title: Sombras author: Luís Represas In: "Represas" EMI 1993 from: lr Sorrateiras sombras entre o nevoeiro Esgueiram-se furtivas sem deixar vestígio Fogem quando os uivos das sirenes frias Como o azul que deitam lhes aguça a vida Nem o frio conta como companhia O orvalho borda a colcha de uma cama fugidia Os dias ao contrario são as noites do avesso São as febres ao começo do inferno em delírio Às vezes têm fome de saber ter fome E gritar por quem a fome lhes sacia Ou o medo esmaga comum beijo quente E com uma carícia adoça a angustia de ser gente. Os olhos vêm longe quando estão fechados E até lhes trazem cheiros que há muito não sentiam. Há muito não é tanto porque o tempo ainda é pouco e enquanto os olhos sonham não lhes dão cuidados. Sentem-se insensíveis e desafiantes Nada, nem os homens, pode causar dano A vida não ficou pior do que era dantes Nem vai ficar melhor com o fechar dos panos