No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado
- Duas, de lado a lado-,
Jaz morto, e arrefeceRaia-lhe a farda o sangue
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidosTão jovem! Que jovem era!
(agora que idade tem?)
Filho unico, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino de sua mãe».Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve
Dera-lhe a mão. Está inteira
É boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço... deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.Lá longe, em casa, há a prece:
'Que volte cedo, e bem!'
(Malhas que o Império tece')
Jaz morto, e apodrece,
O menino de sua mãe.
Victor Almeida
Hoje estava eu muito sossegado no meu cantinho a ``dar um olho'' a Pessoa quando me aparece este poema. Lembrei-me de um excelente album de 1987 da Mafalda Veiga (o primeiro dela) que se chama ``Passaros do Sul'' e onde ela ``põe'' musica neste lindissimo poema, e faz uma coisa tão simples que se torna espectacular. Não sei se já ouviste alguma vez mas olha que vale bem a pena. Acresnto só que o album tem a produção e direcção musical de um Trovante que é o Manuel Faria (que também toca teclas em duas canções) e a participação de outros ``Trovantes'' como José Salgueiro (bteria), Artur Costa (metais) e Fernando Judice (baixo), também de um homem que pertenceu à primeira formação dos Trovante (a de ``Baile no Bosque'') que é o João Nuno Represas. Além de outros excelentes musicos como: Antonio Ferro, Renato Junior, Rui Luís Pereira e Mario Gramaço.