelente jogo da linha dianteira portuense, exibido há oito dias contra o Vitória de Setúbal, não teve confirmação. Nem um só homem da frente pôde exibir-se com a capacidade então revelada, com ligeira excepção para José Maria. Como desculpa, apenas pode apontar-se o mau jogo ontem fornecido por Gastão e Romão, que entregaram a bola constantemente pelo o ar e nunca para um elemento desmarcado, o defeito grande da equipa residiu na maneira como se deixou conduzir para a toada imposta pelos homens do Olhanense. Os portuenses viram-se também algumas vezes prejudicados porque os adversários incorreram em sucessivas prisões de pernas que o árbitro raramente castigou. Mas é evidente que os campeões do Algarve souberam conquistar em campo estranho um magnífico ponto. O grupo suportou excelentemente o domínio do Porto, não renunciando ao ataque sempre que a defesa contrária lho consentiu. O melhor atractivo do desafio esteve até no duelo Cabrita-Alfredo. O provável avançado-centro nacional deixou excelente impressão no público, pois manteve-se com galhardia na frente de um defesa que está no melhor da sua forma. Alfredo e Cabrita nunca viraram a cara ás dificuldades e, se o portuense levou quase sempre a palma, não é menos certo que o valoroso olhanense criou as situações mais difíceis para a baliza do Porto. Cabrita só uma vez ultrapassou em corrida o defesa central, mas toda a sua linha foi posta em movimento em lances que o tiveram por orientador. Depois de Cabrita, distinguiram-se Soares e João da Palma, embora lento, o veterano Grazina e a defesa. A maneira rude como os algarvios da defesa entraram à bola provocou alguns atritos... Repetimos que o sistema abusivo de prender o adversário, em lances de perigo iminente, deveria ter merecido cuidados ao árbitro. Analisada no decorrer da critica a inferior actuação dos avançados portuenses, estamos ainda em acreditar que a passagem de Joaquim para a linha da frente e as mudanças de Vital e Monteiro possam ser possíveis à equipa. Os erros tácticos do F. C. Porto, que foram muitos neste desafio, agravaram-se ainda com a falta de sorte nos remates do primeiro tempo... A baixa dos médios de ataque apressou o enervamento dos homens da linha avançada, e isso compreendeu o Olhanense à medida que o desafio se aproximava do fim, tornando-se então ameaçadores, a ponto de perderem excelente ocasião de passar do empate para a vitória. Foi nesta altura que Cabrita conseguiu transpor Alfredo pela única vez... Já dissemos o suficiente sobre a arbitragem de Santas Marques. O público reclamou a certa altura grande penalidade contra os algarvios, mas sem razão, se atendermos que também Virgílio cometera falta semelhante momentos antes mas ambas casuais. O ponto fraco da arbitragem, como dissemos, foi a benevolência usada para os processos de jogar dos defensores algarvios. RODRIGUES TELES %% 1950/03/50-03-06/19500306.5.txt Titulo: GUIMARÃES, 3 - S.L. BENFICA, 5 Subtítulo: O guia da classificação não chegou a experimentar dificuldade perante uma equipa que se mostrou ânimosa, mas falha de capacidade. Data: 6 de Março de 1950 Domínio: Comentário/relato de jogo Autor: Alberto Lobo Fonte: Mundo Desportivo GUIMARÃES, 3 - S.L. BENFICA, 5 O guia da classificação não chegou a experimentar dificuldade perante uma equipa que se mostrou ânimosa, mas falha de capacidade VIT. DE GUIMARÃES - Silva; Ferreira e Costa; Magalhães, Cerqueira e Miguel; Franklin, Rebelo, Brioso, Custodio e Lelo. BENFICA - Rosa; Jacinto e Fernandes; Moreira, Feliz e Francisco Ferreira; Júlio, Arsénio, Teixeira, Rogério e Rosário. ÁRBITRO - Anísio Morgado (Porto). Vencendo em Guimarães, o guia do campeonato não deixou certamente, ao cair da tarde de ontem uma tarde luminosa prenunciadora de uma linda primavera minhota de respirar fundo, tal como o bom trabalhador que, ao fim de dure jornada, limpa as bagas de suor da fronte, e olhando com satisfação o labor realizado, sempre poderá enfim repousar um pouco. O Benfica pode também realmente sentir inteira essa mesma satisfação. Há que fazer-lhe essa justiça. Tendo de enfrentar, em altura decisiva, uma cadeia ininterrupta de escolhos, a equipa não deu mostras de vacilação. De Olhão a Coimbra e de Santarém a Guimarães, ela encontrou sempre forças para ladear todas as dificuldades, conjurar todos os perigos. Com sorte algumas vezes? É possível. É coisa assente que a sorte faz também parte da bagagem das boas equipas... Confiança dos lisboetas O prélio da Amorosa, atraindo à cidade do Fundador uma avalanche de gente, entre a qual numerosíssima falange benfiquista, que se fez transportar de Lisboa em camionetas, automóveis e até de avião, não foi afinal a partida difícil que se esperava para os lisboetas e onde se admitia mesmo que eles pudessem vir a escorregar. O Benfica, com um tento no seu activo aos 6 minutos de jogo, cedo deu mostras de confiança e não mais consentiu, pela partida adiante, que o adversário pudesse perturbá-lo. A sua defesa, sem chegar a exibição de grande altura, era, no entanto, bastante forte para conter o ímpeto do ataque dos locais, um ataque de princípio a fim abandonado à sua sorte, tão fraco apoio lhe foi dado pelos médios. E, quebrado esse primeiro ímpeto dos vimaranense, foi com certo á vontade que os «encarnados» puderem desenvolver o seu jogo, ora nascendo de lançamentos de Moreira e Francisco Ferreira, ora de transportes de Arsénio e Rogério, enleando pelo tempo adiante a defesa do Vitória até levá-la à submissão. Réplica animosa dos vimaranenses Verdade seja que o grupo de Guimarães, espicaçado pela necessidade de obter dois pontos que tornassem menos trágico o seu papel no drama que se desenrola na cauda da tabela e, independentemente disso, pelo desejo de cometer a proeza de fazer baixar bandeira ao primeiro da classificação, nunca renunciou à luta. Antes pelo contrário, os minhotos, conscientes da responsabilidade do encontro, lutaram com ânimo com o ardor do desespero por vezes. Mas a sua equipa nunca alcançou o balanço indispensável para chegar à altura do adversário e actuou desmantelado por manifesta inferioridade de Magalhães e Miguel, a braços com a difícil tarefa de marcar os interiores «encarnados». E a sua linha de ataque, como já dissemos, entregue a si própria, não podia nem pôde ganhar a consistência precisa para impor um resultado favorável. Três golos na baliza do Benfica podem parecer que contrariam esta impressão. Mas há que anotar que o segundo e o terceiro tentos foram o que bem pode chamar-se brindes de Rosa, tão fraca foi a oposição que o guarda-redes «encarnado» tentou fazer-lhes. Autoridade do Benfica Assim, foi com incontestável autoridade que os lisboetas, assumindo o comando de partida, o mantiveram até final, respondendo de pronto aos golpes que puderam resultar da réplica de adversários e metendo à nascença todas as veleidades dos vimaranense. Quando o Vitória colocou o resultado em 1-1, ao quarto de hora da primeira parte, e era ainda admissível qualquer reviravolta irá marcha do encontro, os «encarnados» apressaram-se no minuto seguinte a repor a vantagem de um tento com que haviam, por dizer, começado o jogo. Foi ainda a quebrar a disposição ofensiva com que o grupo da casa regressou ao terreno após o intervalo que o Benfica elevou a marca para 3-1. E depois, atingida por um dos brindes de Rosa, de que já falámos, reduzida ao mínimo a vantagem, a equipa limitou-se a carregar no acelerador para decidir definitivamente a contenda. Francisco Ferreira, até ai actuando sem grandes rasgos, apareceu então com toda a sua fibra de jogador. O ataque passou a mostrar-se mais incisivo, as redes de Silva foram continuamente metralhadas e a obra de demolição do reduto defensivo dos minhotos consumou-se, embora a resistência oferecida tivesse sido porfiada. Rogério, com dois golos consecutivos, acabou o desafio quando ainda faltavam cerca de dez minutos para jogar. O Benfica venceu com inteiro merecimento o encontro e o direito à jornada que se afigura de repouso no próximo domingo. Ao descerem de Guimarães, os «encarnados» avistaram certamente, com uma nitidez maior, o ambicionado titulo do que no momento da sua chegada à cidade histórica. Relance do jogo Á hora de iniciar o encontro, o campo apresentava-se repleto de público e com grande profusão de bandeiras dos dois clubes agitando-se sobre a multidão. O Vitória foi o primeiro a atacar, mas o lance perdeu-se no lado esquerdo da defesa benfiquista. Os «encarnados» replicaram e, após uma boa ocasião perdida por Arsénio, surgiu o primeiro tento. Cerqueira concedeu «canto», a salvar jogada difícil, e Rosário apontou o castigo de tal modo que a bola veio a entrar pelo lado da baliza que estava mais próximo, surpreendendo o guarda-redes vimaranense. Seguiu-se um período de relativo equilíbrio territorial, que os vimaranense aproveitaram muito bem para empatar o jogo. O esférico foi do centro aos pés de Custodio que, em corrida, lançou remate veloz, batendo Rosa. O Benfica não se impressionou e no minuto seguinte a diferença estava reposta. Descida pelo lado esquerdo, o compartimento mais forte do ataque «encarnado», permuta de bola entre Rogério e Rosário e passe final a Teixeira. O avançado-centro benfiquista isolou-se na grande área para atirar sem defesa. Dignos de registo até final da primeira parte: uma boa ocasião perdida por morosidade de Júlio e um formidável pontapé de Costa, na marcação de um livre, proporcionando a Rosa uma soberba defesa. O Vitória pareceu regressar do vestiário em disposição de modificar as coisas e viu-se a sua equipa forçar a ofensiva. O Benfica, todavia, não deixou fugir o comando e, aos 3 minutos, registou-se novo ponto, o terceiro na baliza do Vitória. Passe do meio do terreno para Rogério, progressão deste, endosso a Teixeira e remate colocadíssimo do avançado lisboeta ao canto inferior direito, sem qualquer margem para a tentativa de defesa de Silva. O Vitória procurou ainda dar réplica; mas sem grande convicção. Aos 10 minutos, contudo, os vimaranense viram a margem desfavorável reduzida para 2-3. O médio-direito Magalhães captou a bola quase sobre a linha de meio campo, correu uns metros com ela e lançou um pontapé longo sobre a baliza de Rosa. O guarda-redes benfiquista, possivelmente atraiçoado pelo sol, calculou mal a trajectória e deixou que a bola tocasse as malhas da baliza. O Benfica forçou imediatamente o andamento, no desejo de se pôr a salvo de qualquer contingência. Arsénio, Teixeira e Júlio alvejaram as redes de Silva com remates sucessivos e potentes, mas o guarda-redes vimaranense saiu-se bem da emergência, executando algumas paradas de valor. Dois centros sobre a baliza do Vitória, a traduzir a pressão dos lisboetas, também não deram resultado. Até que, aos 35 e aos 37 minutos, Rogério, em golpes quase semelhantes, obteve os dois pontos decisivos. Até final do encontro nada mais de notável se registou, a não ser o terceiro ponto dos vimaranense, obtido por Custodio, ante a impossibilidade de Rosa e o desinteresse quase geral. Os jogadores e o árbitro Não chegando a experimentar dificuldades sérias, a equipa do Benfica não deu lugar a exibição de grande relevo dos seus valores individuais. O grupo foi bastante igual e isso é virtude. No aspecto desfavorável não pode deixar de notar-se a exibição irregular de Rosa, com algumas boas intervenções, mas com dois golos quase inexplicáveis. No trio de defesa, o mais certo foi Jacinto. Francisco Ferreira só pareceu ele próprio quando a equipa procurou assegurar o resultado. No ataque, a asa Rosario-Rogério superiorizou-se a Teixeira e Arsénio, com exibição aceitável, especialmente o último, e Júlio acentuadamente sobre o fraco. O Vitória não teve médios, como se disse, e a sua defesa vacilou muito na segunda parte. Silva não pode culpar-se do resultado, assim como Costa: os restantes muito áquem do que seria lícito esperar. E no ataque só Rebelo e Custodio são merecedores de boa nota. A arbitragem não teve falhas de vulto; e de forma alguma influiu no desfecho da pugna. Verdade seja que o Benfica se encarregou de simplificar as coisas. Alberto Lobo %% 1950/03/50-03-06/19500306.6.txt Título: ESTORIL, 2 - ATLÉTICO, 1 Subtítulo: Os estorilistas desfrutaram de ligeira superioridade no primeiro tempo e no segundo lutaram entusiasticamente para suprir a falta do seu avançado-centro e alcançar triunfo meritório. Data: 6 de Março de 1950 Domínio: Comentário/relato de jogo Autor: Edmundo Tagarro Fonte: Mundo Desportivo ESTORIL, 2- ATLÉTICO, 1 Os estorilistas desfrutaram de ligeira superioridade no primeiro tempo e no segundo lutaram entusiasticamente para suprir a falta do seu avançado-centro e alcançar triunfo meritório. ESTORIL - Sebastião; Cato, Elói e Alberto; Cassiano e Fragateiro; Gonzaga, Vieira, Mota, Nunes e Raul Silva. ATLÉTICO - Ernesto; Baptista, Armindo e Abreu; José Lopes e Morais; Neves, Armando Carneiro, Benfica David, Teixeira da Silva e Caninhas. ÁRBITRO - Evaristo Santos (Setúbal). Um «livre» contra o Estoril, que José Lopes marcou e Armando Carneiro, com Sebastião fora das redes, por pouco não transformou no primeiro ponto da partida - não havia ainda três minutos de jogo, por um quase nada que não modificou todo o «panorama» da exibição do Atlético. A ter sido aproveitada essa oportunidade, aliás flagrante, bem podia agora dizer-se que os lisboetas, com a embalagem, saberiam explorar a situação e ganhar mais forte impulso para os restantes minutos do desafio. E foi tanto mais notória a falta que esse tento fez aos visitantes que, a partir de ai, excepção feita para um belo remate de Armando Carneiro, a completar centro de Benfica David, e que a barra evitou o grupo estorilista pôde não só chamar a si o comando do jogo mas também realizar exibição que em sumo e quantidade superou ligeiramente a dos alcantarenses. A equipa do Estoril, passado um período inicial de «estudo» ao jogo do adversário (possivelmente até de inaptidão ao seu próprio jogo), começou a carburar em bom ritmo e atingiu o intervalo em plano de superioridade evidente, que a vantagem de um tento não traduziu bem. Das ocasiões criadas pelo grupo da Costa do Sol e propícias a aumentar os números do marcador falam, por si só, dois momentos de perigo iminente, e de golo ainda mais iminente que Raul Silva teve à sua disposição. Jogador esquerdino, o extremo esquerdo do Estoril perdeu, por esse motivo, os ensejos que os companheiros criaram e lhe ofereceram de «bandeja» e que se malograram por este ter preferido rematar com o pé esquerdo, entortando a direcção dos pontapés, quando, com o outro teria obtido dois tentos de belo efeito, e do melhor proveito para a equipa. Onze contra dez e vitória da equipa mais entusiástica No reatamento, o Atlético chegou muito naturalmente ao empate havia um minuto da segunda parte, e durante mais de cinco minutos impressionou visivelmente a equipa adversária e a assistência, em número regular, que acorreu ao campo da Amoreira. O tento, para mais seguido de um espectaculoso falhanço de Benfica David à boca das redes despertou novas energias aos lisboetas. Em curto espaço de tempo, Teixeira da Silva surgiu em bom momento de remate, que pecou por altura; e o Estoril pareceu ceder terreno, actuando à defesa, consentindo a subida do adversário. Mas... aos seis minutos, Armindo em entrada violenta deixou Mota prostrado no terreno. Tão espectaculoso foi o lance, e tão grande a exteriorização de dor do avançado-centro estorilista, que muito pouca gente, árbitro incluído, acreditou nas causas do acidente. No entanto, Mota foi levado em braços para o vestiário; e o Estoril teve de lutar cerca de quarenta minutos com uma unidade de menos... Com reacções diferentes, é bem possível encontrar na origem da saída de Mota os motivos que, de aí em diante, passaram e influir no rendimento dos dois grupos. O Atlético, com o empate, a desenvolver na altura jogo de melhor padrão do que o contendor, terá pensado em que as coisas passariam e correr mais de feição, na luta de onze contra dez... O Estoril, porém, terá ajuizado de outro modo. Perdida a coesão da linha de ataque, o grupo organizou-se à defesa mais acentuadamente do que antes sem, contudo, deixar de se empregar quando se lhe oferecia ocasião para investir no terreno dos lisboetas. De uma dessas ocasiões, quando faltavam treze minutos para a partida findar, Raul Silva deu à equipa o ansiado tento da vitória. Foi, então, a altura de as esperanças mudarem de campo de mudar, inclusivé, o estado psicológico das duas equipas: uma e lutar com cada vez mais crescente entusiasmo para não deixar fugir a vantagem; e outra, cada vez mais impressionada por ver os seus esforços nulos e não atinar com o rumo conveniente, a forçar o ataque para romper uma defesa que se robusteceu no desejo de não ceder terreno e soube tirar partido dos erros, por precipitação, cometidos pelos avançados contrários. Estorilistas e lisboetas No primeiro tempo, já o dissemos, a equipa do Estoril adquiriu merecida vantagem em condução do jogo, em execução, em trabalho, quer defensivo, quer atacante. Depois de cinco minutos de rendimento discreto, a equipa valorizou-se com a regular compenetração de todos os sectores, e a linha avançada soube gizar vários lances de aparato, bem sustentados pela acção dos médios, em especial de Cassiano. A exibição dos avançados estorilistas em confronto com os lisboetas chega para justificar a diferença de um tento que separou uns dos outros. Os atacantes da Costa do Sol foram sempre mais claros nos seus movimentos ofensivos. A tarefa dos médios teve imediata continuação por parte dos dois interiores e o «quadrilátero» soube, com frequência, tirar partido de algumas passagens feitas com a indispensável ligação e sentido. Embora a defesa, em lapso no recomeço da partida lapso aproveitado para o Atlético marcar o seu único tento tivesse estado várias vezes em manifesto apuro, pode do mesmo modo afirmar-se que ela se empregou com utilidade, tendo em Sebastião e Elói os melhores componentes. O grupo do Atlético quase não teve um avançado de boa percepção de jogo. Armando Carneiro, durante largo período a procurar dar ordem ao sector, vindo com frequência à zona dos médios organizar lances de ataque, não encontrou pode dizer-se companheiro que o auxiliasse. Também os médios fraquejaram muito na sua dupla missão: o mesmo se devendo dizer da defesa onde Armindo se notou pelo despique levado longe de mais com o avançado-centro do Estoril; e Ernesto, sem culpas no primeiro golo dos visitados, «colaborou», em parte, no que ditou a vitória. Se se querem fixar nomes apontem-se os de: Sebastião, com duas excelentes defesas; Elói, que sustentou boa luta com Benfica David, não o deixando pôr pé em ramo verde. Gato, que teve começo fulgurante no que se refere ás entradas aos lances e à bola, mas que, depois perdeu ritmo; Alberto, que se impôs facilmente a Neves; Cassiano, lutador esforçado; Nunes e Vieira, dois bons condutores de jogo, o primeiro, até com evidência grande no tempo em que teve de preencher o seu lugar e o de Mota, obtendo um belo golo e «oferecendo» o outro; Raul Silva, pela notória negação em utilizar o pé direito... Dos lisboetas: Ernesto, que por pouco não segurou a bola que, frouxamente dirigida para a rede, ainda lhe tocou nas mãos antes de entrar; Baptista, Morais, Armando Carneira e, a espaços Caninhas. Os tentos - e alguns lances Aos 26 minutos, depois de esplêndida jogada em que a bola passou sucessivamente de Mota para Vieira e deste para Nunes, o interior do Estoril apareceu desmarcado à entrada da grande área e com belo remate bateu Ernesto pela primeira vez. Antes, e um bom lance de Benfica David, que se desmarcou com boa conta, Armando Carneiro rematou contra a barra, falhando por pouco a transformação. Aos 32 minutos, Cassiano incorreu em falta sobre Armando Carneiro, e José Lopes, na marcação do «livre», forçou Sebastião e defesa para canto. Aos 35 e aos 37 minutos Raul Silva fez o mais difícil, atirando para fora duas bolas que Vieira lhe «entregara» para finalizar duas jogadas de boa compenetração. A seis minutos do intervalo Armando Carneiro deu trabalho aturado a Sebastião, que não segurou e bola, valendo Cassiano, que evitou perigosa recarga. Depois do intervalo e a seguir ao «falhanço» aparatoso de Benfica David, o Atlético empatou. O lance teve começo em Abreu e foi continuado pelo extremo Caninhas, que serviu Armando Carneiro. Sem demora, o lisboeta desferiu remate forte e a bola, depois de ricochetear no varão de suporte da barra, voltou para o campo. Um bom remate de Teixeira da Silva, em corrida, anunciou outras jogadas do Atlético. A entrada de Armindo sobre Mota prejudicou tão boa disposição, como já frisámos. De então até final, um esplêndido remate de Caninhas foi superiormente defendido por Sebastião; durante cinco minutos o Atlético ficou privado do concurso de Ben David, que se magoou numa colisão com Elói; e Teixeira da Silva, aproveitando uma falha de Gato, não teve sorte ao rematar, porque embateu na berra... Aos 32 minutos a vitória para o Estoril. Jogada de insistência de Nunes, que até teve tempo de preparar o remate para Raul Silva. O pontapé saiu fremo; e Ernesto, adiantado, ainda tocou na bola, que se encaminhou, por alto, para e baliza deserta. O árbitro Teve trabalho de certo modo difícil, o Sr. Evaristo Santos. O árbitro setubalense apitou muito, cortando várias tentativas quezilentas, mas não soube eximir-se a larga gesticulação (para quê?) nem a certa propensão para e condescendência com algumas jogadas irregulares provocadas por Mota e Armindo, especialmente, limitando-se a admoestações e a avisos continuados. EDMUNDO TAGARRO %% 1950/03/50-03-06/19500306.7.txt Título: LUSITANO, 5 - BELENENSES, 4 Subtítulo: Depois de estarem com duas bolas de desvantagem, os algarvios tiveram recuperação brilhante, vencendo graças ao seu entusiasmo e energia. Data: 6 de Março de 1950 Domínio: Comentário/relato de jogo Fonte: Mundo Desportivo LUSITANO, 5 - BELENENSES, 4 Depois de estarem com duas bolas de desvantagem, os algarvios tiveram recuperação brilhante, vencendo graças ao seu entusiasmo e energia. LUSITANO - Rodrigues; Hélder, Caldeira e Branquinho; Faustino e Madeira; Almeida, Pedroto, Luís, Manero e Angelino. BELENENSES - Caetano; Figueiredo, Feliciano e Serafim; Rebelo e Frade; Jordão, Pinto de Almeida, Narciso, Duarte e Palma Soeiro. ÁRBITRO - Contente de Sousa (Santarém). Poucas vezes temos visto um desafio disputado com tanto entusiasmo e energia como este. As duas equipas entregaram-se ao jogo com extraordinária vontade e o embate entre elas forneceu uma partida movimentada e emotiva. A própria marcha do resultado, a reflectir a decisão dos grupos, levou ao rubro uma assistência numerosa e disposta a incitar os algarvios. E estes corresponderam bem, encontrando, todavia, na equipa visitante a mesma aplicação, o mesmo apego à luta. De ai alguns excessos que se verificaram e para os quais contribuíram elementos dos dois lados. Belenenses e vilarrealenses não viraram a cara uns aos outros, criando complicações ao árbitro, que podia e devia ter sido mais enérgico. Uma expulsão a tempo é sempre um antídoto de violências... O público mostrou-se desagradado com o juiz de campo. Mas a verdade é que se tornava quase impossível ao Sr. Contente de Sousa agir de outra maneira, pois as faltas sucediam-se e os prevaricadores estavam numa equipa e na outra. Os nervos fizeram «estragos» em toda a gente. E não deixa de ser curioso salientar que a assistência, pouco satisfeita com o árbitro enquanto o Lusitano perdia, mudou por completo quando os algarvios se adiantaram aos «Azuis»! É assim, de resto, em todas as latitudes... Com um guarda-redes de ocasião Decididamente, o Lusitano de Vila Real não tem sorte com os guarda-redes. Privado de Isaurindo e de Balbino, nem sequer pôde chamar à equipa o guarda-redes da equipa de juniores, também fisicamente impossibilitado de jogar. Deste modo, teve de recorrer a um guarda-redes de ocasião: o da reserva de juniores. O facto, porém, não fez perder ânimo à turma lusitana. Os vilarrealenses jogaram com grande empenho, com enorme entusiasmo. Primeiro, suportando o domínio dos adversários, que durante meia hora martelaram a defesa fronteiriça, obrigando-a a tarefa difícil para evitar que a marca subisse. Depois, aproveitando um abaixamento dos «azuis», lançaram-se em ofensiva porfiada, vigorosa, numa recuperação sem dúvida brilhante e eficaz. Tão eficaz que a certa altura o Lusitano tinha duas bolas de vantagem sobre os Belenenses e só no último minuto estes puderam reduzir o seu atraso. A vitória do grupo do Algarve teve por base, portanto, a sua vontade verdadeiramente impressionante. Por outro lado, Almeida e Pedroto, baixando a bola, puderam infiltrar-se com relativa facilidade no sistema defensivo dos lisboetas, justificando assim a reviravolta do marcador. Não há dúvida, repita-se, que o excesso de confiança dos belenenses, quando atingiram 3-1, foi favorável à equipa local. Esta soube e isso constituiu uma virtude tirar partido da quebra de ritmo dos visitantes. Rodrigues, o guarda-redes subitamente metido nas complicadas andanças do futebol, saiu-se o mais airosamente possível. Em nossa opinião não foi culpado de qualquer dos tentos e na segunda parte chegou a salientar-se, denunciando qualidades a aproveitar. Dos seus companheiros da defesa, Caldeira e Branquinho estiveram em bom plano. Hélder viu-se frequentemente batido por Palma Soeiro, jogador extremamente difícil de marcar. Madeira foi o melhor médio de ataque, acudindo com decisão à defesa e prestando boa colaboração aos avançados. Contudo, os obreiros da vitória foram Pedroto e Almeida, que formarem uma ala direita excelente e compenetrada. Luís, batido por Feliciano no jogo alto, desforrou-se em lances de bola a rasar o terreno. Manero e Angelino não atingiram e craveira dos outros avançados. Não destoaram, porém, no entusiasmo e decisão, pormenores que caracterizaram o labor do Lusitano. Prejudicial excesso de confiança O «onze» das Salésias começou muito bem, demonstrando confiança nas suas possibilidades. E pode ter sido, mesmo, essa confiança, levada ao exagero depois de 3-1, que ditou a derrota dos «azuis». Até então estes tinham dominado em todos os capítulos, num ritmo de ataque amplo, na base de desmarcações e passes longos, a fugir ao jeito habitual do grupo. %% 1950/03/50-03-06/19500306.8.txt Título: SPORTING, 5 - SP. BRAGA, 2 Subtítulo: Alguns momentos de inspiração foram suficientes para os «leões» vencerem nitidamente uma equipa praticamente inofensiva. Data: 6 de Março de 1950 Domínio: Comentário/relato de jogo Autor: Manuel Mota Fonte: Mundo Desportivo SPORTING, 5 - SP. BRAGA, 2 Alguns momentos de inspiração foram suficientes para os «leões» vencerem nitidamente uma equipa praticamente inofensiva. SPORTING - Azevedo; Barrosa, Manuel Marques e Juvenal; Canário e Juca; Martins, Vasques, Wilson, Travaços e Albano. BRAGA - Cesário; Palmeiro, António Marques e Abel; Daniel e Joaquim; Cassiano, Elói, Mário, Fonseca da Silva e Sardinha. ÁRBITRO - Cunha Pinto (Setúbal). Sem ter feito exibição brilhante, o Sporting venceu com relativa facilidade um Sporting de Braga que foi praticamente indefensivo. Os minhotos chegaram a equilibrar o desafio, enquanto a equipa teve fôlego, mas nesse período, que durou cerca de uma hora, os seus avançados estiveram simplesmente inaptos a visar as balizas de Azevedo. De tal modo que este limitou a sua acção a deter passes dos companheiros e a executar, logo a seguir à segunda bola dos «leões», a única defesa difícil de toda a partida. A linha da frente do Braga, com lances vistosos a meio do terreno, nunca soube colocar-se em condições de alvejar com êxito as redes do capitão esportinguista. Note-se que também os dianteiros do Sporting não se mostraram muito engodados pelas balizas. E Cesário, que aqui e além pôde demonstrar a sua real habilidade, o seu já firme valor não encontrou muitas oportunidades para se distinguir. O grupo de Alvalade só no final do jogo, quando os bracarenses cederam agravando-se o mal com a incapacidade de Mário, pôde exercer domínio acentuado. Mas o mais curioso é que, no último quarto de hora, os lisboetas não conseguiram aumentar a sua marca e foram até os visitantes quem, de grande penalidade, ainda amenizaram o resultado. Mas é inegável que o Sporting de Lisboa conquistou triunfo absolutamente merecido, se bem que de todas as suas unidades algumas houvesse que não jogaram o habitual. Por exemplo: os dois médios de ataque. Canário e Juca não puderam repetir as boas exibições que, em regra, vinham fazendo e o rendimento do onze ressentiu-se exactamente dessa circunstância. Barroso, o melhor «leão» O grupo do Sporting talvez se tenha equivocado com a facilidade com que marcou o seu primeiro tento. A equipa estava a jogar com desembaraço, perfurando bem o sistema defensivo dos minhotos, e o ponto, obtido por Travaços com um pontapé forte à maneira antiga do jogador «leonino», pode ter deixado a impressão de que o desafio era fácil. Depois, a falta de remate dos bracarenses fez o resto, avolumou a confiança dos lisboetas. Os dianteiros de Braga não se mostraram capazes de pôr Azevedo à prova... E o jogo do Sporting baixou de tom, para só se tornar realmente próprio das possibilidades da equipa em alguns momentos de inspiração. Os suficientes, afinal, para os «leões» construírem um resultado amplo. Antes da terceira bola dos lisboetas a resistência do Braga afrouxou. O Sporting teve, então, mais períodos de bom jogo que até aí, mas sem remates condignos. Os pontapés para o alto e para os lados sucederam-se com demasiada frequência... Barrosa foi a grande figura do grupo da capital. Jogou com extrema autoridade, impondo-se completamente aos adversários, e procurando, ainda, transformar as suas intervenções em lances de ataque. No resto da defesa ninguém se evidenciou. Mas também não houve