Já não há mais o vagar
De quando se comia sentado
E devagar se caminhava
Até chegar a qualquer lado
Agora vai toda a gente
Sempre de mão na buzina
Sempre na linha da frente
A tremer de adrenalinaDo meu vagar não traço rotas
Não tenho trilho que me prenda
Não tiro dados nem notas
Não encho uma linha de agenda
Do meu vagar não chego a Meca
Não faço nada num só dia
Não corto o fio da meta
Não vejo Roma nem PaviaDo meu vagar
Sei que nunca hei-de ir longe
Vou aonde for preciso
Vou indo do meu vagar
Em busca do tempo perdido
E se um dia o encontrar
O longe não faz sentidoDo meu vagar há um nicho
Um pico de ilha insubmersa
Onda há lugar para o capricho
Que dá pelo nome de conversa
Do meu vagar a paisagem
Ainda tem beleza em bruto
E vale mais uma palavra
Que mil imagens por minutoDo meu vagar
Sei que nunca hei-de ir longe
Vou aonde for preciso
Vou indo do meu vagar
Em busca do tempo perdido
E se um dia o encontrar
O longe não faz sentido
Nuno Miranda