INTRODUÇÃO AOS EXEMPLOS MUSICAIS
Em 1982, Ernesto Veiga de Oliveira convidou-nos a trabalhar na 2º edição do seu livro, dedicado aos Instrumentos Musicais Populares Portugueses. Dessa colaboração resultou a inclusão de alguns exemplos de música instrumental que complementam a vasta informação nele contida, com indicações que permitem, a quem o desejar, conhecer e mesmo iniciar ou desenvolver uma prática instrumental que, como o autor previa na 1.ª edição, se encontrava em franco declínio.
Ernesto Veiga de Oliveira (1910/1990)
No texto que acompanha os exemplos musicais, tentámos dar algumas indicações que nos parecem ainda ser úteis a quem consultar as páginas que agora lhe são dedicadas na Internet, onde nos é finalmente possível divulgar as gravações originais que utilizámos.
Domingos Morais (Março de 2.000)
Jorge Dias, em «Da música e da dança, como formas de expressão populares, aos ranchos folclóricos» (1970), descreve a degradação da música tradicional portuguesa a partir dos anos 20, como um processo irreversível a curto prazo, que justificava a adopção de medidas eficazes para a sua salvaguarda.
A bibliografia e discografia existentes apesar de dispersas e parcelares, permitem conhecer, a quem o queira, o repertório tradicional — que deveria ser objecto de uma maior atenção por parte de músicos amadores e profissionais, e das escolas, associações e academias que de algum modo desenvolvem actividades musicais. A edição do «Cancioneiro Popular Português»(1981) de M. Giacometti e F. Lopes Graça, pela escolha criteriosa das músicas e inclusão de bibliografia e discografia actualizada, facilitou o trabalho desses músicos e instituições, aos quais bastará ter a vontade necessária para começar de imediato a sua divulgação.
A música instrumental apresenta porém problemas específicos, pelo que o seu tratamento, conducente a uma prática ou pelo menos ao seu conhecimento, só será possível pela complementaridade de várias acções:
— contacto directo com os músicos que por todo o país tocam ou tocaram estes instrumentos;
— conhecimento das formas de transmissão e aprendizagem dos saberes instrumentais, tal como se processavam nos grupos e comunidades a que pertenciam (ou pertencem);
— levantamento urgente das técnicas de construção, reparação e manutenção;
— estudo dos registos fonográficos, fotográficos, filmes e vídeos, etc. — para apuramento das técnicas instrumentais, postura corporal e sonoridades adequadas a cada um dos instrumentos;
— transcrições em notação musical e tablaturas instrumentais, acompanhadas sempre que possível por gravações;
— publicação de trabalhos de divulgação sem descurar os aspectos históricos e etnográficos, facilitando o reencontro com estes instrumentos e grupos instrumentais, bem como a procura de novas formas e funções, condição necessária para uma renovação que acreditamos possível e potencialmente motivadora de músicos situados em diferentes quadrantes da prática musical.
Jorge Montes Caranova e Manuel Moreira, tocadores de viola campaniça e viola beiroa, e como eles tantos outros, já não nos podem ensinar os segredos dos seus instrumentos. As gravações, fotografias, registos escritos e algumas cartas, os relatos vividos por quem de perto com eles conviveu, não respondem infelizmente a algumas perguntas que só eles, pelo seu exemplo, poderiam esclarecer.
Quando, nos cursos de formação de professores da Fundação Gulbenkian (1969) e posteriormente na Juventude Musical Portuguesa e Escola Superior de Educação pela Arte, procurámos conhecer a música instrumental portuguesa, foi o livro de Ernesto Veiga de Oliveira que então nos serviu — e serve — de guia na descoberta de um mundo que a nossa formação e experiência anteriores não nos tinha revelado.
Tornámo-nos frequentadores habituais do Museu de Etnologia de Lisboa, que fomos conhecendo com a ajuda de todos quantos aí trabalhavam. Os objectos e colecções, os livros, os filmes, eram um constante desafio à nossa curiosidade que já não se contentava com os aspectos especificamente musicais e se abria a outros campos do conhecimento sem os quais aqueles não podem ser compreendidos.
O estudo da colecção de instrumentos populares e das gravações do Museu de Etnologia de Lisboa, foi-nos facilitado pelo constante situar dos objectos nas pessoas e grupos que os tocavam e nas situações em que eram utilizados. Aprendemos que todo esse trabalho se baseava num método de investigação apurado e rigoroso e num profundo respeito por esses homens e mulheres, camponeses na sua maioria, no seu saber e na sua vontade.
Devemos a F. Lopes Graça e Michel Giacometti, os textos e gravações onde começámos a estudar a música do nosso povo. A Francisco d' Orey o gosto e a prática da música vocal na J.M.P. A Javier Hinojosa e Emilio Pujol o conhecimento das tablaturas instrumentais e a sua utilização para a transcrição da música popular portuguesa. Ao Grupo de Acção Cultural, o conhecimento e apoio decisivos na procura de novos caminhos para a música portuguesa. A Luís Pedro Faro, Pedro Caldeira Cabral, Rui Júnior, Rui Vaz e Júlio Pereira o esclarecimento de algumas dúvidas e a clarificação de determinados procedimentos instrumentais.