situações complicadas a resolver. Manuel Marques, a perder faculdades, inevitavelmente, foi primoroso em várias jogadas de antecipação que foram sempre a sua melhor arma... Canário não foi o «cérebro» de outras vezes. Pareceu-nos notar-lhe certo á-vontade. Juca, na primeira parte, com o sol nos olhos, cabeceou frequentemente mal e, talvez por isso, chegou a atravessar momentos de leve desorientação, caindo nas entregas de bola... aos adversários. O ataque fraquejou nos extremos. Martins foi muitas vezes servido com passes longos, que não conseguiu recolher por não possuir a velocidade de Jesus Correia. Vasques equivocou-se nesse capitulo, esquecendo-se de que ao seu lado não estava o extremo habitual. Foi, porém, o melhor avançado, mesmo com a pecha de ás vezes entravar o seguimento do jogo. Travaços, todavia, teve lances de maior fulgor, deixando-nos na certeza de que a sua condição física é agora boa. Galgou terreno com facilidade e na segunda parte decidiu-se, como não o fizera anteriormente, a entrar na zona de remate. Wilson salientou-se em meia dúzia de pormenores. Se fosse mais persistente nessas boas jogadas a sua actuação seria mais eficiente e o rendimento do ataque esportinguista melhoraria. Wilson, não há dúvida, progride, ainda que lentamente. Não lhe faltam qualidades, de resto. Avançados pouco rematadores O Sporting de Braga não foi uma equipa subjugada. Lutou bem, esforçadamente, teve períodos de jogo agradável no meio do campo, mas em frente das redes nada! Os avançados perderam-se em bonitos, em rendilhados, e nem progrediam no terreno, nem guardavam na zona de remate a serenidade suficiente para conclusão eficaz. Já dissemos que Azevedo teve uma única defesa aparatosa em todo o desafio. Este pormenor elucida bem, sem dúvida, quanto à falta de remate dos dianteiros minhotos. Evidentemente que, em tais condições, os bracarenses não podiam pensar num bom resultado. Tanto mais que o Sporting, sem jogar como pode, não deixou de desferir os remates bastantes para ganhar amplamente. Cesário teve várias defesas apertadas, das quais se saiu muito bem, mas gostaríamos de o ver em acção num desafio mais trabalhoso. Em conjunto o seu labor confirmou as elogiosas referencias que lhe vêm sendo feitas por toda a crítica. O trio defensivo bateu-se com decisão, merecendo realce o esforço de todos os elementos. Abel, na segunda parte, evitou um tento à custa de energia, digamos mesmo de temeridade. Daniel foi irregular, com muitos altos e baixos, e Joaquim sobressaiu como unidade defensiva. Na frente distinguiu-se a indiscutível habilidade de Elói. O interior direito de Braga deve, porem, ter estranhado a falta de Diamantino, com quem formava uma excelente ala de ataque. Os cinco avançados falharam sensivelmente na conclusão das jogadas sem uma excepção. Mas Sardinha e Mário mais ainda que os companheiros. Os sete tentos do desafio O encontro não conseguiu agradar. Mas os sete pontos foram, de algum modo, uma compensação para o público. Travaços abriu a marca, havia apenas cinco minutos de jogo. Excelente passe de Juca, indecisão da defesa minhota, e remate forte que Cesário não deteve, tal a violência do pontapé. Aos vinte e seis minutos o resultado ficou em 2-0, em seguimento de uma das melhores jogadas de ataque dos «leões». Vasques alongou um passe para Albano, este centrou e, em plena corrida, Wilson desviou a bola para as redes. Ao intervalo: 2-0. Aos catorze minutos do segundo tempo Albano, em posição de fora de jogo, não teve dificuldade em vencer a resistência de Cesário, aliás, o único adversário que podia impedir-lhe o remate. Três minutos depois Mário, que por motivos de lesão estava a extremo-direito, aproveitou uma indecisão dos defesas adversários para obter o primeiro ponto do Braga. Os «leões», porem, responderam rapidamente. Vasques, aos vinte e três minutos, colou a bola nas malhas com um remate por entre um molho de companheiros e adversários. Aos vinte e nove minutos Abel evitou, desviando a bola com a mão em cima da linha da baliza, um tento que já se dava como certo. Barrosa transformou a grande penalidade. E foi o mesmo Barrosa quem, a cinco minutos do final, imitou Abel, quando o esférico ia a transpor a linha. Daniel executou o castigo e fez o resultado do jogo. Gestos a mais... O sr. Cunha Pinto fez, em conjunto, boa arbitragem. Um único erro: a validação do terceiro ponto dos «leões», obtido em evidente deslocação de Albano. O árbitro setubalense deve, porem, ser mais sóbrio de gestos e atitudes. Parece, por vezes, um «polícia sinaleiro» e isso, acredite, não é favorável ao prestígio de que os juízes de campo precisam rodear-se. Está na sua mão evitar tais exageros. MANUEL MOTA %% 1950/03/50-03-13/19500313.1.txt Título: SP. BRAGA; 3 - V. SETÚBAL, 2 Subtítulo: Os minhotos, pouco felizes no remate, poderiam ter obtido vitória mais folgada se aproveitassem a circunstância de os setubalenses haverem jogado na segunda parte com o avançado centro em más condições físicas. Data: 13 de Março de 1950 Domínio: Comentário/relato de jogo Autor: Rodrigues Teles Fonte: Mundo Desportivo SP. BRAGA; 3 - V. SETÚBAL, 2 Os minhotos, pouco felizes no remate, poderiam ter obtido vitória mais folgada se aproveitassem a circunstância de os setubalenses haverem jogado na segunda parte com o avançado centro em más condições físicas. SPORTING DE BRAGA - Cesário; Palmeiro, António Marques e Abel; Daniel e Joaquim; Arias, Elói, Cassiano, Fonseca da Silva e Sardinha. VITÓRIA DE SETÚBAL - Baptista; Mateus, Primo e Figueiredo; Pina e Orlando; Passos, Nunes, Inácio, Ataz e Vasco. ÁRBITRO - Mateus Pinto Soares, do Porto Os bracarenses poderiam ter ganho por margem folgada de tentos. A certa altura do desafio, logo no princípio da segunda parte, viu-se o Vitória de Setúbal praticamente reduzido a dez unidades, devido ao facto de Inácio, o avançado centro, ter sofrido uma distensão muscular, que o inibiu de tomar parte activa na luta. Passou a ocupar o posto de extremo direito. Quando a ocorrência se verificou já o Sporting de Braga tinha a vantagem de 3-1. Assim, a falta de uma boa unidade entre os adversários foi talvez encarada com excessiva confiança pelos locais que por esse motivo chegaram a conhecer certas dificuldades, pois os visitantes, marcando segundo tento, crescerem a olhos vistos. Embora os bracarenses tivessem estado mais perto do 4.º golo que os setubalenses do empate, não deixou de existir certa emoção quando os visitantes ordenaram boa série de ataques, quase sempre mercê da inspiração de Pina, que teve em Passos e Vasco colegas à altura das circunstâncias. A dificuldade não tira, porém, mérito à vitória do Sporting de Braga, pois a sua superioridade revelou-se em largos momentos do prélio e muito especialmente nos golpes desenvolvidos na zona de remate. Mas ao grupo da terra faltou também pontapé certeiro, pois se não fora isso, teria obtido, decerto, êxito muito expressivo. Tecnicamente - nada de extraordinário Diga-se, no entanto, que o jogo, no aspecto técnico, foi modesto, tanto pelo lado de Braga, como por banda de Setúbal. A equipa local, ameaçando fortemente nos primeiros minutos do desafio, viu o seu esforço compensado com um tento nascido em lance de boa urdidura, embora nele houvesse colaborado o guarda-redes Baptista. Este mergulhou em falso aos pés de Elói, permitindo que a bola se escapasse para o lado onde surgiu Cassiano, e o avançado centro bracarense não teve dificuldade em atira-la para a baliza deserta. Havia 11 minutos de jogo. Dois minutos mais tarde, porém, Inácio desviou-se do centro para a esquerda, de onde despediu remate poderoso, e a bola entrou, como flecha, sobre a cabeça de Cesário. O êxito setubalense espevitou os ânimos. Mas só perto da meia hora foi travado o ímpeto dos contendores, com mais um golo de Cassiano. Um passe de Figueiredo a Baptista foi interceptado pelo avançado centro bracarense, que de novo ficou com as redes abandonadas na sua frente. E o resto tornou-se fácil. Até o fim da primeira parte continuou a verificar-se vantagem territorial dos minhotos, embora topando com dificuldades em frente da dura defesa adversária. Confiança nos bracarenses e ânimo nos setubalenses Aos dois minutos da segunda parte, os minhotos passaram o resultado para 3-1, por intermédio de Elói, que se meteu afoitamente a uma jogada alta, quando Baptista pretendia defender com os punhos. A bola ficou a saltitar dentro da grande-área, Baptista não regressou com a prontidão devida ao seu lugar, e o interior minhoto visou certeiramente a baliza. O tento chamou a linha avançada dos locais a um ataque cerrado. A impossibilidade de Inácio não permitiu que os sadinos desenvolvessem o seu jogo com eficácia. Mas ainda assim, aos 12 minutos, António Marques executou também um passe desajeitado a Cesário, provocando a feliz intervenção de Ataz, e o segundo golo da equipa visitante. As tentativas dos setubalenses tornaram-se então mais frequentes e foi nesta altura que o grupo de Braga experimentou dificuldades. Mas a medida que o desafio se aproximava do fim voltaram os bracarenses a desfrutar de supremacia. Assim, foram dirigidas ás balizas guardadas por Baptista muitas bolas fortemente apontadas, mas o resultado não sofreu mais alterações. O Sporting minhoto teve de contentar-se, pois, com um triunfo que não correspondeu ao domínio por ele exercido. Triunfo justo Os bracarenses ganharam com justiça. Poucas vezes se viram em dificuldades, talvez porque o Vitória, inferiorizado, como dissemos, se entregou apenas a tentativas isoladas na segunda parte, facilmente neutralizadas pela defesa nortenha. Vimos, pela terceira vez, em acção o grupo de Braga e ontem não nos agradou tanto como contra o Sporting e o F. C. Porto. Daniel, que se tem mostrado esplêndida unidade, pareceu-nos desta vez menos persistente e perfeito a entregar a bola aos seus avançados. Diamantino fez indiscutivelmente muita falta. A equipa conta, sem dúvida, com a habilidade de Sardinha e Arfas na linha avançada e ontem também Cassiano fez esquecer o avançado centro Mário, Elói, que mantinha sempre com Diamantino curiosa ligação, perece ter andado muitas vezes em busca do seu antigo parceiro. Emperrou várias vezes o jogo, com as suas habituais paragens de bola, quando não lhe seria difícil, se quisesse, jogar um pouco mais em profundidade. O mais fraco jogador da linha da frente foi Fonseca da Silva. Quanto à defesa, se desculparmos um ou outro falhanço de Abel, nada há a apontar em seu desabono. Os melhores neste sector: Joaquim e Palmeiro. Boa exibição de Pina O jogador em mais evidência no Vitória foi, sem dúvida, Pina, seguido, muito de perto, por Primo, Passos e Vasco. O médio de ataque setubalense fez tudo para empurrar o jogo para a sua linha avençada, actuando também proveitosamente à defesa. Ataz e Nunes agarraram-se demasiadamente à bola e Figueiredo fez-se notar por indispensável dureza. Arbitragem satisfatória A arbitragem de Mateus Pinto Soares, que substituiu Anizio Morgado, foi bem conduzida. O juiz de campo portuense perdoou, no entanto, uma grande penalidade a Primo e deveria ter sido mais severo numa altura em que António Marques deu um pontapé intencional a Ataz. O público bracarense, que não parece muito bem disposto com os árbitros, protestou desta vez com justa razão, mas uma arbitragem com dois erros não poderá positivamente classificar-se de muito má... RODRIGUES TELES %% 1950/03/50-03-13/19500313.2.txt Título: BENFICA; 4 - LUSITANO, 1 Subtítulo: Exibição discreta das duas equipas e triunfo a justificar a melhor categoria dos lisboetas. Data: 13 de Março de 1950 Domínio: Comentário/relato de jogo Autor: Edmundo Tagarro Fonte: Mundo Desportivo BENFICA; 4 - LUSITANO, 1 Exibição discreta das duas equipas e triunfo a justificar a melhor categoria dos lisboetas. BENFICA - Bastos; Jacinto, Félix e Fernandes; Moreira e Francisco Ferreira; Diamantino, Arsénio, Teixeira, Rogério e Rosário. LUSITANO - Rodrigues; Hélder, Caldeira e Branquinho; Faustino e Madeira; Almeida, Pedroto, Luís, Aleixo e Germano. ÁRBITRO - Evaristo Santos (Setúbal). O Benfica, que ontem teve de jogar com equipamento de cor diferente da habitual, apresentando os seus jogadores camisas brancas, de bom omite e melhor efeito, para se não confundirem com o do adversário, esteve longe de realizar exibição à altura da posição em que está colocado. O comportamento da equipa, talvez para justificar a asserção, posta a correr há tempo, de que ela actua mal quando despe a camisola encarnada, foi de molde a fazer jus ao triunfo. No entanto, no que respeita ao rendimento global, bastante discreto e pouco ou nada saliente em relação ao da equipa contendora, última da tabela de pontos, os lisboetas não fizeram nem muito mais nem muito melhor do que os algarvios. A vitória ficou a dever-se, de facto, ao grupo de mais categoria. E só por isso, no final da partida, se pôde esquecer a aterão manifestamente irregular de todo o conjunto, como que se bastassem os dois pontos conquistados e traduzidos, na expressão do marcador, pelos 4-1 do resultado final... Ora, em boa verdade, os lisboetas, jogadores incluídos, não devem vangloriar-se da vitória, que estava dentro de todas as previsões. Esperava-se melhor incluindo o desejo dos próprios jogadores benfiquistas, de grupo que marcha a frente do campeonato nacional. E isto, porque, tendo entrado no «enfiamento» que conduz à meta, e pensando com tempo em que todos os jogadores e todos os adversários são difíceis, o Benfica sentiu a obrigação restrita de acautelar todas as partidas que tem de travar até que a conquista do título esteja decidida. Não sucedeu assim, no desafio de ontem. Fazendo substituir uns quantos elementos da linha de ataque; invertendo até os lugares de outros, fazendo-os ocupar posto, para que não estão indicados, os orientadores da equipa incorreram, quanto a nós, num erro que ia custando caro. Que custaria caríssimo com adversário de mais fundo! Durante cerca de meia hora, lapso de tempo bastante para rectificações que não se fizeram, o Benfica pereceu jogar em jeitos de excessiva confiança como que a não dar crédito ao grupo animoso dos algarvios. Com o primeiro sinal de perigo... Como primeiro sinal de perigo, o tento do Lusitano, bem marcado pelo seu avançado-centro, quando havia vinte e oito minutos de jogo, a equipa despertou. Sacudiu a enervante apatia de quase todos os avançados; e em sete minutos, dos 28 aos 35, dois lances de boa visão de Arsénio conjuraram a ameaça, veio ao de cima, nessa altura, o empenho de todo o grupo As deficiências técnicas foram supridas com a energia dos médios condutores, e o conjunto sem encontrar o ritmo habitual pôde impor-se durante largos minutos: todavia, não conseguiu manobrar como lhe conviria. Só nos últimos instantes da primeira parte, em lampejo de curta inspiração os lisboetas deram luzimento ao seu trabalho. O intervalo chegou quando o Benfica parecia apostado em desfazer a impressão de ineficácia revelada antes, até a equipa sossegar. Pode dizer-se que durante meia-hora de segunda parte os lisboetas continuaram Como anteriormente, em sobressaltos! O grupo voltou a exibição de toada discreta, sem se impor de modo decisivo, e a incerteza do resultado impressionou mal os benfiquista, que os algarvios. Nesse período os visitantes estiveram mais perto do empate que os visitados do golo de confirmação. Quando este surgiu, aos 31 minutos, o Benfica respirou fundo, e o Lusitano, qual lutador fatigado, «baixou os braços»... O tento que ditou o resultado do encontro já não foi mais que o corolário fruto da tranquilidade do grupo quanto ao desfecho da luta. Em nada «ilustrou» o comportamento dos vencedores, teve tão somente, o condão de premiar a equipa de mais fundo e de mais categoria, de dar noção em números da diferença que separa os primeiros e os últimos na tabela da classificação. A equipa algarvia Tal como quando se exibiu em Lisboa, contra o Sporting, em jogo do qual saiu batido no último minutos, o Lusitano mostrou espírito combativo, ânimo forte e personalidade de equipa que procura dar luta sem quebra de entusiasmo. Aqui e ali, em que revelaram boa dose de entendimento, os algarvios superaram com autoridade a tarefa dos contrários. A disputar bolas altas, com a cabeça, raras vezes foram batidos, e a feição de jogar por alto, em que os lisboetas do ataque incorreram com demasiada frequência, deu vantagem grande aos visitantes na defesa. Pena, e muita pena foi, que Branquinho e Caldeira exagerassem no tom de impetuosidade que imprimiram à luta, conquistando, com Aleixo, a antipatia de que, se toda a assistência. Tanto pela maneira como o Lusitano se empregou, sem mostras de fadiga ou de falta de crença em seus intentos, bem pode avaliar-se o que valerá o grupo quando actua no seu campo! Independentemente de factores de tanta valia, o grupo deu, em boa dose, indicação de estar bem compenetrado. Defesa rude; médios batalhadores e alguns avançados expeditos, como Luís (o mais incisivo dos atacantes, especialmente no primeiro tempo em que rematou várias descidas com bom cálculo e boa visão) e Germano, o Lusitano, no desafio de ontem, só se entregou quando Rogério obteve o terceiro golo do Benfica. Até aí, esquecendo alguns destemperos de certos elementos a equipa demonstrou desenvoltura, passando bem da defesa para o ataque, e deu, com assiduidade, trabalho aturado ás linhas defensivas dos lisboetas. O tento que abriu o marcador, da autoria de Luís, resultou de jogada bem desenvolvida que o avançado rematou sem preparação e da melhor maneira. Os lisboetas O compartimento ofensivo dos visitados esteve ontem irreconhecível. Da formação que de tão bela maneira bateu por quatro vezes os defensores dos campeões da Argentina (Rosário, Arsénio, Júlio, Melão e Rogério) estiveram presentes três avançados só Rosário, Rogério e Arsénio, e só este se manteve no lugar. Rosário foi extremo-esquerdo, de princípio, para acabar a extremo-direito: Rogério actuou a interior à esquerda, e à direita sem distinção e Diamantino, bem como Teixeira, tendo começado, respectivamente, a extremo-direito e a avançado-centro, terminaram o encontro a interior-direito e a extremo-esquerdo. De tanta confusão, quase difícil de explicar, não podia, realmente, tirar-se bem proveito, o proveito ideal. A equipa ressentiu-se de tantas trocas e baldrocas, e não vimos, embora, como é da praxe nada tenhamos que ver com o trabalho de quem orienta os nossos grupos de futebol, nem eles precisam dos nossos conselhos, que tirasse qualquer vantagem de tanta barafunda pelo contrário. Em primeiro lugar porque Rogério não é um jogador fadado para o lugar de interior, admitindo (sem qualquer espécie de reserva) que ele é, essencialmente, um hábil manobrador da bola. Isso não chega, porém, para que ele possa preencher o lugar. Pode desempenhá-lo neste e naquele desafio, mas não sempre. Rosário, durante quase todo o campeonato utilizado a extremo direito (lugar onde quase chegou a não ter rival), derivou agora para o lado oposto. O rapaz cumpriu bem, mesmo assim, mas é notório que estava já mais adaptado ao outro lugar... A chamada de Diamantino à primeira equipa não nos pareceu de todo desacertada, e em varias ocasiões o ex-júnior da época passada provou ter aptidões e boas possibilidades, embora demonstrasse, com exuberância, não estar ainda afeito ao ritmo dos jogos de primeira categoria. O melhor atacante da equipa foi, de longe, Arsénio. Se este rapaz quisesse tê-lo-iamos, sem dúvida, na primeira fila dos nossos jogadores de ataque. Teixeira esteve discreto e bem vigiado por Caldeira. Sem o apoio directo dos dois interiores, tanto Ferreira como Moreira se viram em apuros para dar regular sequência ao seu jogo. O «capitão» do Benfica, bem como o seu companheiro, tiveram alguns arrancos magníficos, empurrando a linha da frente, mas os seus esforços malograram-se algumas vezes pela maneira fácil como se deixavam desarmar os companheiros a quem endossavam a bola. Na defesa, o jogador mais regular foi Fernandes, em visível retorno de forma. Bastos, sem culpas no golo sofrido, actuou confiadamente, defendendo com segurança e saindo com oportunidade, para cortar alguns cruzamentos de jogo. Os tentos Aos 28 minutos, concluindo sem preparação um bom centro de Almeida, Luís apontou sem remissão o único tento do Lusitano. O Benfica empatou aos 33 minutos: centro de Diamantino, depois de jogada de insistência, e remate habilidoso de Arsénio. Dois minutos depois, e de novo em toque subtil, Arsénio concluiu uma passagem de Teixeira e deu vantagem ao seu grupo. Aos 31 minutos da segunda parte Rogério preparou, com tempo e com tranquilidade, o «tiro» que bateu Rodrigues pela terceira vez, e aos 39 minutos, Diamantino, sobre passe de Arsénio e beneficiando de um falhanço de Caldeira, fixou o resultado da partida. Boa arbitragem Com discreção, quase se não dando por ele durante largos períodos, o Sr. Evaristo dos Santos dirigiu o encontro sem qualquer dificuldade e sem erros. A sobriedade e a segurança do árbitro, em contraste com a maneira como arbitrara oito dias antes o desafio entre o Estoril e o Atlético, constituíram uma dos melhores apontamentos do desafio. EDMUNDO TAGARRO %% 1950/03/50-03-13/19500313.3.txt Antetítulo: Campeonato Nacional de Futebol - Primeira Divisão Título: ATLÉTICO, 3 - SPORTING, 1 Subtítulo: A melhor exibição e a maior energia dos jogadores da Tapadinha justificam uma vitória que mantém a equipa local sem perder no seu campo. Data: 13 de Março de 1950 Domínio: Comentário/relato de jogo Autor: Manuel Mota Fonte: Mundo Desportivo ATLÉTICO, 3 - SPORTING, 1 ATLÉTICO - Ernesto; Baptista, Armindo e Abreu; José Lopes e Morais; Barbosa, Armando Carneiro, Ben David, Teixeira da Silva e Caninhas. SPORTING - Azevedo; Barrosa, Manuel Marques e Juvenal; Canário e Juca; Jesus Correia, Vasques, Wilson, Travaros e Albano. ÁRBITRO - Luís Vilaça (Lisboa). A melhor exibição e a maior energia dos jogadores da Tapadinha justificam uma vitória que mantém a equipa local sem perder no seu campo. O Sporting perdeu ontem, na Tapadinha, as suas últimas esperanças. Vencido, e bem vencido digamos desde já, pelo Atlético, entregou ao seu grande rival, o Benfica, todos os trunfos. Com seis pontos de vantagem, os «encarnados» dificilmente serão alcançados. O próximo Benfica-Sporting no Estádio Nacional será mais um desafio... Claro que não há impossíveis, principalmente em futebol... Mas ninguém acreditará na possibilidade de o grupo do Campo Grande não conquistar o campeonato da época de 1949-50. A derrota dos «leões» não surpreendeu grandemente. Repare-se que o Atlético está a fazer uma época regularíssima, como o próprio terceiro lugar revela, e que no seu campo ainda neste torneio não sofreu qualquer derrota. Limitou-se a cinco empates. Não é a primeira vez que o Sporting deixa o campeonato na Tapadinha. Simplesmente, impressionou a maneira como a equipa «leonina» ontem se deixou bater, quase sem uma reacção que não fosse condenada a malograr-se, denunciando uma falta de capacidade que só por si justifica o êxito dos alcantarenses. O Sporting jogou mal de ponta a palite, com uma referência mais agradável a Barrosa, sempre na brecha, sempre na luta, gastando generosamente as suas energias - enquanto outros renunciavam à luta, numa estranha falta de ânimo e de fibra. Na defesa os «leões» tiveram um guarda-redes, Azevedo, em evidente declínio de forma, falho de reflexos, talvez mesmo de moral, sofrendo duas bolas em precárias condições e revelando bem, nos seus gestos de enfado, o reconhecimento de que já não pode. Na linha média não houve ordenação e Juca fez uma exibição que não confirmou a sua estreia auspiciosa na equipa, há semanas contra o Estoril. E no «leque» nem é bom falar... Só Travaços, de quando em quando, mas nem sempre afoito para entrar na zona de remate, deu um ar de bom jogo, para logo cair na toada dos companheiros. A ala direita fez impressão, tão mal se exibiu, acusando falta de poder. E o caso é de algum modo grave, vamos lá, agora que se aproxima um jogo internacional como talvez nunca Portugal tivesse de disputar outro. A fragilidade do onze esportinguista começou cedo a verificar-se. Pode dizer-se, sem forçar a nota, que o grupo de Alvalade durou cinco a dez minutos, de entrada. Depois tudo passou a correr mal, cada vez pior à medida que o tempo decorria e o Atlético tomava ascendente nítido, insofismável, a meter-se pelos olhos dentro de toda a gente. Atlético, muito bem! Enquanto os «leões» nada faziam para operar uma reviravolta, nem mesmo quando a equipa chegou ao empate, via-se o Atlético cada vez mais forte, cada vez mais ameaçador, criando sucessivas situações de perigo para o adversário. O avanço de uma bola ao intervalo era, afirme-se, lisonjeiro para os visitantes. O grupo da Tapadinha fora, sem sombra de dúvida, a melhor equipa, apenas cedendo um tento à beira do intervalo. Houve, até, a impressão de que o esforço até ai abalara a capacidade física dos jogadores de Alcântara. Realmente jogara-se com rapidez, com energia em especial da banda do Atlético, e esse recto poderia enfraquecer a resistência dos locais. Mas não. Logo que o desafio recomeçou, depois do intervalo, viu-se que a disposição dos onzes era a mesma e que, afinal, o Atlético ainda estava em condições de continuar no ritmo anterior. E, sem dar a mesma sensação de grupo ao ataque, o Atlético mantinha-se vigorosamente na defesa do resultado, sem renunciar à Ideia de o poder consolidar. A grande penalidade, aliás existente, permitiu o empate. Mas nesse tento se ficaram os «leões», incapazes de irem mais além. Os dianteiros do Sporting eram dominados, pode dizer-se subjugados pela defesa contrária, e para a fase de pressão que a equipa conseguiu no declinar do encontro muito contribuiu Barrosa, indo à frente ver se arrastava os companheiros. Até esse momento bastara ao Atlético dispõe todas as suas unidades volantes para a luta. O guarda-redes mantivera-se pouco mais que inactivo, a ver jogar, ora defendendo bolas mortas, ora recolhendo passes dos companheiros da defesa. Mas a certa altura Ernesto viu-se chamado a intervir com frequência, para anular tentativas dos «leões» a forçarem, ao menos, um ponto mais. E se os dez atléticos que anteriormente tinham estado na base do êxito da equipa justificaram pelo seu labor a vantagem de duas bolas, Ernesto passou a acompanhá-los e, por seu turno, a justificar que só de grande penalidade os «leões» pudessem marcar... Ernesto teve, então, duas ou três defesas que afirmam a categoria de um jogador. O grupo de Alcântara pôde conservar brilhantemente o avanço, replicando golpe a golpe a todas as tentativas dos visitantes. E, por incitantes, chegou a admitir-se a possibilidade de a marca subir, a favor dos rapazes da Tapadinha... Uma equipa homogénea O Atlético, já o dissemos por mais de uma vez, é uma equipa na verdadeira acepção do termo. Um grupo homogéneo, sem grandes figuras, porque se teima em deixá-las na obscuridade ligado, e onde se sente um espírito de clube. Do guarda-redes ao extremo esquerdo, mesmo que se trate de jogadores vindos para o Atlético, nota-se que há entusiasmo, vontade, energia para dar e vender. Todos se batem com firmeza, uns defendendo, outros atacando, mas os onze procurando o melhor resultado, sem tibiezas, sem desfalecimentos. A grande penalidade. permitindo um empate que a marcha do jogo não justificava, podia ter sido um balde de água fria nos atléticos. Mas não foi imediatamente o grupo da Tapadinha reincidiu numa ofensiva de que, sem demora viria a tirar partido. Pode dizer-se que o facto de o onze atlético ter marcado segundo tento, pouco depois do adversário estabelecer o empate, teve o seu quê de felicidade. É possível. Mas não é menos verdade que a equipa soube procurar esse momento, soube desafiar a sorte, não se deixando abater. E isso também conta. Revela, evidentemente, a bela disposição moral da equipa a par da boa disposição física demonstrada num encontro que, apesar de tudo, não foi fácil. A vitória do Atlético está certíssima, o desafio da Tapadinha não podia ter outro vencedor. Acrescente-se que ela não derivou das falhas dos adversários. Foi construída com bom jogo, com determinação, com vigor. A defesa, numa toada rija, aqui e além (diga-se em abono da verdade) a roçar pela dureza para além do legitimo, tem de colocar-se, talvez, no primeiro plano da vitória atlética. Porque foi ela, realmente, quem desorganizou o «onze» adversário, anulando-lhe o ataque, que é o ponto forte dos leões. Que era o ponto forte, talvez fique melhor. Quase se torna desnecessário salientar unidades no bloco firme que é a actual formação do Atlético. Todavia, Ernesto (olhe-se para este rapaz), Baptista Abrem, José Lopes, Armando Carneiro, Ben David e Caninhas são nomes que saltam ao bico da pena para ficarem registados como os melhores do grupo vencedor. Vencedor Incontestavelmente brilhante. Não pode haver duas opiniões. Cremos que não as há, a avaliar pelo que ouvimos depois do desafio.... No final da partida os alcantarenses deram largas ao seu contentamento dentro e fora do campo. Concordemos que tinham fortes razões para isso Há perder... e perder! Se outros factos não houvesse a apontar, o resultado deste desafio servia para justificar outros bons resultados obtidos na Tapadinha pelo Atlético. O Sporting cuja forma oscila há semanas, só podia ser um estorvo para o grupo local desde que pusesse na luta o mesmo ardor, o mesmo espírito dos contrários. Uma vez que assim não sucedeu, porque não sucedeu, realmente a derrota era inevitável. Os últimos exemplos são concludentes. O Sporting cede notoriamente quando os adversários jogam com rapidez, entusiasmo e vigor. Setúbal, Vila Real o dizem Ontem foi o mesmo. Perante o empenho dos «atléticos». O «onze» leonino sossobrou deixando-se manobrar. Aqui e além, o grupo do Lumiar denunciou assomos de energia Mas não os mantinha, pois, a breve trecho a vontade do Atlético, mais firme. Impunha-se. Mais vontade e melhor jogo também. O sistema defensivo do Sporting atravessou momentos de pânico, de sobres salto constante. Os dianteiros da Tapadinha infiltravam-se nele com relativa facilidade e os remates as redes de Azevedo sucediam-se. Alguns defendidos com aparato, mas dois deles também podiam ter sido detidos. Excesso de visão, no primeiro, e falta de reflexos no segundo. É evidente que Azevedo atravessa um mau momento. Já não oferece aquela confiança que esteve, muitas vezes, na base dos melhores triunfos leoninos. Reconheça-se isso, mas não se esqueça o seu passado. Barrosa foi o melhor elemento, com um começo frouxo. Note-se que teve de marcar um avançado, Caninhas, que dispõe de vários predicados: rapidez, domínio de bola. experiência. Esse facto mais valoriza o labor de Barrosa, que além disso foi um jogador de vontade férrea, chegando a Querer fazer o que os dianteiros se mostravam incapazes de conseguir: marcar bolas! Manuel Marques foi frequentemente dominado por um Ben David inspirado, e Juvenal teve a virtude de nunca renunciar à luta Canário não está presentemente na sua melhor condição e Juca, útil em regra com a equipa ao ataque, não é o mesmo quando tem de defender. Ontem, porém, nem mesmo na função atacante satisfez. E como elemento de defesa, deixou Armando Carneiro completamente à vontade. Na linha dianteira faltou tudo Em conjunto foi uma lástima. Individualmente só Travaços teve uns lances O mais curioso é que o ataque dos «leões» principie bem. Simplesmente, quando na defesa adversária começou a aparecer o vigor, deu-se o desabamento. A visar as redes, até nisso, os avançados do Sporting estiveram mal Wilson, perto do final, perdeu dois lances sem se saber como... Dos tentos à arbitragem Foi claríssima a vitória do Atlético. Há que reconhecer isso mesmo, sem o menor esforço. O resultado premiou a melhor equipa no relvado da Tapadinha. Melhor em todos os aspectos: organização de jogo, capacidade física, entusiasmo, apego à luta, Em tais condições só dificilmente perderia. Todavia, os três pontos foram dados pelos adversários. Mas isso é da sorte do jogo e o que deve salientar-se, para justificar a vitória, é que esta corresponde absolutamente à fisionomia do encontro. Brindes verificam-se com frequência. Para além deles fica, porém, a verdade dos resultados. 