Ele vinha sem muita conversa
Sem muito explicar
Eu só sei que falava e cheirava
E gostava de marSei que tinha tatuagem no braço
E dourado no dente
E minha mãe se entregou
A esse homem, perdidamenteEle assim como veio partiu
não se sabe pra onde
E deixou minha mãe com o olhar
Cada dia mais longeEsperando, parada, pregada
Na pedra do porto
O seu homem, com o velho vestido
Cada dia mais curtoQuando, enfim, eu nasci
Minha mãe embrulhou-me num manto
Meu vestiu como se eu fosse assim
uma espécie de santoMas por não se lembrar de acalantos
a pobre mulher
Me ninava cantando cantigas
de cabaréMinha mãe não tardou a alertar
toda vizinhança
A mostrar que ali estava bem mais
que uma simples criançaE não sei bem se por ironia
ou se por amor
Resolveu meu chamar com o nome
de nosso senhorMinha história, esse nome
Ainda hoje carrego comigo
Quando vou para um bar
Viro a mesa, berro, bebo, brigoOs ladrões, as amantes
Meus colegas de copo e de cruz
Me conhecem só pelo meu nome
de Menino Jesuslá lá lá lá
José Roberto Molina (Gesumambino)