A todos nos basta que os instrumentos populares portugueses recuperem o lugar a que têm direito, como modesta homenagem aos homens e mulheres das comunidades rurais que lhes deram vida.
Estamos com Ernesto V. Oliveira quando nos diz que «...eles não são relíquias mortas e inertes, exotismos pitorescos ou curiosidades eruditas: são testemunhos do passado que explica o presente, a própria história da marcha e da luta do Homem, a dignidade e a beleza das suas mãos — uma lição viva de Humanismo, a dizer o que é o Homem de sempre».
Lisboa, 1982
Domingos Morais
José Pedro Caiado
Carlos Guerreiro
Nota Preliminar
1) As músicas transcritas a partir das gravações de Ernesto V. Oliveira e Benjamim Pereira, entre 1960/63, referem-se apenas aos instrumentos e grupos instrumentais mais significativos.
2) A escolha dos trechos musicais, dada a impossibilidade na maior parte dos casos de recorrer aos músicos que os tocaram, teve em conta a nossa capacidade de analisar as gravações e a informação que sobre cada um deles existia, sendo a opção por aqueles que pensamos ter apreendido no que de essencial os caracteriza.
3) Utilizámos ainda outros materiais de diferentes proveniências, que não existiam ou eram de difícil tratamento nas gravações referidas em 1).
4) Os instrumentos e grupos instrumentais seguem a ordem de apresentação da II parte do livro de Ernesto Veiga de Oliveira, "Instrumentos Musicais Populares Portugueses", onde se assinalam com a letra M, seguida do número ou números dos exemplos musicais que o complementam. Pelo número limitado de exemplos a incluir, não foi possível tratar todas as formas e géneros musicais referidos.
5) Nome dos colectores, local, data da recolha, responsáveis pela notação musical e notas explicativas, são indicadas a seguir ao nome dos instrumentos, excepto nos casos em que não nos foi possível seguir esta norma.
6) O nome dos informadores está junto a cada exemplo musical, logo a seguir ao título, ou nas notas explicativas quando se tratava de um grupo numeroso; para algumas músicas não foi possível dar esta indicação.
7) Nos cordofones, a restituição dos exemplos musicais é facilitada pela complementaridade da informação dada na notação musical e na tablatura — que indica as cordas e trastos (ou pontos) que os dedos da mão esquerda pressionam e ainda as que soam livres.
Neste tipo de tablatura, muita usado em edições modernas de música para instrumentos similares aos tratados neste livro, os símbolos usados são:
— Espaços separados por linhas que representam as cordas; nos instrumentos de cordas duplas, cada espaço representa duas cordas. As cordas são ainda representadas por um número num circulo.
—Números que representam os trastos ou pontos a partir da pestana
—Outros símbolos de uso corrente em notação musical (barras de compasso, sinais de repetição, figuração rítmica, etc).
Gravações de Ernesto Veiga de Oliveira e Benjamim Pereira
Cota |
Duração |
Título |
Local |
Província |
Observações |
EVO298 |
0:36 |
Cana verde |
Celorico de Basto |
Minho |
Partitura, MP3 e SWA 0103evo298 (0’20’’) Viola amarantina |
EVO300 |
0:40 |
Vareira |
Celorico de Basto |
Minho |
Partitura, MP3 e SWA 0102evo300 (0’18’’) Viola amarantina |
EVO002 |
1:10 |
Murianos é bom povo |
Santa Vitória, Beja |
Alentejo |
Partitura, MP3 e SWA 0403evo002 (0’34’’) Viola campaniça |
EVO004 |
0:20 |
Afinação da viola campaniça |
Santa Vitória, Beja |
Alentejo |
Partitura, MP3 e SWA 0401evo004 (0’13’’) Viola campaniça |
EVO012 |
1:04 |
Moda para viola |
Santa Vitória, Beja |
Alentejo |
Partitura, MP3 e SWA 0402evo012 (0’20’’) Viola campaniça |
EVO005 |
1:46 |
Parabéns e serenata aos noivos |
Penha Garcia |
Beira Baixa |
Partitura, MP3 e SWA 0203evo005 (0’49’’) Viola beiroa |
EVO006 |
0:43 |
Senhora da Póvoa |
Penha Garcia |
Beira Baixa |