1-0 aos vinte e três minutos. Ben David, em luta com três adversários, venceu-a e fez o remate, muito desviado, por alto Azevedo ficou parado, a olhar para a bola e esta foi anichar-se nas redes. Ao intervalo mantinha-se esta marca. Aos dezoito minutos Wilson, dentro da grande área, sofreu uma rasteira assinalado a respectiva penalidade máxima, Barrosa transformou, à segunda vez, no empate. Decorridos quatro minutos: 2-1. Livre executado por José Lopes a cair sobre a baliza um cacho de jogadores em disputa do esférico e toque de cabeça, em curva, para as redes, dado por Caninhas. Azevedo (saltou mal e... golo). Mais três minutos de jogo e o Atlético marcou o terceiro ponto. Juvenal procurou fazer um passe a Azevedo, a bola saiu-lhe fracamente tocada, e Barbosa, metendo-se de permeio, rematou à vontade. E acabou-se. O Sr. Luís Vilaça fez, em conjunto, trabalho apreciável. A grande penalidade contra o Atlético existiu, de facto. De resto, os jogadores da Tapadinha não contestaram a falta, mas sim o local onde ela fora cometida. Não temos dúvidas em afirmar que foi na sua superfície de reparação Nesse lance o juiz de campo mostrou-se com suficiente autoridade para não deixar resvalar o desafio para mau aspecto. A marcação da grande penalidade foi repetida. Da primeira vez Barrosa batera Ernesto, o mesmo sucedendo depois. Mas não compreendemos a razão porque o Sr. Lute Vilaça mandou repetir o castigo. Se o guarda-redes do Atlético cometeu falta e a bola entrou, não havia que anular o ponto. Ao fazer bola ao solo na grande área do Sporting o árbitro ouviu protestos, quanto a nós infundados. A bola saíra pela cabeceira e o fiscal chegou a estar sobre a linha respectiva, dando ao árbitro a ideia de que houvera «canto». Com um final quase imperceptível desfez o equívoco, e como o jogo fora interrompido, só podia recomeçar nas condições em que o juiz de campo o fez. MANUEL MOTA %% 1950/03/50-03-13/19500313.4.txt Antetítulo: Campeonato Nacional de Futebol - Primeira Divisão Título: BELENENSES, 2 - ESTORIL PRAIA, 0 Subtítulo: A vitória dos «azuis» esteve largo tempo indecisa, por falta de profundidade de jogo da linha de ataque. Data: 13 de Março de 1950 Domínio: Comentário/relato de jogo Autor: Alberto Freitas Fonte: Mundo Desportivo BELENENSES, 2-ESTORIL PRAIA, 0 A vitória dos «azuis» esteve largo tempo indecisa, por falta de profundidade de jogo da linha de ataque. BELENENSES - Caetano; Figueiredo e Serafim; Rebelo, Feliciano e Frade; Palma Soeiro, Bravo, Sidónio, Pinto de Almeida e Diógenes. ESTORIL - Sebastião; Gato e Alberto; Cassiano, Elói e Fragateiro; Gonzaga, Vieira, Negrita, Nunes e Raul Silva. ÁRBITRO - Oliveira Machado, de Lisboa. Em redor do desafio Belenenses-Estoril criou-se atmosfera de especial curiosidade. A presença de Bravo, jogador que foi do Estoril e que depois de um «estágio» no Real Sociedade de San Sebastian, regressou a Portugal, justificava essa, curiosidade. Bravo não regressou, porém, para vestir novamente a camisola do Estoril mas a dos Belenenses. A escolha definitiva do jogador esteve, no entanto, muito indecisa, e tão depressa se admitia a sua presença na equipa Belenenses como no seu antigo grupo. Finalmente Bravo decidiu se pelos Belenenses e talvez para isso tenha contribuído uma pontinha de simpatia que há alguns anos o jogador em questão nos disse ter pelo grupo de Belém. Acreditamos que isso haja influído. Mas se não tiver pesado... também de ai não vem mal ao Mundo. Quis o acaso que Bravo se estreasse, depois da sua demorada permanência em San Sebastian, justamente num desafio em que tinha de defrontar o Estoril. E isto deve constituído preocupação para o jogador, já embaraçado com a responsabilidade de uma estreia discutida. Habituado ao terreno de Atocha, Bravo entrou nas Salésias como um desconhecido mas um desconhecido em quem toda a gente repara. O ambiente de sensação que rodeava a estreia de Bravo tanto era de curiosidade pelo conhecimento da sua forma actual, como «peito feito» para censurar os deslizes do jogador, como de decisão para o aplaudir, mesmo que não houvesse razão para isso. Concorde-se que a posição do jogador era de extrema delicadeza, e só ele sendo possuidor de uma classe extraordinária e não e este o caso, poderia reagir triunfantemente. Sobre José Maria Gomes a quem um dia chamaram Bravo sem que encontremos, a razão, incidiam, ontem, todos os olhares e o jogador deve tê-los sentido e também lhe devem ter pesado como chumbo A tudo isto há que juntar dois actos: - a influência que Bravo poderia ter e deveria, na organização de ataque do Belenense, organização que tem enfermado de males por mais de uma vez postos em relevo, e a possível colaboração do jogador à equipa nacional. Não há dúvida: isto era muito… para um homem só! Bravo, que esteve quase três meses sem disputar jogos de competição, o que não pode ter deixado de influir na sua forma acusou sem dúvida a «atmosfera» que o rodeava. Não queremos ser e porque compreendemos as circunstâncias em que o jogador actuou severos no julgamento do novo belenense. Bravo entrou nas Salésias carregadinho de dificuldades, e em tais condições há que ser indulgente com ele fisicamente não nos pareceu mal; mas a sua acção técnica teve deslizes que numas vezes resultaram da visível preocupação do jogador em querer «fazer muito bem» e noutras vezes derivaram da falta de sorte. Realmente, Bravo não teve ontem com ele a sorte do jogo. Muitas vezes a bola lhe ficou para trás quando normalmente devia ter corrido para diante, ou lhe bateu num calcanhar, escapando-se ou lhe fugiu por um centímetro. Há que vê-lo em segundo ou terceiro jogo, mas afeito ao ambiente que após tanto tempo de ausência lhe deve ter parecido estranho para o julgar com firmeza. Ontem pareceu-nos pouco afoito nalguns lances; mas isso talvez se explique pelo receio de se «queimar» em momentos que não lhe eram abertamente favoráveis. A colaboração de Bravo na linha avançada belenense, seja qual for a forma de momento do jogador, não poderá, no entanto, deixar de ter qualquer influência benéfica, dado que o sector dianteiro dos «azuis» não tem correspondido ás necessidades da equipa. Ainda que Bravo não esteja em plena forma ou não possa, por qualquer circunstância, dar um «rendimento cheio», a sua acção fornecerá indiscutivelmente à linha avançada um pouco mais de poder atacante. É ainda mais se o jogador estiver numa forma que ontem não pôde mostrar. Falta de Profundidade Talvez pelo seu enleamento natural, Bravo não pôde dar ontem à linha de ataque dos Belenenses a necessária profundidade de jogo. Mas ele só, também não a poderá conseguir, mesmo quando tiver o espírito mais tranquilo, sem aquela preocupação que costuma assaltar os artistas de teatro nas noites de «estreia». É que os avançados belenenses estão verdadeiramente viciados no jugo que não tem a baliza como objectivo. Pinto de Almeida, que parecia encaminhado na boa via, está a ser o jogador mais negativo da linha de ataque de Belém. Incontestavelmente hábil, o pequeno jogador parece desconhecer aquele velho princípio de geometria que nos diz que o caminho mais curto entre dois pontos é a linha recta. Pinto de Almeida, para chegar a um ponto determinado, seja ou não senhor da bola, faz sempre uma longa viagem, perdendo tempo e perdendo lances. Lembra-nos um indivíduo que, estando no Rossio e querendo ir ao Terreiro do Paço, se serve de um eléctrico da Estrela que sobe a Avenida... O jogador mais efectivo na partida de ontem foi o extremo direito Palma Soeiro, que no segundo tempo teve desmarcações muito oportunas e uma actividade que obrigou os parceiros a mexerem-se um pouco. Mas em conjunto a linha de ataque belenense careceu de profundidade de acção e de imaginação. Uma e outra coisa facilitaram o trabalho da defesa do Estoril, à qual bastou atenção e colocação para quebrar os avanços belenenses. A linha de ataque do Estoril, com muito menos jogo servido, foi, no entanto, mais incisiva que a dos «azuis», forçando a defesa de Belém a aplicar-se cuidadosamente. Se o avançado-centro Negrita, um jogador maleável mas ontem muito dado a picardias, se integrasse mais no jogo, e se Raul Silva acertasse o pé nos remates, o Estoril podia ter sido adversário diferente do que foi para os Belenenses, pois Vieira teve excelente trabalho, pontando o jogo a meio do terreno com autoridade notável, e Nunes só deixou de figurar na meada de jogo da equipa no último quarto de hora sucumbindo diante do generoso Rebelo. Os compartimentos defensivos suplantaram as linhas de ataque, sobretudo nos Belenenses. Serafim atingiu o melhor plano no segundo tempo e Feliciano, oscilante na primeira parte, dominou francamente o adversário depois do intervalo. Caetano, em poucas defesas, denunciou o conhecimento que vai tendo do lugar. Figueiredo com sobriedade e segurança. Os dois médios constituíram o melhor sector da equipa. Rebelo, com uma excelente segunda parte; Frade, com a sua magnífica elasticidade, foi tão boa «pedra» defensiva como preparador de avances, sendo neste capitulo o melhor médio que esteve no terreno. No lado do Estoril, Elói, Crato e Alberto merecem a melhor nota, sem que Sebastião pelos seus oportunos cortes de jogo, lhes tenha ficado muito abaixo. Elói fez uma belíssima partida, com a segurança de campeão. Crato supriu com juventude e rapidez o que ainda lhe falta em conhecimentos. Com Alberto sucedeu exactamente o contrário. Cassiano e Fragateiro jogaram demasiadamente sobre a defesa, parecendo decididos a deixar toda a construção de avançadas aos interiores. Os dois tentos do desafio O primeiro tempo desta partida foi muito nivelado. Ora uma, ora outra equipa teve o comando da situação, mas sem que qualquer delas acentuasse muito esse comando. Os estorilistas foram, todavia, mais perigosos quando avançaram. Mas o extremo esquerdo Raul Silva, com um pé desafinado, errou duas vezes o alvo em momentos em que golo tinha uma possibilidade. O melhor lance do ataque belenense até os vinte e cinco minutos foi obra de Sidónio e Bravo, um centro da esquerda do primeiro e remate de cabeça do segundo passando a bola a raspar a trave. Aos 28 minutos os Belenenses marcaram o primeiro golo na transformação de uma grande penalidade a castigar irregularidade de Alberto. Pareceu-nos exagerado o castigo. A natureza da falta do capitão do Estoril não foi de molde a merecer o castigo máximo. O juiz de campo usou, porém, de firmeza, não cedendo perante os protestos dos estorilistas: Feliciano executou o pontapé, defendendo Sebastião sem, no entanto, prender a bola e, na recarga, Feliciano fez o golo. A este lance seguiu-se um período de desorientação dos jogadores e do juiz de campo. Muitas cargas fora de tempo, a denunciar determinado propósito muitas hesitações do árbitro, deixando em claro os «deslizes» dos jogadores. Nos últimos minutos da partida cada equipa teve dois lances que estiveram muito próximos do tento. Os dos belenenses numa fintas de Sidónio (a melhor jogada de ataque dos azuis), abrindo caminho para a baliza e dando um belo passe a Diógenes, que preferiu o «centro», interceptado por Sebastião, ao remate que poderia bater o guarda-redes, e numa recarga de Rebelo que Sebastião defendeu com muito custo. Os do Estoril num «shot» de Raul Silva dado a poucos metros da baliza para um lado e num pontapé mergulhante de Fragateiro, que Caetano defendeu com dificuldade. Nos primeiros momentos de jogo após o intervalo, o Estoril podia ter alcançado o empate. Raul Silva não demorou a recarga, mas Figueiredo salvou o golo, que parecia certo quando o extremo esquerdo do Estoril rematou Depois deste lance os Belenenses caminharam mais para o ataque mas sem objectivo. E a defesa do Estoril pôde resolver todas as situações. Os esforços de Soeiro, Rebelo e Frade não deram fruto apesar de o jogo se desmiolar ao meio campo defendido pelo Estoril e o desafio parecia destinado a ter apenas um golo, quando a sete minutos, do fim, depois de uma iniciativa de Rebelo, Bravo endossou a bola a Soeiro, este colocou-a rapidamente no centro e Sidónio rematou com êxito. A arbitragem teve a severidade da «grande penalidade» e certas hesitações, no período que se lhe seguiu: depois no segundo tempo, foi talvez demasiado branda, em vários momentos e sobretudo em relação ao avançado-centro do Estoril, que gesticulou e protestou por tudo e por nada. ALBERTO FREITAS %% 1950/03/50-03-13/19500313.5.txt Título: ACADÉMICA, 0 - GUIMARÃES, 0 Subtítulo: Mais preocupados na defesa que no ataque os minhotos não sofreram tentos... mas também não os marcaram. Data: 13 de Março de 1950 Domínio: Comentário/relato de jogo Autor: Adriano Peixoto Fonte: Mundo Desportivo ACADÉMICA, 0 - GUIMARÃES, 0 Mais preocupados na defesa que no ataque os minhotos não sofreram tentos... mas também não os marcaram. ACADÉMICA - Capela; Branco e Diogo; Castela, Curado e Azeredo; Pacheco Nobre, Duarte, Macedo, Serra Coe-lho e Bentes. VITÓRIA DE GUIMARÃES - Silva; Ferreira e Costa; Rebelo, Cerqueira e Cardoso; Franklin, Magalhães, Brioso, Miguel e Custódio. ÁRBITRO - Mário Ribeiro Sanches, de Lisboa. O Vitória de Guimarães entrou no Estádio Municipal de Coimbra disposto a não perder o jogo. O próprio empate estava dentro das suas aspirações. Assim o demonstraram os jogadores quando, no final, deram expansão ao seu regozijo. Para alcançar esse resultado a equipa pôs em prática um plano táctico que sustentou de princípio a fim. A formação do Vitória acima discriminada sofreu alteração profunda mal se ouviu o apito para o começo. Cerqueira passou a actuar isolado diante da baliza. Costa descaiu para o meio do terreno, a fim de vigiar o avançado-centro contrário: e Cardoso postou-se de guarda ao extremo direito, ficando o quadrado mágico a ser formado: Rebelo-Miguel e Brioso-Magalhães. Somente Ferreira conservou a posição clássica, actuando junto de Bentes. Deste modo, logo que os vimaranenses ensaiavam um ataque viam-se os seus pontas correr ao centro do terreno e darem seguimento aos lances com trocas tão amplas e desafogadas que por vezes Franklim aparecia na esquerda, enquanto Custodio desenvolvia as jogadas ao longo da linha lateral do lado direito. Este processo começou por perturbar a linha dianteira conimbricense, que, tendo de defrontar um jogador a mais (Cerqueira), não foi capaz de impor a toada conveniente, que neste caso seria a troca da bola por meio de passes laterais no sentido de atrair o maior número possível de jogadores contrários, procurando batê-los no momento em que o número de defensores fosse igual ao dos atacantes. Os médios volantes da Académica, por sua vez, insistiram sem resultado nos passes em profundidade que morriam quase sempre em Cerqueira. A inutilidade destas tentativas mais flagrante se tornou quando os interiores da Académica, em escusados pessoalismos, permitiram que a organização da defesa contrária mais sólida se revelasse. Castela, sem oposição a meio do terreno, não soube inclusivamente tirar partido da circunstância, não procurando abrir caminho por meio de trocas triangulares, que derrotariam fatalmente os homens que acorressem ás intercepções, teimou em dirigir a bola por entre os aglomerados de defensores e atacantes. Assim, o encontro não se revestiu de lances límpidos ou claros. A marcação estreita em que o Vitória se empenhou não pôde ser eliminada, e isto deu origem a jogadas de brevíssima duração, a cortes constantes e confusos. Apenas no declinar da partida, quando já os dianteiros do Vitória (acusando o esforço a que os obrigaram os seus contra-ataques através de largos espaços de terreno e prolongadas corridas) se sentiram sem forças para os sustentar, é que foi possível a Académica impor um ritmo mais aproximado das circunstancias e criar algumas oportunidades de perigo. Na mais flagrante, porventura, Duarte não encontrou terreno suficiente para ganhar o balanço de que o remate careceu, mas, mesmo assim, Silva só o conseguiu anular com uma grande dose de sorte. A táctica dos visitantes ter-se-ia esboroado se um remate de Bentes, aos 20 minutos da primeira parte, não tivesse esbarrado num dos postes. Dizemos que ela se teria desfeito em virtude da derrota não convir ao Vitória e desta maneira os minhotos seriam forçados então a recorrer a outra estratégia; mas, depois deste lance, nunca mais o grupo rondou verdadeiramente as suas balizas ao longo dos quarenta e cinco minutos iniciais, ao passo que os estudantes viram a fortuna pelo seu lado quando, após um falhanço do médio-centro, Capela escorregou ao tentar a saída, e o remate de Custodio encontrar os calcanhares de Magalhães, que corria na direcção da baliza deserta. Mais tarde um centro de Custodio não pôde ser detido pelo guarda-redes da Académica, sendo salvo por Diogo já sobre o risco da baliza. Choveu durante a tarde e a relva molhada desfavoreceu a Académica, possuidora de equipa mais frágil que a do Vitória. O domínio de bola revestiu-se de grandes dificuldades e como nem sempre as intercepções por parte da defesa local tivessem sido feitas com a indispensável presteza, a baliza da Académica viveu alguns momentos de apuro. Na defesa sobressaíram a rapidez e a decisão de Diogo. Na linha da frente, Bentes mostrou-se o mais pronto e expedito e a sua velocidade pôde criar alguns embaraços à defesa vimaranense. Macedo ressentiu-se por vezes da falta de domínio de bola. Os interiores tiveram um ou outro lance pessoal, mas sem interferência notaria nas jogadas de conjunto. Pacheco Nobre, desligado do meia ponta, não viu o seu portentoso domínio de bola encontrar sequência em alguns lances por ele muito bem conduzidos. Azeredo foi um médio sem preponderância de maior na urdidura ou iniciativa de jogadas. Todos os homens dos sectores recuados da equipa minhota actuaram perfeitamente dentro da táctica utilizada. Rebelo, porém, foi o mais brilhante. A sua maneira, que lembra agora um pouco o espanhol Igoa, ficou vincada na organização dos melhores contra-ataques da sua equipa. Franklim, com um princípio próximo do fulgurante, tornou-se um tanto discreto no final. Custódio manteve ritmo equilibradíssimo. A arbitragem, sem nada de notável para bom ou para mau, o Sr. Ribeiro Sanches procurou seguir o jogo com atenção. ADRIANO PEIXOTO %% 1950/03/50-03-13/19500313.6.txt Antetítulo: Campeonato da II divisão nacional Título: ORIENTAL, 7 - BARREIRENSE, 1 Subtítulo: A actuação do sector atacante dos orientalistas destroçou o sistema defensivo dos barreirenses. Data: 13 de Março de 1950 Domínio: Comentário/relato de jogo Autor: Matos Fernandes Fonte: Mundo Desportivo ORIENTAL, 7 - BARREIRENSE, 1 A actuação do sector atacante dos orientalistas destroçou o sistema defensivo dos barreirenses. O campo de Marvila apresentava o aspecto dos grandes dias de futebol, com uma assistência que, sem favor, se pode considerar a maior da época. Por todo o ledo se agitavam bandeirinhas e a marcha do Oriental foi muitas vezes entoada pela massa associativa do clube orientalista. A equipa do Barreirense, a primeira a entrar em campo, ouviu muitas palmas da sua falange de apoio, mas quando a equipa do Oriental se apresentou no rectângulo o entusiasmo em todo o campo recrudesceu e, de mistura com os incitamentos de «C. O. L., C. O. L.», ouviram-se campainhas, rocas, buzinas, etc., etc... Ao jogo assistiu o Sr. Dr. António José de Melo, da comissão administrativa da F. P F., e sob a direcção do Sr. Adriano Gonçalves, da A. F. Coimbra, as turmas alinharem: ORIENTAL - Szabo; Casimiro e Morais; Isidoro, Alfredo e Eleuterio; Alvarinho, Leitão, França, Vicente e Pina. BARREIRENSE - P. Silva; Reis e Carlos Silva; Gervásio, Pascoal e Ricardo Vale; Afonso. Martins II, Ferreira, Martins I e Vasques. A vitória alcançada pelo Oriental não é de surpreender, porque soube ser superior ao adversário, tanto em domínio técnico como territorial. A turma de Isidoro entrou no rectângulo disposta a ganhar o desafio e conseguiu-o, mercê da exibição em cheio do seu sector atacante, muito bem orientado pelo seu interior direito, que pôs em execução toda a sua técnica construtiva e toda a casta de passes e fintas, que abriram impiedosamente brecha no sistema defensivo adversário. Este acabou por ceder rotundamente, desorientado com a movimentação dos avançados contrários e com o inesperado dos lances por estes criados em série. Com a vantagem de quatro tentos na segunda parte os orientalistas entregaram-se por largo tempo à exibição de futebol puro, com o esférico rasando o terreno em passes de um para outro elemento, e foi agradável verem-se cruzamentos constantes, lances em profundidade, desmarcações oportunas, tudo feito com segurança e perfeição. E os tentos apareceram naturalmente e a conta das oportunidades falhadas foi aumentando. Saliente-se, todavia, que o Barreirense se mostrou adversário digno do Oriental; os barreirenses opuseram-se tenazmente, mas a impetuosidade orientalista fez com que depusessem as armas no segundo tempo, em que actuaram com uma unidade a menos expulsa perto do descanso e obstou a que impusessem o seu sistema por intermédio dos médios de ataque, que não encontraram em toda a partida terreno livre para manobrar. No fim do preito os jogadores barreirenses souberam ser bons desportistas e felicitarem os vencedores pela sua passagem à fase final da competição. Os tentos e alguns lances da partida. O Oriental entrou a dominar e um «tiro» de Leitão rasou o poste; o Barreirense respondeu por intermédio de Vasques, mas Casimiro, atento, cortou o lance abrindo a Alvarinho, que foi carregado por C. Silva; na marcação do respectivo livre por Leitão perdeu Eleuterio uma excelente oportunidade de abrir o activo. Aos 16 minutos, na sequência de um pontapé de canto, GERVASÍO, num lance infeliz, introduziu com um golpe de cabeça o esférico nas próprias redes. Animados com a vantagem inesperada de um tento, os orientalistas assumiram o comando da partida e em breve espaço de tempo registaram uma grande defesa de Silva sobre o risco, a cabeceamento de Alvarinho; um tiro de França por alto, e um livre marcado por Leitão e que passou a rasar a trave, até que aos 24 minutos surgiu o segundo tento, por intermédio de VICENTE, que com um toque de cabeça desviou a TRAJECTÓRIA do esférico, impulsionado por um potente remate de Eleuterio. O Barreirense libertou-se por momentos da pressão adversária e Szabo teve de defender para canto um pontapé longo de Ferreira. Logo a seguir, o mesmo Szabo, com uma saída fora do tempo, originou novo cento, cuja marcação não surtiu efeito, por Vasques ter atirado muito por alto. Este assédio dos barreirenses durou pouco e uma fuga de Alvarinho, lançado em profundidade por Leitão, foi concluída com um remate, que forçou Silva a defender para perto, e a recarga perdeu-se. O sector atacante dos donos do terreno, bem secundado pelos seus médios, continuou a dar que fazer à defesa barreirense, que se extenuou a desembaraçar-se das situações perigosas que lhe surgiram constantemente. Uma óptima abertura de França foi concluída por Alvarinho a rasar o poste, quando só tinha o guarda-redes à sua frente. Na avançada seguinte surgiu o terceiro tento; grande pontapé de França, defesa de Silva para perto e recarga vitoriosa de ALVARINHO, aos 37 minutos de jogo. Dois minutos depois Leitão apossou-se do esférico, fintou Vale e Martins I, passou a VICENTE e este, com um potente remate, levou o esférico a embater na parte inferior da barra, de onde ressaltou para as redes. Aos 44 minutos Carlos Silva foi expulso por agressão a Alvarinho. A dois minutos do reatamento, PINA, aproveitando inteligentemente um internamento de França, elevou a vantagem para cinco a zero, e um canto contra o Barreirense foi aliviado por Pascoal. Entretanto, Leitão falhou uma oportunidade de golo. O Oriental, com a margem folgada de cinco tentos, passou a actuar com relativo descanso, não deixando, no entanto, perder o comando da partida, cortado de quando em vez por uma ou outra reacção do adversário, que os seus defesas iam neutralizando com relativa facilidade. Aos 21 minutos, AFONSO conseguiu minorar a diferença, marcando o tento que veio a ser o ponto de honra do Barreirense. Mas, no minuto seguinte, Silva não segurou um fortíssimo remate de Alvarinho e PINA, oportuno, repôs a diferença. Precisamente à meia hora, uma entrada irregular de Reis a Vicente deu origem e uma grande penalidade muito discutida pelos jogadores do Barreiro. F. Silva chegou a colocar-se fora das balizas como sinal de protesto contra a decisão do árbitro, sendo necessário que Pascoal o forçasse a ir para o seu lugar; Alvarinho, encarregado da marcação, atirou à figura. Após este incidente o Barreirense esteve prestes a marcar o segundo tento a um remate de Martins II e que Szabo defendeu oportunamente para canto. Aos 37 minutos, França passou em profundidade a ALVARINHO, que, com um remate fulminante à entrada da grande área, marcou o sétimo tento da sua equipa, e o melhor do encontro. O comportamento dos jogadores e o árbitro No Oriental: Szabo não executou qualquer defesa difícil ou apertada. Morais foi o melhor dos três defesas: boa colocação no terreno, despacho fácil, algumas iniciativas oportunas e uma movimentação extraordinária. Alfredo esteve seguríssimo, o mesmo acontecendo a Casimiro. Nos médios. Isidoro esteve oportuno, atento e incansável em toda a partida. Eleuterio acusou um tanto o andamento do jogo, mormente no segundo tempo, em que passou a actuar a extremo esquerdo, talvez consequência do afastamento a que foi forçado pelo campeonato militar; no sector atacante, Leitão jogou a grande altura, sendo o melhor elemento no terreno; mas França, Pina, Vicente e Alvarinho também não deixaram os seus créditos por mãos alheias. No Barreirense: F. Silva, após o primeiro tento, actuou desmoralizado e contribuiu em grande parte para o quarto e quinto tentos do Oriental. Pascoal e Reis não tiveram a rapidez necessária para se opor aos avançados contrários; Gervásio inferiorizou-se com a infelicidade do primeiro tento, e Ricardo Vale procurou a espaços pôr as coisas em ordem mas o terreno de que dispôs foi muito apertado. Na linha da frente, uma ou outra iniciativa de Vasques e Ferreira e mais nada. A arbitragem do Sr. Adriano Gonçalves revelou autoridade e não deu motivo a reparos. MATOS FERNANDES %% 1950/03/50-03-13/19500313.7.txt Antetítulo: Campeonato Nacional de Futebol - Primeira Divisão Título: OLHANENSE, 6 - "O ELVAS"; 3 Subtítulo: Tarde de acerto dos avançados algarvios e réplica firme dos visitantes, que obtiveram os seus três pontos nos últimos dez minutos. Data: 13 de Março de 1950 Domínio: Comentário/relato de jogo Autor: António Dias Fonte: Mundo Desportivo OLHANENSE, 6 - "O ELVAS"; 3 Tarde de acerto dos avançados algarvios e réplica firme dos visitantes, que obtiveram os seus três pontos nos últimos dez minutos. OLHANENSE - Abraão; Rodrigues, Nogueira e Loulé; Acácio e Grazina; Soares, Joaquim Paulo, Cabrita, João da Palma e Eminêncio. ELVAS - Roger; Osvaldo, Neves e Oliveira; Cadete e Sousa; Vieira, Massano, Patalino, Teixeira e Manuelito. ÁRBITRO - Libertino Domingues, de Setúbal. O público de Olhão aguardava com muita expectativa o desafio da sua equipa com o Elvas. A posição do Olhanense, desejoso de marcar posição de realce no campeonato, a necessidade que os alentejanos, têm de obter pontos para se esgueirarem da zona perigosa, justificava em absoluto esse ambiente de curiosidade à volta da partida do estádio Padinha. Acresce que a turma algarvia tem feito últimamente belos resultados fora e os seus adeptos desejavam verificar