Às vezes conto as horas
da cabeça aos pés
da vela
da solidãoEnquanto arde
o escuro não se vêÀs vezes pinto a cara
de uma côr solene
só para me entreterA ver se vejo o que se vê
E são vezes sem conta
que me sento a ler
segredos que refaço por prazerEstão escritos numa folha de ar
que respireiÀs vezes saio em braços
a cantar vitória
de uma luta desigualSó eu sei como se luta de memória
E são mais de mil vezes
vezes outras mil
que adormeci ao som
de uma surdez gentilQue afunda ainda mais o sono no vazio
e me passeia pelo meu lado menos frioQuando me vires assim
poupa-te ao esforço
não tentes guardar recordações de mimQuando me vires assim
não é por castigo
é porque aprendi
contigo
a não procurar abrigo
e assim estar mais junto de tiÀs vezes tenho o telemóvel da cabeça
desligado na central
que está na terra á minha esperaÀ espera dos recados dos sentidos
que chegam de todos os ladosO coração é uma caixa postal
Não espero que o Sol venha
p'ra me confundir
quando se veste de noite
e convida a fugir
do certo ou do errado
ou do ainda piorÀs vezes faço eu as regras a seguir
Num gesto lento e meio raro
afasto cortinas de luz
vejo-te a sombra do vestidoVolto do fim do medo ao mundo
volto do fim do mundo à espera
de te encontrar ainda aqui