Até quem sabe a voz do dono
Gostava do dono da voz
Casal igual a nós, de entrega e de abandono
De guerra e paz, contras e prósFizeram bodas de acetato - de fato
Assim como os nossos avós
O dono prensa a voz, a voz resulta um prato
Que gira para todos nósO dono andava com outras doses
A voz era de um dono só
Deus deu ao dono os dentes, Deus deu ao dono as nozes
Às vozes só deu seu dóPorém a voz ficou cansada após
Cem anos fazendo a santa
Sonhou se desatar de tantos nós
Nas cordas de outra garganta
A louca escorregava nos lençóis
Chegou a sonhar amantes
E, rouca, regalar os seus bemóis
Em troca de alguns brilhantesEnfim, a voz firmou contrato
E foi morar com novo algoz
Queria-se pensar, queria ser um prato
Girar e se esquecer, velozFoi revelada na assembleia - ateia
Aquela situação atroz
A voz foi infiel trocando de traqueia
E o dono foi perdendo a vozE o dono foi perdendo a linha - que tinha
E foi perdendo a luz e além
E disse: Minha voz, se vós não sereis minha
Vós não sereis de mais ninguém(O que é bom para o dono é bom para a voz)
Victor Almeida