até que ponto tais êxitos correspondiam à forma e capacidade do «onze». Por isso os olhanenses acorreram em bom número ao estádio Padinha, e deve dizer-se que não deu o seu tempo por mal empregado. Pelo contrário. Se nem sempre se jogou num nível elevado; se o encontro não atingiu a craveira doa grandes desafios, não deixa de ser verdade que houve muitos e muitos períodos de bom futebol. A movimentação geral da partida, por seu turno, foi apreciável. Tudo junto deu um encontro agradável, com a particularidade do seu final ser emocionante, devido à corajosa reacção dos visitantes. Num espaço de dez minutos marcaram-se, no declinar do desafio cinco bolas, e o resultado passou de 4-0 para o 6-3 em que se fixou. É interessante salientar que os primeiros três tentos do Olhanense foram obtidos também num curto lapso de tempo: doze minutos. E, assim, porque o público gosta de ver marcar muitas bolas, porque o Olhanense chegou a alcançar brilho nunca renunciou à luta, o encontro deixou todos satisfeitos. Todos não! Os elvenses têm razão para não mostrarem contentamento, porque a derrota os coloca exactamente em situação de que pretendiam fugir. Ainda terá tempo, porém, para sair dos baixos da tabela e recuperar posição que valorize o futebol da província. Dois estilos de jogo. Um dos motivos de agrado do desafio foi o facto de cada equipa oferecer o seu estilo de jogo. A equipa de Olhão baseou o seu labor na velocidade e na desamarcação dos dianteiros, que foram os principais artífices do triunfo, ao passo que no «onze» do Elvas se verificou uma toada mais repousada, mais lenta, e um tom geral de jogo vistoso mas ineficaz. O sistema dos algarvios saiu vitorioso, devido essencialmente à melhor conclusão dos lances ofensivos e à inspiração do; avançados, que nunca renunciaram à ideia de que só rematando podia a equipa fazer bom resultado. Deste modo, o triunfo algarvio não saiu de lances fortuitos. Teve princípio, meio e fim, e foi realmente imposto por futebol de boa qualidade. A vitória do Olhanense teve a valoriza-la a porfiada resistência dos alentejanos O Elvas, na verdade, nunca deixou de lutar, mesmo quando o resultado podia ser considerado desanimador. Pois, mesmo com quatro bolas de desvantagem logo no começo da segunda parte, e cinco já dentro do último quarto de hora, os elvenses não se deixaram abater pelo desânimo. E beneficiando um tanto da confiança dos algarvios, puderam amenizar a derrota, dando ao encontro um resultado mais de harmonia com a marcha do próprio jogo. Foi tão firme a recuperação dos visitantes que a marca chegou a estar em 5-3. Faltavam dois minutos para a partida terminar quando o «onze» de Olhão conseguiu a sua última bola. Apesar desta brilhante e sensacional recuperação do Elvas, o Olhanense demonstrou que os seus excelentes triunfos não resultaram de mero acaso. Corresponderam à força da equipa. Era isso, precisamente, que os olhanenses queriam saber. Ficaram, portanto, legitimamente agradados do grupo. Velocidade, desmarcação e remate Repetimos: três predicados o Olhanenses mostrou para justificar esta boa vitória. Velocidade, desmarcação e remate, eis as características da exibição do grupo. Observa-se, portanto, através deste enunciado que foi na linha avançada que o Olhanense teve o seu melhor sector. Os dianteiros, e muito especialmente o trio central, imprimiram ao jogo um ritmo muito rápido, a que se aliaram desmarcações bem executadas, fintas oportunas, deixando os adversários imediatamente fora da jogada, e remates prontos, fortes e bem dirigidos. O ataque algarvio derrotou muitas vezes, com mais frequência antes do intervalo, o sistema defensivo do Elvas. Esta conseguiu, mais tarde, reabilitar-se, mas já não foi a tempo de evitar a marcação dos primeiros tentos, que serviram admiravelmente para a equipa não perder vantagem no final do desafio, quando parecia irresistível a vontade dos alentejanos. Na segunda parte o Olhanenses não manteve o mesmo jeito, talvez, porque a defesa adversária passou a carburar melhor, com mais eficiência. Todavia, a quarta bola dos locais saiu de um deslize do defesa Oliveira que, ao tentar um passe a Roger, entregou a bola a um adversário. Não é de mais realçar o excelente trabalho do trio central do ataque do Olhanense. João da Palma foi, no entanto, o melhor. O melhor jogador em campo, mesmo, creditando-se de uma exibição à altura dos seus comprovados méritos. Tudo quanto fez foi bem feito, fintas, passes, remates... Marcou três tentos, nada menos, a coroar uma tarde de grande e larga inspiração. Cabrita esteve menos afortunado a visar as balizas, ainda que fosse quase igual a Palma em pormenores de jogo, principalmente em passes para os companheiros; da formação atacante. Depois do intervalo baixou um pouco. Eminêncio, com as suas corridas fulgurantes, ameaçou, sériamente a defesa contrária, soares colaborou, de modo geral bem, no rendimento do quinteto avançado Olhanense, Joaquim Paulo é que não atingiu o mesmo nível dos companheiros, Grazina esteve na base de muitos ataques da equipa e Nogueira ganha, dia a dia, personalidade. Defesa vigorosa, travou com Patalino um dueto curioso, no qual levou muitas vezes a melhor. Passes a mais e remates a menos A equipa fronteiriça deixou boa impressão no público olhanense. Os visitantes tiveram sempre pronta a resposta a dar aos visitados, mantendo com estes um despique que contribuiu amplamente para o bom aspecto geral do desafio. Mas a linha da frente caiu num sistema pouco eficaz de passes sobre passes, não progredindo no terreno, e, pior ainda, não rematando. Em regra todos os dianteiros fraquejaram no capitulo fundamental do remate, principalmente o habilidoso Manuelito, que comprometeu muitas descidas com pontapés sem força nem direcção. O próprio Patalino fraquejou no mesmo pormenor. Deu, ainda, a impressão nítida de falta de poder físico, caindo frequentemente quando se esperava um remate. Embora deva pôr-se em realce o belo espírito de luta revelado pelos elvenses, e que lhes permitiu a sensacionalíssima recuperação do final do desafio, há que distinguir alguns elementos pelo seu melhor trabalho. Roger é um deles. Oportuno a cortar jogo, não o deixando cruzar, saiu quase sempre bem, reduzindo o plano de visão dos dianteiros algarvios. Evitou, assim, muitas situações perigosas e até, possivelmente, algumas bolas. No quarto ponto o guarda-redes elvense magoou-se e esteve cinco minutos fora do campo. Foi substituído por Sousa. Também nessa altura pôde verificar-se a boa disposição dos alentejanos, que não acusaram a inferioridade em que a saída de Roger os colocou. Decididamente há que contar com o Elvas, nesta luta em que está empenhado para não baixar de Divisão O trio defensivo esteve sobre o trace no primeiro tempo e firme e voluntarioso depois do intervalo. Sousa evidenciou-se na linha de médios, enquanto no ataque os melhores foram Massano e Vieira este especialmente na segunda parte, Patalino muito agarrado à bela, não esteve feliz. Na ala esquerda há que colocar em relevo a habilidade de Manuelito, só igual à falta de decisão em frente das redes. Maré-cheia de pontos Marcaram-se nada menos de nove bolas. Esta maré-cheia de pontos agradou visivelmente ao público que, no enquanto, se alarmou com ela quando no declinar do jogo os elvenses fizeram seguidamente três tentos. Ao intervalo: 3-0. Primeira bola aos 23 minutos, por João da Palma, rematando um oportuno e bem feito passe de Cabrita. Já no último quarto de hora, aos trinta e dois minutos, Eminêncio marcou um canto e Acácio, acorrendo lesto ao lance, deu à bola o caminho das redes. Três minutos depois o trio central do Olhanense combinou bem e Eminêncio rematou melhor ainda, fechando a marca da primeira metade. Aos nove minutos do segundo tempo Oliveira tirou, praticamente a bola ao seu guarda-redes para a entregar a um adversário... Este foi Joaquim Paulo, que não perdeu tempo a pensar como «aquilo» se passara: 4-0. Depois, o marcador esteve muitíssimo tempo sem funcionar Só aos 35 minutos se registou mais uma bola linda do Olhanense. João da Palma tomou a iniciativa de um movimento vistoso de ataque, concluindo-o com um pontapé para as redes. Mas os elvenses estavam prontos para tudo... E, decorrido um minuto, Manuelito deu caminho à emocionante reviravolta. Aos 40 minutos Patalino obteve nova bola e aos 42 minutos com surpresa geral, a marca ficava em 5-3! E não se ficou por aqui. Aos 43 minutos mais uma bola, esta agora dos algarvios, a darem tranquilidade aos seus adeptos. João da Palma foi o autor deste último ponto. O Elvas protestou... O Sr. Libertino Domingues fez excelente trabalho de arbitragem, dirigindo o desafio com bom critério e pulso firme. O Elvas, porém, protestou. Procurámos saber porquê e foi-nos dito o seguinte: quando, a certa altura, um espectador teve uma síncope mortal, facto que muito consternou toda a gente, o árbitro, com a bola fora de jogo, esperou dois minutos pela saída do carro que conduzia o infeliz assistente, tendo os jogadores doe dois grupos ficado perfilados no meio do campo. Foi baseado no facto de ter demorado esses dois minutos para recomeçar a partida que os alentejanos protestaram! ANTÓNIO DIAS %% 1950/04/50-04-17/19500417.1.txt Antetítulo: FUTEBOL INTERNACIONAL 0S JOGOS DA TAÇA LATINA Título: 0 CAMPEÃO DE PORTUGAL DEFRONTARÁ 0 CAMPEÃO ITALIANO DIA 26 DE JUNHO, EM ESPANHA Subtítulo: A organização da «Taça Latina», que chegou a estar comprometida para este ano, será um facto em 1949. Data: 17 de Abril de 1950 Domínio: Notícia Fonte: Mundo Desportivo FUTEBOL INTERNACIONAL 0S JOGOS DA TAÇA LATINA 0 CAMPEÃO DE PORTUGAL DEFRONTARÁ 0 CAMPEÃO ITALIANO DIA 26 DE JUNHO, EM ESPANHA A organização da «Taça Latina», que chegou a estar comprometida para este ano, será um facto em 1949. A imprensa francesa apresentara há cerca de quinze dias, por intermédio de alguns jornalistas especializados em futebol, sobretudo Maurício Pefferkorn, várias dificuldades que poderiam, em seu entender, prejudicar a organização do torneio, denunciando, porventura, a tese da imprensa de França o sentir dos clubes. Pefferkorn era de opinião de que para a «Taça» não ficar eternamente em projecto haveria necessidade de modificar a fórmula de realização. O primitivo projecto de meias-finais disputadas em dois jogos, nos terrenos dos clubes em presença e de uma final, também em dois jogos ou num jogo em terreno neutro parecia-lhe de difícil execução, por motivo de ocupar muitas datas. Outro ponto focado pelos franceses diz respeito à inscrição da equipa campeã, inscrição que é feita sem conhecer ainda o clube vencedor do campeonato. Implicitamente a Federação Francesa «daria ordem» para o clube campeão concorrer à «Taça Latina» para o que não tem poderes. Seria necessário, pelo menos, que os clubes concorrentes ao campeonato tomassem o compromisso de uma inscrição eventual. As eliminatórias efectuam-se no dia 26 de Junho e a final no dia 3 de Julho, podendo ser utilizado o dia 29 de Junho para o caso de haver necessidade de desempate. Se a prova se efectuasse neste momento as equipas eleitas seriam Sporting, Torino, Real Madrid e Marselha. É porém natural que até a altura da prova as classificações mudem, sobretudo em França e Espanha. Quanto a pormenores de organização desconhecem-se. Assim não se sabe se as duas eliminatórias se efectuam na mesma cidade ou em cidades diferentes nem o funcionamento financeiro da prova. Quer dizer: se as receitas são para os clubes, para as Federações ou para a Federação organizadora. Nem, ainda, qual a garantia que existe de que a prova se efectuará pelo menos durante quatro anos. Este ponto de vista dos franceses parece-nos realmente interessante, pois nada nos diz que o clube campeão de um País esteja disposto a concorrer à «Taça Latina». E a Federação respectiva também não o poderá obrigar. Outro assunto que os jornalistas franceses focavam era o das datas em que a prova se realizaria, pois poderia surgir uma «briga» entre as datas da «Taça» e as dos jogos internacionais. Antes de 19 de Junho a França teria dificuldade mesmo impossibilidade, de se apresentar a «Taça Latina», pois joga no dia 6 contra a Suíça e no dia 19 contra a Espanha, sendo natural que o clube campeão forneça jogadores para estes desafios. Pefferkorn lembrava no seu artigo a conveniência de juntar os campeões de França, Itália, Espanha e Portugal na mesma cidade ou em duas cidades do mesmo país, o que permitiria disputar a «Taça Latina» em oito dias, as meias-finais em um domingo e a final noutro domingo, pois a «Taça» não é uma prova de «regularidade» como o Campeonato, não se devendo mesclar uma organização a que se chama «Taça». Foi este ponto de vista francês, certamente defendido pelos delegados Srs. Rimet e Gambardella, que triunfou na reunião efectuada no domingo em Barcelona. Pelo menos tem de se depreender isso da maneira como será disputada a «Taça Latina» em dois domingos, no mesmo país e a eliminar. E ainda a pretensão dos franceses de disputar a Taça depois do dia 19 de Junho prevaleceu. A «Taça Latina» será disputada em Espanha (1949), Portugal (1950), Itália (1951) e França (1952). O sorteio para 1949 emparceirou assim as equipas: campeão de Itália contra campeão de Portugal e campeão de Espanha contra campeão de França. %% 1950/04/50-04-17/19500417.2.txt Antetítulo: FUTEBOL ALÉM-FRONTEIRAS Título: A EQUIPA DO ATLÉTICO SEGUIU PARA ESPANHA, DEVENDO JOGAR AMANHÃ EM MÁLAGA Domínio: Notícia/comentário Data: 17 de Abril de 1950 Autor: ANTÓNIO DIAS. Fonte: Mundo Desportivo FUTEBOL ALÉM-FRONTEIRAS A EQUIPA DO ATLÉTICO SEGUIU PARA ESPANHA, DEVENDO JOGAR AMANHÃ EM MÁLAGA Partiu ontem para Espanha a equipa de futebol do Atlético Clube de Portugal, que amanhã jogará em Málaga a convite do Grupo Desportivo daquela cidade. A comitiva, composta pelos jogadores José Lopes, Gregário, Correia, Ernesto, Baptista, Rosário, Morais, Martinho, Demétrio, Ben David, Armindo Silva e Caninhas e pelos dirigentes Sr. Alfredo Viçoso, Dr. Américo Nunes e treinador Pedro Areso, tomou o comboio das 15 h e 25 m na estação do Rossio, até Badajoz. de onde seguirá em autocarro directamente a Málaga. Apesar da deslocação só ficar assente em definitivo anteontem à noite, na estação do Rossio compareceu ainda número avultado de admiradores e pessoas de família dos componentes da caravana vários dirigentes da colectividade e o nosso prezado director Sr. Raul de Oliveira, que testemunharam à equipa do Atlético desejos de boa viagem e a conquista de um bom resultado. Antes da partida do comboio, conversámos com o técnico do clube alcantarense Pedro Areso, antigo internacional da nação vizinha e conhecedor profundo do futebol espanhol. Disse-nos que o desafio que o Atlético vai disputar se reveste de certa importância e é aguardado no sul de Espanha com verdadeiro interesse. O Atlético terá jornada difícil. - «O Desportivo de Málaga, que se pode já considerar campeão da 2.ª Divisão da Liga espanhola, tendo deixado para trás a Real Sociedade de S. Sebastian (o clube de Bravo) e o Gijon, agrupamentos que na época passada disputaram a 1.ª Divisão de Espanha, será adversário difícil. «No entanto - afirmou-nos Areso - creia que o Atlético não deixará o futebol português mal colocado. «Armando Carneiro, que não pôde seguir viagem por não ter obtido licença da empresa onde é empregado, far-nos-á bastante falta. Trata-se de um dos melhores jogadores do meu clube. No entanto, os rapazes vão animados e lutarão por deixar o nome do Atlético bem conhecido em Espanha. Quando o comboio se prestava já a partir, acercámo-nos do capitão da equipa, José Lopes. O valoroso jogador não pôde conter o entusiasmo. - «Isto não é só para os «grandes» - disse-nos. Como vê, nós também vamos a Espanha. «E ponha lá no seu jornal que o Atlético também tem valor para enfrentar qualquer equipa espanhola - sem temor do resultado! - Quem vencerá? - inquirimos à queima-roupa, quando o combóio já ia em marcha... - Nós! - gritou-nos José Lopes. E no meio das últimas despedidas e dos últimos acenos de boa viagem, os briosos rapazes do Atlético lá seguiram cheios de contentamento e esperançados num bom resultado… Pela nossa parte fazemos votos para que a primeira viagem da simpática turma alcantarense ao estrangeiro seja coroada de êxito. ANTÓNIO DIAS. %% 1950/04/50-04-17/19500417.3.txt Título: ATLÉTICO-FC PORTO Data: 17 de Abril de 1950 Domínio: Comentário/relato de jogo Fonte: Mundo Desportivo ATLÉTICO - Ernesto; Baptista, Arlindo e Abreu; José Lopes e Morais; Martinho, Armando Carneiro, Ben David, Teixeira da Silva e Caninhas. F. C. PORTO - Barrigana; Virgílio, Alfredo e Carvalho; Gastão e Romão; Sanfins, José Maria, Vital, Monteiro da Costa e Vieira. ÁRBITRO: Paulo de Oliveira, de Santarém. Previa-se que a forte constituição defensiva dos portuenses contrariasse ao máximo as pretensões dos alcantarenses. Mas tal não aconteceu. Os «internacionais» Virgílio (decididamente o jogador do F. C. Porto que mais simpatias disfruta na capital) e Carvalho limitaram-se a cumprir, com um ou outro rasgo revelador de categoria. Alfredo foi o mais certo e aplicado do trio defensivo. O outro «internacional», Barrigana, salvou três tentos certos, mercê de defesas de real qualidade, mas demonstrou insegurança e precipitação em várias intervenções, parecendo que atravessa crise de forma. Nos médios de ataque, apenas Gastão, sempre hábil e decidido, se distinguiu; quanto a Romão, a sua tarefa principal recaiu na ajuda que insistentemente teve de prestar aos colegas da defesa. Os avançados mostraram-se desta vez mais voluntariosos e rematadores chegaram, no primeiro quarto de hora, a ordenar jogo mais bem concebido, mas depois, pelo tempo adiante, decaíram puxando, a bem dizer cada qual para seu lado. Dos cinco dianteiros, o extremo esquerdo, Vieira, foi o mais discreto. José Maria aplicou-se briosamente na luta, mas «perdeu-se» sempre na zona de remate. Vital, recebido com ânimosidade por vários espectadores, não se impressionou grandemente com isso e não receou o embate com a rude defesa do Atlético. Foi, porém, mais útil a extremo direito do que a avançado-centro. Ele e Monteiro da Costa (que no desempenho do lugar de avançado-centro se superiorizou aos seus colegas) revelaram poder de remate, mas em tal capitulo a fortuna não os protegeu. Sanfins esforçou-se por cumprir, marcou um tento de bom efeito, mas acusou, mais do que ninguém, a falta de coesão que lavrou no quinteto dianteiro. Globalmente, uma equipa de sólida defesa, mas sem capacidade no jogo ofensivo, desenvolvendo, aos repelões, quase todos os lances de ataque. Em suma: evidente escassez de conjunto, que permita tornear a dificuldade de antecipações afoitas, por parte dos defesas adversários, e criar oportunidades de remate pronto e eficaz. Daí o facto de em várias ocasiões os avançados terem corrido bem mais do que a bola, sem quaisquer resultados práticos. O Atlético dominou ontem o F. C. Porto em todos os capítulos do jogo. A sua vitória, que poderia ter sido ainda mais expressiva, resultou naturalmente do equilíbrio revelado pelos vários sectores da equipa. A turma alcantarense, homogénea como poucas, por vezes a roçar pela impecabilidade, viu aumentado o seu poder devido à nítida subida de forma dos avançados. Estes entendem-se bem, infiltram-se, sem atritos de maior, por entre os defesas, por muito categorizados que sejam. Confiança a toda a prova. Forma apurada, eis tudo. Ao ataque e à defesa, um bloco uno, sólido. Os «atléticos» finalmente, encontraram uma toada certa na rápida ordenação de lances ofensivos. Era precisamente o que lhes faltava. Reina entre eles o desembaraço, a voluntariedade, a consciência. Sabem bem o que lhes cumpre executar. Ernesto continua a ferir as atenções. Eis um guarda-redes sóbrio, reflectido, seguro, atento, decidido. Baptista - o extraordinário veterano - continua a aplicar-se na luta com um à vontade e saber verdadeiramente desconcertantes. Armindo e Abreu completam, da melhor maneira, uma das mais elásticas e sólidas muralhas defensivas que ora actuam em campos portugueses. A vontade e experiência de José Lopes e Morais asseguram à equipa a necessária harmonia. Os cinco avançados, no desafio de ontem, e em todos os aspectos, satisfizeram plenamente. Apenas uma referência à parte (bem merecida, por sinal) para Ben David. Não estamos assim tão fartos de bons avançados-centro, que desprezemos o ensejo de dirigir palavras de incitamento a um jovem que progride em ritmo acelerado. Ben David deverá ser, no momento, o avançado-centro português mais difícil de dominar. Desmarca-se com inteligência, surge sempre onde a sua presença se torna imprescindível. Oferece ameaça constante para a defesa adversária. Fugindo a esta, ou contra ela entrando era luta decidida, em todos os pormenores revela subtileza e rapidez, chega a massacrá-la mais do que se o fizesse à custa de sucessivas entradas em tromba... Melhorou francamente no capítulo de remate. Todavia, recomendamos-lhe apenas um pouco de mais cuidado na execução de certos passes e também um pouco de mais tino na execução de alguns disparos à baliza. 2-0 na primeira parte Logo no primeiro minuto do desafio Caninhas sujeitou Barrigana a intervenção de apuro. Na resposta, porém, Monteiro da Costa provocou também, mercê de remate fortíssimo, uma defesa aparatosa de Ernesto, com os punhos, para «canto». %% 1950/04/50-04-17/19500417.4.txt Título: ACADÉMICA 1- ESTORIL PRAIA, 1 Subtítulo: Num jogo sem vibração, salvou-se apenas a actuação do estorilista Vieira e dos médios de ataque dos estudantes Data: 17 de Abril de 1950 Domínio: Comentário/relato de jogo Fonte: Mundo Desportivo ACADÉMICA 1- ESTORIL PRAIA, 1 ESTÁDIO MUNICIPAL COIMBRA Num jogo sem vibração, salvou-se apenas a actuação do estorilista Vieira e dos médios de ataque dos estudantes ACADÉMICA - Capela; Branco e Diogo; Castela, Curado e Azeredo; Pacheco Nobres, Pinho, Macedo, Neves Pires e Bentes. ESTORIL - Sebastião; Cato e Alberto; Cassiano, Elói e Hernâni; Gonzaga, Nunes, Fragateiro, Vieira e Fandiño. ÁRBITRO - Anisio Morgado, da A. F. Porto. Foi de uma fatigante monotonia o encontro Académica-Estoril, desenrolado sob uma chuva constante, quase sem lance digno de nota. De quanto ontem se passou no Estádio Municipal de Coimbra ficaram, porventura, uma meia dúzia de jogadas do interior estorilista Vieira e umas tentativas de ataque dos médios volantes da equipa estudantil. Mais nada. Verdade seja que a relva, muito molhada, tornou difícil, senão algumas vezes complicado, o trabalho de sujeição da bola. Mas não foi esta a razão que tornou pobre o desafio. O motivo principal, a ausência de interesse, resultou da escassa ou nula movimentação das linhas da frente nas duas equipas. Sob este aspecto, ambas foram de um primitivismo a toda a prova, sem vida, sem imaginação, sem fulgor, sem centelha. Vieira, bem procurou remar contra a maré, mas ele próprio só o conseguiu nos últimos períodos da segunda parte, quando o Estoril, como que seguro da incapacidade da formação ofensiva dos estudantes, procurou um pouco mais abertamente o tento que viria a ser, talvez, o da vitória. Até esse momento, o interior estorilista limitara a sua acção a uns passes de surpresa para Fandiño, no intuito de proporcionar ao argentino a repetição do magnífico remate de que saiu o tento dos visitantes. Bem se esforçaram Azeredo e Castela no sentido de abrir caminho aos seus dianteiros, entregando-lhes com frequência, até mesmo insistentemente, muitas bolas jogáveis. Eles, porém, encarregavam-se logo de fazer gorar esse esforço. A defesa lisboeta cresceu e sobrou em quase todos os lances para a linha de ataque da Académica, pode dizer-se que sem ter passado por dificuldades e, por consequência, sem ter de se aplicar a fundo. O quinteto dianteiro dos estudantes parece de novo em eclipse... Está outra vez sem interiores e o avançado-centro volta a revelar carência de domínio de bola, sem ser capaz, só por si, de dar continuidade a jogadas que a ele próprio compete prolongar. Possivelmente, a precipitação de Macedo resultará algo das deficiências dos seus interiores, mas deverá também dizer-se que Macedo não está no seu melhor momento técnico. A Académica, embora tivesse disfrutado de vantagem territorial, mercê do labor de Azeredo, não chegou nunca ao que deverá chamar-se pressão insistente. Os tentos Dentre as poucas bem feitas do desafio poder-se-ão apontar os lances que precederam os tentos. O da Académica, aos 10 minutos da primeira parte, nasceu de uma rápida transposição de Diogo para Pinho e que este endossou de pronto ao avançado-centro, Macedo. Este correu alguns metros e aplicou um remate por alto. O golo do Estoril surgiu 15 minutos depois e teve a revesti-lo o mérito do inteligente toque com o calcanhar de Vieira para Fandiño e o pontapé por este desferido, rápido e seco, sem possibilidade de defesa. Alterações nas equipas O Estoril alterou a formação a partir dos 20 minutos iniciais. Nunes foi para o centro do ataque, Hernâni para interior e Fragateiro recuou para médio. Também a Académica, a um quarto de hora do final do jogo, fez permutar Pinho com Pacheco Nobre. Foi frutuosa a alteração introduzida na linha lisboeta. Não sucedeu o mesmo, no entanto, quanto à Académica. Pacheco Nobre não estava ontem em veia... %% 1950/04/50-04-17/19500417.5.txt Título: BELENENSES, 2 - V. SETÚBAL, 1 Data: 17 de Abril de 1950 Domínio: Comentário/relato de jogo Autor: ALBERTO FREITAS Fonte: Mundo Desportivo BELENENSES, 2 - V. SETÚBAL, 1 ESTÁDIO JOSÉ M. SOARES LISBOA Após meia hora de jogo cativante dos lisboetas, a partida resvalou para a vulgaridade, embora os belenenses se mantivessem superiores - Os setubalenses mostraram tendência para uma «espécie» de jogo que os prejudicou - Narciso, Frade, Bravo e Baptista em evidência - Arbitragem inferior BELENENSES - Caetano; Figueiredo e Serafim; Rebelo, Feliciano e Frade; Jordão, Bravo, Sidónio, Pinto de Almeida e Narciso. VITÓRIA DE SETÚBAL - Baptista; Jacinto e Fontes; Pina, Primo e Orlando; Vasques, André, Ataz, Nunes e Vasco. ÁRBITRO - Braga Barros, de Leiria. Embora o domínio e a execução de jogo dos Belenenses justificassem uma vitória folgada, os lisboetas ganharam apenas por um golo, o que reflecte uma dificuldade que realmente existiu. E dificuldade criá-la, primeiro, por alguns maus remates dos avançados de Belém; depois, pelo trabalhe acertado do guarda-redes setubalense; finalmente pela acção demasiado «agreste» dos visitantes, que com essa «espécie» de jogo beneficiaram por um lado, pois o árbitro foi de uma tolerância que chegou a ser transigência decidida, mas por outro lado prejudicaram-se, porquanto não foram raras as vezes em que deixaram a bola sem governo para visar o adversário. Na primeira meia hora a partida teve um tom agradável, pela exibição da equipa de Belém; mas depois desse período, o jogo entrou a tombar na vulgaridade, para na segunda parte se apresentar desprovido de qualquer interesse. Os Belenenses não perderam o fio da sua superioridade mas o jogo careceu de clareza apresentando, em contrapartida, vários períodos de luta que foi desde o cunho rude ao duro e chegando ao violento. A esta espécie de jogo os setubalenses mostraram-se por vezes demasiado afeiçoados, talvez porque sentiram a falta de firmeza do árbitro, que acabou por se tornar em falta de autoridade, ficando quase indiferente perante faltas graves. No segundo tempo tomou a decisão de expulsar o avançado-centro do Vitória, mas esse alarde de autoridade não o absolveu de repetidas falhas no julgamento do jogo violento ou perigoso. Com as equipas pouco dispostas a jogar no melhor ritmo e com a melhor compenetração e com o jogo salpicado de atitudes à margem das leis, a partida perdeu interesse e acabou com os espectadores a bocejar... Os Belenenses ganharam com indiscutível merecimento, enquanto os setubalenses perderam mal. Os visitantes demonstraram reconhecer a incapacidade para defrontar o adversário incapacidade porventura derivada de quebra de forma - e enveredaram por um caminho que não os podia conduzir ao êxito. E em vez de serem bem batidos, sem deixarem margem para censuras, que nunca é agradável fazer, foram batidos sem beleza. Meia hora de jogo bem pensado e bem executado A partida valeu pela primeira meia hora, durante a qual os belenenses tiveram exibição em bom estilo, pobremente premiada com um golo. Os lisboetas mereciam realmente mais e podiam ter feito pelo menos outro tento, se o remate potentíssimo de Sidónio não fosse anulado por um poste. Mas o golo que os belenenses marcaram «valeu» por todos os que podia ter marcado. Porque foi, realmente, um portento de execução, que teve o seu ponto supremo na desmarcação de Bravo. Foi essa desmarcação, trocando lugar com o extremo direito e colocando-se numa grande área livre de adversários, que tornou possível o tento e que deu à fase o principal valor. O golo, obtido por Sidónio, terá sido o «momento» menos saliente do movimento de ataque, empreendido pelo flanco direito belenenses. Depois do tento os «azuis» ainda tiveram algumas descidas bem delineadas, concluídas com «tiros» fortes de Sidónio e Bravo, mas o guarda-redes de Setúbal encontrou maneira de anular esses «shots», justificando por si só que os belenenses não apontassem mais nenhum golo. Os últimos dez minutos da primeira parte foram jogados em baixo plano e no segundo tempo só raramente, em lances isolados, se deixou de jogar ao sabor do acaso. O Vitória empatou com um pontapé livre, a castigar falta de Feliciano, a mais de trinta metros da rede, Fontes tomou um bom balanço e com um «tiro» de excelente trajectória iludiu Caetano. Antes, o árbitro havia perdoado duas faltas merecedoras de castigo: - uma carga de Fontes sobre Sidónio, da qual depois se arrependeu... fugindo à perseguição que o belenense lhe fez, e uma defesa de Baptista, com as pernas em «tesoura» estilo que ontem usou com frequência. O empate