Partitura, MP3 e SWA 0202evo006 (0’25’’) Viola Beiroa |
EVO008 |
0:25 |
Afinação da viola beiroa |
Penha Garcia |
Beira Baixa |
Partitura, MP3 e SWA 0201evo008 (0’15’’) Viola Beiroa |
EVO127 |
2:16 |
Dança dos Homens |
Lousa, Castelo Branco |
Beira Baixa |
Partitura, MP3 e SWA 0301evo127 (0’23’’) Viola Beiroa |
EVO129 |
3:11 |
Dança das oito virgens |
Lousa, Castelo Branco |
Beira Baixa |
Partitura, MP3 e SWA 0302evo129 (0’25’’) Viola Beiroa |
EVO139 |
7:01 |
Vareira |
Arnóia, Celorico de Basto |
Minho |
Partitura, MP3 e SWA 0701evo139 (1’45’’) Chula |
EVO145 |
6:53 |
Chula de Tabuado |
Tabuado, M. de Canavezes |
Douro Litoral |
Partitura, MP3 e SWA 0702evo145 (1’58’’) Chula |
EVO149 |
1:59 |
Meu cavaquinho |
Ferreiros, Braga |
Minho |
Partitura, MP3 e SWA 0502evo149 (0’32’’) Cavaquinho |
EVO017 |
1:43 |
Vivo da festa de Stª Maria |
Barrancos |
Alentejo |
Partitura, MP3 e SWA 1103evo017 (0’40’’) Flautas e ocarina |
EVO037 |
1:08 |
Chula |
Vilar do Monte, Barcelos |
Minho |
Partitura, MP3 e SWA 1107evo037 (0’35’’) Flautas e ocarina |
EVO103 |
2:00 |
Vitória |
Malpica do Tejo |
Beira Baixa |
Partitura, MP3 e SWA 1104evo103 (0’49’’) Flautas e ocarina |
EVO113e114 |
1:11 |
O Virgem das necessidades |
Póvoa da Atalaia |
Beira Baixa |
Partitura, MP3 e SWA 1105evo113 (0’43’’) Flautas e ocarina |
EVO200a |
1:37 |
Chula de Gouve |
Gouve, Baião |
Partitura, MP3 e SWA 1106evo200a (0’56’’) Flautas e ocarina |
|
EVO207 |
1:19 |
Laço das campanitas |
Genísio, M. do Douro |
Trás os Montes |
Partitura, MP3 e SWA 1101evo207 (0’45’’) Flautas e Ocarina |
EVO211 |
1:18 |
Toque do peditório |
Constantim, M. do Douro |
Trás os Montes |
Partitura, MP3 e SWA 1102evo211 (0’51’’) Flautas e ocarina |
EVO029 |
1:41 |
Carolina anda à varanda |
Bravães, P. da Barca |
Minho |
Partitura, MP3 e SWA 1006evo029 (0’44’’) Gaitas de foles e palheta |
EVO164 |
1:15 |
Mira-me Miguel |
Ifanes, M. do Douro |
Trás os Montes |
Partitura, MP3 e SWA 1004evo164 (0’46’’) Gaita de foles e palheta |
EVO185 |
1:01 |
Lavrador da Arada |
Monsanto |
Beira Baixa |
Partitura, MP3 e SWA 1201evo185 (0’20’’) Gaita de foles e Palheta |
EVO231 |
1:33 |
Elevação da hóstia |
Ifanes, M. do Douro |
Trás os Montes |
Partitura, MP3 e SWA 1003evo231 (0’48’’) Gaita de Foles e Palheta |
EVO249 |
1:58 |
Alvorada |
Moimenta de Vinhais |
Trás os Montes |
Partitura, MP3 e SWA 1001evo249 (0’52’’) Gaita de Foles e Palheta |
EVO250 |
2:05 |
Carvalhesa |
Moimenta de Vinhais |
Trás os Montes |
Partitura, MP3 e SWA 1002evo250 (1’05’’) Gaita de Foles e Palheta |
EVO283 |
3:33 |
Carvalhesa |
Rio de Onor, Bragança |
Trás os Montes |
Partitura, MP3 e SWA 1005evo283 (1’44’’) Gaita de Foles e Palheta |
EVO251 |
0:23 |
Toque de pandeiro e ferranholas |
Moimenta de Vinhais |
Trás os Montes |
Partitura, MP3 e SWA 1401evo251 (0’17’’) Pandeiros |
EVO132 |
1:37 |
Alvíssaras à Ressureição |
Lousa, Castelo Branco |
Beira Baixa |
Partitura, MP3 e SWA 1403evo132 (0’46’’) Pandeiros |
EVO257 |
3:36 |
Li la ré com os 5 sentidos |
Moimenta de Vinhais |
Trás os Montes |
Partitura, MP3 e SWA 1402evo257 (0’40’’) Pandeiros |
Critérios de classificação dos ficheiros MP3
Os ficheiros MP3 possibilitam a criação de uma base de dados simplificada, segundo a norma ID3tag. Usámos a versão v2.2, que pode ser reconhecida pela maioria dos leitores de MP3. Não usámos caracteres acentuados portugueses, que são lidos de forma diferente pelos sistemas operativos mais usuais.
Title: Título do fonograma
Time: Duração
Artist: Participantes (individuais ou grupo)
Year: Ano da gravação
Album: Localidade e Província
Genre: Nome dos instrumentos, formas e géneros musicais
Track: Número de ordem do fonograma original, na colecção referenciada (que neste caso são as gravações feitas por Ernesto Veiga de Oliveira).
Size: Tamanho do ficheiro
Location: Nome do ficheiro