não durou mais que dois minutos voltando os Belenenses à situação de vencedores, com um golo de Narciso - obra inteiramente sua - mas nesse pequeno período os ânimos estiveram exaltados por motivo da expulsão do avançado-centro de Setúbal, Ataz. Nenhum perigo partiu da equipa do Vitória contrapartida os contrapartida podiam ter aumentado o seu avanço. Pinto de Almeida, porém, em três lances, teve os piores remates do desafio, gorando ocasiões que, mercê de atenção, podiam terminar com êxito. Narciso teve o seu dia O melhor jogador belenense no desafio com o Vitória de Setúbal foi o extremo esquerdo Narciso. Aqui está um rapaz modesto, com um estilo que o torna quase desajeitado, que se mantém indiferente a remoques e recriminações e que com «vontade de ferro» tem progredido a ponto de ser hoje o segundo avançado belenenses, se dermos o primeiro lugar a Bravo. A persistência do treinador e a vontade do jogador fizeram aquilo que há poucos meses quem assistia aos jogos dos Belenenses só podia admitir como «milagre». Mas, afinal, não houve nenhum milagre. Houve, apenas, aquilo que tantas vezes se passa com um praticante de desporto - inapto durante determinado tempo e valoroso pela força da vontade e do trabalho. Bom atleta, trabalhando sob a nossa direcção, temos verificado muitos casos semelhantes. Alguns desses atletas chegaram, até, a campeões, quando nada fazia prever tão lisonjeira posição. Não nos surpreende, portanto, que Narciso tenha conseguido atingir lugar de relativo relevo na equipa belenenses. Mas vemos com simpatia o seu êxito - ontem bem expresso - porque sempre gostámos de fazer justiça e de ajudar os que querem marcar posição, não poupando para isso aplicação nem energia. Muito bem, Narciso. Continue! Na linha de ataque dos Belenenses merece boa classificação o interior direito Bravo. Desde que vimos a sua estreia, até ontem, os progressos são substanciais. A boa categoria do jogador vem a lume e se a acção não tem ainda a sequência que seria necessária, isso explica-se por a forma não ser plena, por enquanto. Mas o jogador revela-se e teve ontem momentos de grande brilho, em especial no lance de que derivou o primeiro tento. Sidónio esteve sempre empenhado na luta, mas os adversários moveram-lhe oposição impiedosa... Ao lado de Narciso e Bravo tem, de colocar-se Frade, jogador que cada vez firma melhor categoria. Dos «médios de ataque» das nossas principais equipas é incontestavelmente um dos que têm mais noção do lugar. Cremos que o treinador dos Belenenses lhe insuflou o «jeito» dos «médios de ataque» que temos visto nas equipas italianas, são esses jogadores, com os interiores, as bases do jogo actual e desde que eles não tenham o ajustado sentido do seu papel o mecanismo de uma equipa não poderá trabalhar no ritmo apropriado. Frade alcançou em pouco tempo um «estofo» que o poderá levar a «grandes empresas», num futebol que está necessitado de jogadores de qualidades e com o próprio sentido do lugar que desempenham, sentido que várias vezes tem faltado e de modo mais saliente em partidas internacionais. Na defesa, Figueiredo foi o jogador mais igual, enquanto Feliciano, apreciadíssimo nos encontros que os Belenenses disputarem na Alemanha, esteve em tarde de inspiração. As quezílias provocadas pelo avançado centro setubalense podem justificar a exibição «trémula» do médio centro belenense. Esperava-se melhor dos setubalenses Aguardava-se da parte do Vitória exibição mais alta. Os setubalenses jogaram pouco em conjunto, aparecendo desde os primeiros momentos mais dispostos para a defesa do que para o ataque. A maneira «agreste» que imprimiram à sua acção tornou saliente a falta de capacidade da equipa para lutar com um adversário em nítida subida de forma, compreendendo-se que os setubalenses quebraram muito desde aquele período em que se registaram alguns bons resultados. E terá quebrado por a equipa haver feito um esforço superior ás suas possibilidades ou por se julgar com uma capacidade que realmente não possuía, por insuficiência de desenvolvimento de qualidades mas que pode vir a possuir. O melhor jogador da equipa foi o guarda-redes Baptista. Seguríssimo. Apenas a censurar-lhe a posição dos pés quando salta para captar as bolas altas. Ontem, uma vez pelo menos, devia ter sido punido com «grande penalidade». Primo e Fontes seguiram-se na ordem do valor do trabalho produzido, merecendo especial relevo o segundo pólo seu valente golo. Jacinto, defesa direito, distinguiu-se pelo aprumo com que jogou desde o primeiro ao último minuto. A linha avançada não teve sequência de acção. A preocupação de travar despiques aniquilou-a. A arbitragem faltou autoridade. Tolerante em demasia, ao árbitro cabe a maior responsabilidade no tom desagradável do desafio. ALBERTO FREITAS %% 1950/04/50-04-17/19500417.6.txt Título: OLHANENSE, 1 - V. GUIMARÃES, 1 Data: 17 de Abril de 1950 Domínio: Comentário/relato de jogo Autor: ANTÓNIO DIAS Fonte: Mundo Desportivo OLHANENSE, 1 - V. GUIMARÃES, 1 ESTÁDIO PADINHA, OLHÃO Os vimaranenses, com o avanço de uma bola no intervalo, procuraram depois defender a vantagem, mas os algarvios alcançaram o tento do empate a dois minutos do fim OLHANENSE - Abraão; Rodrigues, Nogueira e Loulé; Eusébio e Grazina; Arménio, Soares, Cabrita, João da Patina e Eminêncio. VITÓRIA DE GUIMARÃES - Silva; Ferreira, Cerqueira e Costa; Magalhães e Matias; Franklin, Miguel, Teixeira da Silva, Rebelo e Custodio. ÁRBITRO - Borques Leal (Lisboa). A turma de Guimarães conquistou ontem, em Olhão, um ponto que, dada a situação em que se encontra, lhe poderá ser precioso. E dois pontos poderiam os minhotos ter alcançado se, a dois minutos do fim, a sua defesa não tivesse um momento de hesitação, permitindo que João da Palma, desmarcado diante das balizas, recebesse o esférico à vontade e com à vontade lhe desse o caminho das redes. Porém, isto não quer dizer que os visitantes jogassem o suficiente para merecer o triunfo. Ao contrário, esse tento premiou o esforço despendido pela equipa algarvia, dando à partida desfecho mais de harmonia com a marcha dos acontecimentos. Conclui-se, pois, que aos dianteiros olhanenses foi necessário, para violarem as balizas de Silva, que a defesa adversária lhes concedesse oportunidade para tal. Com efeito, os algarvios, a despeito de terem exercido domínio acentuado na última meia hora, não conseguiram desfrutar, em plena movimentação do jogo, da altura propícia para concretizar esse domínio Tirando dois ou três lances em que realmente a sorte não esteve pelo seu lado - lances que levavam o rotulo do êxito, a defesa minhota, bem organizada, chegou para impedir que os seus intentos se convertessem em realidade. Uma táctica defensiva adoptada pelos minhotos. Esclareça-se, no entanto, que os dianteiros locais não lograram momentos favoráveis de remate, devido à táctica imposta pela equipa contrária, e que foi a seguinte: Costa actuou muito recuada, não marcando qualquer adversário; Matias também recuou, cobrindo o extremo direito, e Rebelo, interior esquerdo, agiu praticamente no posto de médio. A verdade é que tal sistema desnorteou um tanto os olhanenses, a ponto de estes passarem o primeiro quarto de hora sem se sentirem capazes de o perfurar. Neste período, Soares, João da Palma e Cabrita executaram bons remates, que deram aso a que o guarda-redes minhoto se mostrasse seguro e decidido. Diga-se, no entanto, que esses remates foram despedidos de longe, facilitando, assim, o trabalho defensivo dos adversários. Passado o primeiro quarto de hora o jogo tornou-se mais equilibrado, coam os dianteiros visitantes a apoquentarem também a defesa adversária, denotando, todavia, pouca desenvoltura no capítulo de remate. Depois entrou-se num período de interessante jogo por parte dos vimaranenses, vendo-se o seu ataque, embora apenas contando com quatro unidades, desenhar alguns bens lances, a que só faltava o remate. Mercê desse bom jogo, os visitantes obtiveram o seu tento, aos 38 minutos, mercê de uma grande penalidade transformada por Franklim. O castigo nascera de uma «mão» aplicada pelo defesa Rodrigues, a impedir que tivesse êxito um remate de Custódio. O resultado de 1-0, favorável aos minhotos, estava absolutamente de acordo com o melhor jogo por eles desenvolvido na primeira parte. Domínio dos olhanenses no segundo tempo Na segunda parte as coisas modificaram-se sobremaneira. Os vimaranenses procuraram colocar na defesa todas as atenções. Ao invés, os olhanenses lançaram-se ao ataque com a intenção de operar uma reviravolta no resultado. Desta maneira foi natural que os locais se exibissem mais ao ataque, como foi natural também que o jogo dos visitantes se acentuasse mais à defesa. Todavia, aos avançados olhanenses faltava Inspiração necessária no remate. João da Palma, Eminêncio e Grazina tiveram o alvo por vezes à sua mercê. No entanto, na altura do «tiro» à baliza, aparecia sempre um defesa adversário a evitá-lo. Depois de uma admirável jogada de Eminêncio, a colocar a bola nos pés de João da Palma, para o remate fatal, o esférico embateu no poste, e Grazina, neste período a mostrar-se o elemento mais rematador, tentou duas vezes o golo, sob êxito. O jogo entrou numa fase de aflição para uns e para outros. Aos 43 minutos, porém, os algarvios obtiveram assim o tento do empate. João de Palma, como já descrevemos, foi o autor da proeza. Grazina - o melhor jogador da equipa algarvia Na equipa de Olhão, que na segunda parte actuou com mais convicção ao ataque, faltaram rematadores. Cabrita nunca se mostrou o avançado-centro capaz de vencer a bem organizada defesa adversária. Lutou, sobretudo, com escassez de velocidade e sentido de desmarcação. A defesa, pode dizer-se, esteve bem. Abraão, seguro e saindo com oportunidade das balizas, e Rodrigues, Nogueira e Loulé agiram também com acerto. Grazina foi o melhor jogador da equipa, principalmente na segunda parte, em que foi o inspirador de todo o jogo ofensivo. Dos dianteiros, Eminêncio, com um primeiro tempo sobre o fraco, teve na segunda parte alguns lances que lhe são já característicos, usando de velocidade e decisão. Arménio revelou habilidade, mas é um pouco frágil. Soares, de quando com boas iniciativas, e João da Palma procurou desmarcar-se com a propósito. Muita vontade na turma visitante A equipa vimaranense teve na vontade com que se empregou na luta o seu triunfo principal. Todos os seus elementos se distinguiram nesse aspecto. Espírito de sacrifício e de entreajuda e toda a prova. O guarda-redes Silva realizou excelente exibição. Pareceu-nos, no entanto, um pouco precipitado na altura de colocar a bola em jogo. Ferreira, com uma primeira parte em cheio, e Cerqueira, na luta com Cabrita, distinguiram-se. Costa foi útil em todos os aspectos. Dos médios Magalhães salientou-se, e Rebelo, na segunda parte, houve-se a contento. Nos avançados, Franklim foi o melhor. Belo domínio de bola e internamentos perigosos. Miguel, procurando a ligação da defesa para o ataque, cumpriu, o mesmo sucedendo em relação a Custodio. Teixeira da Silva batalhador como sempre. Excelente arbitragem Borques Leal, bem coadjuvado pelos fiscais de linha, realizou excelente arbitragem. ANTÓNIO DIAS %% 1950/04/50-04-17/19500417.7.txt Antetítulo: CAMPEONATO NACIONAL DA 2.ª DIVISÃO Título: ORIENTAL, 3 - BOAVISTA, 4 Data: 17 de Abril de 1950 Domínio: Comentário/relato de jogo Autor: CARLOS PINHÃO Fonte: Mundo Desportivo CAMPEONATO NACIONAL DA 2.ª DIVISÃO ORIENTAL, 3 - BOAVISTA, 4 Desafio emocionante pela extrema combatividade, que não excluiu desportivismo, e pelas oscilações do resultado ORIENTAL - Szabo; Casimiro, Alfredo e Morais; Isidoro e Eleutério; Alvarinho, Leitão, França, Vicente e Pina. BOAVISTA - Mota; Fernando, A. Caiado e Ramos; Fernandito e Serafim; Lourenço, Luzia, Alcino, F. Caiado e Barros. ÁRBITRO - Adriano Gonçalves, da A. F. Coimbra. Com a sucessão de jogos de domingo a domingo, as equipas como que «mecanizam» a forma, que não pode ser mantida, de forma alguma, através de treinos mais ou menos intensos. Coisa semelhante se passa, ao que parece, com o público, pois ontem, em Marvila, apesar de se tratar de um encontro de extrema importância para o grupo da casa e para o visitante, evidentemente não vimos nada que se parecesse com o ambiente de expectativa e de nervosismo de outras vezes ali criado. Talvez houvesse também confiança excessiva, por parte do público e até dos jogadores da turma lisboeta, no resultado favorável, pois, sofrendo um tento logo de entrada, o Oriental não acusou o toque, reagiu de pronto e chegou ao empate. Mas quando, na primeira parte ainda, o Boavista chegou a 3-1, notou-se então verdadeira e fatal quebra de confiança ao Oriental, resultante porventura de um misto de surpresa e de desilusão. O grupo nortenho teve sorte na facilidade com que alcançou um tento de avanço, logo aos 4 minutos, e depois na facilidade também com que recuperou a vantagem com dois golos fortuitos no espaço de três minutos. Mas é verdade também que, se a sorte do jogo tinha de inclinar-se para algum lado, decidiu-se realmente, na primeira parte, por aquela equipa que a procurou com mais decisão e afinco. Que a maneira como depois o Boavista não só «segurou» a vantagem como ainda tentou amiúde ampliá-la acabou por conceder mérito incontestável ao vencedor, Mérito incontestável e incontestado, porque os jogadores das duas equipas saíram abraçados do campo tal como por abraços começou o memorável jogo de ontem entre o Oriental e o Boavista. Memorável, se não por primores de técnica ou pela definição dos esquemas, certamente pela extrema correcção com que foi disputado e assistido tanto mais de assinalar porque se tratava de partida a bem dizer «decisiva» e porque foi disputada em grande energia por ambos os contricantes. Os abraços iniciais, a que nos referimos, dedicaram-nos os jogadores do Oriental aos internacionais adversários Serafim Baptista e Fernando Caiado, pela sua participação nos desafios com a Espanha. Isidoro, capitão do Oriental, fez também oferta de um galhardete do Boavista. Ao entrarem no campo, tinham sido muito aplaudidas as três equipas: - a dos dois clubes e até a de arbitragem, De modo que o jogo começou em «maré de rosas» e nunca é de mais referi-lo, embora se pelejasse com ardor, nunca foram esquecidas as regras de bom desportivismo. E a verdade é que, para o fim do encontro, foi uma decisão da arbitragem que tornou irremediável a situação para o grupo da casa, mas isso é questão de que Trataremos mais adiante. Os sete golos e outras peripécias da partida O Boavista marcou logo de entrada. A indecisão da defesa do Oriental, que já antes se notara e depois teve larga confirmação, deu trunfos, aos 4 minutos, a ALCINO, que não os desaproveitou, jogando a bola de cabeça para a «aberta» deixada na baliza. O Oriental replicou e a defesa do Boavista, depois de, ter cedido três cantos, cedeu um golo, aos 12 minutos. Foi notável a preparação de Leitão, a baixar a bola; oportuno o desvio de Vicente e corajoso o mergulho de PINA, que meteu a bola também de cabeça. Reagiram então os nortenhos e voltaram os defensores do Oriental a mostrar-se embaraçados perante a velocidade dos adversários e perante as complicações criadas por uns aos outros. Assim, aos 18 minutos, com Szabo bem lançado para a bola, Casimiro antecipou-se-lhe despropositadamente e colocou a bola à mercê de um adversário. Alfredo sobre o risco salvou a situação, cedendo canto. Com merecimento, mas com o seu quê de sorte na transformação, o Boavista alcançou a segunda bola aos 21 minutos. De fora da grande área, Caiado desferiu um remate seco que surpreendeu Szabo menos atento, pois só assim se justifica a entrada da bola. E o terceiro tento veio logo aos 25 minutos. Calado marcou um «canto» do lado esquerdo e, na direita, apareceram desmarcados Alcino e Lourenço. O toque final pertenceu ao extremo. Insistiram os nortenhos e, em certo espaço de tempo, ganharam três «cantos» - um dos quais motivado por excelente remate de cabeça de Serafim. A pouco e pouco, o Oriental recompôs-se e, quando aos 39 minutos alcançou o segundo tento, já estava realmente a merecê-lo. Marcou-o também Pina, a coroar jogada de insistência pessoal. No reatamento, a defesa do Oriental voltou a comprometer a equipa. Anotámos de seguida uma defesa a punhos de Szabo, quando poderia ter encaixado a bola; um «balão» de Casimiro e um falhanço espectacular de Morais. Pelo contrário, a defesa do Boavista não dava quaisquer facilidades aos esforçados atacantes locais e, embora o Oriental atacasse mais durante a segunda parte, o Boavista atacou melhor, isto é, com mais perigo. Os nortenhos, por via do adversário, tinham sempre campo mais livre quando atacavam e os destemperos dos defesas lisboetas, principalmente os extremos, animavam-nos a porfiar nas tentativas. O Oriental viu-se prejudicado também com a lesão de Pina, que estava a ser o dianteiro mais eficaz. Magoado nos primeiros minutos da segunda parte, esteve alguns minutos fora do campo, regressou a coxear e saiu em definitivo por volta da meia hora. Chegou-se ao 27.º minuto sem mais tentos, perdendo ambos os grupos oportunidades soberanas. França e Lourenço tiveram remates à trave e dois «tiros» de Leitão passaram perto dos postes. De uma vez, França, bem lançado, parou porque a bola lhe bateu na mão, mas o árbitro não vira a falta. Neste período, Lourenço e Luzia permutaram os seus lugares no flanco direito e, pouco depois, Lourenço trocou com Alcino, ficando portanto a linha avançada do Boavista assim constituída: Luzia, Alcino, Lourenço, Caiado e Barros. Citámos o 27.º minuto... O Oriental, embora estivesse então a jogar com dez homens, longe de sucumbir, entregou-se à luta ânimosamente nós últimos minutos. Mereceu bem o terceiro golo, mas a verdade é que ninguém deu pela razão da grande penalidade assinalada contra o Boavista a 2 minutos do fim, a tal ponto que o público da casa assobiou demoradamente o árbitro. Leitão transformou o castigo. Esta decisão do árbitro e a sua indecisão anterior, que provocou o quarto golo do Boavista, terão sido os únicos deslizes do árbitro, que até então se houvera muito bem, mas é inegável que esses deslizes influíram na contagem, como se verificou. Estamos certos que não viu a «mão», mas, em face dos protestos simultâneos e espontâneos dos orientalistas, justificar-se-ia a consulta ao juiz de linha. Realçámos já o mérito da vitória do Boavista, que soube tirar partido da superioridade física dos seus componentes em relação aos adversários. A equipa faz diferença da que conhecemos na época anterior e não admira. É diferente o estado de espírito de uma equipa que luta, como agora, para conquistar um título, ou luta, como na I Divisão, para não ficar em último. Serafim, principalmente em forma magnífica e Fernando Caiado são, de facto, as figuras dominantes da equipa e ontem parece que os seus nomes e as suas recentes internacionalizações «atemorizaram» os adversários. Além deles, os defesas Fernando e A. Caiado e os avançados Lourenço e Alcino cotaram-se também em bom plano. Quanto ao Oriental, contra o hábito, jogou ontem demasiadamente com a bola pelo ar e a defesa acumulou deslizes. Parece haver na turma falta de confiança no guarda-redes, mas se é certo que este ontem teve culpas em golos, não é menos verdade que lhe criaram situações de muito apuro. Individualmente, Alfredo terá sido o «menos mau» da defesa, que «contagiou» os médios com a sua falta de inspiração. Eleutério e Isidoro levantaram a bola, prejudicando assim, por seu turno, os companheiros da frente. Leitão «perdeu-se» entre Caiado e Serafim e Alvarinho sentiu a falta de serviço do seu interior. Uma equipa de futebol constitui uma engrenagem e, naturalmente, a falha de uma peça compromete o rendimento das outras peças, mormente das que lhe ficam mais próximas. Mário Vicente, mais afoito ao choque e à vontade na luta de corpo, foi o elemento que esteve mais perto da sua verdadeira capacidade. Pina obteve dois bons golos e, como não podia deixar de ser, fez-se sentir a sua ausência nos derradeiros minutos, quando o Oriental tentava um último esforço. CARLOS PINHÃO %% 1950/04/50-04-17/19500417.8.txt Título:"O ELVAS", 6 - LUSITANO, 1 Data: 17 de Abril de 1950 Domínio: Comentário/relato de jogo Autor: GIL GONÇALVES Fonte: Mundo Desportivo "O ELVAS",6 - LUSITANO, 1 O reaparecimento de Quaresma e a inspiração de Patalino foram as notas dominantes de um jogo em que os elvenses cedo ganharam avanço ELVAS - Roger; Osvaldo, Neves e Casimiro; Gomes e Sousa; Manuelito, Massano, Patalino, Quaresma (ex-Belenenses) e Teixeira. LUSITANO - Isaurindo; David, Helder e Branquinho; Mortágua e Madeira; Germano, Pedro, Pacheco, Calvinho e Aleixo. ÁRBITRO - Domingos Godinho, de Lisboa. O desafio de ontem não se revestiu de grande valia, porque as duas equipas não realizaram exibição de vulto e porque não se registou emoção proveniente de incerteza no resultado, tão rapidamente os alentejanos ganharam vantagem apreciável. Mas, assim mesmo, a assistência saiu satisfeita por dois motivos: naturalmente, pela vitória dos locais, mas, muito principalmente, pela magnífica exibição do avançado-central Patalino, que se creditou da proeza de marcar os quatro tentos alcançados pela sua equipa na primeira parte do encontro. Esta bela figura do popular Patalino excluído da equipa nacional e, talvez por isso mesmo, metido em brios, encheu de jubilo os seus conterrâneos, que não se cansaram de o aplaudir e tiveram, realmente, fartos motivos para isso. Outra curiosidade da partida residiu na circunstância de se estrear na equipa elvense o internacional Artur Quaresma cuja transferência de treinador dos Belenenses para treinador e agora para jogador do Elvas tão discutida foi. Pois logo no primeiro minuto da partida de ontem contra o Lusitano, o Elvas conseguiu um tento em que intervieram os dois jogadores. Quaresma iniciou o lance e serviu muito bem Massano que, depois de fintar dois adversários, endossou a bola a PATALINO. Este esperou que Isaurindo saísse e atirou-lhe a bola por cima do corpo. O segundo golo esteve por pouco, logo a seguir. Passe de Quaresma a Patalino e remate deste, que levou a bola contra a barra. Teixeira acorreu a fazer a recarga de cabeça, mas então Isaurindo conseguiu captar o esférico. Mas o segundo tento não tardou. Aos 5 minutos, PATALINO, depois de receber um passe de Teixeira internou-se e rematou imparavelmente Assim ficaram por terra todas as possíveis aspirações que os algarvios ainda acalentassem, pois um ponto que fosse ganho em Elvas, constituiria partido nada de desprezar para a fuga à eliminação do campeonato. Briosamente, ainda os algarvios, a perder por 0-2, reagirem com entusiasmo, chegando a causar preocupações à defesa elvense. Mas um terceiro tento de Patalino, aos 24 minutos, deve ter constituído o golpe de misericórdia para os vilarrealenses, tanto mais que o tento resultou de lance de desfortuna de um defesa. Quando Hélder passava a bola a Isaurindo. PATALINO interceptou-a e com um hábil toque de cabeça deu-lhe o caminho das redes. Foi ainda o mesmo PATALINO que aos 29 minutos, assinando deste modo uma proeza digna de registo alcançou o quarto golo da sua equipa. PATALINO e Hélder acorreram a um centro por alto de Teixeira. O defesa algarvio falhou e o elvense aproveitou bem o deslize. E, se não fosse uma rasteira que lhe passaram, Patalino, pouco depois, teria muito provavelmente, obtido quinta bola consecutiva. A falta ficou sem castigo. No entanto, nos últimos minutos da primeira parte, já com margem bem folgada, os alentejanos abrandaram notoriamente o andamento da partida e, reflexamente, passaram os algarvios a aparecer mais ao ataque. No entanto, o intervalo chegou com o resultado em 4-0. Na segunda parte, houve mais equilíbrio Se bem que logo no reatamento Isaurindo tivesse de arrojar-se aos pés de Manuelito para anular um tento que parecia certo, a verdade é que, os algarvios continuaram a aproveitar-se do menor empenho dos visitados para se mostrarem mais empreendedores e mais perigosos. Assim foi que, merecidamente, alcançaram um tento aos 4 minutos. PACHECO levou a melhor na luta com Neves e bateu Roger, que estava em posição muito adiantada. Porém, três minutos decorridos, o Elvas repôs a diferença de quatro golos. A bola foi de Patalino a Manuelito e deste a TEIXEIRA que, embora acometido por adversários, pôde rematar com êxito. Continuaram, ainda assim, os algarvios a replicar com ânimo, de modo que a segunda parte decorreu mais equilibradamente como se depreende da marcação. Na primeira parte, 0-4. No segundo tempo, 1-2. Logo a seguir a Roger, em defesa de recurso, ter desviado para canto uma bola muito bem apontada por Pacheco, o Elvas, respondeu, aos 28 minutos, com uma incursão de Patalino, iniciada a meio campo. O remate pertenceu a Manuelito e foi repelido por Madeira já cobre o risco da baliza. O sexto e último golo do Elvas surgiu aos 32 minutos, marcado por Teixeira, que recebeu uma bola de Patalino e logo a atirou sem a deixar sequer bater no solo. No minuto seguinte, Branquinho. que já antes tinha sido advertido pelo árbitro, recebeu ordem de expulsão por motivo de unta carga irregular sobre Massano. Jogadores e árbitro Patalino, como dissemos, foi a grande figura em campo, não só pelo facto, realmente notável, de ter alcançado quatro tentos, mas principalmente pela exibição completa que realizou, agradando em todas os sentidos. Depois dele, Teixeira e Gomes foram os elementos que mais se distinguiram na equipa visitante, onde Quaresma se mostrou bom orientador do ataque. Osvaldo cotou-se como o melhor elemento da defesa. No Lusitano, Isaurindo só na segunda parte se creditou de algumas intervenções brilhantes. Madeira, Pedroto e Pacheco foram os melhores elementos da turma. A arbitragem teve algumas falhas que não influíram no resultado. GIL GONÇALVES %% 1950/04/50-04-17/19500417.9.txt Título: SP. BRAGA, 3- SP. COVILHÃ, 1 Subtítulo: Os vencedores só nos últimos dez minutos conseguiram rematar com acerto Data: 17 de Abril de 1950 Domínio: Comentário/relato de jogo Autor: RODRIGUES TELES Fonte: Mundo Desportivo SP. BRAGA, 3- SP. COVILHÃ, 1 Os vencedores só nos últimos dez minutos conseguiram rematar com acerto SPORTING DE BRAGA - Cesário; Palmeira, António Marques e Abel; Fonseca da Silva e Joaquim; Arias, Elói, Mário, Cassiano e Sardinha. SPORTING DA COVILHÃ - António José; Roqui, Pedro Costa e José Pedro; Diamantino e Fialho; Carlos Ferreira, Martin, Simonyi, Tomé e Livramento. ÁRBITRO - Vieira da Costa (Porto). Deve ter-se assistido ontem, no campo da Ponte, a um dos piores jogos da temporada. A equipa do Covilhã principiou o desafio com pronunciada vantagem, conservando-se durante cerca de um quarto de hora num ataque bem ordenado, mas veio a consentir depois um domínio que só não resultou por causa da falta de remate dos donos da casa. O fio de bom jogo covilhanense cedeu então à maneira enérgica como os minhotos procuram impor-se, quase sempre devido ao bom trabalho de Mário, Sardinha e Arias. Tomé, forçado a abandonar o campo, duramente tocado no ombro direito, aos 38 minutos, apressou o abaixamento nítido dos «leões da Serra», e na assistência ficou a impressão de ser impossível uma reviravolta favorável aos visitantes. Quando o interior da Covilhã regressava ao campo e procurava lugar a extremo direito, surgiu o único tento da primeira parte, que aproveitou muito bem uma confusão junto das balizas de António José, aos 40 minutos. Depois do intervalo, embora o Sporting da Covilhã alinhasse completo, notou-se que não poderia ter muita confiança no esforço de Tomé, completamente impedido de ir ao choque ou de se meter em lances complicados. Os bracarenses, mais por causa do seu esforço, porém, do que por influência da falta de uma unidade no adversário, entraram a dominar de tal modo que poucas vezes chegava a bola aos pés de Simonyi, o único avançado colocado na linha de meio campo, onde via morrer à nascença qualquer das suas tentativas. Em poucos minutos consentiu o Covilhã seis pontapés de canto, indicio do domínio esmagador, mas ineficaz. Os avançados de Braga, embora continuassem a contar com o trabalho firme de Mário, Arias e Sardinha, insistiram nos remates sem direcção e aos 23 minutos viram-se colocados em embaraços com o tento do empate, marcado na própria baliza pelo defesa Palmeira, precisamente depois de uma descida de Tomé, elemento esquecido pelos adversários, dada a sua inferioridade física... Deu-se ainda, depois disso, um caso curioso: os covilhanenses perderam ocasião de passar o resultado para 2-1, também numa jogada envolvente de Tomé, mal concluída por Livramento. A equipa da casa, vencida esta surpresa e o atordoamento passageiro que a tocou na altura do empate, insistiu depois energicamente, voltando a dominar, em procura do tento vitorioso, conseguindo-o aos 35 minutos, graças a um pontapé fortíssimo de Arias. Cinco minutos mais tarde, depois de dois remates que foram embater no poste, uma bela jogada de Elói, que levou a bola em toques de cabeça até dentro da grande área e fez depois um passe mortal para Mário, permitiu a este o 3.° golo e o sossego absoluto dos seus adeptos. Foi justa a vitória dos minhotos, mas a sua exibição não revelou grande capacidade. A falta de Daniel não foi tapada pela presença de Teixeira da Silva na linha média e a ordenação do jogo de ataque partiu-se muitas vezes em Cassiano e Elói. O seu domínio, entretanto, depois que o Sporting da Covilhã baixou de valor e isso aconteceu cedo, tomou grande expressão, ganhando por isso o direito à vitória, que a falta de remate não tornou folgada. Além dos três avançados que já apontámos, mereceu ainda boa nota a acção de António Marques, que marcou muito bem Simonyi; de Cesário, em voos magníficos; e de Joaquim, na altura em que os dianteiros se mostravam irresolutos na frente das redes. A equipa da Covilhã deixou-se bater muito cedo. Quando se exibiu na constituição, contra o F. C. Porto, notámos-lhe outro poder e até uma elegância técnica que ontem lhe faltou durante grande parte do desafio. Neste encontro de Braga tiveram a pouca sorte de ficar praticamente sem o concurso de Tomé, mas deve notar-se que foi ainda este jogador quem forjou a única bola da sua equipa. No bloco defensivo, pouca confiança inspiraram António José e Costa e o próprio Diamantino actuou com uma irregularidade que não esperávamos. Roqui foi o mais activo e útil dos covilhanenses, seguido por Livramento e Simonyi, a despeito da marcação cerrada a que os submeteu António Marques. O terreno, por causa da chuva que caiu antes e depois do jogo, prejudicou o trabalho das equipas, provocando muitas colisões. No entanto, mesmo com esta contrariedade, era de esperar que a exibição se tornasse mais agradável. Por pouca sorte, nem a arbitragem de Vieira da Costa satisfez. O conhecido árbitro internacional portuense viu mal vários lances, beneficiando muitas vezes o infractor e não tomou em consideração as quedas provocadas pelo estado do campo. RODRIGUES TELES %% 1950/04/50-04-24/19500424.1.txt Título: COVILHÃ, 2 - ATLÉTICO, 1 Data: 24 de Abril de 1950 Domínio: Comentário/relato de jogo Autor: JOÃO OLIVEIRA Fonte: Mundo Desportivo COVILHÃ, 2 - ATLÉTICO, 1 CAMPO DR. SANTOS PINTO COVILHÃ O Sporting dominou intensamente na segunda parte mas os seus avançados, por um lado, e o bom trabalho de Ernesto, por outro, obstaram a que o resultado atingisse maior expressão SP. COVILHÃ - António José; Roqui e José Pedro; Diamantino, Pedro Costa e Fialho; Carlos Ferreira, Martin, Simony, Tomé e Livramento. ATLÉTICO - Ernesto; Baptista e Abreu; José Lopes, Anuindo e Morais; Martinho, Armando Carneiro, Ben David, Teixeira da Silva e Caninhas. Árbitro: Libertino Domingues, de Setúbal. O Sporting da Covilhã obteve ontem uma vitória difícil. Muito difícil, mesmo. Não porque a equipa se visse enleada pelo Atlético. Simplesmente os avançados esportinguistas estiveram ontem em tarde apática e de infelicidade, quase comprometendo as aspirações do grupo. Aliada a essa apatia do quinteto da frente, o Sporting da Covilhã encontrou um outro obstáculo não menos difícil - a defesa do Atlético. Foram estes dois motivos os mais salientes do desafio. Na segunda parte os covilhanenses mandaram no campo gozando avanços sobre avanços. Mas ao bom trabalho da linha média, principalmente de Diamantino, não correspondia o sector atacante, ora deixando-se anular pela defesa lisboeta, ora impressionando-se com a presença de Ernesto. E impressionou-se tanto, que até Simonyi, cujos remates são um perigo para todos os guarda-redes, pela força incrível e direcção dos mesmos, não teve serenidade para bater Ernesto na transformação de uma grande penalidade. Apesar de tudo, o Atlético foi bem batido. A equipa da Tapadinha só no primeiro tempo pôde nivelar-se com o Sporting. Por isso, o jogo, nesse primeiro período do encontro, foi mais agradável. A feição de equilíbrio que caracterizou a partida na primeira parte, permitiu que os dois grupos evidenciassem o seu bom fio de jogo por vezes urdido com mais porção de pormenores, por banda dos lisboetas, mas sempre mais prático pelo lado dos esportinguistas No segundo tempo as coisas mudarem-se por completo. O Atlético caiu da base em que se firmara anteriormente e o Sporting recrudesceu, obrigando os visitantes a multiplicarem-se na defesa e dando possibilidade a que Ernesto pusesse à prova os seus admiráveis recursos A ele, por um lado, e à precipitação dos avançados do Sporting, por outro, se deve o facto de o resultado não tomar a expressão que o rumo do jogo, sobretudo na segunda parte, justificaria, porque, sem dúvida, ainda que contente o Atlético, o resultado final não traduz a superioridade dos esportinguistas. Simonyi é o grande marcador da equipa. Ontem, porém, não foi o mesmo jogador ou melhor, não foi o mesmo rematador de outras vezes. Será mais uma justificação para a exiguidade do resultado? Sim. Em tarde feliz, sem que a desfortuna o atingisse amiúde, Simonyi poderia pôr o resultado em conformidade com o jogo da sua equipa. Ao intervalo, uma bola para cada lado O Atlético começou bem. Um toque em profundidade de Ben David para Caninhas foi por este aproveitado para executar um centro. Armando Carneiro, em corrida, desferiu um forte pontapé que António José defendeu, escutando os primeiros aplausos. A resposta dos donos da casa não se fez esperar. E Ernesto pôde iniciar a sua boa exibição, ao «parar» um remate de Carlos Ferreira. O ponteiro do nosso elogio caminhava para os 15 minutos, quando o Atlético obteve o seu primeiro e único tento. Marcou-o o extremo direito MARTINHO ante o consentimento de Fialho. António José nada podia fazer... Decorrera um minuto. Armindo, na sua grande área, meteu a mão à bola. Simonyi, encarregado de marcar o castigo respectivo, atirou a bola para as mãos de Ernesto. Gorada esta oportunidade de empatar, o Sporting admitiu por momentos que o Atlético se lhe superiorizasse. Um canto contra os locais, marcado por Martinho, não alterou o resultado. Mas, aos 24 minutos, os covilhanenses empataram. Roqui teimou em conduzir uma bola pela direita e, passada a linha de meio-campo, centrou por alto, para Simonyi, com a cabeça, lhe dar o rumo das balizas. A' meia-hora Ernesto foi outra vez batido, mas irregularmente, pois Diamantino, o marcador, jogara a bola com as mãos. Até ao fim do primeiro tempo, registou-se como nota saliente apenas um canto contra o Atlético. Um tento para premiar 45 minutos de domínio O Jogo prosseguiu e os covilhanenses beneficiaram de um canto, logo aos 2 minutos. Ernesto captou a bola. Logo a seguir, Simonyi atirou uma «brasa» que o guarda-redes alcantarense defendeu com muita dificuldade. Outro canto contra o Atlético, aos 4 minutos, não deu qualquer resultado O Atlético, timidamente desce até ás balizas de António José. Sol de pouca dura... O Sporting retomou as rédeas do jogo e, aos 9 minutos, outro remate de Simonyi provocou susto na defesa visitante, A bola, porém, saiu milímetros sobre a barra, e, momentos volvidos, Ernesto ouviu grande ovação ao defender, em magistral estirada, um pontapé do avançado-centro covilhanense e que poderia ser o do desempate. Ben David e Armando Carneiro no ataque, e José Lopes, na linha média, esforçaram-se por ordenar a equipa, sem êxito. O Sporting domina avassaladoramente. Aos 15 minutos, canto contra o Atlético; dois minutos após, defesa de Ernesto a remate de Tomé; aos 21 minutos uma bola rematada por Martins saiu ao lado; aos 25 minutos, outro canto contra o Atlético, cedido por Ernesto, que assim resolveu um lance de apuro com origem num pontapé de Carlos Ferreira, Labor tão mal compensado, eis a conclusão a tirar destes apontamentos. Aos 32 minutos, Carlos Ferreira, com Ernesto fora das balizas, perdeu ocasião soberana de dar vantagem ao seu grupo. Um livre marcado por Simonyi esbarrou na barreira formada pelos «atléticos». Finalmente, aos 39 minutos, o Sporting obteve o tento da vitória. A defesa lisboeta perdeu o norte com uma série de avançadas dentro da sua área Martins, por entre uma floresta de pernas, deu o golpe que derrotou o Atlético. Jogadores e árbitro Pedro Costa, Diamantino, Carlos Ferreira, Martin, Tomé e Simonyi, foram os elementos mais evidência no Sporting. Nos alcantarenses, Ernesto alcandorou-se a posição de grande relevo. A sua exibição fica memorável. Baptista, José Lopes, Ben David e Martinho distinguiram-se, também, no Atlético. A arbitragem de Libertino Domingues agradou a ambas as partes. Assinalou algumas faltas a beneficiar o infractor. No mais, certo. JOÃO OLIVEIRA %% 1950/04/50-04-24/19500424.2.txt Título: LUSITANO, 3 - GUIMARÃES, 0 Data: 24 de Abril de 1950 Domínio: Comentário/relato de jogo Autor: ANTÓNIO DIAS Fonte: Mundo Desportivo LUSITANO, 3 - GUIMARÃES, 0 NO CAMPO F. G. SOCORRO V. R. S. ANTÓNIO Três tentos de rajada nos primeiros oito minutos do segundo tempo deram a vitória aos algarvios LUSITANO - Isaurindo; Faustino, Caldeira e Hélder; Calvinho e Madeira; Almeida, Pedroto, Luís, Manero e Germano. VITÓRIA DE GUIMARÃES - Silva; Ferreira, Cerqueira e Costa; Magalhães e Matias; Franklin, Miguel, Teixeira da Silva, Rebelo e Custodio. Árbitro - Gameiro Pereira, de Lisboa. O Vitória de Guimarães, com um ponto arrancado no Estádio Padinha, em Olhão, ganhara novos ânimos e apresentava-se perante os rapazes de Vila Real de Santo António com vontade mais firme de ganhar o encontro. Desta circunstância, tão natural como certa, a influir no espírito dos jogadores, ressaltava a ideia de que ontem estava mais ao alcance a vitória do grupo minhoto sobre o Lusitano no campo deste, como nunca estivera em anteriores ocasiões. Apesar disso, os vimaranenses não conseguiram tornear o obstáculo; antes pelo contrário, foi o Lusitano que mais se esforçou para alcançar a vitória. No primeiro tempo os algarvios lutaram com dificuldade ante o sistema defensivo dos visitantes, dando mesmo a impressão de não serem capazes de o perfurar. Na segunda parte e após o primeiro tento, os algarvios animaram-se extraordinariamente, de modo que num momento consolidaram o triunfo com mais dois pontos. Os minhotos, logo que sofreram o primeiro tento, modificaram a sua formação, isto é: Costa, que actuara sem missão de marcar qualquer dianteiro algarvio, Matias e Rebelo, que jogavam recuados, passaram a ocupar os respectivos lugares dentro do sistema W M. Apesar do compartimento ofensivo contar com mais um homem, os dianteiros não demonstraram capacidade de jogo suficiente para bater a defesa adversária, aliás firmemente organizada. O sector defensivo dos vimaranenses, por sua vez, não manteve a segurança que evidênciam até então, facilitando desta maneira o trabalho dos avençados algarvios, Por tudo isto a vitória dos vilarealenses é absolutamente justa. Os tentos Aos 3 minutos da seguida parte, 1-0. Silva não segurou um remate de Luís e GERMANO, acorrendo, oportuno, enfiou a bola nas redes. Aos 7 minutos. 2-0, LUÍS, a passe de Manero, obteve, o ponto com forte pontapé. Um minuto depois, LUÍS explorou uma hesitação de Silva para fixar o resultado final. O trabalho das duas equipas Como já atrás dissemos o Lusitano movimentou-se na primeira parte com uma certa dificuldade em frente da defesa adversária; e, passada que foi a primeira meia hora de jogo a equipa evidenciou cansaço, dando a impressão de não ser capaz de vir a ganhar o jogo. Porém, depois do intervalo, os rapazes algarvios lançaram-se ao ataque com redobrada energia, demonstrando vontade firme de lutar para obter o triunfo. Dessa força de vontade e Lambem do bom jogo desenvolvido pelo conjunto nasceu a vitória. Os médios de ataque, onde Madeira se fez notar por tentar a todo o momento empurrar a linha avançada com visão e boa ordenação de jogo, impeliram-na para a luta mais próximo da baliza. Os avançados por sua vez, mercê de um excelente sentido de desmarcação e facilidade de remate, deram que fazer e colocaram bastas vezes em apuros os defesas minhotos; e depois da vantagem de três tentos, a equipa visitante só por sorte não viu as suas redes tocadas mais vezes... O bloco defensivo dos vencedores actuou com segurança. Faustino desempenhou-se com acerto do novo lugar que lhe distribuíram. Hélder em luta com Franklim, um avançado de muitos recursos, não permitiu ao jogador vimaranense grandes rasgos. Caldeira, no entanto, no centro do terreno, pode dizer-se que foi o esteio da defesa. De Madeira já falámos e Calvinho, com condições para o posto de médio, carece de melhor preparação física. Nos dianteiros Luís no segundo tempo pela facilidade de remate e engodo pela baliza, assim como Almeida e Germano, estiveram em evidência. Os interiores. Moreno no primeiro tempo e Pedroto no segundo, actuaram com acerto. A equipa do Vitória não conseguiu realizar partida igual à que fizera na semana anterior em Olhão. Enquanto manteve o sistema defensivo inicial, o grupo deu mostras de boa organização nas linhas da retaguarda, conseguindo evitar que as redes fossem atingidas. Contudo, logo que os algarvios alcançaram a primeira bola, os minhotos quebraram um tanto, dando impressão de haverem desanimado. Os atacantes vimaranenses mostraram-se pouco decididos a rematar, infiltrando-se com extrema dificuldade nos sectores defensivos dos algarvios. Silva teve algumas intervenções audaciosas. Em contrapartida consentiu dois pontos, o 1.º e o 3.º. Que com mais serenidade poderia ter evitado, blocando convenientemente o esférico. Cerqueira, Ferreira e Costa, na primeira parte, como já acentuámos, tiveram actuação de realce. No segundo tempo, depois de haverem sofrido a primeira bola do Lusitano, cederam bastante Magalhães, cotou-se como o melhor elemento da equipa, especialmente nos últimos momentos do desafio quando o desânimo se apossou dos seus companheiros. Dos avançados pouco há a dizer. Na generalidade estiveram apáticos e sem convicção a rematar. A arbitragem O trabalho do Sr. Filipe Gameiro Pereira foi bem conduzido, merecendo nota elevada a sua actuação. ANTÓNIO DIAS %% 1950/04/50-04-24/19500424.3.txt Título: SPORTING, 6 - ACADÉMICA, 0 Data: 24 de Abril de 1950 Domínio: Comentário/relato de jogo Fonte: Mundo Desportivo SPORTING, 6 - ACADÉMICA, 0 JOSÉ ALVALADE, LISBOA Depois de um primeiro tempo sem pontos, os «leões» abriram o activo com uma bola de Curado, para no último quarto de hora consolidarem o triunfo SPORTING - Azevedo; Barrosa, Passos e Veríssimo; Canário e Juca; Martins, Vasques, Jesus Correia, Travaços e Albano. ACADÉMICA - Capela; Branco, Curado e Diogo; Castela e Azeredo; Pacheco Nobre, Serra Coelho, Macedo. Neves Pires e Bentes. Árbitro: Paulo de Oliveira (Santarém). Os resultados de futebol são por vezes muito enganadores. Por exemplo, o do desafio Sporting - Associação Académica, disputado ontem, no estádio de José de Alvalade. É evidente que os «leões» venceram muitíssimo bem, mostrando-se superiores em todos os aspectos da partida. Mas a verdade é que o triunfo não foi tão fácil como os 6-0 podem deixar perceber. Basta referir que ao intervalo havia 0-0; que a primeira bola dos lisboetas foi marcada nas próprias redes por um defesa, Curado; e que só no último quarto de hora os esportinguistas puderam ficar tranquilos, para se ter uma ideia nítida da maneira como o desafio decorreu. Ficámos com a impressão de que os «leões» encararam o encontro com demasiado optimismo, na certeza antecipada de que a vitória não lhes escaparia. Consequências, talvez, dos louvores que mereceram pela sua exibição no Estádio Nacional, uma semana antes, e ainda da recordação do jogo da primeira volta, em Coimbra, contra o adversário de agora... O que fica, não há dúvida, é o resultado. Mas cada resultado tem a sua história e a deste resume-se, de algum modo, numa curta frase: o Sporting jogou pouco. Efectivamente, houve diferença sensível entre o grupo que ontem pisou o relvado de Alvalade e o que pisara, dias antes, o fofo tapete do Estádio Nacional. A defesa continuou a acusar as mesmas falhas. Mas os médios de ataque pareciam outros e a linha dianteira fez o possível por causar preocupações aos adeptos do clube. É certo que a Académica, adoptando uma táctica meramente defensiva, complicou a tarefa dos «leões». Estes esforçaram-se, algumas vezes, por abrir o jogo, principalmente na zona de remate, mas esbarravam na teimosia dos estudantes, pegados a uma defesa porfiada das suas balizas. Pode dizer-se, sem forçar a nota, que os «capas negras» jogaram com oito elementos na cortina da frente das redes, confiando a três homens, os extremos e o avançado-centro, a missão ofensiva. Chegaram, mesmo assim, a atrapalhar bastas vezes a defesa contrária. E, com uma réstia de sorte, os académicos teriam atingido o intervalo com uma bola, pelo menos, de vantagem... Isto apesar dos «leões» terem sido, repetimos, superiores. E, ainda, de também não haverem sido afortunados, em especial num lance de Travaços em que a bola, atirada com grande força, veio a ser devolvida por um poste. Meia dúzia de tentos A disposição dos estudantes para se acantonarem na defesa, tentando apenas em fugas infiltrar-se no sistema defensivo dos «leões», contribuiu grandemente para as dificuldades que estes encontraram em abrir o caminho da vitória. Tivemos, deste modo, um primeiro quarto de hora em ambiente frio (apesar de fazer muito calor...) e sem nada de especial. Depois, uma enérgica reacção dos visitantes, que conseguiram a sua melhor fase de ataque de toda a partida, e em que Azevedo atravessou momentos de pânico. Finalmente, no quarto de hora que precedeu o descanso, tentativas porfiadas dos «leões», umas mal finalizadas e outras repelidas pela defesa de Associação Académica num jeito de salve-se quem puder. A toada anterior manteve-se durante dez minutos a seguir ao repouso. E parecia que os dianteiros do Sporting não seriam capazes de marcar uma bola, de tal modo os seus 4 ataques se esboroavam na enérgica e contundente defesa dos adversários. Foi preciso uma infelicidade de Curado, aos dez minutos, pena o grupo de Lisboa averbar o primeiro ponto! Claro que, a partir deste momento, acentuou-se a supremacia dos lisboetas, quebrada de quando em quando por tentativas esforçadas, e brilhantes até, de Pacheco Nobre. Mas Capela era o guarda-redes mais vezes chamado a intervir, distinguindo-se em duas defesas para canto, uma delas a livre executado por Barrosa. Só aos vinte e sete minutos o Sporting jogou segundo ponto, numa corrida de Vasques rematada por Jesus Correia, ficando Capela pregado ao chão. Dois minutos depois a marca chegava a 3-0, com uma bola de Albano, facilitada por saída errada do guarda-redes de Coimbra. Passou então a haver tranquilidade na equipa «leonina» e o seu jogo de ataque tornou-se mais claro, mais definido, até porque os rapazes da Académica davam evidentíssimos sinais de fadiga. Os últimos minutos foram de aflição constante para os «capas negras», que viram, num repente, o Sporting aumentar o resultado para 6-0, com três pontos em ritmo igual: de dois em dois minutos. Marcaram-nos Jesus Correia, aos 38 e 40, e Albano, aos 42. O quinto tento dos «leões» foi, todavia, precedido de flagrante fora de jogo. E aqui está como os «leões» venceram, por margem folgada, uma partida que lhes ofereceu algumas preocupações... Demasiada tranquilidade... O Sporting esteve longe de repetir a exibição do domingo anterior. A diferença foi, verdadeiramente, como do dia para a noite... O à-vontade do «onze» «leonino» transpareceu nos primeiros lances, a fornecer uma partida sem vibração, sem entusiasmo e sempre incaracterística. Só depois do 1-0, em boa verdade, os lisboetas se atiraram para uma ofensiva mais nítida, à procura de tentos que os pusessem a coberto de uma surpresa. %% 1950/05/50-05-08/19500508.1.txt Título: ESTORIL, 10 -LUSITANO, 0 Data: 8 de Maio de 1950 Domínio: Comentário/relato de jogo Autor: Vasco Fonte: Mundo Desportivo ESTORIL, 10 -LUSITANO, 0 CAMPO AMOREIRA A equipa da Costa do Sol agiu com absoluto á vontade e terminou a primeira parte já com o avanço de 4-0 ESTORIL PRAIA - Sebastião; Gato, Elói e Alberto; Cassiano e Fragateiro; Gonzaga, Hernâni, Nunes, Vieira e Fandiño. LUSITANO - Rodrigues; Mortágua, Caldeira e David; Faustino e Madeira; Andrade, Pedroto, Luís, Manero e Salina. ÁRBITRO - Paulo de Oliveira, de Santarém. Quando apenas se jogava há dois minutos, os estorilistas obtiveram o primeiro tento: Vieira - Hernâni – Gonzaga, centro deste e remate de cabeça de Nunes. Até os 20 minutos a partida arrastou-se numa toada incaracterística, salpicada de períodos monótonos. Os lusitanistas esforçavam-se por dar réplica ânimosa, ao passo que os locais, mais desenvoltos no ataque, pecavam, no entanto, por não acertar no disparo ás balizas. Apenas em tal capítulo o avançado-centro Nunes se mostrava mais prático e decidido. Depois, os estorilistas, decerto já um pouco apreensivos com a exiguidade da sua vantagem, imprimiram mais movimento e precisão aos esquemas ofensivos, o que originou lances aflitivos para a defesa visitante. O guarda-redes Rodrigues defendeu por instinto remates desferidos de perto por Nunes e Hernâni e em uma vez a trave evitou que um pontapé do avançado-centro estorilista fosse coroado de êxito. Mas aos 34 minutos - Já um pouco tarde, não há dúvida - surgiu o 2º tento: Gonzaga Vieira - Fandiño - remate de Hernâni. Dois minutos depois - mais outro tento, o 3º centro de Gonzaga, remate de Nunes. E outros dois minutos volvidos - 4-0, o resultado da primeira parte. Dentro da grande área, nitidamente dentro, Vieira, quando se preparava para fuzilar as redes, foi agarrado por Faustino. O árbitro assinalou a falta, mas em vez de determinar grande penalidade, resolveu, benevolamente, transformá-la em um «livre» sobre o limite da área de rigor. Todavia, os algarvios não tiveram a satisfação de beneficiar de tal magnitude, porque Eloi, encarregado de executar o referido «livre», introduziu a bola nas balizas. O guarda-redes Rodrigues, surpreendido, chegou no entanto ainda a tocar com as mãos no esférico. Mais seis tentos na segunda parte No segundo tempo, os estorilistas não abrandaram no ritmo de ataque. Algumas descidas dos algarvios eram detidas sem preocupações manda a verdade dizer que duas ou três vezes os visitantes tiveram o golo à vista, mas nada deste Mundo quebraria o à vontade com que agiram os «amarelos» da Costa do Sol. Os lusitanistas defenderam-se com energia até o momento em que sofreram o 7º, tento. Depois, resignaram-se com a sua sorte. Deixaram de trabalhar com o denodo inicial com o seu denodo característico, de princípio de época. Assim, os locais puderam delinear uns quantos lances vistosos que terminaram com a bola no fundo das redes. Mas verdadeiramente só Nunes e Hernâni se mostraram mais interessados no capítulo de remate. Aos 6 minutos, em choque com o guarda-redes, Gonzaga aproveitou um passe de Vieira para marcar a 5.ª bola. Aos) 14 minutos - 6-0: contra-ataque rápido e remate de Gonzaga; o guarda-redes aplicou o punho ao esférico por instinto e na recarga, executada com a cabeça. Vieira introduziu-a nas balizas. Aos 16 minutos - 7-0: livre de adversários. Gonzaga rematou desta vez com êxito. Aos 18 minutos - 8-0: Vieira pontapeou forte e a bola, apanhada por Fandiño, com seu quê de inesperado, entrou nas balizas fulminantemente. Depois de um remate à trave desferido por Vieira - 9-0, aos 39 minutos: centro largo de Fandiño, remate de cabeça de Nunes. Aos 41 minutos, Hernâni fechou a conta dos 10-0. Uma curiosidade Na marcha do marcador imperou o número dois. Se não, vejamos: O 1.º tento registou-se aos 2 minutos. Seguiu-se uma série de três golos, com intervalos de 2 minutos: 34, 36 e 38. No segundo tempo, averbou-se mais uma série de três bolas, também com intervalos de 2 minutos: 14,16 e 18. E os dois últimos tentos, também foram rematados no espaço de 2 minutos 3-0 e 4-1. Houve apenas dois sempre o dois... golos solitários: o 1.º e o 6.º. Enfim, uma curiosidade, como outra qualquer... Apreciações individuais No Estoril, Sebastião, no pouco que teve de fazer, revelou segurança. Alberto foi o melhor elemento da defesa Entre os avançados, Gonzaga distinguiu-se. Progride, Hernâni e Nunes especialmente este, foram os que os que mais se aplicaram no remate. No Lusitano, o jovem guarda-redes Rodrigues executou algumas defesas excelentes Nem por sombras foi culpado da severa derrota sofrida pela sua equipa. Na defesa Caldeira esteve em evidência até meio da segunda parte. Depois, pareceu desinteressado Os interiores ao ataque revelaram habilidade, em certos pormenores, mas não mostraram poder de remate. O avançado-centro Luís mostrou-se de todos o mais combativo e empreendedor. Arbitragem sem dificuldades. Mas aquela irregularidade sofrida, na primeira parte, por Vieira, e da qual resultou o tento, registou-se nitidamente dentro da grande área. Toda a gente viu e naturalmente o Sr. Paulo de Oliveira, também viu. Para quê, uma benevolência que em certos aspectos poderá ser simpática, mas que é contrária ao espírito das regras do jogo? Para quê tal aversão ao castigo máximo? O árbitro é um juiz, tem, pois, de respeitar a lei e deixar-se de sentimentalismos... VASCO %% 1950/05/50-05-08/19500508.2.txt Título: F. C. PORTO, 3 - ACADÉMICA, 1+ Subtítulo: O domínio dos portuenses foi prejudicado pelo péssimo remate dos seus avançados Data: 8 de Maio de 1950 Domínio: Comentário/relato de jogo Autor: RODRIGUES TELES Fonte: Mundo Desportivo F. C. PORTO, 3 - ACADÉMICA, 1 O domínio dos portuenses foi prejudicado pelo péssimo remate dos seus avançados F. C. PORTO - Barrigana; Virgílio, Alfredo e Carvalho; Joaquim e Gastão; Vital, José Maria, Monteiro da Costa, Sanfins e Vieira. AS. ACADÉMICA - Capela; Branco, Curado e Diogo; Castela e Azeredo; Pacheco Nobre, Serra Coelho, Macedo, Nana e Bentes. ÁRBITRO - Santos Marques (Lisboa). A linha avançada do Porto, perdendo bolas em série, tanto na primeira como na segunda parte, fez tudo quanto era possível para que os estudantes se retirassem com um resultado lisonjeiro. Mas os visitantes, com boa defesa e boa ajuda dos médios, contando com um guarda-redes que trabalhou com entusiasmo, a confirmar a sua categoria perante o público portuense, também contribuíram para a magreza do resultado. A vitória da equipa nortenha, neste primeiro golpe de vista, corresponde, dentro da sua expressão numérica, ao labor das equipas. A pouca força rematadora de um lado casou-se com a felicidade defensiva do outro. O jogo não ofereceu nada de excepcional. Os dois grupos bateram-se com muita energia, procurando cada um a vitória com afinco, e dureza por vezes demasiada, que, aqui e ali, deixou algumas marcas... A Académica, com um defesa central duro e dois laterais seguros, neste desafio, pôde impor-se na primeira parte e provocar algumas situações complicadas junto de Barrigana, uma delas admiravelmente evitada por Virgílio. Apesar dos esforços dos estudantes, o jogo pendeu quase sempre para o seu meio campo. O que surgiu de difícil na primeira parte, para os portuenses, foi sempre bem resolvido pelo trio Virgílio-Alfredo-Carvalho, ou pelo guarda-redes nortenho. No segundo tempo, enquanto o Porto não fez chegar à baliza de Capela o segundo golo - todas as ofensivas dos visitantes pareceram perigosas. Depois do segundo tento seguiu-se o terceiro e esteve próximo o quarto mas o trabalho dos vencedores continuou no mesmo ritmo desligado e improdutivo como no princípio do desafio. Pode, entretanto, dizer-se que alguns homens de ambas as equipas contribuíram largamente para trazer ao encontro algum mérito. Já dissemos que os quatro elementos da defesa do Porto agradaram em absoluto. Deve também juntar-se-lhes Joaquim. E também José Maria, em vários lances principiados a meio campo. Deste rapaz deve vir a falar-se muito na próxima época. Gastão pareceu-nos menos feliz que noutros jogos. Sanfins teve períodos bons e maus. Vital, melhor na primeira que na segunda parte, se descontarmos um bonito golo. Conjunto ofensivo: - irregularíssimo. Entre os estudantes Capela foi apenas traído na terceira bola. Contava com um passe e saiu-lhe um remate raso, que entrou pela retaguarda do seu corpo. No resto, muito seguro. É curioso apontar que os dois guarda-redes demonstraram ontem a sua boa categoria. Depois de Capelo, cotaram-se, em mérito, os dois médios Azeredo e Costeia, que conseguiram travar a marcha dos interiores do Porto, obrigando-os, por certo, a remetes despidos de boa direcção. Curado foi o mais batalhador de todos os estudantes, mas levou algumas vezes longe demais os seus golpes sobre Monteiro de Costa. Aplicados na luta de dois defesas laterais. Bons jogadores, sem dúvida, Pacheco Nobre e Bentes, embora submetidos à autoridade de dois defesas como Virgílio e Carvalho. Onde a Académica fracassou foi na passagem de bole dos interiores para o centro ou para os extremos. No entanto, em diversas fases do jogo, Nana e Serra Coelho, deram provas de habilidade. Macedo pouco pôde fazer na luta com Alfredo. O jogo principiou com os portuenses em franco ataque. A velocidade dos locais entonteceu algumas vezes os adversários, mas e série de maus remates cedo começou a verificar-se. José Maria teve o primeiro ensejo. Vital logo outro e seguir. E Monteiro de Costa, metendo a cabeça quando deveria aplicar qualquer dos pés, completamente só na frente de Capela, fez também com que o público se mostrasse decepcionado. Aos 18 minutos foi marcado o primeiro tento do Porto. Vieira, encarregou-se de executar um pontapé de «canto», a bola andou perto de Capela, mas fora do seu alcance e JOSÉ MARIA aplicou um remate fortíssimo e indefensável. Aos 23 minutos, uma prisão de pernas de Curado a Sanfins foi castigada com grande penalidade, Joaquim, porém, executando um movimento que desde logo pareceu desajeitado, atirou a bola para as mãos de Capela. Contra a Académica foram depois marcados vários «cantos», até que, aos 35 minutos, estando Barrigana fora das redes, Macedo rematou para a baliza deserta. Virgílio, extraordinariamente remido, atirou-se com decisão para e frente, embrulhou-se na rede, mas conseguiu evitar o tento no último momento. Os estudantes continuaram ainda por algum tempo ao ataque, mas o guarda-redes portuense resolveu com acerto todas as complicações. Na segunda parte a Académica pareceu mais afoita, embora contando pouco com os seus admiráveis extremos, sujeitos a vigilância constante. Até os 15 minutos todos os apontamentos sobre o jogo, nos indicam equilíbrio. E sempre que os avançados do Porto remataram péssimo trabalho... Mas em dois minutos surgiram dois tentos, passando o resultado para 3-0. Aos 19 minutos Vital deixou que Monteiro da Costa corresse em direcção ao seu lugar e internou-se no meio do terreno. A bola esteve quase perdida por intervenção de Curado, mas VITAL lançou o remate em posição difícil a bola atingiu as redes. Aos 21 minutos, Virgílio, avançou com a bola depois de cortar uma ofensiva de Bentas e serviu MONTEIRO DA COSTA, que fugiu de novo pela direita, rematando rasteiro muito perto do poste, por trás de Capela. Só à meia hora se marcou outro golo, o único da Académica. Virgílio quis devolver uma bola que saltitava entre Bentos e Macedo. O esférico escapou-se-lhe, seguindo na direcção do extremo esquerdo conimbricense. Alfredo, que acorrera ao lance, foi batido pela rapidez da jogada e a baliza ficou à mercê de SERRA COELHO - que com um tiro bateu Barrigana. Até conclusão do jogo, ainda a Académica obrigou o guarda-redes adversário a dois bons mergulhos. E ainda os avançados do Porto, como estava no seu hábito, perderam novas oportunidades... A arbitragem de Santos Marques teve algumas desatenções. A grande penalidade marcada à Academica do qual, por sinal, não resultou golo, foi algo rigorosa. Mas, na segunda parte, Monteiro da Costa foi agarrado pela camisola por Curado, dentro da grande área, e o conhecido árbitro lisboeta não assinalou a falta. RODRIGUES TELES %% 1950/05/50-05-08/19500508.3.txt Título: SETÚBAL, 4- "O ELVÁS", 0 Subtítulo: Os setubalenses resolveram a partida no primeiro tempo, período em que actuaram em bom plano Data: 8 de Maio de 1950 Domínio: Comentário/relato de jogo Autor: EDMUNDO TAGARRO Fonte: Mundo Desportivo SETÚBAL, 4- "O ELVÁS", 0 CAMPO DOS ARCOS, SETÚBAL Os setubalenses resolveram a partida no primeiro tempo, período em que actuaram em bom plano VITÓRIA DE SETÚBAL - Baptista; Jacinto, Primo e Rogério; Pina e Orlando; Campos, Nunes, Inácio, Atas e Vasco. ELVAS - Roger; Osvaldo, Neves e Oliveira; Cadete e Sousa; Vieira, Massano, Patalino, Quaresma e Manuelito. ÁRBITRO - Luís Magalhães (Lisboa). Em partida de importância vital para qualquer dos dois grupos que ontem se defrontarem no Campo dos Arcos, o triunfo coube, com todo o merecimento, ao que melhores trunfos apresentou durante o primeiro tempo do encontro o Vitória de Setúbal. A equipa setubalense desenvolveu nesse período, em que marcou as quatro bolas de partida, jogadas de conjunto baseadas na atenção de todos os sectores, de boa compenetração, de regular entendimento e de vivacidade Irresistível. Desejosos de fugirem da zona periclitante em que o Elvas veio a ficar os rapazes de Setúbal, para quem o empate bastaria para os livrar de sustos, conquistaram triunfo meritório e redimirem-se, por assim dizer, de outras jornadas em que o «onze» não actuou à altura das suas reais possibilidades. Nos primeiros quarenta e cinco minutos de jogo o Vitória esteve perto do ritmo a que chegara na primeira fase do torneio e isso quer dizer que todo o grupo, passeada a crise de forma, quase voltou a encontrar-se no derradeiro desafio da longe competição. Derradeiro e decisivo, neste prélio de dar tudo por tudo com vistas à fuga dos dois últimos postos da tabela. Os quatro tentos da partida O encontro, em si, valeu exclusivamente pelo que se jogou na primeira parte. Os alentejanos começaram bem, com assédio forte ás balizas de Baptista, mas os locais responderam melhor, obrigando Roger a estar atentíssimo em duas ocasiões seguidas; seguro numa jogada de «canto»; e feliz quando, depois de ter largado uma bola das mãos, Nunes tentou a recarga com a baliza à mercê. Cada vez mais insistentes e firmes na tarefa ofensiva os setubalenses obtiveram o seu primeiro tento à passagem do quarto de hora, quando o ritmo e a velocidade baixara um pouco, naturalmente. Uma esplêndida passagem de Nunes, para o meio do terreno, forneceu ensejo a VASCO para, mesmo acossado por Neves, rematar sem apelo. A reacção do Elvas, imediata, não teve mais consequências do que um remate, facilmente defendido, de Manuelito a passe de Quaresma. Uma iniciativa de Natalino; uma saída mal calculada de Baptista, logo resgatada com arrojada defesa aos pés do avançado-centro de Elvas, pareceu dar equilíbrio ao jogo. Mas logo o Vitória voltou a insistir e Vasco a distinguir-se em lances pela posse da bola e em momentos de perigo criado para o adversário. E aos 34 minutos, num desses lances, o marcador subiu: jogada de Inácio e Vasco, e entrada oportuna de CAMPOS, a materializar a jogada com remate frontal, perto das redes de Roger. No minuto imediato novo tento nas balizas do Elvas centro do extremo esquerdo do Vitória, que NUNES captou; a bole, bem dominada com o corpo, foi depois impelida, sem defesa, para as redes. Entre a terceira bola e a quarta, esta a última do desafio, os alentejanos (por Quaresma e Patalino), obtiveram dois «cantos», marcados sem resultado e a dois minutos do intervalo o marcador passou a acusar o resultado final da partida, uma jogada individual de Nunes, concluída com um centro da direita, ao qual ocorreram Vasco e ATAS. Foi este último que beneficiou da desorientação causada pelo lance e que, de pranto, deu à bola o caminho indicado. Setubalenses e alentejanos Encontrado o vencedor, a segunda parte careceu de interesse e de estimulo. O jogo passou a desenrolar-se de igual para igual, a meio campo e, aqui e ali, mais perto das redes de Roger, que se distinguiu num punhado de boas defesas, do que das balizas de Baptista, durante muitos instantes inactivo e tranquilo. O final do encontro chegou, pois, com a naturalíssima vitória dos locais. Apreciando o trabalho dos jogadores em luta o triunfo setubalense justifica-se por tudo. Mais seguros na defesa, onde Primo se impôs a Patalino; conscienciosamente orientados no ataque por Pina, com ajuda de Orlando, também o ataque esteve, em sentido prático e em realização, muito mais em evidência do que o dos alentejanos. Nunes, aparte alguns momentos de egoísmo quando de posse da bola, esteve activíssimo e certo, sempre que deu finalidade ao que pensou. Atás secundou bem o seu companheiro, mas o elemento de mais engodo pela baliza e com melhor sentido de oportunidade foi, sem dúvida, o extremo esquerdo da equipa. Inácio magoou-se a meio do segundo tempo, passando depois para o lado esquerdo onde pouco ou nada produziu; e Campos, diligente, provou combatividade e desejo de ser útil. Na equipa do Elvas, bem dominada em todos os particulares, distinguiram-se: Roger e Neves, na defesa, Sousa, nos médios; e, no ataque, Quaresma demonstrou experiência; Patalino não atingiu notoriedade e Massano também não logrou a bitola habitual. No declinar do Jogo Vieira foi, até, o elemento ofensivo que mais procurou carrilar jogo e obter, inclusivé, o chamado ponto de honra. Luís Magalhães houve-se com autoridade no desempenho da sua missão. Um erro, ou outro, não tiraram nada ao regular trabalho de arbitragem que efectuou. EDMUNDO TAGARRO %% 1950/05/50-05-08/19500508.4.txt Título: SP. BRAGA,1 - BELENENSES, 0 Subtítulo: Os lisboetas jogaram melhor de início, mas os bracarenses acabaram por ganhar merecidamente, beneficiando da falta de perícia dos dianteiros adversários Data: 8 de Maio de 1950 Domínio: Comentário/relato de jogo Autor: ALBERTO LOBO Fonte: Mundo Desportivo SP. BRAGA, 1 - BELENENSES, 0 Os lisboetas jogaram melhor de início, mas os bracarenses acabaram por ganhar merecidamente, beneficiando da falta de perícia dos dianteiros adversários SPORTING DE BRAGA - Cesário; Palmeira, A. Marques e Abel; Antunes e Joaquim; Arias, Elói, Mário, Cassiano e Sardinha. BELENENSES - Carmo; Figueiredo, Feliciano e Serafim; Rebelo e Frade; Jordão, Pinto de Almeida, Bravo, Duarte e Narciso. ÁRBITRO - José Proença, do Porto. Julgamos, ao deslocar-nos ontem para Braga, que este encontro entre belenenses e bracarenses, poderia muito bem proporcionar partida de agradável futebol, que tão arredia tem andado do terreno da cidade dos arcebispos e que bom era que aparecesse, para assinalar a despedida dos jogos da Divisão principal no velho campo da Ponte já que centro de três semanas o novo estádio de Braga irá abrir suas portas ás competições. O estado de espírito das duas equipas, e de Belém com classificação firmada, e de Braga liberta ia do pesadelo da descida, parecia ser o melhor para um bom fecho de época oficial na capital do Minho. Temos de confessar, porem, que nos enganámos em muito, nas nossas previsões. A partida não nos agradou e não era decerto agradado a ninguém, no ponto de vista técnico, muito embora o interesse posto na luta por ambas as equipas proporcionasse períodos de apreciável movimentação. Durante quase todo o encontro não se jogou bem. Bola muito pelo ar, abuso de «balões» sem objectivo, falta aflitiva de finalidade nos lances ofensivos. Em resumo: partida fraca, bastante fraca mesmo para aquilo que se esperava. Os lisboetas e a primeira parte É certo que os lisboetas tiveram começo aceitável, actuando durante quase toda a primeira parte em plano de superioridade. Sem ter ascendido a grandes alturas a equipa belenense desenvolveu, em certo espaço de tempo, uma bitola de jogo que, a manter-se, poderia ter dado ao encontro melhor feição. A sua linha avançada, com boa colaboração por parte de Rebelo e de Frade, especialmente deste, delineou a partir do meio do terreno, jogadas de razoável urdidura a revelar entendimento e fácil penetração. A vivacidade de Pinto de Almeida e o saber de Bravo davam aos lances uma aparência agradável mas enganadora. Não foi preciso muito tempo para se verificar a falta de poder realizador da formação dianteira lisboeta. As boas jogadas ou se desfaziam nas proximidades da grande área esportinguista ficando sem finalidade, ou eram concluídas com remates sem sombra de direcção, por mais favoráveis que fossem as condições, em demonstração confrangedora de ineficácia. Basta dizer, para que se ajuíze, que quase não houve na primeira parte um só remate dos «azuis» que desse sensação de golo, e, íamos a dizer, mesmo a sensação de perigo. Só assim se explica que, mau grado a superioridade territorial exercida, e muito embora uma animosa reacção dos bracarenses trouxesse o jogo ao campo contrário no último quarto de hora do primeiro período, este pudesse ter acabado com vencedor em branco. A segunda parte e os bracarenses A improficuidade dos dianteiros Lisboetas veio ainda a acentuar-se no segundo tempo, já então com a equipa de Braga a disputar o resultado com energias novas Com actuação inferior nos primeiros 45 minutos, em que não lograram entendimento, os bracarenses apareceram depois do intervalo, naturalmente, a lutar por um triunfo que a comprovada ineficácia dos avançados belenenses punha inteiramente à sua disposição. A golpes de energia e entusiasmo, o grupo de Braga, passou a desfrutar de ascendente, e os visitantes tiveram de cuidar ainda mais da defesa. Os locais, no entanto, não conseguiram alcançar a boa carburação e no capítulo de remate os seus avançados em nada se mostraram superiores aos do lado contrário. Os seus ataques, mais fruto de rasgos individuais do que de conjunto, eram anulados mercê de intervenções decididas dos defesas belenenses Mas foi precisamente de um desses rasgos pessoais, tão brilhante como feliz, que a equipa beneficiou para obter o triunfo quando a segunda parte ia em meio. Embora faltasse ainda outro tento desta parte para jogar - o resultado ficou desde logo feito. O comportamento de ambos os grupos até aí não fazia acreditar muito em novos tentos. E a confirmar a asserção - eles não apareceram. Jogo mal aproveitado O encontro começou com uma incursão dos lisboetas. Pinto de Almeida infiltrou-se bem e entregou a bola a Bravo que deixou que a defesa contrária lha arrebatasse. Primeira oportunidade perdida... Os bracarenses replicaram com um ataque cortado por Feliciano. A bola foi aos pés de Jordão e Cesário defendeu, pela primeira vez, sem perigo. Os «azuis» evidênciaram mais ligação atingiam, com relativa facilidade, a extrema defesa adversária, desperdiçando, porém, todas as ocasiões de remate. Duarte, depois Pinto de Almeida, Narciso e Bravo remataram mal. O único remate verdadeiramente perigoso pertenceu ao médio Frade, mas a trave salvou os bracarenses. Passado o quarto de hora, o grupo local sacudiu a pressão e organizou alguns ataques, um dos quais forçou Carmo a executar excelente defesa. O mais perigoso, no entanto, era ainda da banda dos visitantes; e Pinto de Almeida, a concluir centro de Duarte desaproveitou novo ensejo de tento Com o aproximar do intervalo, os locais mostraram-se mais empreendedores, criando também boa oportunidade, que Serafim inutilizou no último momento No reatamento do jogo, Pinto de Almeida executou um dos poucos bons remates do encontro, ao qual Cesário correspondeu com segura defesa, os locais mostravam-se com disposição ofensiva. Depois de um «canto» para cada lado. Duarte, aos 10 minutos, recebendo a bola de Bravo, à boca da baliza, conseguiu atirá-la ás malhas, mas o árbitro não concedeu tento, apontando deslocação ao jogador belenense. O lance agitou a partida mas o seu nível não melhorou. Sardinha, aos 17 minutos, não soube concluir excelente entrega de Elói, quando tinha apenas Carmo na sua frente e na resposta foi Narciso quem por duas vezes rematou muito alto. Aos 24 minutos surgiu o único tento do encontro. Mário recebeu a bola na sua linha média, escapou-se velozmente a Feliciano e, descaindo sobre o lado esquerdo lançou, em desequilíbrio e apesar do retorno do defesa belenense, um remate extraordinário de força e colocação, batendo irremediavelmente o guarda-redes adversário. Os lisboetas reagiram mas não se mostraram capazes de operar a reviravolta que desejavam. A sua reacção foi curta, voltando-se em breve à toada de equilibro. falha de brio e de emoção. Que durou até final. Jogadores e árbitro Os bracarenses ficaram a dever e vitória a um momento de inspiração do seu avançado-centro, que com um tento de categoria se redimiu de actuação infeliz. O menos mau da linha avançada foi Elói. Cassiano e Sardinha inferiores ao habitual. Aries, demasiado débil. Joaquim foi o mais esforçado dos médios, salientando-se Marques e Abel na extrema defesa. Cesário, como de costume, esteve seguro Nos lisboetas, o jovem Carmo, nas redes merece louvor. Teve intervenções valiosas e o golo sofrido bateria certamente qualquer dos guarda-redes titulares da sua equipa. Figueiredo foi na defesa o que mais agradou. Mas Feliciano e Serafim actuaram também em craveira normal. Frade e Rebelo esforçaram-se bem por impulsionar o ataque, transmitindo muito jogo que não foi aproveitado. Pinto de Almeida cotou-se como o mais activo dos atacantes. Seguiram-se-lhe Bravo e Duarte. Narciso - infelicíssimo no capítulo de remate, como, aliás, todos os seus colegas Jordão teve poucos lances que o acreditassem. Arbitragem aceitável, mas não inteiramente isenta de reparos. Cortou algumas vezes o jogo com inoportunidade deixando-nos algumas dúvidas a deslocação que assinalou, invalidando um tento aos lisboetas. ALBERTO LOBO %% 1950/05/50-05-08/19500508.5.txt Título: COVILHÃ, 3-S.L. BENFICA 4 Data: 8 de Maio de 1950 Domínio: Comentário/relato de jogo Autor: ALBERTO LOBO Fonte: Mundo Desportivo COVILHÃ, 3-S.L. BENFICA 4 CAMPO DR. SANTOS PINTO, COVILHÃ COVILHÃ - António José; Roqui e J. Pedro; Craveiro, Pedro Costa e Lopez; C. Ferreira, Martin, Simonyi, Tomé e Livramento. BENFICA - Rastos; Jacinto, Feliz e Fernandes; Moreira e Francisco Ferreira; Corona, Arsénio, Júlio, Rogério. ÁRBITRO - Vieira da Costa, do Porto. O Benfica levou ontem à Covilhã milhares de forasteiros. Da Guarda, do Fundão, de Castelo Branco, de Penamacor, de Sabugal enfim, de todas as terras vizinhas do grande centro industrial que é a Covilhã, deslocaram-se centenas de entusiastas, usando os mais variados meios de transporte. Perto de meia centena de camionetas e outros tantos automóveis, alguns de Lisboa, ostentando bandeiras verdes, umas, encarnadas, outras, estacionaram na Covilhã. A cidade teve, por isso, uma afluência de visitantes nunca vista. Todos queriam ver o campeão de Portugal. Mas estamos crentes que, mesmo sem ostentar o honroso titulo, a popularidade do Benfica faria deslocar para a Covilhã muitos desportistas. O dia de ontem foi, pois, um dia de excepcional movimento na Covilhã, Logo de manhã, centenas de visitantes subiram até à Serra e percorreram outros pontos interessantes da cidade. O sol radioso, desta Primavera radiosa, brilhou todo, o dia. Contribuiu para o fulgor da grande jornada desportiva, que colocou frente, a frente o Sporting da Covilhã e o, Benfica. Os lisboetas terminaram o campeonato com uma vitória. Nada adiantou, é certo que o Benfica era já campeão. Campeão incontestado. Mas não é menos verdade que o Benfica não mereceu ganhar o jogo de ontem. A sorte fez, parte da sua bagagem. Só por isso pôde chegar ao final da partida com um triunfo pela tangente que deve considerar-se difícil não, obstante ter a vantagem de três minutos do termo do desafio, na primeira parte... A vontade que os covilhanenses tinham de bater os campeões começou cedo a revelar-se. Logo aos três minutos um fortíssimo remate de Carlos Ferreira forçou Bastos a difícil defesa, muito aplaudida. O primeiro canto do desafio registou-se aos cinco minutos, Lopez atirou de longe, e Bastos colhido de surpresa, não teve outro recurso que desviar a bola para canto. A marcação do livre provocou um contra-ataque do Benfica, o qual terminou na linha média do Sporting. Aos dez minutos, uma avançada dos locais teve como resultado três cantos, mais por precipitação da defesa «encarnada» do que por acção dos esportinguistas. Carlos Ferreira marcou o primeiro livre, que Jacinto interceptou para fora. O segundo, marcado por Tomé, levou o mesmo caminho, devido a intervenção a soco, de Bastos. O último de novo marcado por Carlos Ferreira, foi recolhido por Félix, que encetou um rápido contra-ataque. A bola foi a Rogério, que disparou remate forte e colocado. António José, porém, atento, respondeu com uma defesa de igual categoria ao remate do extremo benfiquista. Ao quarto de hora o Benfica obteve o primeiro tento. Jogada pessoal, concluída com um pontapé de longe, por alto, que entrou nas redes, passando sobre a cabeça de António José. O Sporting acusou um tanto este golo do adversário, e, por momentos, cedeu alguma folga. Porém, aos vinte e quatro minutos, com outro canto contra o Benfica, os locais entraram em outro período de melhor acerto, coroado com o tento do empate, obtido por Livramento, após uma combinação com Carlos Ferreira. Antes, aos vinte e cinco e aos vinte e oito minutos, Simonyi teve dois remates da sua lavra, o primeiro ao lado, o segundo a rasar a barra transversal. Arbitragem aceitável, mas não inteiramente isenta de reparos. Cortou algumas vezes o jogo com inoportunidade deixando-nos algumas dúvidas a deslocação que assinalou, invalidando um tento aos lisboetas. ALBERTO LOBO %% 1950/05/50-05-08/19500508.6.txt Título: OLHANENSE, 1 - ATLÉTICO, 1 Subtítulo: A despeito do melhor jogo ofensivo dos algarvios, os lisboetas poderiam ter ganho se o árbitro não lhes recusasse dois tentos regulares Data: 8 de Maio de 1950 Domínio: Comentário/relato de jogo Autor: ANTÓNIO DIAS Fonte: Mundo Desportivo OLHANENSE, 1 - ATLÉTICO, 1 ESTÁDIO TAPADINHA A despeito do melhor jogo ofensivo dos algarvios, os lisboetas poderiam ter ganho se o árbitro não lhes recusasse dois tentos regulares 0LHANENSE - Abraão; Rodrigues, Nogueira e Loulé; Acácio e Grazina; João da Palma, Joaquim Paulo, Cabrita, Salvador e Eminêncio. ATLÉTICO - Ernesto; Baptista, Armindo e Abreu; José Lopes ê Morais; Martinho, Etelvino, Ben David, Teixeira da Silva e Silva Pereira. ÁRBITRO - Libertino Domingues, de Setúbal. Sabíamos que ao Atlético, uma vez que os pontos já não influíam na classificação, apenas interessaria agradar ao público algarvio, entregando-se ao Jogo com a finalidade de realizar exibição de acordo com o lugar tão galhardamente conquistado no «Nacional». Não foi, porém, possível à equipa visitante pôr em prática os seus intentos. O calor e o empenho com que os olhanenses se empregaram na luta não permitiu aos lisboetas jogarem com a serenidade indispensável pare realizar essa desejada exibição. Os algarvios, com os olhos postos numa possível classificação à frente de todos os grupos da província, jogaram tudo por tudo pare vencer, não dando tréguas ao adversário. Ante tal espírito de luta, aliás de aplaudir se não fossem algumas entradas mais agrestes de um ou de outro elemento, o grupo de Lisboa não teve tempo de se organizar dentro de um plano de puna exibição deixando-se, ao contrário, arrastar em determinado momento pela imposição do melhor jogo ofensivo dos algarvios. Mas a verdade é que o Atlético, apesar de tudo, demonstrou em certos pormenores do jogo que é uma equipa de categoria. Principalmente durante a primeira parte, a coordenação do jogo em lances forjados na defesa e conduzidos até à baliza de Abraão, numa teia de passes certíssima e em desmarcações oportunas, o padrão do futebol desenvolvido, embora menos rápido que noutras ocasiões, esteve claramente à vista. Mas deve dizer-se, que o ataque da equipa não correspondeu ao trabalho seguro da defesa. A falta de Certinhos e de Armando Carneiro teve manifesta influência no rendimento da linha avançado do Atlético. Independentemente desta circunstância, o árbitro com um trabalho inferior e com o qual os lisboetas foram os mais prejudicados, desencorajou o ataque visitante, pois lhe anulou lances de golo, finalizados regularmente. Primeiro, na invalidação do segundo tento, marcado por Ben David; e depois na segunda parte, não concedendo outro golo, marcado por Teixeira de Silva. Em ambos os casos, por presumíveis foras de jogo faltas que realmente não existiram. Da primeira vez, a bola foi picada sobre a baliza por Lopes, salvo erro, e, durante a sua trajectória Ben David saltou a par de Nogueira, ganhando o lance de cabeça e marcando o tento. No segundo caso, mais claro ainda se evidenciou o erro do árbitro pois a bola, centrada por Martinho, junto da linha de cabeceira seguiu para trás e Teixeira da Silva introduziu-a nas redes. O juiz de linha do lado das bancadas deu indicação de ter admitido o golo, correndo para o centro do terreno. Porém, o árbitro invalidou a jogada. Os alcantarenses voltaram a protestar, mas o árbitro não os atendeu. Um categorizado adepto do Olhanense, que se encontrava a nosso lado, reconheceu o desacerto do árbitro, frisando que não gostaria de estar na sua pele se o grupo prejudicado tivesse sido o Olhanense. Excelente exibição de Ernesto Deve, no entanto, dizer-se que a equipa de Olhão não teve também a sorte pelo seu lado para concretizar o seu melhor jogo ofensivo. O resultado é absolutamente lógico, mas houve um grande obstáculo para os avançados algarvios: - o guarda-redes Ernesto, que realizou grande exibição, tendo algumas defesas de verdadeira categoria, principalmente e remates difíceis de Cabrita e João da Palma, um em cada parte, as quais lhe valeram fortes aplausos. Durante o primeiro tempo, estando Cabrita no eixo do ataque a jogar excelentemente e bem coadjuvado pelos interiores, a equipa olhanense revelou apreciável fio de jogo. Cabrita magoou-se e não jogou na 2.ª parte Durante a segunda parte, sem Cabrita, pois este magoara-se em choque casual com Armindo na primeira parte a equipa de Olhão não pôde exibir e mesma coesão. No entanto, continuou a criar jogadas ofensivas em maior número que a equipa lisboeta. Como no primeiro tempo só faltou concretizar alguns desses lances para eles se revestirem de mérito absoluto. Duelo de guarda-redes Referimo-nos já à brilhante exibição de Ernesto. Revestiu-se de muita curiosidade o duelo travado com Abraão, um guarda-redes com estilo muito semelhante ao quase-internacional do Atlético e que ontem para mais se acentuar essa semelhança, envergava equipamento Igual ao do lisboeta. Abraão realizou também trabalho meritório, mas Ernesto teve mais oportunidade para brilhar. Quanto aos tercetos defensivos, o do Atlético, mais homogéneo, ficou a ganhar em relação ao adversário, onde Nogueira sobressaiu. A experiência de Baptista conseguiu travar o perigo que sempre representam as incursões de Eminêncio. José Lopes superiorizou-se a Morais, que alinhou inferiorizado fisicamente. Na outra banda, Grazina também sobrelevou o companheiro, cotando-se mais uma vez como figura dominante da equipa. Tal como Eminêncio ante Baptista, também Martinho só raramente levou a melhor na luta com Loulé. Excelente, no entanto, o lance em que o ludibriou, centrando da linha de cabeceira para Teixeira marcar o golo que seria invalidado. Ben David e Cabrita Ben David revelou em alguns lances a sua conhecida subtileza, mas mostrou-se pouco afoito na luta de perto. Poupou-se visivelmente, e bem se sabe porquê. Em contrapartida, Cabrita foi verdadeiramente brilhante no primeiro período, em que movimentou de maneira notável o sector ofensivo dos locais. Pena que se tivesse lesionado, pois estava em dia de inspiração. Etelvino foi o mais rematador dos avançados do Atlético. Teixeira e Pereira os mais discretos. João da Palma creditou-se de bom trabalho, se bem que, diante das redes, tal como os companheiros, carecesse de mais decisão no remate. O árbitro Citámos os grandes erros do árbitro. Mas, de maneira geral, Libertino Domingues pareceu-nos pouco atento, concedendo vários benefícios ao infractor, lesando, neste aspecto, ambas as equipas. Os golos O Atlético marcou primeiro, nos 39 minutos. ETELVINO concluiu uma série de passes do trio central com um remate à trave. Na recarga, fez o golo. O Olhanense empatou, por intermédio de JOÃO DA PALMA, aos 46 minutos, segundo o nosso cronómetro. Os lances de golo invalidado verificaram-se um em cada parte. ANTÓNIO DIAS %% 1950/06/50-06-12/19500612.1.txt Título: S.L. BENFICA, 3 - LÁZIO DE ROMA, 0 Data: 12 de Junho de 1950 Domínio: Comentário/relato de jogo Autor: MANUEL MOTA Fonte: Mundo Desportivo S.L. BENFICA, 3 - LÁZIO DE ROMA, 0 Os portugueses começaram a desenhar cedo a sua vitória, que a falta de remate dos avançados italianos facilitou, em especial na segunda parte, durante a qual o onze romano dominou sem êxito. LÁZIO - Fazio; Antonazzi, Sandroni e Piacentini; Montanari e Magrini; Puccinelli, Trevisan, Arce, Flamini e Nyers II. BENFICA - Bastos; Jacinto, Félíx e Fernandes; Moreira e José da Costa; Corona, Arsénio, Júlio, Rogério e Rosário. Árbitro: Arque, espanhol. O desafio entre o Benfica, campeão de Portugal, e o Lázio de Roma, representante da Itália na «Taça Latina», não chegou a interessar o público que no sábado se deslocou para o Estádio Nacional. A equipa portuguesa, talvez por ter principiado cedo a desenhar o seu expressivo triunfo, não fez a exibição que se esperava depois da muito falada primeira paste de Braga, contra os «leões». Nem sempre, é claro, se pode jogar em grande plano... Por seu turno o Lázio praticou melhor futebol que os lisboetas, o que foi realmente visível, mas não conseguiu dar ao seu jogo um ar de eficácia que dificultasse a vitória dos benfiquistas. Pelo contrário. A extraordinária falta de remate dos transalpinos facilitou, de alguma maneira, o êxito do campeão nacional, obtido com a maior regularidade através de uma actuação de conjunto que teve, aqui e alem, alguns lampejos de agrado. Na primeira parte, por exemplo, houve momentos em que o «balanço» de «onze» do Benfica foi superior ao da equipa romana, partida entre a defesa e o ataque, e este sempre falho em frente das balizas de Bastos, em tarde de pouco brilho. Ao vermos a ausência de remate dos dianteiros, compreendemos a razão porque na Itália se diz que o seu futebol está a ser desnacionalizado. É que, nos principais clubes transalpinos, os melhores marcadores são estrangeiros, de entre eles salientando-se o celebre «trio grenoli» do Internacional, de Milão, com Gunnar, Gunnar Nordhal e Liedhoim. O próprio Lázio não fugiu à tendência, trazendo no ataque o húngaro Nyers II e o paraguaio Arce. A verdade, porém, é que os estrangeiros do Lázio não deram à linha dianteira deste a menor parcela de combatividade. Nem talvez isso fosse possível com um sul-americano e um húngaro... Os clubes que contrataram suecos e dinamarqueses andaram mais bem avisados. No segundo tempo o Lázio exerceu domínio, por vezes acentuado. Mas a defesa do Benfica chegou e sobrou, afinal, para um ataque que se «perdeu» em toques e mais toques, em passes laterais e para trás, num jogo, digamos «ao contrário»! O terceiro ponto, já dentro do último quarto de hora, serviu para confirmar a diferença de rendimento dos dianteiros dos dois clubes em luta. Porque, é curiosa, diz-se tantas vezes que o futebol português peca por carência de remate, que desta vez todos ficaram surpreendidos pelo contraste: os portugueses rematarem o triplo, se não mais, dos avançados de Roma!... Os italianos executam bem, sem dúvida. Sabem jogar, em todos os capítulos, mas, «per la Madona», como eles próprios devem dizer isso de rematar… é para os outros. Nem mesmo Puccineli, o melhor marcador da equipa, conseguiu oferecer-nos um ar da sua graça. De resto, era difícil. Fernandes não é um defesa que dê facilidades aos dianteiros a quem tem de marcar. Puccineli que o diga! Sandroni e Puccineli O grupo de Rama, chamado em circunstâncias especiais a defender o prestígio do futebol do seu país na «Taça Latina», não chegou a dar a impressão de que muitos dos seus jogadores tivessem estado doentes dias antes. É verdade que os defesas laterais foram algumas vezes galgados pelos extremos do Benfica. Mas isso sucede, com frequência, em desafios entre portugueses do Benfica e de outros clubes. Foi, por exemplo, para não irmos mais longe, visível em Braga... Em conjunto o Lázio praticou um jogo agradável, vistoso, com pormenores individuais de muito efeito; um jogo que tem por base a «escola italiana», que existe e se observa em todas as exibições de equipas transalpinas. E' um futebol «leve», aqui e alem com laivos de artístico, fintas e desmarcações oportunas. Mas um futebol a que faltava agora alguma coisa, que é, afinal, a razão do próprio jogo: remate. Ficámos com a impressão de que os avançados do Lázio cometeram um erro grave, de palmatória. Foi o de procurarem colocar a bola nos pés de Puccinelli para este atirar As redes, mesmo que isso custasse mais um passe, obrigasse a mais um movimento, acabando em regra por facilitar a entrada dos defesas portugueses. O erro tornou-se mais evidente na segunda parte, exactamente porque nesse período o domínio territorial dos italianos apareceu com maior nitidez. A verdade é que Puccinelli se revelou excelente locador, logo seguido do húngaro Nyers II (há um Nyers I no Internacional que é elemento de mais categoria). Flamini, referindo-nos ainda ao ataque, teve na segunda parte Jogadas de grande efeito, com fintas desconcertantes. Os sul-americanos não lograram salientar-se. Arce pareceu-nos demasiadamente irritado... Esteve na defesa o melhor jogador da equipa: Sandroni. Logo nas primeiras Jogadas o defesa central do Lázio dominou Júlio, com certa facilidade e denunciando segurança e autoridade, para pelo tempo adiante só uma ou duas vezes, não mais, não conseguir impor-se ao dianteiro centro lisboeta. Como todos os defesas centrais dos grupos estrangeiros que nos têm visitado, Sandroni, uma vez de posse da bola, tornou-se mais uma unidade de ataque. Fazio foi um bom guarda-redes, sem culpas em qualquer dos tentos, um dos quais de grande penalidade. Executou, até, uma série de boas defesas na primeira parte e num período do segundo tempo em que o Benfica sacudiu a pressão dos italianos. Antonazzi secundou bem Sandroni, sem o fulgor deste. E nos médios de ataque o conflituoso Magrini, realmente «magrini», apareceu frequentemente embrenhado no ataque. Mas, também com muita frequência, os dois médios alas ficarem parados, à retaguarda, não acompanhando o movimento ofensivo de equipa. Nesse aspecto o Benfica não deixou tanto campo para manobras como o Lázio. Cargas de «cavalaria»... O Benfica, já o dissemos, esteve longe de repetir a brilhante exibição de Braga. Evidenciou, é certo, o mesmo estilo de jogo, procurando atacar em profundidade, sem complicações, mais a execução foi realmente muito Inferior. Rogério, com alguns momentos próprios da sua classe, oscilou bastante e esse facto não podia deixar de reflectir-se no rendimento da avençada, onde ele teria de ser e não foi, o «cérebro». Por outro o grupo, a pensar na final, deve ter repousado nos 2-0. O conjunto doa encarnados esteve mais certo antes que depois do intervalo. Na primeira metade puderam, mesmo, observar-se alguns bons movimentos colectivos de ataque, com toda a equipa a praticar um futebol de elasticidade, isto é, em que todos defendiam e todos atacavam, sem deixarem clareiras entre os vitelos sectores do «team». Todavia, nessa metade, a defesa cometeu algumas fantasias e os alívios irregulares de Félix deram origem a vários contra-ataques dos adversários. Fernandes, dentro da sue maneira especialíssima, foi uma utilidade. Salvou um ponto, sobre a linha da baliza, com Bastos completamente fora das jogadas... E depois do descanso repetiu a proeza, nas mesmíssimas condições. Aliás, a defesa benfiquista esteve, depois do repouso, melhor e bem melhor que na primeira parte, com Jacinto admirável de regularidade e de certeza. O Bastos não conseguiu, desta vez, salientar-se. Lançamentos tardios e insegurança. Uma tarde desagradável, como todos podem ter, afinal. Moreira teve leivas de jogador de classe. Caso curioso: os dois médios de ataque agiram dentro de um tipo de jogo para o qual a «aspereza» contribuiu em larga escala. Note-se, todavia, que os italianos, apesar de virem de Roma, não foram... santinhos!... O ataque atacou, na frase expressiva e feliz de um camarada distinto, em «cervos de cavalaria». Corridas velozes dos extremos, Rosário e Corona, e tentativas de infiltração no mesmo estilo de Júlio. Rosário e Corona galgaram, muitíssimas vezes, a defesa contrária, criando dificuldades ao Italiano, mais lentos, ou melhor, menos rápidos. Mas, globalmente, o quinteto adiantado do Benfica esteve muito «quem do que seria licito esperar. Na primeira parte a ala direita passou demasiadamente despercebida. Vitória justa O Benfica marcou a primeira bola aos seis minutos, por intermédio de Rosário, em posição de fora de jogo, assinalada pelo fiscal de linha espanhol, Fombona, mas que o árbitro, também espanhol, não viu. Rogério elevou a marca por 2-0, aos vinte e quatro minutos, transformando grande penalidade que nos pareceu bem assinalada. Ao intervalo: 2-0. Aos trinta e um minutos do segundo tempo, numa saída veloz dos encarnados da defesa para o ataque, Arsénio desviou-se ligeiramente para a extrema-direita e rematou com êxito. Não há que negar mérito nem justiça à vitória dos benfiquistas. Ganhou o encontro a equipa mais incisiva, mais expedita a rematar, menos burilada mas mais prática, portanto. E por muito que se tivesse reparado na exibição por de mais precária dos lisboetas, não é menos certo que a toada de jogo agora seguida pelo «onze» do Benfica esteve bem visível. Se na segunda parte o Lázio exerceu domínio, no primeiro tempo, uma circunstancia caracterizou o desafio: enquanto Bastos esteve quase inactivo, com prejuízo da sua exibição, Fazio não teve mãos a medir. Depois, no segundo tempo, apesar da superioridade dos transalpinos, o número de intervenções de Fazio e Bastos foi sensivelmente igual. Tudo isto, afinal, justifica o êxito doa encarnados. E se quiser argumentar-se com a ilegalidade do primeiro ponto, não se esqueça que o árbitro invalidou Uma bola de maneira incompreensível. Rogério correu com o esférico une bons trinta metros e atirou-o para as redes, batendo Fazio. O Sr. Arque anulou o ponto para marcar deslocação a Júlio que não tivera a menor Intervenção na jogada... O problema dos árbitros O Sr. Arque, de resto, no capítulo de «fora de jogo» esteve... antiquado. Assinalou deslocações que não chegaram a materializarem e outras em que o facto da bola bater num adversário anulou a deslocação. Para que a lei possa ser rigorosamente interpretada o fora de jogo não deve ser assinalado logo que a bola parte. Há que dar uma leve folga, para se verificar se, pelo motivo acima, surge oportunidade para se considerar a respectiva excepção da lei... Neste aspecto o francês Capdeville, que já nos dirigiu um Portugal-Espanha, salvo erro, deu uma verdadeira lição. Os fora de jogo de posição já não se usam, mesmo em Espanha. MANUEL MOTA %% 1950/06/50-06-12/19500612.2.txt Título: GIRONDINOS, 4 - A T. MADRID, 2 Data: 12 de Junho de 1950 Domínio: Comentário/relato de jogo Fonte: Mundo Desportivo GIRONDINOS, 4 - A T. MADRID, 2 Os franceses suplantaram os espanhóis em todo o desafio, mas só nos últimos minutos marcaram os pontos que lhes asseguraram merecido triunfo. Os campeões da França, que no sábado disputa com os campeões de Espanha o primeiro jogo das meias-finais da «Taça Latina», qualificaram-se merecidamente para o desafio decisivo. Equipa bem compenetrada, de bom porte atlético e possuidora de apreciável fio de conjunto, que dá ao «onze» o necessário equilíbrio em todos os sectores, os girondinos patentearam no Estádio Nacional superioridade evidente em relação aos espanhóis, e o seu triunfo pertence ao número daqueles que não oferecem contestação. Ganhou, de facto e de direito, o melhor grupo em campo. Ainda que sem grandes primores de técnica praticando com frequência futebol, pouco vistoso, os rapazes de Bordéus impressionaram pelo seu poder combativo, peia virilidade evidênciada, só possível pela excelente condição física dos seus elementos e pelo sentido prático, embora por vezes pouco eficiente, posto na urdidura. Estas armas, utilizadas com perfeito conhecimento, chegaram e bastaram para derrotar o grupo do Atlético Madrileno que, no sábado, não conseguiu estar a não ser quando empatou o jogo, à altura do contendor. A contrastar com o futebol rectilíneo, incisivo, dos franceses, os espanhóis entregaram-se a esquentes de Jogo por demais cerrados cerzidos em malhas apertadas, que os adversários não tiveram dificuldade em neutralizar na maior parte das ocasiões em que os seus lances provocaram perigo. Em conformidade com o desenrolar de partida, os girondinos chegaram ao intervalo com a vantagem de 2-0. Estavam, ao momento de marcarem os dote primeiros golos, inferiorizados pela falta do seu extremo-esquerdo, o holandês Harder; mas, mesmo assim, o grupo não se impressionou (outra facete reveladora de bom predicado) ainda que não raro, se notasse claramente que a falha prejudicava o trabalho de ataque. Harder que abandonou o terreno aos quinze minutos da partida, não voltou. Na segunda parte, e também por lesionamento de Pahiño, o Atlético de Madrid viu-se obrigado a lutar somente com dez unidades. Para os campeões de França a igualdade numérica aclarou o sistema de marcação E isso permitiu-lhes continuar o encontro sem sentir a falha de um elemento e sem deixar de manter as rédeas do jogo. Mas... chegou um momento em que toda a tarefa dos bordeleses pareceu esboroar-se. Foi quando os madrilenos chegaram ao empate de 2-2. A clássica fúria dos espanhóis esteve prestes a fazer mudar a toca do jogo que nessa altura ganhou a emoção que até então não tivera. Os últimos dez minutos foram vividos em franca atmosfera de entusiasmo e expectativa e provocaram os maiores aplausos, especialmente quando, no curto espaço de dois minutos, os últimos, os campeões da França remediaram a situação com o terceiro e quarto tentos, que lhes garantiam merecidamente o acesso à final. Todo o público então se aprestava já para assistir a mais meia hora de prolongamento de desafio que seria inevitavelmente punível para os jogadores e fatigante para o público. Os Campeões da França marcaram o primeiro golo ao quarto de hora do jogo Depois das cerimónias protocolares, as saudações troca de galhardetes, fotografias, etc, a partida começou com a saída dos campeões da Espanha, e logo na descida inicial um centro de Ben Barek chegou ás mãos de Astresse. Na resposta, imediata, Harder contra atacou, e Persillon, acompanhando o lance visou a baliza espanhola por alto para, pouco depois obrigar Domingo à sua primeira intervenção. O movimentado começo forneceu indicação de jogo disputado e de difícil vaticínio. Espanhóis e franceses equilibravam a porção de ataques e de defesas, muito embora se verificasse que Domingo era o guarda-redes mais visto em acção. Até aos dez minutos altura em que Swietek teve de empregar-se a fundo para deter um avance de Ben Barelc e de Olmedo; e de entre os postes, aliviar ocasião de perigo criada por Ben Berek os dois grupos repartiram por igual o domínio das situações apesar de entretanto, já se notar que os girondinos eram mais decididos e seguros tanto à defesa como ao ataque. Como amostra dessa decisão e segurança ficou o lance que precedeu o primeiro golo da partida - jogada da defesa (pontapé de alívio de Astresse, depois de segurar um remate de Osrlsson); insistência de Gallice e de Kargan, que solicitou Harder, desmarcado no meio do terreno. O extremo esquerdo do Bordéus partiu como uma flecha para a baliza de Domingo que teve de se lhe arrojar aos pés; e do choque resultou que Harder se viu forçado a sair do terreno, para não voltar. No desenvolvimento da jogada ainda com a bola a rondar as proximidades das balizas do Atlético, Babot entrou em falta sobre Moustapha; e, chamado a aplicar o castigo justo, Garriga desferiu a cerca de vinte metros do alvo, pontapé de tamanha violência e de tão boa direcção que Domingos ficou batido mal a bala saiu dos pés do defesa francês. Superioridade dos Girondinos O primeiro tento veio - pode dizer-se - na melhor altura para os campeões da França. Á saída de Harder, ainda sem saber se ele regressaria ou não, sucedeu um golo espectaculoso, e isso deve ter influído no moral da equipa que passou, claramente, a confirmar quanto até ai se notara da sua superioridade. E' certo que, quase a seguir e também num lance ofensivo dos espanhóis, Pahiño ficou magoado e a coxear. O avançado centro, que o clube dos «merengues» emprestou ao Atlético para reforçar o «onze» derivou para a esquerda, por troca com Estruch, mas ficou praticamente impossibilitado de continuar a luta. Quem prosseguiu em boa toada ofensiva, foram os bordaleses, cada vez mais firmes e insistentes e dando, de momento a momento, trabalho difícil a toda a defesa de Madrid, com relevo para Domingo. Aos 24 minutos Doye perdeu por infelicidade um soberano passe de PersiMon; pouco depois, a equipa francesa beneficiou de dois «cantos» mareados sem resultado. Uma fuga de Carlsson, que Estruch concluiu desajeitadamente ao lado, causou apreensões ao grupo de Bordéus. O loiro sueco do Atlético repetiu a proeza pouco depois, e também Estruch fez o que fizera antes: rematar torto e mal o primoroso passe de Carlsson. É certo que, aos 40 minutos, Estruch bateu Astresse, mas o tento não contou porque o extremo espanhol estava deslocado. Dois minutos volvidos Carlsson esteve à beira de conseguir o empate que Astresse evitou com defesa instintiva para canto. A primeira parte terminou praticamente com a obtenção do segundo golo do Bordéus. Descida veloz de Moustapha, pelo lado direito; centro curto e atrasado para Perssilon, e remate vitorioso. Reacção enérgica dos espanhóis, que chegaram ao empate 2-2. Os campeões de Espanha reataram a partida fazendo alinhar no ataque Olmedo, Ben-Barek, Estruch e Hernandez; e no lugar deste último, Carlsson. %% 1950/06/50-06-12/19500612.3.txt Título: S.L. BENFICA, 3 - GIRONDINOS,3 Data: 12 de Junho de 1950 Domínio: Comentário/relato de jogo Autor: MANUEL MOTA Fonte: Mundo Desportivo S.L. BENFICA, 3 - GIRONDINOS,3 Os portugueses podiam ter resolvido o desafio na primeira meia hora; permitiram, porém, a recuperação dos franceses, que atingiram o intervalo com uma bola de vantagem - O terceiro tento dos benfiquistas obrigou a prolongamento que não alterou o resultado, devendo realizar-se no domingo novo encontro. A «Taça Latina» não tem ainda vencedor. Depois de duas horas de jogo. sempre emocionante, os finalistas terminaram empatados e só amanhã, talvez, se decidirá a posse do troféu. Este encontro valeu, sob múltiplos aspectos, por todos os outros. Já se esperava que a equipa de Bordéus oferecesse réplica firme aos portugueses, mas contava-se, entretanto, com uma possibilidade de triunfo benfiquista. O onze dos Girondinos revelara, na véspera, magnífica capacidade. Fora, sem sombra de dúvida, o melhor grupo dos quatro que actuaram no Estádio Nacional, Uma verdadeira equipa, na qual a preocupação do conjunto esteve sempre bem viva no espírito dos jogadores. Todavia, nem por isso se desesperava de uma vitória do campeão de Portugal, jogando no seu ambiente e de certo folgado... Porque, efectivamente, no jogo com o Lázio, os encarnados deram, a determinada altura, a ideia de que reservavam energias para a partida decisiva. Naturalíssimo, claro. O começo do encontro da final deu à assistência a noção de exilo dos benfiquistas. Uma bola de Arsénio, aos quatro minutos, consolidou a impressão de que os portugueses ganhariam. Ate porque, durante muito tempo, o grupo de Lisboa fazia futebol de qualidade, com a bola a rezar a relva, e todo o onze desenvolvendo excelente energia e muito entusiasmo. Segunda bola, aos vinte e um minutos, arreigou a ideia de vitória fácil, vamos, do Benfica, muito embora já nessa altura os franceses estivessem a melhorar nitidamente e a ameaçar com frequência a defesa contrária. O encontro tinha, porém, aspecto favorável aos benfiquistas. A seguir a este ponto, Arsénio, com a baliza à mercê, perdeu uma oportunidade única em todo o jogo. E talvez tenha, com essa falha, contribuído para o encontro não se decidisse. Porque, acreditamos, terceiro golo deitaria abaixo o ânimo dos bordeleses, por muito que estes estejam habituados a situações difíceis. Mas, enfim, a vantagem de três bolas seria quase impossível de anular. Em resposta a essa ocasião desperdiçada por Arsénio, marcaram os girondinos o seu primeiro ponto. Rogério, logo a seguir, imitou o seu companheiro. E terminou aqui, praticamente, a fase de vantagem benfiquistas. Quando os visitantes igualaram, perto do Intervalo, não houve surpresa. Como não surpreendeu terceiro ponto no último minuto. Já nessa altura, na verdade, o Bordéus exercia forte pressão e os portugueses pareciam ter renunciado à ideia do triunfo. Duas horas de jogo sem decisão No princípio do segundo tempo os encarnados quase repetiram o labor do começo do desafio. Novamente em toada, de bola baixa, fugindo à supremacia dos franceses no jogo alto, os nossos compatriotas chegaram bem, com mérito, ao 3-3. Depois, até expirarem os noventa minutos regulamentares, os lisboetas não foram melhores que os franceses. Pelo contrário. Viu-se sempre melhor futebol da equipa da Gironda, mas deve dizer-se, em abono da verdade, que os benfiquistas dispuseram de maior número de oportunidades. Simplesmente, os extremos, Corona e Pascoal, perderam oportunidades sem conta, em especial o primeiro. Note-se, entretanto, que os portugueses lutaram com alguma dose de infelicidade. Um remate de Arsénio, por exemplo, foi detido pela barra, seguindo-se uma grande ofensiva dos encarnados, à qual só faltou remate condigno. Mais serenidade de todos os dianteiros e o Bordéus, nitidamente colocado na defensiva, baixaria bandeira. Porque, convém esclarecer, a última meia hora do encontro, isto é, a partir do terceiro ponto dos campeões nacionais, pertenceu ao Benfica, se não em urdidura de jogo, pelo menos em ocasiões de marcar. E isso, em boa verdade, era o que mais interessava... As falhas dos avançados portugueses no capítulo de remete obrigaram, afinal, a prolongamento. Este teve duas fases distintas. Na primeira registou-se relativa igualdade, expressa neste pormenor: o Benfica resolveu as dificuldades concedendo cantos; os Girondinos resolveram-nos com defesas de Astresse. A segunda fase deu sempre a sensação de que os franceses poderiam ganhar. E uma série de cantos acentuou essa ideia. Mas o empate, obrigando a segundo jogo, tem de aceitar-se bem. É certo que o Benfica, vistas as coisas por um prisma prático, desfrutou de número mais elevado de oportunidades de marcar. Mas, por outro lado, há a considerar que, em conjunto, o Bordéus foi melhor equipa e esse aspecto não pode deixar de ser considerado pele crítica. Todavia, fica do encontro esta impressão geral: com mais calma dos seus dianteiros o grupo português já séria a esta hora vencedor da Taça Latina. A recuperação dos girondinos Do mesmo modo tem de considerar-se que os franceses, em ambiente que sem ser hostil lhes era estranho, foram obrigados a uma recuperação na verdade brilhante, ainda que facilitada pelos próprios adversárias. Perdendo tentos, os lisboetas deram trunfos aos girondinos... O sentido prático que a equipa campeã de França evidênciara na véspera verificou-se logo nos primeiros lances da partida, quando Kargu preparou a Meunye o primeiro disparo. Os portugueses responderam de pronto, por iniciativa de Moreira, e Júlio perdeu a primeira ocasião... Mas o Benfica insistiu, atacando pela direita, e Júlio, perto da linha de cabeceira, serviu Arsénio em boas condições. O interior direito rematou com força e direcção, tornando mera formalidade a tentativa de Astresse. Ao reatar-se o jogo continuou a verificar-se que a vontade dos lisboetas imperava, com uma certa firmeza a traduzir-se em apuros da defesa contrária, onde Garriga e Swiatek, em pleno superior ao do bom Merignac, travavam luta forte e sem tréguas, mas sempre limpa. O jogo, entretanto, tornara-se mais «apertado», fazendo-se muito numa estreita faixa de terreno. E, assim, a defesa do Bordéus levava vantagem, pelo seu maior poder, sobre o ataque do Benfica... As aberturas oferecidas aos dianteiros benfiquistas eram por isso pouco aproveitáveis. Só um movimento Moreira-Pascoal-Rogerio-Pascoal criou complicações aos bordeleses. A entrada de Júlio, em salto, para rematar de cabeça, não logrou êxito por intervenção de Astresse. Decorrido um quarto de hora de jogo o Bordéus apareceu mais ao ataque. Uma corrida de Persiilon foi cortada oportunamente por Jacinto, seguindo-se uma fase de enleamento dos portugueses, concluída por Mustapha com um pontapé poderoso, desviado por Bastos para cento. Na recarga, Gallice fez a bola roçar a barra. Com Swiatek a organizar ofensivas, os franceses mantiveram-se por momentos ao ataque. E precisamente numa fase de assédio dos girondinos, obtiveram os portugueses segundo ponto. Rogério deu a bola a Corona, que rematou, mas Astresse defendeu; Pascoal colheu o esférico, abriu para o lado e Comas marcou o tento, aos vinte e um minutos. No minuto seguinte, Arsénio, só em frente das redes, levantou a bola, levando as mãos à cabeça... E ainda no minuto seguinte os girondinos lograram a primeira bola: passe de Mustapha e belo remate de Doye, com a bola a saltar dentro das balizas da rede para o solo e do solo para a rede. Tal a violência do pontapé. Este tento levou o grupo francês para ofensiva mais porfiada. Contudo, as saídas rápidas dos benfiquistas da defesa para o ataque, em passes longos a procurar tirar partido da velocidade de Corona, surtiam algum efeito. Davam, pelo menos, que fazer a Swiatek e companheiros, aqui e além embaraçados para resolverem problemas criados pelo imprevisto dos ataques contraries. Até à meia hora o jogo decorreu favorável aos girondinos, em cuja linha de ataque a ala esquerda se entregava a algumas fantasias... Os portugueses só faziam fugidas e em duas delas as coisas estiverem mal afiguradas para os visitantes. Júlio estragou uma oportunidade e Swiatek, graças à sua estatura, pôde cortar um passe para Corona, que seguia embalado. O jogo decaiu um pouco de velocidade e movimentação. Aliás, era difícil ás duas equipas manterem o ritmo em que desde o começo estavam embrenhadas. As forças humanas não são ilimitadas! Foi nesta fase que os Girondinos tiveram o seu brilhante período de recuperação. Aos trinta e sete minutos, Bastos não segurou um remate de Kargu e, na recarga, Doye empatou. Feito o empate, viu-se o Benfica como que a renunciar, a dar menos luta, a deixar-se quase manobrar. A defesa mostrava-se perturbada e o ataque era facilmente anulado pelos franceses. Precisamente aos quarenta e quatro minutos, Doye, novamente, elevou a marca para 3-2, com um ponto semelhante ao anterior, como que decalcado deste remate de Persillon, que Bastos não segurou, e recarga de Doye. A jogada, de tão rápida que foi, deixou a defesa benfiquista abstracta, parada. A vitória escapou-se por um nada... No princípio de segunda parte houve perigo para os dois lados. Mas em breve o Benfica tomou ascendente, depois de baixar o jogo, e passou a dominar. Um corte de Gallice, evitando que a bola chegasse a Arsénio, desmarcado, constituiu o pormenor que melhor revelou a ofensiva dos encarnados, agora empenhados em forçar a defesa, belamente organizada, dos franceses. Aos doze minutos, num contra-ataque fulgurante, Pascoal marcou o terceiro tento viria a ser o último... Replicou o Bordéus com perigo, para as acentuar a sua vantagem. Mas uma vantagem que não se fixava, solta, e sem perigo aparente. Um remate de Júlio, fazendo tabela em Swiatek, colocou Corona em excelente posição. Mas Astresse chegou primeiro defendendo com desembaraço. A partida ganhou, então, equilíbrio evidente. Mas, ainda assim, com mais trabalho para Astresse que para Bastos e com maiores apuros dos defesas bordeleses, onde Swiatek se mantinha em grande plano. Todavia, a fisionomia do jogo era esta: Bordéus mais ligado, com entregas de homem para homem, em toques seguidos; Benfica em rajadas, em salpicos de bom jogo, em corridas deste ou daquele. Corona, na grande área, caiu com Merignac e, ao tentar levantar-se, o francês prendeu-lhe as pernas. O Sr. Fombona deixou passar... E como que coincidindo esta falta de Merignac com quebra de rendimento da equipa, viu-se o Benfica lançado numa ofensiva de grande estilo, durante a qual um remate de Arsénio foi à barra, perdendo-se a recarga de Júlio por Intervenção felicíssima de Garriga. Chegou-se neste jeito ao quarto de hora final. Sensivelmente os franceses tinham decaído, parecendo fatigados. E o Beatice, a dar impressão de maior capacidade física, postou-se ao ataque com certa fixidez. Arsénio voltou a perder uma bola que parecia certa, um pessoalismo de Corona anulou uma descida de mau aspecto para os Girondinos e depois de uma tentativa de reacção do Bordéus, novamente Corona desperdiçou um lance de baliza aberta. Por último os franceses conseguiram sacudir, a golpes de energia, e com preponderância de Swiatek e Barek, o domínio do Benfica. Deste modo, houve um canto contra os encarnados e um livre que, praticamente, pôs termo à segunda parte. O prolongamento Corona, no primeiro minuto do prolongamento, poderia ter liquidado a questão. Mas com Astresse só à sua frente levantou a bola demasiadamente, para as nuvens. A resposta do Bordéus criou expectativa, e só uma intervenção vigoroso e decidida de Fernandes evitou o remate de Kargu, lançado em boa corrida. O grupo da Gironda manteve-se, então ao ataque, ganhando três cantos. Depois mais dois, cedidos por Bastos, a socar a bola, e, por último, outro canto no seguimento do qual Jacinto evitou que a bola chegasse ás malhas. Depois que as equipas mudaram de campo para a segunda parte do prolongamento, ainda se registou uma perdida dos benfiquistas, agora de Pascoal, com remate muito para o ar. Os franceses miram em massa sobre a defesa encarnada e Bastos fez mais duas defesas difíceis. Depois um pontapé de Swiatek para os pés de José da Costa deu ensejo e remate deste, saindo a bola a roçar um poste. Esta foi a última oportunidade dos portugueses, a partir deste momento atirados para o seu campo, defendendo o empate com unhas e dentes. Bastos, em mais duas defesas a soco, manteve a integridade das suas balizas e o desafio terminou, pode dizer-se com o guarda-redes benfiquista a segurar um livre executado por Barek. Quando o Sr. Fombona deu o desafio por terminado estavam todos fatigados: jogadores e público! Um grande jogador: Swiatek É incontestável que a equipa de Bordéus suplantou a do Benfica. O onze francês deu uma lição de conjunto, de jogo ligado, havendo sempre nele a preocupação de fazer seguir a bola de unidade para unidade. Poucos arabescos, poucas filigranas, a não ser na ala esquerda do ataque e, mesmo assim, só durante a primeira parte. A defesa não se limita a destruir. O trio Garriga-Swiatek-Merignac teve sempre presente a noção de que um toque para fazer chegar a bola a um companheiro vale mais que um longo pontapé para o barulho... Muitas ofensivas dos girondinos saíram de passes do defesa central, a grande figura do grupo. Se Astresse, um jovem dos juniores dos girondinos, pode ser considerado uma revelação; se Garriga e Merignac foram primorosos defesas, Swiatek suplantou todos. Realmente um grande jogador em todos os sentidos... Na altura e na forma de jogar, devendo dizer-se que é um modelo de correcção, de lisura. Barek, muito sereno, organizou muito jogo de ataque, tal como Gallice. E os dianteiros, utilizando o que os franceses chamam «táctica de turbilhão», isto é, trocas constantes de lugares, mostraram-se frequentemente perigosos. Mustapha comandou a linha da frente, fazendo a cabeça tonta a Félix... Doye também jogou bem, com larga vantagem sobre os companheiros de ter sido o autor de todos os pontos. Meunye pareceu-nos o mais fraco numa equipa onde o conjunto é a mola real. Uma bela equipa, sem dúvida. O papel de Swiatek, bem desempenhado, tirou eficácia ao ataque dos encarnados. Júlio viu-se dominado quase constantemente pelo gigantesco girondino, com a agravante de que, em muitos períodos, os portugueses fizeram o jogo que mais agradava aos adversários: bola pelo ar. Depois, do ataque do Benfica só Arsénio, de princípio a fim, mesmo tendo em conta as oportunidades que perdeu, e Rogério em muitos períodos, merecem nota positiva. Corona e Pascoal anularam muitas situações de evidente perigo para os franceses. E é curioso assinalar que nos últimos desafios, o Benfica devia o êxito das suas ofensivas precisamente ao labor dos extremos. Rosário teria, cremos, feito melhor lugar que Pascoal. Corona, que tem sido um dos tais extremos condutores de perigo em cada descida, nunca soube manter-se calmo no momento do remate. Que de oportunidades perdidas!... Moreira e José da Costa com altos e baixos. Moreira esteve em muitas das melhores fases do onze. E a defesa chegou a mostrar-se preocupada com as bruscas mudanças de lugar dos dianteiros de Bordéus. Jacinto e Fernandes, este utilizando bem o corpo, ganharam jus a referência especial. Félix, na primeira parte, aliviou mal, entregando com demasiada frequência a bola aos adversários. A luta com Kargu esteve longe de Lhe ser favorável nesse período. Depois do interveio com o avançado centro francês muito menos mexido, Félix não atravessou tantas dificuldades. Bastos fez um punhado de excelentes defesas. Em dois dos pontos dos franceses não conseguiu segurar os primeiros remates dada a violência destes. Em resumo: exibição do Benfica inferior ás suas possibilidades; vitória que lhe fugiu por culpa dos avançados. Lei mal aplicada O Sr. Fombona foi muito meticuloso, talvez para evitar que o desafio tomasse o aspecto do anterior. Imparcialidade e toda a prova, decisão e autoridade, tudo isto caracterizou o trabalho do árbitro espanhol. Em todo o caso, ficámos com a impressão de que não aplica devidamente a lei da vantagem, tendo assinalado muitos e muitas faltas em benefício do infractor. A prisão de pernas a Corona, na grande área, só podia ser punida com grande penalidade. Na segunda parte do prolongamento equivocou-se, assinalando contra os encarnados um canto inexistente. Mas logo na marcação do pontapé emendou a mão, com muita diplomacia... MANUEL MOTA